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Maio 23 2009

 PATRIMÓNIO DE MAIOR DESTAQUE

CAPELA DA MISERICÓRDIA

Exterior da Capela da Misericórdia

Adossada ao edifício da Câmara Municipal e de implantação destacada no largo fronteiriço à Igreja Paroquial, situa-se a Igreja da Misericórdia construída nos finais do século XVII, princípio do XVIII.
De planta longitudinal é composta por nave e capela-mor. No pano único da fachada, delimitado por cunhais de cantaria, rematado por acrotério no lado esquerdo, destaca-se o portal ladeado por colunas clássicas rematadas por pináculos sobre a arquitrave. O frontão, preenchido por lavores envolutados que enquadram um nicho, desprovido de imagem, encimado por cruz a cujo nível se abrem 2 janelões rectos com cornija. Remata o frontão um óculo aberto no tímpano. Fachada adossada a edifício contíguo, que apresenta platibanda na continuidade do remate da fachada principal, prolongando-se ao longo dos edifícios adossados, criando uma unidade arquitectónica do conjunto.
Interior da Capela da Misericórdia
No interior apresenta uma nave única de pavimento em tábua corrida e tecto de madeira disposto em três planos; no degrau de mármore que antecede a capela-mor tem, no lado da epístola, uma sepultura rasa e do lado do evangelho parte um lanço de escada, adossado à parede, que acede à bacia do púlpito, de base quadrangular, sustentada por duas mísulas envolutadas; dois altares de arco pleno ladeiam arco triunfal pleno que acede por grade à capela-mor de pavimento em mármore e tecto em abóbada de berço com as armas reais pintadas ao centro.
Na Capela-Mor o Altar-Mor é em talha polícroma, dourada e pintada, no século XIX, pelo entalhador José Mendes da Silva, rematado em frontão interrompido com resplendor, e integra uma imagem de Nossa Senhora do Pranto, que tem sido atribuída ao famoso escultor portuense Teixeira Lopes, o mesmo artista que esculpiu a Nossa Senhora de Fátima que se encontra na Cova de Iria. Em nichos laterais, tem as imagens da Rainha Santa Isabel (lado esquerdo) e de S. Francisco Xavier (lado direito).
Imagem de Nossa Senhora do Pranto, de Teixeira Lopes

          A iluminação é feita pelos janelões e óculo do frontespício e janelas da nave e capela-mor. No pavimento da nave, junto da capela-mor destaca-se a sepultura brasonada dos Condes de Vila Nova; na parede lateral da nave, do lado da epístola, encontra-se uma lápide alusiva ao Fundador, Doutor António dos Santos.

 

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA PAZ (CONSTANTINA)

Aspecto do exterior da Capela da Constantina

A cerca de dois quilómetros a Nordeste de Ansião, num vale que segue até à Lagarteira, encontramos a povoação de Constantina.

                A sua Capela é uma jóia da arte religiosa na paróquia de Ansião. Trata-se de um belo e espaçoso templo, edificado no século XVII, na sequência do milagre da Fonte Santa, para acolher os peregrinos que ali acorriam em grande número, na busca de “remédio” para os seus problemas e sofrimentos ou para agradecerem à Senhora da Paz os benefícios recebidos.

