A divisão do planeta pelos dois países ibéricos
Há 529 anos, quando reinava em Portugal D. João II e em Castela D.ª Isabel I e estes dois reinos ibéricos dominavam meio mundo, negociaram entre si um Tratado que alterava as cláusulas do anterior Tratado de Alcáçovas, para dividirem entre si o mundo recentemente descoberto, ou a descobrir, agora por um meridiano, batizado com o nome da terra onde foi negociado, ali perto do Douro castelhano, em Tordesilhas.
Assinado no dia 7 de junho de 1494, determinava que a divisão se faria por uma linha situada a 370 léguas a Oeste de Cabo Verde, que ia de polo a polo (meridiano); para Leste dela era a parte que pertencia a Portugal, para Oeste todos os territórios eram de Castela.
Esta súbita alteração diplomática dos principais reinos ibéricos, no que toca ao domínio do mundo atlântico, está diretamente relacionada com a descoberta de Cristóvão Colombo, ano e meio antes. Este é uma das figuras incontornáveis dos Descobrimentos. Continua sem se saber ao certo qual a data e o local de nascimento (há teses para quase todas as hipóteses, sendo, no entanto, as mais consistentes aquelas que apontam para o facto de ser genovês ou de ser português). Sabe-se que faleceu, em Valladolid, no dia 20 de maio de 1506 e que foi o navegador que, ao serviço dos reis católicos, alcançou a América no dia 12 de outubro de 1492. Depois de ter oferecido os seus préstimos ao rei português (D. João II), que os rejeitou, por ser um dos mais esclarecidos monarcas do seu tempo e ter conhecimentos que Cristóvão Colombo não podia ter, o navegador ofereceu-se aos reis católicos, que, com alguma dificuldade, acabaram por aceitar, numa conjuntura de concorrência com Portugal. Fez a sua viagem navegando sempre para Oeste, no Oceano Atlântico acreditando na esfericidade da Terra, com o objectivo de atingir a Índia. Na realidade, chegou às ilhas das Caraíbas (Antilhas) e, mais tarde, à costa do Golfo do México na América Central, sempre pensando que eram terras da Ásia. Por isso, aos indígenas que encontrou pôs o nome de “Índios”.
No regresso a Sevilha (local de partida para as expedições atlânticas) passou por Lisboa, onde se terá encontrado com D. João II, dando-lhe conhecimento das suas demandas. Aí seria informado que as terras onde dizia ter chegado pertenciam a Portugal, no cumprimento do Tratado de Alcáçovas (assinado em 1479, na vila portuguesa com este nome, que hoje pertence ao concelho de Viana do Alentejo). Levantou-se então grande polémica que obrigou à negociação de novo tratado sob os auspícios do Papa, foi o Tratado de Tordesilhas, de que vimos falando. Mais uma vez, D. João II se revelou um rei muito bem informado e que sabia bem o que queria.
Devido aos limites impostos por este Tratado, firmado quase 15 anos depois do de Alcáçovas, a descoberta de Pedro Álvares Cabral, meia dúzia de anos depois, colocou a Terra de Vera Cruz, na área portuguesa.
Ainda hoje se levanta alguma polémica em torno da casualidade da descoberta do Brasil. Nós partilhamos da ideia de que muito provavelmente o monarca português já estaria informado da existência de terra a ocidente do Atlântico, por causa das manobras náuticas que as embarcações portuguesas tinham de fazer no Atlântico Sul por causa dos ventos e, por isso, tanto teimou que o meridiano que dividia, de ora em diante, os dois impérios fosse traçado a 370 léguas a Oeste de Cabo Verde e não a 100 léguas, como os castelhanos inicialmente propunham. Mas como a linha sugerida por Portugal ficava a meio caminho entre a ilha de Santo Antão, em Cabo Verde e as terras descobertas por Colombo, na América Central, os diplomatas castelhanos acabaram por aceitar.
O Tratado de Tordesilhas, totalmente desrespeitado no período da colonização da América do Sul, só foi legalmente substituído pelo Tratado de Madrid, assinado em 13 de janeiro de 1750, quando reinava D. João V em Portugal e Fernando VI em Espanha. O novo Tratado recorreu aos obstáculos naturais, rios e montanhas, para demarcar os limites das suas colónias na agora chamada América Latina.