VIAJANDO NO TEMPO...e no espaço!

Agosto 29 2009

 POUSAFLORES

 
 

 

Brasão: escudo de ouro, com armação de moinho de negro, cordoada do mesmo e vestida e com cabaças de azul; nos cantões do chefe, dois pés de açucenas de verde, floridos de vermelho, com estames de prata; em campanha, um ramo de oliveira de verde, frutado de negro e um ramo de carvalho de verde, frutado de vermelho, com os pés passados em aspa e atados do mesmo. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco, com a legenda a negro: «POUSAFLORES - ANSIÃO».

 

Apontamento Histórico
 
Pousaflores é uma das freguesias do concelho de Ansião. Até 1836 foi concelho autónomo, constituído apenas pela freguesia da sede. Nessa data foi incorporado no concelho de Chão de Couce.
Povoada desde antes da nacionalidade, a freguesia de Pousaflores é uma das que mais recentemente se integrou no concelho de Ansião, juntamente com as freguesias de Chão de Couce e Avelar, a partir de 7 de Setembro de 1895, depois de, todas três, terem constituído o concelho de Chão de Couce, e, mais tarde, pertencido ao concelho de Figueiró dos Vinhos, durante quase quarenta anos, mais concretamente, entre 24 de Outubro de 1855 e 7 de Setembro de 1895.
Pousaflores foi um dos concelhos como o foram cada uma das “Cinco Vilas”. O seu nome aparece no documento real de 4 de Junho de 1451, data da carta de doação desta terra, por parte de D. Afonso V, ao Conde de Vila Real, D. Pedro de Meneses. Mais tarde, já sede de concelho, o Rei D. Filipe I, através de documento datado de 7 de Outubro de 1594, confirmou a doação de D. Afonso V, ao Conde de Vila Real, uma vez, que os sucessores deste, lhe prestaram sempre bons serviços.
Pousaflores foi elevada à categoria de Vila, pela Carta de Foral que lhe foi outorgada pelo Rei D. Manuel, em 12 de Novembro de 1514. Como sede de concelho, teve Câmara, Pelourinho e Justiça própria. Pelo Foral de D. Manuel, os moradores de Pousaflores eram obrigados a pagar, segundo António Augusto da Costa Simões, em cada ano, de pão e tremoços, chegando o monte a catorze alqueires, e ainda que os excedesse, tiravam-se três alqueires a todo o monte; e do resto que ficava, pagavam de seis um. De vinho e linho, de oito um. Neste tempo (século XVI), e de acordo com o cadastro de 1527, Pousaflores tinha no seu termo os seguintes moradores: Aldeia de Lisboa a pequena, 8; Aldeia da Portela, 13; Gramatinhas, Albarrol, Bairrada e Vale da Vide, 22; Aldeia do Pereiro e Cabeço do Boi, 14. Tinha de seu termo, meia légua para os lados da cidade de Coimbra e Vila de Penela, e dois tiros de besta para a de Maçãs de D. Maria.
Pertenceu, sucessivamente, à Comarca de Ourém, à Comarca de Tomar, à Comarca das Cinco Vilas e à Comarca de Ansião, a que ainda pertence actualmente. Foi pertença, tal como as outras vilas vizinhas, do Conde de Vila Real, até à Restauração da Independência, data em que foi transferida para a Coroa, e, logo a seguir, para a Casa do Infantado.
 