Quem vem do lado da Fonte Santa, depara com uma larga escadaria de pedra que dá acesso a uma galilé alpendrada, com cobertura assente em dez colunas. A data de 1623 que se encontra na verga da porta principal, indica, provavelmente à data da construção. No campanário tem a data de 1692, e o sino exibe a legenda: “SNRA DA PAZ ORA PRO NOBIS”, e a data de 1746.
O interior evidencia ainda a época áurea de outros séculos, quando esta localidade era o centro de convergência de inúmeros peregrinos. De nave única, o tecto é em madeira, e o púlpito e escada são em pedra. Tem coro em madeira, a que se acede por uma estreita escada lateral. Tem dois altares colaterais com mesa de pedra, retábulo de talha dourada e nichos, um dedicado a Santo António (o do lado esquerdo), o outro, a S. Bento (o do lado direito). Estes altares foram recuperados em 1993 pelo departamento de Arte e Arqueologia da Escola Superior de Tecnologia de Tomar.
 O belo e gigantesco arco cruzeiro, em cantaria, faz a ligação da nave à Capela-mor e é lavrado e decorado por losângulos e assente em colunas salomónicas e motivos geométricos ornamentais.
O tecto da Capela-mor é constituído por 35 caixotões decorados com laçarias, ramos de plantas, conchas, motivos geométricos, torres, igrejas e árvores; os do fecho têm entre a ramagem, a coroa real da dinastia de Bragança.
Nas paredes laterais encontram-se telas pintadas com motivos alusivos ao Génesis. Na parede lado Sul: Eva a colher a maçã da árvore onde a serpente se envolveu; Adão e Eva juntos à árvore da vida; e, por último, Deus, Adão e Eva (com inscrição).
A parede lateral Norte da Capela-mor possui quatro retábulos com telas que representam o Anjo no momento da expulsão; a Expulsão de Adão e Eva; os filhos de Adão e Eva: Caim e Abel (Caim mata Abel); e Nossa Senhora da Conceição tendo nos pés a serpente.
Retábulo da Capela-mor da Capela de Nossa Senhora da Paz (séc. XVII) 
O retábulo do Altar-mor é constituído por dois níveis com cinco pinturas seiscentistas sobre tábua de carvalho:
No plano inferior, do lado esquerdo da imagem de N.ª Sr.ª, está uma pintura de Jesus Cristo com três lanças apontadas ao coração de Maria; do outro lado, a Visitação de Maria a Santa Isabel; ao centro a imagem da Nossa Senhora sobre um pequeno estrado suportado por três cabeças de anjos;
No plano superior à Imagem da N.ª Sr.ª está uma pintura de N.ª Sr.ª que investe um bispo, entregando-lhe acasula (veste litúrgica para a celebração da missa), a mitra (insígnia eclesiástica que cobre a cabeça) e o báculo (bordão); do lado esquerdo, uma pintura mais pequena retrata o nascimento de Jesus; e, do outro lado, a Virgem com o menino ao colo.
A capela tem Confraria com livro de estatutos e compromissos datado de 1623, assinado por D. Filipe III de Portugal. Este bonito templo, rico pela sua história e pela arte pictórica que ostenta, está em vias de classificação.

 

CAPELA DE  S. JOÃO DAS LAGOAS

           Nos arredores de Ansião, um pouco a Norte e integrada na Quinta das Lagoas, encontra-se a Capela de S. João, recentemente restaurada durante o Verão de 2001.

            No princípio do século XIX havia sido incendiada pelos franceses (tal como tinha acontecido com a Capela do Senhor do Bonfim) tendo-se mantido quase dois séculos em estado de abandono e quase ruína.
            A fachada é encimada por uma cruz latina, por baixo da qual existe um óculo tetralobado e, mais abaixo, a porta principal do templo. Em ambos os lados da fachada, duas torres sineiras.
            Duas largas pilastras de cantaria separam a fachada do corpo principal do templo, das duas torres laterais abertas por um campanário em arco alteado e rematadas por abóbadas boleadas. A pedra da construção das paredes e torres não é revestida com nenhum material.
            No interior, apresenta uma única nave de pavimento lajeado, iluminada por dois janelões de cada lado. Apresenta um arco triunfal de volta perfeita com voluta no fecho e intradorso do lintel revestido por florões e grinaldas, assente em pilastras de moldura vazada com base cúbica e capitel quadrangular de perfil chanfrado, dá acesso à capela-mor.
            A capela manteve até 1955 o brasão de armas dos Noronha e dos Mendes de Tânger.

