LUÍS VAZ DE CAMÕES
No dia em que ocorrem mais umas eleições legislativas e em que está em causa o futuro imediato de Portugal, nos próximos anos, que não custa prever serão a continuação de uma conjuntura particularmente difícil, quer em termos nacionais, quer em termos internacionais, acho interessante lembrar uma das mais ilustres figuras da Portugalidade de todos os tempos – LUÍS VAZ DE CAMÕES.
Luís de Camões é o maior poeta da língua portuguesa de todos os tempos, mas da sua vida pouco se sabe. Começa logo por não se saber, ao certo, quando e onde nasceu. A maior parte dos dados biográficos têm sido retirados da sua riquíssima produção literária. A sua obra consagrada, que levou o nome dos portugueses a todo o mundo, é Os Lusíadas.
Seus pais foram Simão Vaz de Camões e Ana de Sá e Macedo. Luís Vaz de Camões, de seu nome completo, terá nascido por volta do ano 1524 e falecido em 1580. Não se sabe ao certo em que localidade nasceu. Várias são as que reivindicam ter-lhe servido de berço. Fez os estudos literários e filosóficos em Coimbra.
Os dados mais importantes da sua vida têm sido retirados da sua vastíssima obra poética. É através dela que se conhecem os seus amores, a vida boémia e arruaceira que às vezes levava, as alegrias e desvanecimentos por que passava, a pobreza e as inquietações do seu espírito.
A sua passagem por Ceuta, é documentada na elegia Aquela que de amor descomedido. Terá sido nessa cidade portuguesa do Norte de África, que, em combate com os Mouros, perdeu um dos olhos, facto que é referido na Canção Vinde cá, meu tão certo secretário. Regressado a Lisboa, é preso na cadeia do Tronco, em1552, por se ter envolvido numa bulha com um funcionário da Corte. No ano seguinte, saiu, perdoado pelo agredido e pelo Rei, conforme se lê numa carta enviada da Índia, para onde partiu nesse mesmo ano, para se libertar da vida lisboeta, que já não lhe agradava.
Segundo alguns estudiosos, terá sido nessa altura que compôs o primeiro canto de Os Lusíadas. A Índia também não o fez feliz, pois Goa foi para ele uma decepção conforme se pode ver no soneto Cá nesta Babilónia donde mana. Integrou várias expedições militares e, numa delas, no Cabo Guardafui, escreve uma das mais belas canções: Junto desse seco, fero e estéril monte.
Mais tarde, segue para Macau, onde exercerá o cargo de Provedor-Mor de defuntos e ausentes, e escreve, na célebre gruta, hoje com o seu nome, mais seis Cantos do famoso poema épico. No regresso a Goa, naufraga na viagem na Foz do Rio Mecom, mas salva-se, nadando com um braço e erguendo com o outro, acima das ondas, o manuscrito da grande epopeia, facto referido no Canto X. Nesse naufrágio acabaria por morrer a sua “Dinamene”, mulher chinesa por quem se tinha afeiçoado. A esta fatídica morte dedicou os famosos sonetos do ciclo Dinamene, entre os quais se destaca Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste. Na capital do Império Português do Oriente (Goa), sofre traiçoeiras acusações, que motivaram perseguições e duros trabalhos, vindo a encontrá-lo Diogo do Couto em Moçambique, em 1568, «tão pobre que comia de amigos», trabalhando n'Os Lusíadas e no seu Parnaso, «livro de muita erudição, doutrina e filosofia».
Depois de 16 anos de desterro, regressa a Lisboa (1569), tendo os seus amigos pago as dívidas e comprado o passaporte. Só em 1572, surge a primeira edição de Os Lusíadas. Trata-se como é sabido de uma epopeia em dez cantos, baseada na 1.ª viagem de Vasco da Gama à Índia (descoberta do caminho marítimo para a Índia), que lhe valeu do Rei D. Sebastião, a quem era dedicado, uma tença anual de 15000 réis pelo prazo de três anos e renovado pela última vez em 1582 a favor de sua mãe, que ainda era viva.
Os últimos anos de Luís de Camões foram amargurados pela doença e pela miséria. Diz a tradição que se não morreu de fome foi devido à solicitude de um escravo Jau, trazido da Índia, que ia de noite, sem o poeta saber, mendigar de porta em porta o pão do dia seguinte. A verdade é que morreu a 10 de Junho de 1580, sendo o seu enterro feito a expensas de uma instituição de beneficência, a Companhia dos Cortesãos. Um fidalgo letrado seu amigo mandou inscrever-lhe na campa rasa um epitáfio que diz tudo: «Aqui jaz Luís de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente, e assim morreu».