A Paróquia de Nossa Senhora das Neves, segundo Américo Costa (Dicionário Chorographico de Portugal Continental e Insular) era vigararia da apresentação do Grão-Prior do Crato. No entanto, o Padre Luís Cardoso, no seu Portugal Sacro-Profano ou Catalogo Alfabético (1767) ao referir-se a Pousaflores, que designa ainda por Pouza-Fóles, escreve: «Freguezia no Bispado de Coimbra, tem por Orago Nossa Senhora das Neves, o Pároco he Vigario da apresentação do Infantado, rende noventa mil reis: dista de Lisboa vinte e sete leguas, e de Coimbra sete, tem duzentos e quarenta e seis vizinhos».
O Dr. António Augusto da Costa Simões que foi médico do Partido das Cinco Vilas e Arega, entre 1843 e 1847, e que escreveu a Topographia Medica (1848), sobre a área geográfica do seu Partido, fornece-nos dados mais pormenorizados e fidedignos acerca da Paróquia de Pousaflores. Revela que em 1712, a Côngrua rendia 90 mil réis, sendo35 mil réis em dinheiro, quatro alqueires de trigo, seis almudes de vinho, seis arráteis de cera, e o resto de pé de altar. Na altura da guerra civil entre liberais e absolutistas (1834), a Côngrua rendia já 40 mil réis em dinheiro, oito arráteis de cera e os mesmos quatro alqueires de trigo e seis almudes de vinho. Apenas 14 anos mais tarde (1848) a Côngrua passou a render 200 mil réis, sendo 130 mil réis de contribuição paroquial, e 70 mil réis de pé de altar e passais.
Segundo o Dr. Costa Simões, em 1848, as capelas do público, existentes na freguesia eram as seguintes: de S. Bartolomeu, no Pereiro de Baixo; de S. Caetano, na Portela de S. Caetano (segundo o autor, nesta capela, no seu tempo, já não se celebrava missa há muitos anos); de S. José, em Lisboinha; de S. Lourenço, na Portela de S. Lourenço; de S. Miguel, no Pessegueiro; de S. Sebastião e de S. Saturnino, em Albarrol (de acordo com o Dr. Costa Simões, na Capela de S. Saturnino também não se diz missa há muitos anos); de Santo António, na Gramatinha; e de Nossa Senhora do Pranto, na Venda do Negro.

 

No Alto da Serra do Anjo da Guarda, desfruta-se uma soberba vista panorâmica sobre os vales serranos, onde existe um moinho de vento, miradouro e relógio de sol. Nesta Serra existem muitos fósseis. São aí excelentes as condições para a caça à perdiz, coelho e lebre e para organização de montadas aos javalis.

 

Igreja Matriz da N.ª Sr.ª das Neves

 

 

A Igreja de Nossa Senhora das Neves, já mencionada nas Memórias Paroquiais de 1758, é de uma só nave, com cobertura em madeira de três planos.
         A fachada é simples, rasgada por uma porta de verga curva e, no piso de cima, uma janela envidraçada com a mesma forma da porta de entrada. Um painel de azulejos, policromado (alusivo à padroeira), encerra a fachada que é rematada por uma cruz latina. Do lado esquerdo do frontispício, uma torre, com quatro arcos sineiros (um para cada ponto cardeal) e mostradores do relógio a que se sobrepõe o tradicional coruchéu e, na sua base, quatro pináculos piramidais, sobre os cunhais da torre.
         A Capela-Mor que era abobadada, e de grande interesse artístico, pela talha dourada que possuía, ardeu há mais de 30 anos. Guarda duas imagens de carácter popular, em pedra, com algum interesse: S. Sebastião (século XV) e a padroeira, Nossa Senhora das Neves. De interesse é ainda a imagem de Santa Maria Madalena.
  
 
Capela da Nossa Senhora do Pranto (Venda do Negro)
  

 

No lugar da Venda do Negro, existe a Capela de Nossa Senhora do Pranto, onde há séculos atrás convergiam muitos peregrinos a pagarem as suas promessas, conforme o Pároco de Ansião refere ao responder ao Inquérito de Paroquial de 1758. Refira-se que a antiga estrada real Lisboa-Porto passava por esta aldeia, numa zona de grande dificuldade que impunha a serra.
         A Capela da Venda do Negro apresenta o frontispício quase totalmente fechado por um alpendre, virado a Poente, e é encimado pela cruz latina. O acesso ao sino faz-se por umas escadas no lado direito. No exterior do parapeito do alpendre encontra-se um painel em pedra: ao centro está a cara de um anjo e vários instrumentos de crucificação.
 
Há quem pense que este painel poderá ter pertencido ao antigo altar. Na vila de Ansião, curiosamente, existe uma pedra secular com desenhos muito parecidos aos do painel desta capela (junto ao antigo depósito de Água, no Cimo da Rua). Na verga da porta da Capela da Venda do Negro está a seguinte inscrição: “DE 1784 ANNO”. Claro que não pode ser a data da construção da Capela, que, obviamente, é muito mais antiga e já é mencionada nas Memórias Paroquiais de 1758. Quando muito será uma data relacionada com obras neste templo.
publicado por viajandonotempo às 11:39

Agosto 28 2009

LAGARTEIRA

 

Brasão: escudo de púrpura, freixo de ouro, arrancado e folhado do mesmo, entre dois lagartos de prata, lampassados de ouro e animados de vermelho, postos em pala, tudo envolvido por rosário de prata, com cruz flordelizada de ouro e disposto em orla. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: «LAGARTEIRA - ANSIÃO».