 

 IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA  DA CONCEIÇÃO

 

                   Fachada principal do templo           
          A actual igreja data de finais do século XVI (mais precisamente 1593, que é a data inscrita na verga da porta principal), mas tudo indica, que anteriormente, mais para Oeste da Vila, teria existido uma primitiva matriz, ainda hoje recordada na toponímia local por “Igreja Velha”, na zona da fábrica de têxteis da antiga CUF.
O templo actual, no centro da vila, apresenta uma fachada simples, com uma imagem em pedra da Nossa Senhora da Conceição, que é a padroeira da paróquia, com a inscrição: “1 95/ I ANVA CLAVSA/ MANT.DIVINO./ PERVIA.SOLI“, com data provável de construção no século XVI.
Retábulo com a imagem da Padroeira (séc. XX)
A Igreja matriz de Ansião é rodeada por um adro, com o piso calcetado, mais espaçoso na parte oeste e sul. A separá-lo da Rua por onde se faz o acesso (Dr. Pascoal José de Melo) tem um muro com gradeamento em ferro e uma escadaria de acesso à entrada principal. Do lado sul, quase pegado à Igreja, está o Salão Paroquial.
No interior, o templo é amplo, apresentando três naves, divididas entre si por cinco arcos em alvenaria que assentam sobre colunas toscanas e o pavimento é em madeira. A Capela-mor, separada da nave central por um arco de volta perfeita, mantém o chão em pedra, uma cobertura em abóbada com caixotões em cantaria e o retábulo, dedicado a Nossa Senhora da Conceição, é contemporâneo. Até meados do século XX, a Capela-mor era revestida a azulejos azuis e brancos, hispano-árabes, provavelmente do início do século XVI.
Interior da Igreja Matriz de Ansião
Ao cimo de cada uma das naves laterais há altares, já tardios, em talha dourada.
No lado esquerdo do templo, logo à entrada, existe o baptistério inscrito numa capela de arco alteado, com pia baptismal seiscentista. No lado direito, já para lá da porta do sol, destacam-se duas capelas:
- Uma com arco de cantaria lavrado e tecto também em pedra, decorada com uma imagem de pedra de Santo Aniano, do século XVII, em nicho ao lado da Cruz, e outra imagem da Santa Teresa do Menino Jesus. Esta Capela do início do século XVII, foi mandada construir por André Fernandes e esposa que aí estão sepultados.
- Na outra capela, ao lado, destaca-se um baixo-relevo da Renascença Coimbrã em pedra representando um lindo e valioso Calvário (século XVI).
 Há quem diga que a igreja terá sido fundada por uma tal Dona Domingas, tendo por base uma inscrição ao cimo da nave lateral direita, junto do altar dedicado à Padroeira, onde se lê: “TEM ESTA CONFRARIA DUAS MISSAS DE OBRIGAÇAO PARA SEMPRE PELA ALMA DE DOMINGAS FREIRE”.Só que tal inscrição pode muito bem ter-se ficado a dever apenas a alguma importante doação que a mesma Domingas tenha feito à referida Confraria.
A Igreja e a respectiva torre sineira têm sofrido obras de restauro ao longo dos séculos. O actual relógio, com quatro mostradores (um em cada fachada) substituiu, em 24 de Fevereiro de 1957, um muito mais antigo que, entretanto avariara.
A festa da Padroeira realiza-se, desde há muitos anos, no dia 8 de Dezembro.
         Nos últimos tempos esta que é uma das Paróquias da Diocese de Coimbra com mais prática religiosa comprovada.
        
publicado por viajandonotempo às 08:57

Maio 20 2009

Carta de Foral de Ansião

dada em Lisboa, aos 4 de Julho de 1514

«Foral Damsyam per Inquysidores do tombo»
 
