Concelho de Ansião
Heráldica da Bandeira e Armas do Município:
Bandeira - esquartelada de branco e de púrpura. Cordões e borlas de prata e púrpura. Haste e lança douradas.
Armas - de negro com um anel de ouro acantonado por quatro romãs de prata abertas de púrpura e folhadas de verde. Coroa mural de quatro torres, de prata. Listel branco com os dizeres: "VILA DE ANSIÃO"
[Diário do Governo, n.º 187, I Série, de 14.8.1935]
Significado dos elementos do brasão:
Como as romãs são as rainhas dos frutos, representam a fertilidade da região (regada pelo Rio Nabão), são de prata e abertas de púrpura. O campo das armas é de negro por ser este o esmalte que em heráldica simboliza a terra e significa firmeza e honestidade. O anel é de ouro, metal que significa poder, nobreza e fidelidade. Esta peça heráldica simboliza os Meneses, figurando nas armas desta Família. As romãs são de prata, metal que significa humildade e riqueza. São abertas de púrpura, esmalte que significa abundância e grandeza. São folhadas de verde, esmalte que simboliza a esperança e a fé. E assim, com estas armas fica simbolizada a fertilidade local e as qualidades dos seus naturais, prestando-se também homenagem ao herói português que deu motivo a que a povoação fosse elevada a vila, colocando no campo das armas o anel que simboliza os Meneses. A coroa mural é de quatro torres, conforme está determinado que se representem as vilas.
APONTAMENTO HISTÓRICO
Ansião é um concelho rural, mas com grande tradição histórica. As mais remotas formas de vida nesta região respeitam aos tempos zoológicos. Há 190 milhões de anos todas estas terras estavam submersas.
Muitíssimo mais tarde, já no período da Pré-história foi a região sempre habitada, havendo inúmeros vestígios da presença humana (foram encontrados, na área do concelho, vários exemplares de machados de pedra polida e outros materiais do Neolítico).
E, desde então, por aqui passaram todos os povos que ocuparam a faixa ocidental da Península Ibérica. O domínio e a ocupação romana no concelho são bem visíveis também nos elucidativos achados arqueológicos ultimamente descobertos: moedas, mosaicos, mós, calçada romana e, sobretudo, a “villa” romana de Santiago da Guarda, que já consta do roteiro do “romano” em Portugal.
Depois do breve domínio dos povos germânicos, foi a dominação muçulmana que muito contribuiu, também, para a definição da nossa maneira de ser e de estar. Nos pesos e medidas, ficou, por exemplo, o uso da balança e do alqueire; nas técnicas de irrigação, aprendeu a utilizar-se a nora; no domínio agrícola, passaram a cultivar-se novas plantas e árvores; no que respeita à língua, passaram a utilizar-se novas palavras, designadamente as iniciadas por “al”, como nos topónimos: Aljazede, Alcalamouque, Albarrol, Alqueidão e Alvorge, entre outras.
Seguiu-se o secular período da Reconquista Cristã. Para criar condições de repovoamento destas terras e garantir, de modo mais eficaz, a defesa de Coimbra, D. Afonso Henriques fundou o concelho de Germanelo, com uma fortificação no alto do monte, em meados do século XII, com benefícios judiciais e fiscais para os novos moradores, que tinham a difícil incumbência de repelir os ataques muçulmanos.
Ainda no 1.º reinado, já depois das conquistas de Leiria, Santarém e Lisboa, o monarca português terá passado documentos de privilégios aos primeiros povoadores cristãos desta região.
É nestes documentos com a chancela real, ainda no decurso do século XII, que terá sido escrito pela primeira vez o termo “Ansiom”, para designar Ansião.