 

Apontamento Histórico

 

O primeiro documento escrito que conhecemos sobre a Freguesia da Lagarteira refere-se ao Vale do Pito. Este vale com o seu riacho e lagoa é já referido em 1137, no Foral de Penela, ao situar os limites deste conselho, do lado poente. Um outro documento de D. Afonso Henriques dá as águas correntes do Vale do Pito como limite nascente das Terras da LADEIA ou LADERA, que este rei doa ao Convento de Santa Cruz. Não há dúvida, portanto, que O território da freguesia da Lagarteira pertencia nestes tempos ao concelho de Penela.        
Em 1236, Coelhosa e Curcial são referidos em outros documentos, assim como os Casais, que se pensa serem os de Lagarteira. 
Os registos paroquiais mais antigos da Lagarteira são de 1599 (óbitos) e de 1612 (baptismos). Recordo que foi o Concílio de Trento que mandou que todas as paróquias conservassem registos de baptismos, casamentos e óbitos. E esse Concílio reuniu entre 1545 e 1563. O que significa a antiguidade desta paróquia, como centro religioso.
A actual igreja matriz tem como patrono S. Domingos e é dos princípios do século XVIII.
Nos princípios deste século XVIII, a freguesia tinha cerca de 190 fogos, sensivelmente o mesmo que tem actualmente, mas nessa altura com maior número de pessoas.
Em 1839, Lagarteira aparece na Comarca de Coimbra; em 1852 já se encontra na de Pombal, e começa a pertencer a Ansião, em 1878.
Na zona de Carrascos aparecem restos dum povoamento romano.
Nesta abordagem histórica sobre a Lagarteira, transcrevemos parte do que sobre ela escreveu Raúl de Carvalho, na sua publicação O Concelho de Ansião, em 1969, que faz um retrato dela, naquele tempo. Hoje, felizmente, os tempos são outros e a esta freguesia também já chegaram os efeitos do progresso.
«Quem percorrer a freguesia da Lagarteira, desde Maxial aos Casais da Póvoa, verificará que a sua extensão não é tão pequena como à primeira vista nos parece, mas o que ela é sem dúvida alguma, é uma das freguesias mais pobres do Concelho de Ansião.
A Lagarteira, confina ao Norte com a freguesia de Santa Eufémia, do vizinho concelho de Penela da Beira, ao sul com a vila de Ansião, a Nascente com a freguesia da Cumieira, do vizinho concelho de Penela e a Poente com a freguesia da Torre Vale Todos, do concelho de Ansião. Enquadrada entre  a freguesia de Ansião, a Torre de Vale Todos e Chão de Couce, é limitada ao Norte e a Nascente por terras do vizinho concelho de Penela.
Deste lado pode ser vista uma grande planície, onde se cultiva cereais, legumes e alguma vinha. 0 solo é árido e pedregoso, mas apesar disso é bastante fértil, depois de ter sido trabalhado, o que exige grande esforço por parte do trabalhador rural. Pela planície, também se vêem a destacar orgulhosamente de tão inóspita paisagem, muitas oliveiras e carvalhos. No vale do Poente, na Fonte do Carvalho, a paisagem é bastante diferente, porque aqui brotam em catadupas, as águas da primeira nascente do rio Nabão.
Por estes lados podem admirar-se muitas hortas verdejantes e grandes milheirais, que se estendem a perder de vista ao longo da sinuosa ribeira, que durante os meses de Inverno, transborda água nas suas margens, para mostrar o leito seco e cheio de pedra, durante todos os meses de estio. No cimo da suave colina, fica situada a sede de fre­guesia, que apesar de pequena, possui 300 fogos, distribuídos a uma população de 698 pessoas. A maior parte das terras desta fre­guesia, que se compõe de dezas­seis lugares, pertencia a três casas senhoriais, que recebiam de foro, a maior parte das colheitas da região. E como o povo destas terras vive quase exclusivamente do seu amanho, tinha que trabalhar arduamente de sol a sol, para conseguir transformar uma terra dura e escabrosa, numa terra mais ou menos arável, capaz de dar pelo menos o suficiente para pagar o foro e que ao mesmo tempo bastasse ao sustento da família do foreiro.
Apesar de vivermos numa era em que o homem conseguiu pôr os pés na Lua, na Lagarteira ainda não chegou qualquer espécie de progresso digno de menção; no entanto podemos dizer que já possui electricidade nos lugares de Maxial, Barrosos, Fonte de Carvalho, Pião, Lagarteira, Moita, Carrascos, Portela e Vale Figueira. Existe um posto de telefone público no lugar da Moita. 0 correio é distribuído  diariamente ao domicílio e em todas as povoações e casais da freguesia.
 A Lagarteira possui dois cemitérios, um junto  da igreja matriz e o outro no lugar da Lagoa do Pito. No cimo da Lagarteira vê-se uma antiga e vetusta igreja, que se abriga à sombra de um gigantesco freixo. É o orago da freguesia São Domingos e a sua festa religiosa anual efectua-se no Mês de Junho e é dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Um dos filhos da terra, que o povo mais se orgulha de aqui ter nascido, é o sr. Carlos Dias, que muito tem contribuído  para que exista de facto algum progresso nesta terra, que por não ter recursos financeiros que bastem, não pode aspirar a sair de certa mediania, própria de quem não é rico e vive somente do labor do seu trabalho, bastante duro e pouco rendoso».