           
                Pormenor do Pelourinho de Ansião,
              frente ao edifício da Junta de Freguesia
 
início da Carta de Foral de Ansião
               Dom Manuel etc. [o título completo do Rei era: “Dom Manuel pela graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista e Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia”]. Mostra-se pelas ditas Inquirições E principalmente por outra que particularmente no dito lugar mandamos tirar que os foros e tributos Reais se pagarão na dita terra na maneira seguinte:
Paga-se primeiramente a teiga [antiga medida para cereais, mas de grandeza variável] de Abraão nesta maneira: como o monte de qualquer pão chegar a catorze alqueires logo se toma do monte maior a dita teiga que é de dois alqueires, três quartas desta medida corrente da comarca.
E declaramos que a dita teiga se não há-de pagar de cada género ou diferença de trigo, como até aqui se pagava. Somente se levará de trigo uma só eirádega [pensão anual que desde a Idade Média os cultivadores eram obrigados a pagar ao senhor da terra, cumulativamente com outras rendas] posto que trigo tremês e mourisco e galego ou outro trigo o lavrador tenha sem embargo de nenhum costume nem posse que aí houvesse a qual houvemos por de má fé e não valer por direito.
E por conseguinte se levará na dita maneira a dita teiga De qualquer outra semente, Cevada, Centeio, milho E tremoços e não doutros legumes. E se não chega o monte aos ditos catorze alqueires não se pagará a dita teiga. Depois da qual se paga ao senhorio Real da dita terra de dez um de todo o dito pão e legumes E vinho e linho. E da fruta e doutros legumes afora tremoços. E do azeite se paga somente o dízimo ad.s (Adscrito = registado) sem outro foro.
E pagos do dito monte os ditos dízimos [antigos impostos que se pagavam à Igreja e que correspondiam a um décimo dos rendimentos] e a dita teiga na maneira que fica declarado paga-se depois ao Mosteiro de Santa Cruz o dízimo de todas as ditas cousas de que se pagam os foros sobreditos ao senhorio.
E paga-se mais ao dito Mosteiro de Santa Cruz De cada um dos trinta casais que tem na dita terra, De trigo um alqueire e meio desta medida corrente e não os dois alqueires que ora levam, por quanto foi justificado na dita terra levarem-se novamente os quais se não levavam mais, Salvo o dito alqueire e meio.
E paga mais cada um dos trinta casais de foro de vinho à bica do lagar cinco meias e pinta de vinho e não o almude que ora levam. E mais de cada casal em dinheiro dez réis.
E todos os moradores da dita terra afora viúvas e órfãos dão ou pagam cada um sua jeira [antiga contribuição de serviço na lavoura] para segar na quinta a dia tenha Da por ela um alqueire de trigo qual mais quiserem os pagadores. E quando servirem pessoalmente dar-lhe-ão por aquele dia o mantimento ordenado acostumado na terra nos semelhantes serviços.
E paga-se mais à ordem o dízimo dos moinhos que rendem, pago primeiro o dízimo ad.s (=? Adscrito = registado).
E os sobreditos foreiros não pagam nem pagarão montado [tributo que se pagava por os gados pastarem no monte de algum concelho ou senhorio] nos matos e matas da Ordem mas livremente pastarão e montarão nelas sem nenhum tributo nem coima.
E são mais obrigados os sobreditos de levarem o pão da dita Ordem ao Mosteiro ou a Leiria ou ao campo de Almar [Ulmar?], junto de Verride. E os capões [galos capados] levarão somente ao Mosteiro e não a outro lugar.
E os Montados são do dito Mosteiro E levará dos gados de fora com que não tiver vizinhança ou avença aquilo que com eles se concertar. E os que entrarem sem cada uma delas levará de cabeça maior dez réis E de pequena um real e mais não.
E assim serão os maninhos [terrenos não cultivados, que eram, normalmente, do domínio público] das terras desaproveitadas, os quais se darão com o foro [renda ou pensão que paga aquele que usufrui do domínio útil de uma propriedade] da terra e não outro nenhum Guardando porém a nossa ordenação das Sesmarias [lei promulgada por D. Fernando, em 28 de Maio de 1375, no contexto da crise económica do século XIV, e que pretendia fixar os trabalhadores rurais às terras diminuindo a fuga para as cidades] E não se dando em lugar que traga dano aos comarcãos.
E não se levará em nenhum tempo portagem [tributo que as pessoas pagavam por passar uma ponte, as portas de uma cidade ou vila, e pelos carregamentos com que passavam nesses lugares] no dito lugar por não haver foral nem costume. E o gado do vento [expressão que significa gado perdido, de que não se conhece o dono] do vento E pena de arma [punição aplicável por crime cometido com qualquer arma], e os outros direitos pessoais são da cidade de Coimbra em cuja Jurisdição são.
E por quanto o Duque de Coimbra que ora tem o senhorio do nosso direito Real no dito lugar põe medidor Sobre o qual houve contenda em nossa corte que não foi determinada. Declaramos por ora não se dever pagar ao dito medidor do seareiro que com bois alheios lavrar ou de quem não lavrar mais que com um boi, meio alqueire como leva dos outros um alqueire. E não há-de aí haver mais que este medidor posto pelo dito senhorio E isto à custa do lavrador. Porém declaramos que se nos lugares comarcãos se leva o dito pão do monte maior que assim havemos por bem que se ao diante faça.
E serão avisados os mordomos [antigos magistrados encarregados de cobrar impostos, de entregar citações e de proceder a execuções] ou Rendeiros de cada um dos ditos senhorios que vão partir com os lavradores no dia que para isso forem requeridos ou até outro dia àquelas horas por que não indo os lavradores partirão suas novidades [dar a cada um a parte que lhe compete] com duas testemunhas e apartarão as partes que a cada uns couberem sem serem obrigados a outras mais diligências nem incorrerem por isso em alguma pena.
Relego [direito que o Rei e os Senhores tinham de proibir a venda de vinho avulso durante os três primeiros meses do ano – geralmente, de 1 de Janeiro a 1 de Abril. Nesse período só o seu próprio vinho podia ser comercializado]
E o Mosteiro de Santa Cruz tem relego no dito lugar o mês de Janeiro para os vinhos somente que houver do foro realengo e não doutro vinho que houver doutras propriedades No qual se guardará nosso Regimento, que quem quiser vender vinho para fora aos almudes que o podem fazer sem nenhuma pena nem tributo. E quem quiser trazer ao dito lugar vinho de fora do termo para vender no tempo do Relego podê-lo-á fazer Com tanto que pague de cada carga um almude ao Relegueiro. E declaramos que se o vinho, dos ditos oitavos se vender primeiro que o dito mês do Relego se acabe não haver aí mais tempo de Relego. E qualquer do povo venderá nesse tempo seu vinho sem nenhuma pena [punição que deriva da aplicação da lei estabelecida] nem tributo.
E a pena do foral [condenação que resulta da aplicação das disposições legais que constam no Foral] não se escreve mais aqui por que é tal como está no foral de Miranda. Dada em a nossa mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa a quatro dias de Julho do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e quinhentos e catorze anos, foi escrito e concertado pelo dito Fernão de Pina em cinco folhas e dezanove regras.
publicado por viajandonotempo às 11:48

