Hoje comemora-se em todos os países maioritariamente cristãos, como é o caso de Portugal, o Dia de Reis. Segundo a tradição dos cristãos o dia 6 de Janeiro seria aquele em que o Menino Jesus, nascido há poucos dias, tivera a visita dos famosos três Reis Magos (Belchior, Baltazar e Gaspar) que, assim, se submetiam à autoridade divina. Este dia marca, oficialmente, o fim das tradicionais festividades natalícias, com a "demolição" dos presépios e/ou das Árvores de Natal e a retirada das iluminações das casas e das ruas. Nalguns aglomerados urbanos e rurais portugueses é costume cantar-se os reis, porta a porta, noutros (sobretudo no Norte), havia teatralizações populares, denominadas as "reisadas".
Em alguns países, como na vizinha Espanha, o Dia de Reis é uma festa particularmente festejada pelo povo. É costume as crianças, antes de se deitarem, deixarem os seus sapatinhos à janela com erva para alimentar os camelos que transportam os Reis Magos na sua passagem por ali; em troca os Reis Magos agraciam as crianças com doçuras que colocam nos seus sapatinhos. Outra tradição, esta gastronómica, do Dia de Reis é comer Bolo-Rei nesse dia. É claro que esta tradição de Dia de Reis acaba por ter outro sentido, nos países que mantêm a Monarquia como regime político vigente, como é o caso de Espanha, entre outros.
E falando em Monarquia, é preciso lembrar que Portugal teve este regime quase durante oito séculos, mais concretamente entre 5 de Outubro de 1143 (Tratado de Zamora) e 5 de Outubro de 1910 (Revolução Republicana).
Todos sabemos que hoje em dia, Monarquia e República não diferem assim tanto na prática política, uma vez que a Democracia é o regime que, em qualquer dos casos, se pratica, quer o país seja uma República ou continue a ter uma Monarquia. Na verdade, a maior diferença está no facto de o Chefe de Estado ser eleito na República e vitalício e hereditário na Monarquia.
Mas em 1910 - há precisamente cem anos atrás - a realidade não era essa. A Monarquia portuguesa era constitucional, mas estava profundamente desacreditada. Longe do povo, incapaz de resolver os principais problemas do País e do Império, as esperanças voltavam-se todas para a instauração da República.
Os republicanos prometiam um "mundo novo", queriam instruir o povo e trazê-lo à participação política, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e fazer um Portugal mais próspero.
O 5 de Outubro de 1910 foi um dia de renovada esperança para Portugal.
O povo aplaudiu a carbonária republicana. O novo regime ia sendo proclamado por todo o País. As elites urbanas e rurais aderiram efusivamente ao novo regime e quiseram republicanizar o povo. Numas localidades foi mais fácil, noutras a resistência monárquica manteve-se activa.
Regra geral, o povo aceitou o regime republicano como sinal de mudança e de muita esperança. As contas públicas equilibraram-se, surgiu nova bandeira, novo hino, nova moeda. Apostou-se muito na instrução de rapazes e raparigas. Por todo o lado apareceram jornais de fervor republicano. O clero sofreu algumas humilhações evitáveis e perdeu património e importância social. O País mexeu nas suas estruturas mais profundas.
Contudo, nem tudo foram "rosas"! Manteve-se sempre uma persistente oposição monárquica, houve divisão entre os republicanos e, pior que isso, surgiu a 1.ª Guerra Mundial em que Portugal participou, em África (para defender as suas colónias) e na Europa (Frente Ocidental, ao lado da nossa velha aliada, Inglaterra).
Esta participação foi verdadeiramente dramática para Portugal pelas suas consequências. Desequilíbrio financeiro, inflação galopante, desvalorização do escudo, caos social e uma insustentável instabilidade política decretariam o fim mais que certo da Primeira República, com a implantação da Ditadura Militar (1926) que, pouco depois, evoluiria para o famoso "Estado Novo" (1933-1974).
De tudo isto se falará muito neste novo ano de 2010, em que a implantação da República Portuguesa comemora o seu 1.º Centenário.