VIAJANDO NO TEMPO...e no espaço!

Outubro 29 2009

 

TORRE DE VALE DE TODOS

 

Brasão: escudo de azul, torre de prata aberta de vermelho; nos cantões, dois besantes de ouro e, em campanha, ramo de oliveira de ouro, frutado de prata, posto em faixa. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: «TORRE de VALE de TODOS».
Bandeira: branca, com cordão e borlas de prata e azul e haste e lança de ouro.
 
         APONTAMENTO HISTÓRICO
 
Até ao início do século XIX constituiu o couto de Vale de Todos.
O 1.º documento conhecido que refere o nome desta freguesia, data do reinado de D. Afonso Henriques (1162) tempo de luta entre Cristãos e Muçulmanos (Reconquista Cristã), nesta região da Ladeia, onde haveria uma torre de defesa avançada de Coimbra (como aconteceu noutras localidades vizinhas), então a cidade capital do reino em formação.
O seu nome, muito provavelmente, veio da existência dessa mais que provável Torre defensiva. Tratando-se de uma elevação natural do terreno, na parte Sul da Ladeia, esta probabilidade ganha grande credibilidade, apesar de não se encontrar nos arredores da povoação qualquer vestígio dessa construção, a não ser no próprio nome da povoação.
Aquando do seu povoamento, há o registo da Quinta de Vale de Todos que o Chantre de Coimbra, João Joanes, doou à Sé de Braga. Pertenceu, sucessivamente, a Penela, ao termo de Coimbra e, muito mais tarde, ao concelho de Ansião.
A sua população vive, sobretudo, da actividade agrícola: produção de cereais, azeite, vinho, criação de gado e produção de queijo (integra a zona demarcada do famoso Queijo do Rabaçal.
 
 Área envolvente à Igreja da Torre de Vale de Todos
 
Na sede da freguesia da Torre de Vale de Todos, é local obrigatório de visita a Igreja Paroquial. Dedicada a Nossa Senhora da Graça, a Igreja que se supõe de fundação quinhentista, foi sendo alterada ao longo dos séculos. O seu interior é de uma só nave, coberta por um tecto de três planos. Mas a sua maior preciosidade é a escultura de Nossa Senhora da Graça, de meados do séc. XVI.
Em pedra de Ançã, policromada, esta peça de grande valor artístico é da autoria do grande Mestre conimbricense João de Ruão, e já tem saído para exposições de nível nacional e internacional.
Ainda no interior da Igreja, merece igualmente a atenção do visitante, a escultura em pedra quinhentista da Santíssima Trindade (no Altar-Mor); e as Imagens seiscentistas, também em pedra, de São Gregório e Santo António.
O traçado rural das ruas e as habitações humildes da parte antiga da povoação são outro atractivo do lugar da Torre, donde se tem uma vista panorâmica bastante agradável sobre terras do concelho e fora dele.
 
 Igreja de N.ª Sr.ª da Graça (Matriz)
 
A Igreja de Nossa Senhora da Graça é um encanto, pela beleza dos seus espaços e imagens e já aparece mencionada nas Memórias Paroquiais de 1758.
A fachada principal tem a data de 1749 inscrita no friso da igreja, referente a uma grande remodelação que descaracterizou o primitivo templo. A actual igreja é de origem quinhentista: segundo a inscrição gravada no intradorso do arco cruzeiro, e terá sido mandada fazer por João Domingues, da Torre, na era de 1536 com auxílio do povo.
O interior é de uma só nave, com cobertura em madeira a três planos, tendo pintada no tecto, ao centro, a imagem de Cristo. Do lado esquerdo, abre-se uma pequena capela (antigo baptistério) onde estão colocadas na parede duas pedras com as inscrições “1613” e “ALMAS DO / [PURG]ATORIO / [PAD]RE NOSSO”.
Segue-se o púlpito de base quadrangular assente em mísula com balcão entalhado e com efeitos marmoreados. Abre-se outra capela (actual baptistério) onde apenas se encontra a pia baptismal ao centro e uma imagem de vulto quinhentista da Santíssima Trindade na parede.
No lado direito, está a bonita capela do Sagrado Coração de Jesus com retábulo de talha dourada e policromia, profusamente decorado com motivos vegetalistas e volutas onde se sentam anjos. Os retábulos, datados do século XVIII, foram restaurados em 1990. Os altares que ladeiam o arco triunfal ostentam retábulos com arquivoltas de colunas espiraladas onde se entrelaçam folhas de videira e aves do paraíso. O altar do lado direito guarda a imagem da Padroeira, Nossa Senhora da Graça, e é atribuída a João de Ruão que a terá esculpido em 1537. A Capela-mor tem retábulo e decoração semelhante à dos altares colaterais.
 