Maio 18 2009

ERMESINDE – evolução histórica

(continuação)

 

 

O primeiro Código de Posturas a vigorar em Ermesinde
As Primeiras Posturas que vigoraram em Ermesinde, após a sua integração no Concelho de Valongo, foram aprovadas na reunião da vereação municipal do dia 13 de Novembro de 1839.
Depois de aprovadas, foi deliberado afixar Editais em todas as freguesias do Concelho, dando conhecimento aos munícipes das regras municipais que daí em diante haveriam de cumprir, sob pena de multas e outras condenações nelas previstas.
Não deixa de ser muito interessante a preocupação revelada, já nessa altura (há 170 anos), pela vereação municipal com questões ligadas à saúde pública, à segurança de toda a comunidade, à limpeza de linhas de água, das ruas e espaços públicos, ao urbanismo e aos costumes.
O abatimento de animais e o abastecimento de carne, o licenciamento de estabelecimentos comerciais, o cuidado a ter com os cereais que se vendiam, a preocupação com a regulamentação da feitura e comercialização do pão, a higiene e limpeza exigidas junto aos caminhos públicos e próximo de rios e ribeiros, o respeito pela propriedade privada quer no que reporta à pastagem de animais quer quanto à apropriação indevida de terrenos públicos, a exigência de licença prévia para poder construir muros ou edifícios, o cuidado a ter com a iluminação privada em certos locais para evitar incêndios, a proibição de se vender pólvora e o conselho dado quanto à forma como os chefes de família devem educar o comportamento em público dos seus filhos são apenas alguns exemplos dos aspectos que se encontram regulamentados neste primeiro Código de Posturas que vigorou em S Lourenço de Asmes.
 
