SANTIAGO DA GUARDA
(2.ª parte)
Capela da N.ª Sr.ª da Orada (Cabeça – Santiago da Guarda)
A povoação de Cabeça fica a cerca de um quilómetro e meio, a Nordeste de Santiago da Guarda. Segundo reza a tradição, foi aí que se localizou a primitiva igreja matriz, cuja padroeira era Nossa Senhora da Orada. Este templo aparece mencionado nas Memórias Paroquiais de 1758.
A Capela da Nossa Senhora da Orada apresenta uma planta longitudinal composta por nave, capela-mor e sacristia. Massas dispostas na horizontalidade com cobertura homogénea em telhado de duas águas, prolongando-se em aba corrida sobre a sacristia. É constituída por nave única de pavimento em grandes lajes com sepulturas numeradas e cobertura em traves de madeira entrecruzadas, dispostas em três planos; do lado do Evangelho, há um púlpito de base quadrangular elevado sobre coluna ornamentado com motivos geométricos pintados em duas faces do balcão, tendo a face lateral, junto à escada que lhe dá acesso a seguinte legenda: “P.E CVRA / M.EL MENDES. M / ANDOV. FAZER. / ESTE PULPITO. / A SVA CVSTA. NO / ANNO. DE. 1702”.
Junto ao púlpito, abre-se uma capela lateral, interiormente decorada na face, intradorso e pé-direito do arco com motivos vegetalistas, águias coroadas, brasões (a ocres, verdes e preto) e legendas: “HOIE MEV / AMENHA TEV”, representando o painel setecentista de madeira São Miguel e as Almas do Purgatório, num registo inferior, tendo o segundo registo a representação da Santíssima Trindade. A ladear o arco pleno, que acede à Capela-mor, os dois altares com os respectivos antipêndios revestidos a azulejos de aresta do início do século XVI, formando nós de Salomão e esquemas geométricos radiais de estilo mudéjar. A Capela-mor tem abóbada ogival, integra altar com duas colunas estriadas entre pilastras que se prolongam em arco dobrado contendo imagem da Virgem com o Menino. À esquerda, junto à porta que acede à sacristia, a pia de água benta tem a data 1729. A iluminação do interior do templo é feita através de pequeno óculo no frontispício, de frestas da nave e na Capela-mor.
Na fachada que é rematada pela cruz latina e apresenta o arco sineiro no lado direito, há uma placa em mármore que contém a seguinte inscrição:
«23 – 8 – 66
DATA DA INAUGURAÇÃO DAS
OBRAS DE RESTAURAÇÃO
REALIZADAS NESTA IGREJA»
Capela da Residência e Paço dos Jesuítas (Várzea)
A Várzea fica muito próximo de Santiago da Guarda. Aí existiu, junto à antiga estrada coimbrã, próximo da igreja da Senhora da Orada, uma residência dos Jesuítas.
Embora esteja em adiantado estado de ruína, ainda é bem visível um edifício de planta rectangular, de dois pisos. Na fachada principal, consegue notar-se uma escadaria de lanço único com patamar de acesso à capela de pórtico de verga recta onde se encontra a seguinte inscrição: “IGNCIO DE LOYOLA (_) DA COMP.A DE IHS ROGAI POR (NOS)”, sob os símbolos do martírio de Cristo. As fachadas são abertas por múltiplas portas e janelas rectas e de avental. No interior inúmeras divisões ligadas por corredores desenvolvem-se em ambos os pisos de pavimento já inexistente. Nas traseiras do edifício principal, encontra-se um pombal coevo, cilíndrico de alvenaria. Em outras construções de apoio à casa surgem inscrições nas padieiras tais como as siglas da Companhia de Jesus “IHS” ou datas “1693”.
Esta região é muito rica em fósseis. O anterior Pároco da Freguesia, Armando Olívio Duarte, com uma grande sensibilidade para a natureza e seu património fez uma recolha exaustiva de fósseis que estão na origem da “Casa Museu de Fósseis da Sicó”, inaugurada em 2007, no local da Granja. Do jornal diocesano “Correio de Coimbra” transcrevo a notícia da sua inauguração, com foto onde aparece da direita para a esquerda, o Presidente da Câmara de Ansião, Dr. Fernando Ribeiro Marques, o Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto e o Pároco de Santiago da Guarda, Padre Armando Duarte.
«5 de Junho de 2007
Foi inaugurada Casa Museu de fósseis de Sicó
A população da Granja, em Santiago da Guarda e várias individualidades, nomeadamente o Bispo de Coimbra, o Vigário Episcopal da Região Pastoral Sul e os autarcas da região, presenciaram a um importante momento, tratou-se da inauguração da Casa-Museu de Fósseis de Sicó.
O espaço propriedade da Igreja Paroquial de São Tiago da Guarda, e que teve como principal dinamizador o pároco, P. Armando Duarte, com o apoio do Centro de Juventude de Santiago da Guarda, exibe um vasto conjunto de vestígios paleontológicos da região com cerca de 150 milhões de anos.
Na cerimónia de inauguração, o P.e Armando Duarte considerou que os fósseis "são um convite a descobrir não apenas a beleza da criação, mas, ao mesmo tempo, também, a grande dignidade da natureza humana", realçando que a recuperação e valorização destes vestígios conduzem à descoberta de "um sentido mais belo para a nossa existência".
O principal dinamizador desta iniciativa referiu ainda que esta obra, a Casa-Museu de Fósseis de Sicó, "se insere no plano da nossa diocese", nomeadamente no capítulo do "diálogo da fé com a cultura", que segundo o documento tinha como objectivo: "estimular os cristãos a assumirem, de acordo com as capacidades e talentos, as suas responsabilidades nos meios da cultura, da informação e da acção social como contributo importante para a construção do reino de Deus".
Já D. Albino Cleto, afirmou-se alegre com a inauguração desta obra "porque sendo uma actividade cultural, mostra que a Igreja está atenta, não apenas esteve, mas continua a estar a tudo aquilo que é valor humano".
De referir que no futuro se espera que esta Casa/ Museu de Fósseis proporcione a oportunidade de estudos científicos para melhor identificação e catalogação dos fósseis expostos.»