 Igreja Matriz da Torre de Vale de Todos
 
 Bonita imagem de Nossa Senhora da Graça do escultor João de Ruão
 
Esta linda imagem de Nossa Senhora da Graça é obra do mestre conimbricense João de Ruão, esculpida há quase 500 anos a troco de 5$000 réis (importância bastante avultada para a época). A imagem é feita em pedra de Ançã e pesa 15 arrobas. Esta Nossa Senhora da Graça da Torre de Vale de Todos é uma cópia da de Nossa Senhora da Esperança que acompanhou Pedro Álvares Cabral ao Brasil e que está guardada na Igreja da sua terra natal, Belmonte. Tem os mesmos elementos. Há, no entanto, uma diferença: a escultura de Belmonte retrata uma imagem de mulher com feições bem vincadas, enquanto que Virgem da Torre de Vale de Todos nos dá a impressão de uma mulher ainda muito jovem.

 

publicado por viajandonotempo às 09:00

Outubro 21 2009

As Lutas Liberais no Concelho de Valongo

 (Parte 2)
 
                                                Comunicação apresentada por Manuel Augusto Dias no IV Congresso Histórico de Guimarães (no dia 27 de Outubo de 2006)
  

 

             3.3 – As vítimas humanas destas lutas
 
Foram muitas as vítimas humanas dos primeiros dias desta guerra a sério!
Mas os dados oficiais mudam, conforme a origem das fontes.
A Chronica Constitucional do Porto (de 28 de Julho de 1832, p. 50), afecta aos liberais, acerca deste assunto refere:
«A nossa perda entre mortos, feridos e extraviados, nas duas acções dos dias 22 e 23, pouco pode exceder de tresentos homens; a do inimigo, segundo todas as informações, excede a mil e duzentos; encontrando-se sobre a estrada de Penafiel, só feridos, cento e sessenta carros, não contando com a dispersão dos Corpos de Milícias, cujos individuos todos os dias se apresentão, pretendendo gozar, á sombra de um Governo Restaurador, do benefício que os restitue ás suas casas e ás suas famílias».
Já a Gazeta de Lisboa (de 31 de Julho de 1832, p. 883), simpatizante dos absolutistas, apresenta números substancialmente diferentes:
«Segundo Visconde de Santa Martha, Marechal de Campo, Comandante da 4ª Divizão. / Mortos e feridos nas acções de 22 e 23 de Julho:
Mortos 55 – Entre estes o Tenente de Cavallaria de Chaves, António José Paranhos, e o Alferes do Regimentos de Infantaria de Cascaes, Romão José Baptista.
Feridos 212/217 – Entre estes o Coronel de Voluntarios Realistas do Porto, José de Mello Peixoto, os capitães de cavallaria de Chaves Salvador de Carvalho Assis, e de Voluntários Realistas de Braga Manoel Alves Teixeira Torres, o Tenente de Infantaria de Vallença José Manoel Machado; o Ajudante do Batalhão de Voluntarios Realistas de Villa Real, António Xavier da Costa, e os Alferes Lopo António Saraiva, do Batalhão de Voluntarios Realistas de Braga; Bento José de Miranda, dos Voluntarios Realistas de Chaves, e Antonio Fillipe Pinto, das Milicias de Guimarães».                                                                                   
Independentemente da grande diferença dos números de uma e de outra fonte, o certo é que, só nestes dois dias (22 e 23 de Julho de 1832), nas batalhas travadas no actual concelho de Valongo, largas centenas de homens perderam a vida, ou ficaram gravemente feridos, naqueles que têm sido considerados os combates mais violentos das guerras do Cerco do Porto.
Ainda hoje existe, no lado direito da escadaria que leva à entrada principal da Igreja de Santa Rita (outrora integrada no Convento da Mão Poderosa), uma lápide que assinala o sarcófago onde repousam os restos mortais desses soldados que tiveram a desdita de cair na luta fratricida que cobriu de luto muitas famílias portuguesas.
         
  Lápide tumular do sarcófago com os restos mortais de alguns soldados da Guerra Civil (1832-1834)
 
 

  Reprodução da inscrição que se encontra na referida lápide tumular

 

Durante o mês de Agosto de 1832, entre Alfena (vale do rio Leça) e a Formiga (nascente do Rio Tinto), estabeleceu-se a linha de fogo entre os exércitos inimigos, o que, na prática, representou um avanço dos absolutistas. Dois meses mais tarde, o General Conde de Santa Marta, avançou ainda mais em direcção ao Porto, instalando a 2.ª Brigada da 2.ª Divisão (constituída por cerca de 7 mil homens) em Águas Santas.
Terá sido nessa ocasião que o actual Colégio de Ermesinde, ao tempo Convento dos Religiosos Eremitas Descalços de Santo Agostinho, serviu de Hospital das forças de D. Miguel, que aqui terá estado mais de uma vez.
 