O comboio esteve na base do grande dinamismo local
Foi no período do Fontismo que as comunicações e transportes conheceram em Portugal extraordinário fomento. S. Lourenço de Asmes foi uma das terras dos arredores do Porto que mais beneficiou com a nova estrada de ferro, que permitia o transporte mais rápido e em muito melhores condições a pessoas e mercadorias.
Esta terra, próxima do Porto, foi escolhida para a bifurcação das linhas do Minho e do Douro. A partir de então, vai conhecer um crescimento enorme e inusitado, já que por ali passaram a circular todas as mercadorias e pessoas que da Região Norte (Minho e Trás-os-Montes) se dirigem à capital do Norte e vice-versa.
            A estação foi, desde logo, buscar o nome ao maior aglomerado populacional das proximidades – Ermesinde – embora o nome da freguesia, S. Lourenço de Asmes, se tivesse mantido por mais algumas décadas.
Ermesinde e a Revolta Republicana do 31 de Janeiro de 1891
A humilhação resultante do Ultimato Inglês a Portugal em Janeiro de 1890 provocou a Revolta Republicana ocorrida na guarnição militar do Porto, na madrugada do dia 31 de Janeiro de 1891. Foi a primeira revolta de cariz republicano a culminar a onda de descontentamento que alastrara a todo o país.
A cidade do Porto foi um dos centros de maior dinamismo conspirativo contra a Monarquia decadente que juntava, entre outros descontentes, estudantes, militares, jornalistas e juristas.
A Junta Paroquial de S. Lourenço de Asmes, ao tempo presidida por Manuel Moreira Lopes, reunida extraordinariamente no dia 13 de Fevereiro de 1891, mostrou-se claramente favorável à causa monárquica, apressando-se a enviar ao Rei D. Carlos um telegrama de apoio.
Contudo, não podemos pensar que a generalidade da população de Ermesinde era favorável à manutenção da Monarquia. Bem, pelo contrário, uma parte importante da elite local simpatizava com a República, como se verá pela pronta adesão ao novo regime. Mas, mesmo no contexto da revolta republicana, havia em Ermesinde personalidades republicanas de grande relevo. Era o caso, por exemplo, de Vicente Moutinho que recebeu em sua casa, bem no centro de Ermesinde, várias vezes a figura mais ilustre do Norte do País do Partido Republicano, o Prof. Dr. José Falcão, um dos revolucionários do 31 de Janeiro e prestigiado autor da Cartilha do Povo.
 
Ermesinde após a implantação da República
            Aquando da implantação da República, a povoação de Ermesinde está muito maior e bastante mais conhecida. Cresceu intensamente o lugar que deu nome à Estação da freguesia de S. Lourenço de Asmes, mas prosperaram também os outros lugares da freguesia. A sua Estação era já uma das mais movimentadas do Norte.
            Assim, a Comissão Administrativa da Freguesia solicitou ao novo Governo Republicano a substituição do nome da Freguesia para o nome do maior lugar e mais central - ermesinde.
            Três meses mais tarde (dia 6 de Fevereiro de 1911), o Ministro do Interior do primeiro Governo Republicano, António José de Almeida, deferia o pedido da Comissão Administrativa, e, no dia seguinte, o Diário do Governo publicava a referida resolução.
 