 O secular freixo no largo da igreja

 Apesar de sofrer os efeitos do envelhecimento da população, há algumas fundadas esperanças de que o grupo jovem vá crescendo e, sobretudo, que se criem oportunidades para que aqui se fixem.

 Segundo os autarcas locais, a taxa de actividade ronda os 40%. A população dedica-se sobretudo à agricultura, obtendo produtos como a batata, o trigo, o azeite e o vinho, fundamentalmente destinados ao consumo próprio.

 Igreja Matriz de S. Domingos

              
A actual Igreja matriz, que já aparece mencionada nas Memórias Paroquiais de 1758, foi construída, muito provavelmente, no século XVIII, com a particularidade da torre sineira se situar no centro da fachada principal do templo, a que dá acesso por três arcos de cantaria.
É constituída por nave única, com cobertura em madeira, em três planos, como o da capela-mor.
O Altar-mor tem um retábulo em talha dourada, com colunas salomónicas geminadas. O arco cruzeiro é decorado com um retábulo em madeira policromada, com representação da Sagrada Família. A balaustrada é de mármore róseo. A igreja é decorada com dois altares colaterais com arcos de cantaria. O altar esquerdo é de Nossa Senhora das Dores. Possui também dois quadros de madeira pintada. Ambos os altares têm colunas salomónicas decoradas com grinaldas, retábulo com Jesus flagelado, lado esquerdo; do lado direito, um retábulo de Jesus agonizante e um cálice. As paredes de fundo dos altares são revestidas a azulejos hispano-árabes. No tecto da capela-mor foi aplicada uma pintura de um livro, no qual se encontra escrito: “Jesus Cristo/ Luz do Mundo”.
No espaço envolvente, à direita da Igreja, foi construído um coreto, e encontra-se um freixo centenário.
 

 Interior da Igreja Matriz da Lagarteira

publicado por viajandonotempo às 11:26

Agosto 27 2009

CHÃO DE COUCE

 

 

Brasão: escudo de ouro, castanheiro arrancado de verde e frutado de prata, entre uma paleta de pintor de vermelho, com pincel de sua cor, em chefe e um monte de três cômoros de verde, em campanha. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco, com a legenda a negro: “CHÃO de COUCE”.
 
Bandeira - esquartelada de amarelo e verde. Cordões e borlas de prata e verde. Lança dourada.
 
 
 