3.4 – O Convento da Mão Poderosa serviu de Hospital às Forças Miguelistas
O Director do Hospital era o Dr. António Paulo Anjo Viegas de Oliveira Freire. A esse Hospital Militar, em pleno teatro de operações, começaram a chegar, de todos os lados, os meios indispensáveis ao socorro dos feridos, que resultavam de dádivas, que a Gazeta de Lisboa, ia publicitando. Lençóis, cobertores, mantas, enxergões, roupas, material de enfermagem eram os donativos que apareciam em maior número, e os ofertantes eram quase sempre, mosteiros, conventos e outras instituições religiosas.
 
 
Fachada Nascente do antigo Convento da Mão Poderosa (Ermesinde – Valongo)

 

Não nos é fácil imaginar o desespero e sofrimento dos combatentes feridos! Mas era, por certo, cenário horrendo, aquele em que os carros de bois, vagarosos e indiferentes, transportavam os feridos, entre estridentes gritos de dor e de morte, desde a linha avançada de combate até ao Hospital, às vezes em percursos de mais de 5 quilómetros.
Os feridos mais graves, dos recontros mais violentos, como foram os de 22 e 23 de Julho, e, sobretudo, os que aconteceram nos dias 8 e 29 de Setembro, 11 e 12 de Novembro de 1832, e 5 e 25 de Julho de 1833, mesmo que ainda manifestassem ténues sinais de vida, eram desprezados (ou atirados à vala comum), para socorrer, prioritariamente, aqueles em que se notava alguma possibilidade de sobrevivência.
 
     3.4.1 - Visita de D. Miguel ao Hospital da Formiga no 
   dia 20 de Dezembro de 1832
 
D. Miguel visitou o Convento dos Religiosos Eremitas Descalços de Santo Agostinho, na Formiga, onde estava instalado o Hospital das suas tropas, no dia 20 de Dezembro de 1832.  
No fim desse primeiro ano em que a Guerra Civil se declarou, D. Miguel, com o objectivo de dar alento e apoio às suas tropas, deslocou-se aos vários centros de operações para que a sua presença fosse capaz de dar novo fôlego aos seus soldados e anular o efeito da propaganda liberal.
Um dos locais que visitou foi o Hospital Militar da Formiga. A Gazeta de Lisboa, n.º 304, trouxe a notícia, donde transcrevemos alguns excertos.
            No dia 16 de Dezembro, D. Miguel esteve em Valongo; no dia seguinte, passou revista “as tropas, que estávão ao Norte do Douro, e dellas recebeo novos testemunhos de lealdade de amor”; a 19, foi visitar “a Fabrica de Ferro a Crestuma” e na manhã do dia 20, passou revista “a tres Corpos da Columna movel, que ainda não tinha recebido esta honra”, para, no mesmo dia e imediatamente a seguir, passar a última revista, desta vez “ao Hospital de Sangue da Formiga” (Gazeta de Lisboa, n.º 304, p. 1477):
«... Depois da última revista Dirigio-se ElRei Nosso Senhor ao Hospital de Sangue da Formiga, percorrendo todas as suas enfermarias, demorando-se particularmente naquella em que estão os bravos militares, que forão feridos no campo da honra na justa defeza do Rei e da Patria. He impossivel explicar as demonstrações de benignidade, e de affecto, que ElRei Nosso Senhor Prodigalizou áquelles seus leaes Vassalos, como tambem se não póde pintar a emoção, que nelles, e em todos os circunstantes causou aquella scena verdadeiramente interessante, e pathetica. Depois de haver Sua Magestade assim penhorado dos mais vivos sentimentos de gratidão, e contentamento aquelles fieis guerreiros Seus defensores, Passou à Enfermaria onde se curão os prizioneiros rebeldes, que se achão feridos, e Patenteando toda a Grandeza de Seu animo verdadeiramente Real, e da Sua Piedade e Clemencia verdadeiramente Christã, Tratou com a mesma bondade e carinho aquelles seus inimigos, que tinhão vindo armados a este Reino com o sacrilego fim de atacar os direitos da sua incontrastavel Legitimidade. He escusado referir a sensação, que em todos produzio espectaculo tão tocante. Concluido este acto, tomou ELRei Nosso Senhor em direitura o caminho de Braga».
Mas, nas imediações da cidade do Porto, a Guerra continuava. Durante longos meses, os liberais e os portuenses vivem uma situação verdadeiramente desesperada, onde ocorrem epidemias, fome, indisciplina, revolta, deserções e até atrasos no pagamento dos soldados. A reviravolta tarda em surgir, mas, quando surge, no final da Primavera e início do Verão de 1833, corre a favor dos liberais, que podem, finalmente, sonhar com a vitória.
            Pode parecer-nos estranho, mesmo a esta distância de quase dois séculos, como é que as forças liberais, em manifesta minoria, e restringidas ao espaço físico de uma cidade apenas (ainda que se trate da 2.ª mais importante do País), conseguiram triunfar? Parece-nos que a chave da vitória esteve no querer dos ideais liberais, e, sobretudo, na determinação de alguns dos seus mais destacados protagonistas.
            Neste particular, subscrevemos por inteiro, Eugénio dos Santos quando, a este propósito, escreve: Os liberais triunfaram «por serem conduzidos por grandes chefes. Foram estes que minguaram aos miguelistas. Soldados nunca lhes faltaram, em número. Do que nunca dispuseram foi de cabos-de-guerra determinados, de um comando eficaz e catalisador, de solidariedade de chefias» (Eugénio dos Santos, D. Pedro IV, p. 230)
      4 - A criação do Concelho de Valongo      
         Esta Guerra terminava na Primavera de 1834 com o triunfo de D. Pedro e dos Liberais. O Absolutismo estava definitivamente afastado do poder em Portugal (mas não as guerras civis, que ainda haviam de flagelar o Reino, de Norte a Sul, com os Levantamentos da “Maria da Fonte” e da “Patuleia”).
Mas voltemos ao triunfo de D. Pedro, à vitória da causa liberal e, sobretudo, aos seus efeitos. Interessa-nos aqui, particularmente, o caso de Valongo.
Diz-se na região, que D. Pedro IV, na conjuntura destas guerras, ao atravessar a localidade, «estranhara que ela fosse ainda simples freguesia, dado tratar-se de tão grande povoado, situado em local agradabilíssimo e importante pelo seu comércio e indústria» (António Russo Cabrita e Maria Margarida Silva, Monografia do Concelho de Valongo, p. 50).
Ora, pouco tempo após a derrota de D. Miguel e dos Absolutistas, foi criado o Concelho de Valongo, como justa homenagem e gratidão ao povo valonguense por ter ajudado os liberais durante a Guerra.
 No Decreto de 28 de Novembro de 1836, que cria o município de Valongo, a Rainha (D. Maria II) refere, expressamente, que esta terra lhe merece gloriosa recordação por ter sido daí que D. Pedro IV, seu pai, dirigiu a vitoriosa Batalha da Ponte Ferreira.
 
