VIAJANDO NO TEMPO...e no espaço!

Dezembro 31 2009

 

O comboio começou a circular em Portugal há 153 anos!
 
O comboio fez a sua estreia em Portugal no dia 28 de Outubro de 1856, há precisamente 153 anos e dois meses, e era uma importante promessa de desenvolvimento de Portugal, garantindo rápidas ligações de pessoas e mercadorias, entre o Norte e o Sul, o Litoral e o Interior.
Fontes Pereira de Melo, como Ministro das Obras Públicas, foi o grande timoneiro da modernização das vias rodoviárias e do arranque do caminho-de-ferro no nosso país, considerado condição sine qua non para a industrialização do Reino.
Muitas terras pelo país fora reivindicaram a construção de linhas-férreas, mas, condicionalismos de ordem financeira, inviabilizaram a sua concretização. Mesmo assim, foram construídas várias linhas (largas e estreitas) centenas e centenas de quilómetros de carris que, entretanto, com a expansão do transporte rodoviário (automóveis, camiões e autocarros), foram sendo paulatinamente abandonados. O facto é tanto mais constrangedor quando se sabe que o comboio é o melhor, mais eficaz e menos poluidor (referimo-nos, obviamente, ao comboio eléctrico) dos meios de transporte urbanos e semi-urbanos.
Mas voltemos à história do 1.º comboio português.
31 anos antes (1825), construir-se-ia a primeira linha-férrea em Inglaterra, país da Revolução Industrial e da ideia do transporte ferroviário. Defendeu-se, desde logo, a sua introdução em Portugal, como meio de modernizar o país. Vários projectos surgiriam, mas a instabilidade política das insurreições liberais e absolutistas, não permitiram a sua concretização.
Em Outubro de 1845, seriam publicadas as bases para a construção de caminhos-de-ferro em Portugal, que, no entanto, não teriam qualquer resultado prático.
Só depois do triunfo do movimento da Regeneração, em 1851, seriam criadas as necessárias condições de estabilidade política, para o surgimento do fontismo e da criação das infra-estruturas necessárias ao definitivo desenvolvimento.
As obras do 1.º troço da 1.ª linha-férrea portuguesa começaram em 1853, a cargo da Companhia Central e Peninsular dos Caminhos de Ferro em Portugal, sob a supervisão de uma companhia inglesa, e demorariam 3 anos. No dia 24 de Agosto de 1856 o rei D. Pedro V, visitou as obras, já em fase de acabamento, mas em Alverca ainda havia irregularidades.
A inauguração ocorreria dois meses depois, concretamente na manhã do dia 28 de Outubro de 1856, entre Lisboa e o Carregado. O novo meio de transporte compunha-se de duas locomotivas (a “Portugal” e a “Coimbra”) e dezasseis carruagens. O trajecto a percorrer era de 36,5 km e demorou cerca de 40 minutos.
Maria Isabel Lemos e Roxas Carvalho Meneses de Saint-Léger, que foi Marquesa de Rio Maior e dama da rainha D. Maria Pia, com apenas quinze anos assistiu a esta viagem inaugural. Sobre as impressões então vividas escreveu no seu “Livro de Memórias”, o seguinte:
«Vou narrar o que me lembra do solene dia da inauguração que, enfim, chegou. Minha mãe não quis ir ao banquete do Carregado. Mas foi comigo, para um cerro fronteiro à estação de Alhandra ver a passagem do comboio (…).
Finalmente, avistámos ao longe um fumozinho branco, na frente de uma fita escura que lembrava uma serpente a avançar devagarinho. Era o comboio? Quando se aproximou, vimos que trazia menos carruagens do que supúnhamos. Vinha festivamente embandeirado o vagão em que viajava D. Pedro V. O comboio parou um momento na estação, de onde se ergueram girândolas estrondosas de foguetes (…).
(…) Só no dia seguinte ouvimos meu pai contar as várias peripécias dessa jornada de inauguração. A máquina (…) não tinha força para puxar todas as carruagens que lhe atrelaram; e fora-as largando pelo caminho. Creio que se o Carregado fosse mais longe e a manter-se uma tal proporção, chegava lá a máquina sozinha ou parte dela (…).
Meu pai passou para a carruagem real, na qual chegou ao Carregado, onde assistiu aos festejos e comeu lautamente, porque o banquete era farto. (…)»
No dia seguinte, celebrava-se o aniversário de D. Fernando e a nova linha seria aberta à exploração, com duas viagens diárias de ida e volta, cujo preço (ida e volta) era o seguinte: 1.ª classe – 700 réis; 2.ª classe – 560 réis; e 3.ª classe – 240 réis.
Demoraria, no entanto, mais de meio século até ficar praticamente concluída a rede ferroviária nacional.
publicado por viajandonotempo às 18:06

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