Apontamento Histórico
 
Chão de Couce é uma das paróquias do concelho de Ansião que apresenta grande riqueza histórica (leia-se, a propósito, a minha publicação de 2001, Chão de Couce – estudo monográfico).
Foi vila e sede de concelho entre 1514 e 1855. O antigo município era constituído inicialmente apenas pela freguesia da vila. Tinha, em 1801, 1 279 habitantes.
Em 1836 foram-lhe anexadas as freguesias de Avelar e Pousaflores, com a extinção dos respectivos concelhos. Tinha, em 1849, 3 568 habitantes. Aquando da extinção, foi integrado no concelho de Figueiró dos Vinhos, passando, em 1895, para o actual município de Ansião.
Chão de Couce, como espaço de ocupação humana, remonta ao princípio dos tempos, havendo vestígios arqueológicos da Pré-História e da ocupação romana, designadamente vestígios da via romana de Conímbriga a Sellium (Tomar).
A primeira referência escrita a Chão de Couce, respeita à Quinta de Cima, onde actualmente permanece um palacete, que atesta, ainda, a sua nobreza e uma capela particular de invocação de Nossa Senhora do Rosário. Esta propriedade pertenceu aos reis de Portugal (I Dinastia) havendo registo da doação feita por D. Afonso III, a D. Constança Gil, dama da rainha D. Beatriz, como dote de casamento, em 5 de Fevereiro de 1258. Mais tarde, a Quinta foi do Conde de Barcelos, do Mosteiro de Santo Tirso, de D. Dinis, novamente Mosteiro de Santo Tirso e João Afonso, genro de D. Dinis. Consta-se que, aquando do casamento de D. Fernando com D. Leonor de Teles, criticado violentamente pelo povo de Lisboa, o casal real se terá refugiado aqui.
Em 4 de Junho de 1451, Afonso V, fez a doação da Quinta, ao Conde de Vila Real, D. Pedro de Meneses. A Quinta de Cima voltou à Coroa em 1641 (com a execução do seu proprietário, um dos conjurados contra D. João IV) e, pouco depois, foi integrada na Casa do Infantado até 1834, vindo, posteriormente, a ser propriedade de António Lopes do Rego, Sargento-Mor e Cavaleiro da Ordem de Cristo, antepassado dos actuais proprietários.
A Quinta de Cima é, ainda hoje, uma verdadeira preciosidade, em termos artísticos e históricos. No princípio do século XX, embora a arquitectura do belo edifício habitacional nada tivesse de medieval, continuava a ser um espaço idílico (e hoje ainda mantém, praticamente, o mesmo as­pecto), habitado, então, pelo Dr. Alberto Rego que ali recebeu destacadas figuras do País, no domínio da música, das artes, da ciência, da medicina e da literatura.

 

Centro Pastoral da Região Sul da Diocese de Coimbra (Chão de Couce)
 
A Igreja e os seus sacerdotes são também uma marca insofismável da História de Chão de Couce. Em meios rurais, o sacerdote foi sempre uma figura de grande prestígio, mas aqueles que governaram a Paróquia de Chão de Couce, pelo menos no século XX, excederam esse prestígio social, porque lhe associaram, nalguns casos, o exercício do poder político, e, noutros, uma extraordinária capacidade de diálogo social e de iniciativa, que tornaram Chão de Couce, em meados do século XX, a capital do Arciprestado das Cinco Vilas, e já no último quartel do mesmo século, a capital de toda a Região Pastoral do Sul da Diocese de Coimbra.
Perante poderes tão eminentes, apagou-se bastante o poder local que, só depois da Revolução do 25 de Abril, começou a emergir de uma forma mais sistemática, começando actualmente a ser notada a sua obra, em prol de uma população que precisa de ser estimulada a fixar-se, para não debandar totalmente, matando a vida humana numa região tão bonita como é Chão de Couce.
 
Pelourinho de Chão de Couce
 

De construção recente (século XX), o Pelourinho de Chão de Couce, junto à antiga Casa da Saúde, assenta em três degraus quadrados em esquadria de pouca altura. A coluna parte de uma base quadrada com três discos octogonais: dois lisos e o do meio boleado. O fuste monolítico octogonal possui uma altura de 2,50 m. Na sua parte superior sobressai o brasão invertido com as armas de Portugal. O capitel possui, tal como a base da coluna, três discos octogonais, mas em posição invertida, sendo que no disco inferior há um pequeno fecho com duas pegas. É rematado em forma de esfera armilar, assentando-lhe uma Cruz de Cristo.

 

Palácio da Quinta de Cima

 

 

A Quinta de Cima foi propriedade dos soberanos portugueses. Prova disto é o documento que refere a doação da Quinta, por parte de D. Afonso III a Constança Gil, em 1258.
Quando D. Fernando se casou, contra vontade do povo, com D.ª Leonor de Teles refugiou-se neste palácio real, bem longe dos “olhares” de Lisboa.
 A Quinta terá permanecido na posse da família real até 1451, data em que passa para a importante Casa de Vila Real, por doação do Rei D. Afonso V. Contudo, acaba por passar novamente para a Coroa e Casa do Infantado. Só em 1834, com a extinção desta Casa passa para a Família Rego, detentora da Quinta de Cima até há muito pouco tempo.
 Já no século XX, foi “refúgio” temporário de figuras da elite portuguesa. Pintores, músicos, escritores, médicos, políticos e cientistas foram algumas das personalidades que conheceram bem de perto aquela idílica propriedade. Egas Moniz, Nobel da Medicina, Raul Proença, Hernâni Monteiro e José Malhoa, pintor, são apenas alguns exemplos dos ilustres portugueses que foram convidados do Dr. Alberto e D.ª Elvira Rego.
Actualmente, é constituída por uma casa e capela particular (mas, em tempos teve também um couteiro) e está enquadrada numa bonita paisagem com uma mancha de castanheiros. 
 