          4.1 - Almoço da Rainha D. Maria II, na Travagem
 
 
         Vinte anos após as batalhas que ali tiveram lugar e 16 sobre a criação do concelho de Valongo, D. Maria II e o seu séquito, ao regressarem de uma visita ao Minho, pela estrada de Guimarães ao Porto, foram obsequiados com um almoço na Travagem (Ermesinde), oferecido pela vereação do novo concelho valonguense.
O Diario do Governo, do dia 24 de Maio de 1852, na primeira página, publica uma carta do Governador Civil do Porto, Visconde de Podentes, dirigida ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Rodrigo da Fonseca Magalhães, relativamente à visita que a Comitiva Real (Rainha D. Maria II, seu marido com o título de Rei, D. Fernando II, e os príncipes, que, mais tarde, viriam a ser reis de Portugal, D. Pedro e D. Luís) fez ao Norte do Reino, e onde se faz referência ao almoço que foi oferecido a Suas Majestades, nesta cidade, no lugar da Travagem.
O teor da carta é o seguinte:
«Governo Civil do Districto do Porto / Ill.mo e Ex.mo Sr. = Tenho a honra de participar a V. Ex.ª, que tendo Suas Magestades e Altezas saído hoje de Santo Thyrso ás oito horas da manhã, e tendo-se dignado acceitar um bem servido almoço que tinha feito preparar, e lhes ofereceu na ponte da Travage a Camara de Vallango (sic), a sua entrada se verificou nesta cidade pelas duas horas da tarde, dirigindo-se Suas Magestades á Real capella de Nossa Senhora da Lapa, aonde assistiram a um solemne e pomposo Te-Deum, preparado e dirigido pela irmandade da mesma capella, no qual celebrou S. Ex.ª o Bispo da diocese. (...) / Deos guarde a V. Ex.ª / Porto 18 de Maio de 1852, ás quatro horas da tarde. = Ill.mo e Ex.mo Sr. Rodrigo da Fonseca Magalhães, Ministro e Secretario de Estado dos negocios do Reino. = Governador civil, Visconde de Podentes».
 