Painel de Azulejos alusivo à lenda do Ancião
Esta constatação não desmerece, no entanto, a lenda que justifica assim o topónimo:
A Rainha Santa, nas suas habituais deslocações entre Coimbra e Leiria, passava aqui, utilizando a estrada real que ligava o Norte ao Sul do País, e nos meses mais quentes, apeava-se da sua montada, aproximava-se das margens do Nabão, para refrescar os pés nas límpidas águas que, nesse tempo, aqui corriam todo o ano. Recomposta toda a comitiva, dava ordem para que a viagem continuasse, mas logo adiante, encontrando um velho pedinte junto do caminho a Rainha D. Isabel mandou parar todo o acompanhamento para que lhe fosse dada esmola. Teria sido este velho, ou ancião, que segundo a tradição determinou o nome da povoação e é o motivo principal do painel de azulejos, atrás reproduzido.
As águas que correm sob a Ponte santificaram-se e práticas milagrosas ocorreram desde então. Neste local ainda se praticou o "banho santo" até há poucos anos atrás, geralmente entre os dias 29 de Junho - dia de S. Pedro - e o dia 4 de Julho - dia da Rainha Santa Isabel, em dois tanques construídos para o efeito, um destinado às mulheres, outro aos homens.
Em 1514, D. Manuel I concedeu foral novo a muitos concelhos do país e também ao de Ansião.
No século seguinte, D. Afonso VI elevou Ansião à categoria de vila, por Alvará datado de 20 de Junho de 1678, com o propósito de a doar a D. Luís de Meneses, 3.º Conde de Ericeira, como prova de agradecimento régio pela sua valorosa participação na Batalha do Ameixial eo acontecimento foi perpetuado por um foral novíssimo que lhe concedeu D. Pedro II. O Senado do município mandou erigir, ainda no século XVII um Padrão (com uma longa inscrição em latim, alusiva ao acto) e o esbelto Pelourinho que a vila conserva.
Com a reforma dos municípios, levada a efeito por D. Maria II, os concelhos de Avelar, Chão de Couce e de Pousaflores foram dissolvidos e, passando à simples categoria de freguesias, foram anexadas por D. Carlos I ao de Ansião que, devido a este aumento territorial, tomou as proporções que ainda hoje conserva.
Edifício da Câmara de Ansião
Embora as primeiras referências a
Ansião datem de 1175, só em 1514 D. Manuel lhe outorga foral. O pelourinho, já do século XVII, testemunha na sua inscrição latina a doação da vila a D. Luís de Menezes, Conde da Ericeira.
A concluir este curto apontamento histórico, permita-nos o leitor, que destaquemos o nome de alguns dos mais ilustres filhos de Ansião, que se distinguiram no contexto regional e até nacional, antes do dealbar do século XX.
Aqui nasceram, entre outros, Belchior dos Reis, oficial do exército português que se distinguiu na Guerra da Sucessão de Espanha, em que Portugal participou, entre 1704 e 1712, e que é o pai do prestigiado jurisconsulto Pascoal de Melo Freire; Pascoal de Melo (6.4.1738 - 24.9.1798) é provavelmente o mais notável ansianense de todos os tempos: pai da jurisprudência portuguesa e da história do Direito Civil Português, foi Desembargador da Suplicação e Professor da Universidade de Coimbra, no tempo da Reforma Pombalina (a ele se deve o fim das penas cruéis em Portugal como, por exemplo, o talhamento de membros); António Soares Barbosa (5.5.1734 - 1.3.1801), contemporâneo de Pascoal de Melo, foi um dos precursores das ideias revolucionárias de 1820, bem como seu irmão mais novo, Jerónimo Soares Barbosa (24.1.1737 - 5.1.1816), que ensinou Retórica e Poética no Colégio das Artes; e o Conselheiro António José da Silva (17.1.1837 - 5.5.1905), importante membro político dos partidos Regenerador e Regenerador Liberal, íntimo amigo do Conselheiro João Franco, a cuja influência se ficou a dever a criação da comarca de Ansião, em 1875, e o alargamento do concelho, em 1895.