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Consolação
  A actual Igreja de Chão de Couce foi construída no local do primitivo templo católico (que tinha a tradicional direcção Este-Oeste, ao passo que a nova tem uma orientação quase Norte-Sul), considerado, nas primeiras décadas do século XX, demasiado pequeno para conseguir receber, em condições aceitáveis, todos os paroquianos. A iniciativa da sua construção partiu do respectivo Pároco, Padre Manuel Mendes Gaspar, que conseguiu agregar a esse projecto toda a comunidade paroquial, tendo sido o novo templo inaugurado, segundo a imprensa da época, no dia 23 de Novembro de 1930.
A nova Igreja ficou, durante cerca de duas décadas, com a antiga Torre, exactamente do lado contrário àquele em que hoje se encontra. Essa Torre havia sido projectada e dirigida a sua construção pelo Dr. Augusto da Costa Rego, quando ainda era aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
A actual Torre foi construída na década de 1950. Trata-se de um projecto do Eng.º Augusto Santa Rita que, para o efeito, esteve em Chão de Couce no dia 8 de Janeiro de 1949. A sua construção, já na década de 1950, só foi possível graças à generosa contribuição monetária do Comendador Alberto Mendes Rosa.
De interesse nesta Igreja, e para além das muitas imagens que se podem ver nos seus altares (algumas delas muito antigas, designadamente as esculturas em pedra da padroeira e de Santo André – que se supõe serem quinhentistas), são também os azulejos da nave, capela-mor e fachada principal, da autoria de Mário Reis – ceramista, discí­pulo de Columbano, trabalhou para as Exposições do Mundo Por­tuguês de 1940 e Hispano-Ibérica, Ministério da Educação e Casa Oficial do Presidente do Conselho de Ministros, sendo “medalha de ouro” pelos trabalhos de pintura de azulejos.
 Tem quatro altares laterais, com imagens contemporâneas, e dois colaterais, sendo de maior importância o que tem a imagem de Santo Antão (patrono da vida monástica com um livro e caveira), do século XVI. 
  Ao longo dos setenta e oito anos que leva de existência, muitas vezes foi necessário fazer obras de conservação e melhoramento. Há cerca de quinze anos (entre 1993 e 1995) foi construído um salão para reuniões e arranjada a Sacristia, no lado Poente, e, no lado oposto, foram criadas 3 salas de catequese e adaptado um espaço para Capela Funerária, bem como a substituição de todos os telhados, pintura do exterior e novo relógio. Obras que ultrapassaram os 8 mil contos.
 No ano 2000, para celebrar com mais dignidade o Jubileu, foi a vez de se fazerem grandes obras de restauro no interior do templo: as paredes foram rebocadas de novo e pintadas, os tectos e o soalho substituídos por madeira exótica, os bancos restaurados, feita nova instalação sonora e eléctrica e restaurados todos os altares, tendo sido melhorada a sua talha com pinturas e douramentos de que se encarregou uma prestigiada casa de arte religiosa da cidade de Braga. As obras importaram em mais de 20 mil contos, tendo uma parte (30%) sido suportada por um subsídio estatal. As obras de restauro foram inauguradas no dia 22 de Junho de 2000, pelo então Bispo-Coadjutor de Coimbra, D. Albino Cleto.
 
Mas a jóia mais importante, em termos artísticos, é, sem dúvida, o Retábulo de Nossa Senhora da Consolação, oferecido à Igreja de Chão de Couce pelo seu autor, Mestre José Malhoa.
Quase três anos depois da inauguração da Igreja, foi a vez de se inaugurar o Retábulo da Padroeira - N.ª Sr.ª da Consolação (última obra de Malhoa), contava o pintor 78 anos de idade. Aquele dia 10 de Setembro de 1933 foi uma Festa com uma imponência e participação popular absolutamente únicas. Malhoa ficou, para sempre, no coração do povo de Chão de Couce! Foi a última grande Obra de Mestre Malhoa, que, em 2003, perfez 70 anos de existência, efeméride que a Paróquia fez questão de lembrar de forma pública e festiva.

 

 
publicado por viajandonotempo às 08:00

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