            5 - Conclusão
 
            Pelo que fica dito, ainda que de forma necessariamente sucinta, resulta a certeza de que toda a região valonguense foi directamente afectada pela situação de Guerra Civil em que o “Grande Porto” se viu envolvido, entre o Verão de 1832 e o de 1833.
            E, apesar das fontes serem contraditórias, no que respeita às descrições dos movimentos militares e, sobretudo, na contagem das vítimas que ia fazendo, também se torna evidente que os primeiros combates foram bastante violentos e provocaram grande número de mortos e de feridos, de parte a parte.
            A vida das gentes que então aqui viviam, ligadas na quase totalidade à vida agrícola, também foi significativamente perturbada. A fome e as doenças mortais: cólera e tifo iam ceifando vidas.
            As famílias foram seriamente afectadas e até a taxa de natalidade baixou significativamente, por exemplo, no caso da freguesia de Ermesinde, até 1831, registavam-se uma média de 43 nascimentos, que, durante os anos da Guerra, baixou para cerca de metade, apenas 23.
                 Mas o mais importante, é que os liberais saíram triunfantes, o País pode, com algum atraso e depois de novas dificuldades e lutas internas, modernizar a sua estrutura política e rumar a um futuro de maior esperança para a qualidade de vida dos portugueses.
 
Cronologia da Guerra Civil do Porto (1832-1834)
 
1832
8 de Julho – Desembarque em Pampelido.
9 de Julho – Entrada no Porto do exército liberal. 
14 de Julho – O primeiro ataque das forças miguelistas é desbaratado.
18 de Julho – Combates em Penafiel.
22 de Julho – Reconhecimento de Valongo, retirada para Rio Tinto.
23 de Julho– Combates na Formiga e Batalha da Ponte Ferreira.
8 de Agosto – Reconhecimento miguelista sobre o Norte do Porto.
8 a 11 de Setembro,– Ataques à serra do Pilar e ao Porto, que são repelidos. 
– Ocupação de Gaia pelos miguelistas.  
– Princípio do bombardeamento à cidade do Porto. 
16 de Setembro – Os constitucionais reocupam o cerro das Antas.
29 de Setembro – O ataque geral dos miguelistas ao Porto é repelido.
11 de Outubro – Batalha naval nas águas do Norte.
13 e 14 de Outubro – Ataques à Serra do Pilar, repelidos. O cerco aperta-se, com a artilharia a guarnecer a margem Sul do Douro.
14, 17 e 28 de Novembro – Vários ataques dos sitiados repelidos pelas forças sitiantes.
17 de Dezembro – Revista de D. Miguel ao seu exército sitiante.
20 de Dezembro – D. Miguel visita o Hospital das suas tropas na Formiga (Ermesinde)
 
 1833
24 de Janeiro – Ataques frustrados dos liberais às posições miguelistas, a Noroeste do Porto.
2 a 24 de Março – Ataques miguelistas às linhas leste e noroeste, repelidos.
9 de Abril – Os liberais ocupam o reduto do Covelo (Porto).
1 de Junho – Chegada ao Porto de reforços liberais, sob o comando de Palmela e Napier (futuro almirante da esquadra liberal).
13 de Junho – Saldanha é nomeado chefe do Estado-Maior do exército liberal.
24 de Junho – Ocupação de Tavira.
5 de Julho – Batalha naval no cabo de S. Vicente, saindo derrotada a esquadra miguelista.
25 de Julho – Ataque às linhas de defesa do Porto é repelido pelos liberais.
24 de Julho – O Duque da Terceira entra vitoriosamente em Lisboa. É evacuada a guarnição miguelista.
26 de Julho – D. Pedro embarca para Lisboa.
18 de Agosto – Saldanha vence a divisão miguelista no Porto, levanta o cerco pelo Norte e pelo Leste.
22 de Setembro – D. Maria II regressa a Portugal, vinda de França.
 
  1834
14 de Janeiro – Saldanha domina e fortifica Leiria.
23 de Março – Napier ocupa Caminha.
2 de Abril – Ocupação de Braga. 
3 de Abril – Ocupação de Valença. Expedição de Terceira ao centro do País.
8 de Maio – As forças liberais ocupam Coimbra.
17 de Maio – D. Miguel retira-se de Santarém para Évora.
27 de Maio – Convenção de Évora Monte.
 