O tempo da Primeira Guerra Mundial
            À semelhança do que aconteceu um pouco por todo o País, também muitos jovens de Ermesinde foram mobilizados para o 1.º conflito mundial que grassou na Europa (e noutras partes do Mundo) entre 1914 e 1918.
            No Mosteiro da Batalha, existe uma placa comemorativa do 3.º aniversário da Batalha de La Lys, dedicada aos valorosos soldados portugueses da Grande Guerra, que se bateram naquela trágica batalha de 9 de Abril de 1918, e que foi mandada gravar pela Junta da Freguesia de Ermesinde.

 

Homenagem da freguesia de ermesinde – distrito do porto
em 9 de Abril de 1921
Aos soldados de portugal simbolizados nos dois Heróis desconhecidos que bem souberam morrer pela honra e para glória da pátria. viva a república

 
Elevação de Ermesinde a vila
            Ermesinde foi elevada a vila por Decreto publicado no Diário do Governo, de 12 de Julho de 1938, mas há muito que reivindicava esse título e até já o usava mesmo antes de ter direito a fazê-lo.
            A primeira vez que a Junta da Freguesia local deliberou solicitar ao Governo a elevação de Ermesinde a Vila, foi na sessão de 11 de Novembro de 1928, quando presidia àquele Corpo Administrativo, Vicente Moutinho de Ascensão. Seria preciso esperar dez anos para que o Governo diferisse o justo pedido. No entanto, a referência a Ermesinde como vila começou a ser corrente desde esse ano, tanto na população, como na imprensa regional e nacional.
O Governo tardou a fazer justiça a Ermesinde, mas acabou por a elevar a Vila, através do Decreto-lei n.º 28.836, reconhecendo que Ermesinde era, então, a única freguesia do concelho de Valongo de 1.ª ordem, contava com uma população de aproximadamente 6 mil habitantes e a sua sede constituía um centro urbano de importância apreciável e de ininterrupto desenvolvimento, onde a indústria e o comércio estavam muito desenvolvidos.
 
 Ermesinde era ainda uma terra famosa pela sua beleza ribeirinha
            Efectivamente, Ermesinde ainda era, naquele tempo, uma terra equilibrada no seu crescimento, que “casava” bem com a beleza natural propiciada pelo idílico rio Leça.
            Humberto Beça ao descrever Ermesinde da década de 1920, fala das suas indústrias, das pessoas e dos seus costumes, dos edifícios e palacetes, do movimento e principais destinos do comboio, das boas estradas que então tinha, do eléctrico que vinha do Porto, e do rio. Acerca do Leça escreveu:
            «De margens deliciosas, pela arborização, variedade de paisagens, irregularidade do percurso constantemente cortado de açudes mais ou menos importantes, o Leça é conhecido já como um dos mais pitorescos rios de Portugal, de margens mais formosas, de campos mais belos, de pontos de vista mais atraentes». Efectivamente, Ermesinde era um lugar de belezas naturais, que aliciava a uma passeata nas tardes de domingo aos portuenses, que aqui vinham desfrutar dos bons ares e das belas paisagens.
               Houve alguns que aqui construíram magníficos palacetes, como o do Mesquita que se vê na imagem a seguir.
Da Guerra Colonial ao “25 de Abril
            A partir de 1961, data em que começou a deflagrar a Guerra em várias colónias portuguesas que aspiravam à independência (Angola, Moçambique e Guiné), Ermesinde contribuiu, também, com alguns dos seus homens mais jovens para esse combate apregoado como patriótico. Vários soldados pereceram ao serviço da Nação. São várias as referências nas actas da Junta a alguns desses mortos.
            A revolução do 25 de Abril de 1974 poria ponto final à Guerra colonial. Sobre o 25 de Abril, a Junta da Freguesia de Ermesinde da presidência de Joaquim Alves de Oliveira (há 7 anos no desempenho do cargo), tomou uma posição de incondicional apoio e admiração.
 