Bibliografia
 
- A Gazeta de Lisboa, vários números, 1832.
- A Voz de Ermesinde, várias edições, designadamente as 337 (12 de Julho de 1988), 338 (Agosto de 1988) e 339 (Setembro de 1988).
- Beça, Humberto, Ermezinde, Monografia Historico-Rural, Porto, 1921.
- Cabrita, António Russo e Silva, Maria Margarida C. F., Monografia do Concelho de Valongo, 1973.
- Chronica Constitucional do Porto, vários números, 1832.
- Diario do Governo, de 24 de Maio de 1852.
- Dias, Manuel Augusto e Pereira, Manuel Conceição, Ermesinde / Registos Monográficos, 2 volumes, Ermesinde, 2001.
- Dias, Manuel Augusto, “A Batalha da Ponte Ferreira” in Boletim Municipal, Valongo, Janeiro de 1985.
- Dória, António Álvaro. Movimentos Políticos do Porto no Século XIX.
- Martelo, David, Cerco do Porto 1832-33 – A Cidade Invicta, Lisboa, 2001.
- Martins, Oliveira, Portugal Contemporâneo, Lisboa, 1881.
- Mattoso, José (direcção de), História de Portugal, quinto volume (o Liberalismo), Círculo de Leitores, 1993.
- Medina, João (direcção de), História de Portugal / Dos tempos pré-históricos aos nossos dias, volume X [Portugal Liberal (I)], Ediclube, 2004.
- Owen, Hugh, O Cerco do Porto contado por uma Testemunha - O Coronel Owen, Porto1915.
- P. Januário dos Santos, Alfena / Ontem e Hoje, Edição da Paróquia de Alfena, 1984.
- Santos, Eugénio dos, D. Pedro IV / Liberdade, Paixões, Honra, Círculo de Leitores, Rio de Mouro, 2006.
- Silva, Domingos Oliveira, O Convento da Mão Poderosa (dissertação para a Licenciatura em História), Porto, 1971.
- Soriano, José da Luz, História do Cerco do Porto, vol. I, Lisboa, 1846.
 
publicado por viajandonotempo às 10:41

Outubro 20 2009

 As Lutas Liberais no Concelho de Valongo

 (Parte 1)
 
                                                Comunicação apresentada por Manuel Augusto Dias no IV Congresso Histórico de Guimarães (no dia 27 de Outubo de 2006)
  
            1. Introdução
             O actual Município de Valongo (no “Grande Porto”) ainda não existia no tempo em que se deu a Revolução Liberal Portuguesa (24 de Agosto de 1820, na “capital” do Norte), nem quando ocorreu a Guerra Civil (1832-1834), evento histórico em que se inscreve o tema da presente comunicação.
Este novo Município resultou da reforma administrativa, empreendida em 1836, logo após o definitivo triunfo do movimento liberal, com a vitória sobre os partidários de D. Miguel.
Efectivamente, na região a Norte do Douro e a Nordeste da cidade do Porto, pegando com a área geográfica do Município de Gondomar, criar-se-ia o Concelho de Valongo como sinal de homenagem e gratidão ao povo valonguense pela alegada ajuda aos liberais nestas guerras, e, sobretudo, pela considerável influência do ilustre valonguense, António Dias de Oliveira (importante político português deste tempo que, entre 2 de Junho de 1837 e 10 de Agosto do mesmo ano, foi Primeiro-Ministro de Portugal).
Oito anos sobre a Revolução Liberal, desembarcou em Lisboa (1828) o Príncipe D. Miguel, depois de haver jurado cumprir a Carta Constitucional de 1826. Mas a verdade é que, com a sua regência, regressou o Absolutismo a Portugal e D. Miguel é aclamado Rei, segundo os cânones tradicionais. Mais uma vez, coube ao Porto um papel primordial, no combate pela Liberdade.
De 1832 a 1834 travou-se a Guerra Civil, entre Liberais e Absolutistas. Toda a região envolvente do Porto foi, desde o Verão de 1832 até ao Verão do ano seguinte, profundamente molestada por estas guerras, em que os Liberais centrados no Porto, se defenderam, como puderam e quase sempre com a ajuda popular, do Cerco que os Absolutistas lhe apertavam de dia para dia.
As terras do futuro Concelho de Valongo serviram, pois, de palco a batalhas e aos movimentos militares que se desencadearam entre os dois irmãos desavindos: D. Pedro, que entretanto abdicara do trono imperial do Brasil, e D. Miguel, que não abandonava o poder nem os seus ideais Absolutistas.
Os combates mais trágicos do início deste conflito, a Norte do Douro, tiveram lugar, precisamente, no território do actual Município de Valongo, desde o vale do Rio Ferreira, nas freguesias de Sobrado e de Campo (a Leste) até às proximidades do Convento da Mão Poderosa, na freguesia de Ermesinde (a Oeste), passando também pelas freguesias de Valongo, Campo e Alfena.
 
2. Desembarque do Exército Liberal

 

Desembarque do Exército Liberal em Arnosa do Pampelido

(quadro de Roque Gameiro)

 

Depois de desembarcar em Arnosa do Pampelido, a 8 de Julho de 1832 (Praia da Memória), o exército liberal, estimado em aproximadamente 7 mil e 500 homens (alguns dos quais mercenários estrangeiros), superiormente comandados por D. Pedro, instala-se na cidade do Porto, no dia seguinte.
As tropas absolutistas de D. Miguel haviam, entretanto, deixado a cidade, não oferecendo praticamente resistência à entrada do exército “libertador”.
No entanto, os liberais, pouco a pouco, iam ficando cercados na cidade do Porto pelas forças miguelistas (que integravam dez vezes mais soldados que o exército liberal), constituídas, efectivamente, por cerca de 80 mil homens comandados pelo General Álvaro Xavier Póvoas e pelo Visconde de Santa Marta.
Para evitar que o cerco se tornasse demasiado constrangedor, D. Pedro mandou os seus homens ao encontro do exército inimigo, para reconhecer as posições ocupadas e adiar o mais possível a sua aproximação ao Porto.
As principais operações militares, entre liberais e absolutistas, que, segundo algumas fontes, provocaram maior número de vítimas, ocorreram entre os dias 21 e 23 de Julho precisamente em terras que, actualmente, integram o Concelho de Valongo.
 
          3. Lutas liberais no Concelho de Valongo
 
De facto, alguns dos combates mais trágicos (pela mortalidade provocada), no início desta Guerra Civil, tiveram lugar, na Serra de Valongo (o último reduto montanhoso antes da cidade, no sentido Nordeste), entre os vales do Rio Tinto e do Rio Ferreira.
No dia 19 de Julho, Santa Marta estabelece a sua 1.ª brigada no lugar de Sobrado (uma das freguesias do actual concelho de Valongo).
A 21 de Julho, escolhe e toma posições de combate do lado de lá da Ponte sobre o Rio Ferreira (lugar da Gandra – concelho de Paredes). As suas forças, segundo Luz Soriano, rondariam os 12 mil homens, com quatro esquadrões de cavalaria (200 cavalos) e cinco peças de artilharia. Um dos esquadrões fixou-se em Valongo, enquanto os homens encarregados do reconhecimento dos movimentos do inimigo, subiram à Serra de Valongo, vigiando a encosta que dá para Ermesinde, Baguim do Monte e Rio Tinto, donde há uma excelente visibilidade sobre a cidade do Porto.

 

 O “casario” do Porto (ao fundo) visto do alto da Serra de Valongo

 

Para fazer o reconhecimento do inimigo, D. Pedro fez sair do Porto, em direcção a Valongo, na madrugada do dia 22 de Julho, o Batalhão de Caçadores n.º 5, o Batalhão da Rainha, o Infantaria 18 e ainda 80 guias a cavalo, sob o comando geral do Coronel Henrique da Silva Fonseca. Esta força passou em Rio Tinto às 8 horas da manhã, avistando nessa altura os “guias” do exército de D. Miguel no alto de Valongo e, embora aqueles recuassem, perseguiu-os, fez-lhes frente, e combateu-se logo ali, na descida para Valongo, havendo vítimas de ambos os lados, mas em maior número do lado liberal, que tinha menos homens e se encontrava numa posição no terreno bem mais fragilizada. Seguiu-se a fuga desesperada e desorganizada para Rio Tinto, ordenada “in extremis” pelo comandante Silva Fonseca. Do lado liberal, caíra morto o corajoso, e ainda muito jovem, Tenente Narciso de Sá Nogueira (foi a 1.ª baixa de algum destaque nesta guerra civil).
D. Pedro reagiu de pronto. Transferiu a maior parte das tropas que tinha a Sul do Douro para a margem Norte e, na noite seguinte (de 22 para 23 de Julho), sob o seu próprio comando (enquanto a defesa do Porto fica entregue ao Governador Militar), o grosso do exército cartista avança determinado a combater o exército absolutista, em direcção a Valongo.
As forças liberais dividem-se à saída do Porto: umas seguem o itinerário mais próximo do Rio, a estrada de S. Cosme (que leva a Gondomar); outras avançam pelo centro, percorrendo a estrada de Valongo, via Rio Tinto; e a ala esquerda do exército “libertador” marcha pelo caminho da Formiga.
 
         3.1 – Os combates da Formiga (Ermesinde - Valongo)
 
Esta última coluna do exército liberal era comandada pelo Coronel Hodges. Logo pela manhã, o Coronel Silva Fonseca já em Rio Tinto, perante o itinerário mais acidentado da Serra e, muito provavelmente, por ter divisado maior número de inimigos à sua esquerda, ordenou que algumas forças seguissem pela estrada de Baguim do Monte, e fossem reforçar as tropas de Hodges.
Mal estes soldados atingiam as primeiras colinas mais pronunciadas da Serra, talvez na área hoje ocupada pelos terrenos do Seminário do Bom Pastor (Formiga), na encosta do lado oposto ao edifício do Convento da Mão Poderosa, logo os absolutistas, em posição mais elevada do terreno e ocupando, por isso, as melhores posições de combate, começaram a disparar, obrigando a entrar também na luta as forças do Coronel Hodges, ao mesmo tempo que reforçavam com infantaria o seu ataque.
 