          
A era do crescimento descontrolado
A partir de meados do século XX, Ermesinde mudou muito – foi o crescimento “louco”, em avalancha, desorganizado e incontrolável das últimas décadas, que fez engrandecer a Gandra, a Travagem, a Bela, a Palmilheira, a Formiga e quase todos os lugares que se juntaram numa amálgama de casas e ruas, que já não permite saber onde começa e acaba cada um dos antigos lugares que integravam a remota freguesia de S. Lourenço de Asmes.
Nada escapou a este crescimento desmesurado, até a antiga Igreja Matriz, por pobre e pequena, foi demolida para no mesmo local se erguer o actual templo.
            Nas últimas décadas a população de Ermesinde mais que duplicou. Para tal facto contribuíram, por certo, as ocorrências políticas, como o 25 de Abril e a descolonização portuguesa, que obrigaram a retornar à Pátria muitos portugueses, mas também as melhores vias de comunicação ferro e rodoviária com o Porto e com todo o Norte de País que fizeram de Ermesinde uma zona especialmente atractiva. Por isso, a construção civil tornou-se uma actividade tão necessária como lucrativa, que transformou Ermesinde, em poucos anos, numa autêntica cidade-dormitório.
Preocupações urbanísticas
            As preocupações urbanísticas com Ermesinde, sobretudo no que diz respeito a uma maior ordenação das ruas, com a atribuição de nomes, vêm do período da Primeira República.
            Mas este tipo de preocupações não se fica pela atribuição de nomes às ruas de Ermesinde, tem que ver também com alguns melhoramentos particularmente relevantes, como foram a electrificação e o abastecimento de água. 
Electrificação de Ermesinde
            Sendo Ermesinde uma terra já de certa dimensão, no início da década de 1920, e tendo diversas indústrias instaladas, várias vezes se insurgiram os seus moradores mais destacados pelo facto de não terem energia eléctrica, para utilização na indústria, na iluminação doméstica e, sobretudo, na iluminação das ruas. Tanto mais que esta última se tentou, nos primeiros anos da República, a acetileno, mas o resultado foi medíocre e, por isso, pouco tempo depois, foi totalmente posta de parte.
            As actas da Junta de Freguesia estão carregadas de referências à preocupação com a vinda da energia eléctrica para Ermesinde.
            A boa nova chegou ainda no período da Primeira República. Na sessão da Junta de Freguesia de 8 de Março de 1925, o Presidente deu conhecimento de ter recebido da Câmara Municipal de Valongo, um ofício a participar que, dentro de breves dias, iria abrir concurso para o fornecimento de energia eléctrica à vila de Valongo e a Ermesinde.
              Entretanto, dá-se a “Revolução” do 28 de Maio de 1926, os cofres do Estado cortam substancialmente com as despesas públicas, e o problema da electrificação fica adiado, mas os ermesindenses não o deixam cair no esquecimento.
Finalmente, no dia 29 de Setembro de 1929, a um Domingo, a iluminação eléctrica era, festivamente, inaugurada nas principais ruas de Ermesinde.
         Abastecimento de água
 Apesar de Ermesinde se situar numa região com muita água, justificava-se o abastecimento domiciliário dada a densidade urbana da povoação. Assim, em Setembro de 1973, era inaugurado festivamente o abastecimento público de água a Ermesinde, contava, a então vila, cerca de 25 mil habitantes.
 
Elevação de Ermesinde a cidade
            Nas décadas de 1970 e 1980, Ermesinde merecia já, quer pelo número de habitantes, quer pelas características da povoação o título de cidade.
            Uma vez solicitado esse título pelas entidades competentes, a Assembleia da República deferiu-o como era de justiça, no dia 13 de Julho de 1990.
           
Um aspecto da cobertura da sua moderna estação ferroviária
 
Inauguração do Parque Urbano de Ermesinde
            Há muitos anos que a população ermesindense se lamentava, e com razão, de não ter espaços verdes e de lazer. Para colmatar essa importante lacuna, foi inaugurado com pompa e circunstância, no dia 11 de Julho de 1998, bem no centro da cidade, o Parque Urbano de Ermesinde.
O Parque Urbano de Ermesinde veio alterar por completo a fisionomia do Centro desta urbe, dotando-a de condições de que não dispunha, tornando-a muito mais atractiva.
publicado por viajandonotempo às 10:14

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