 O arvoredo do Seminário da Formiga, visto do lado do antigo Convento da Mão Poderosa

 

Segundo Domingos Oliveira Silva (O Convento da Mão Poderosa, p. 102), o flanco direito das forças de D. Miguel passa logo «a combater, numa frente que devia abranger a linha das alturas, actualmente ocupada pela estrada que liga o Colégio de Ermesinde [instalado precisamente no antigo edifício do Convento da Mão Poderosa] ao entroncamento do alto de Valongo».
Transcrevendo a Chronica Constitucional do Porto, o mesmo autor continua a descrever a batalha: «O combate assim começado tornou-se então geral entre o centro e esquerda da nossa linha (liberais), e a direita e o centro da do inimigo (absolutistas).
No prosseguimento das lutas, o centro principal das operações deslocou-se para o lado oposto do convento, embora no prolongamento da mesma linha:
Assim, o inimigo, forçado em flanco sobre a sua direita, e atacado vigorosamente pelo centro, foi desalojado sucessivamente dos bosques e ondulações do terreno, que porfiadamente defendia; e tendo perdido afinal a esperança de resistir por aquele lado lançou-se todo sobre a esquerda» (idem, p. 103).
Segundo as nossas fontes, o combate prolongou-se ao longo de 7 horas e, sem uma vitória clara e definitiva de qualquer das partes, a verdade é que provocou grande número de mortos e de feridos nos dois lados.
 
 
         3.2 – Batalha da Ponte Ferreira (Campo - Valongo)
 
As outras forças liberais, que passaram ao lado dos combates travados na Formiga, progrediram cautelosamente, ainda no princípio da manhã de 23 de Julho, até descobrirem as posições inimigas que se encontravam para lá do rio Ferreira, desde a região de Balselhas, onde estava acantonado o flanco direito do exército miguelista, até aos pontos mais elevados da Serra do Raio, esquerda das mesmas forças, excelentemente posicionadas e armadas para mais facilmente poderem repelir o ataque dos liberais.
Nem D. Pedro nem os seus oficiais desconheciam a superioridade numérica do exército inimigo que, além do mais, escolhera atempadamente as posições dominantes que ocupava, mas a bravura dos seus homens não lhe permitiu qualquer hesitação, nem a causa pedia outra atitude se não a de ordenar o combate que se impunha.
E assim, a coluna liberal que tinha progredido pelo centro, tomava posições ofensivas no Monte Calvário (S. Martinho do Campo), iniciando pelas 11 horas do dia 23 de Julho de 1832, o ansioso e vingativo tiroteio sobre os realistas que guardavam a Ponte Ferreira, cobrindo em simultâneo o movimento da força da esquerda que, situada em Balselhas, se preparava para atacar violentamente a direita do exército miguelista. Duas companhias do Infantaria 18, comandadas pelo Major Francisco Miranda, o Batalhão Francês sob o comando do Major Chichiri e o Batalhão Inglês do Major Shaw passaram a vau o Ferreira e fizeram recuar o flanco direito do inimigo.
Viu-se então Santa Marta obrigado a reforçar aquela ala do seu exército, que não conseguiu aguentar a pressão das baionetas liberais, com a transferência de homens do seu flanco esquerdo que obrigaram, por sua vez, os constitucionais a atravessar de novo o rio, acabando por ser atraídos a uma emboscada que lhes fora preparada por um esquadrão da Cavalaria de Chaves, fiel a D. Miguel. Muitas mortes então aconteceram quer do lado Pedrista, quer do lado Miguelista.
 

 Um aspecto actual da Ponte Ferreira

 

Também no centro, a violência do combate se mostrava trágica pelos cadáveres liberais e absolutistas que empilhavam a ponte que ninguém lograra passar completamente. O sangue fratricida tingiu as calmas águas do Ferreira que, indiferentes, procuravam caminho entre os corpos que, no seu leito, se amontoavam. Entardecia e o tiroteio esmorecia até que, com a noite cessou o combate. Antes, porém, quando os liberais já se lamentavam da derrota, o Tenente Manuel Tomás dos Santos vendo, do lado inimigo, uma coluna miguelista em movimento resolveu apontar a sua peça de artilharia que, com êxito, disparou pondo o inimigo em fuga. Lavou a honra dos liberais porque os absolutistas recuaram em direcção a Baltar, enquanto os Pedristas permaneceram nas suas posições.
Mas de pouco valeu aos liberais o sabor da vitória porque iriam viver ainda largos e penosos meses de fome, doença e morte antes que soasse o desejado grito de vitória decisiva que, finalmente, havia de libertar o País do jugo da usurpadora monarquia absoluta. 
publicado por viajandonotempo às 18:06

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