Indisciplina e violência nas escolas
O País anda alarmado com o que se passa nas escolas portuguesas. Infelizmente, é preciso chegar às piores consequências – a morte, para que a opinião pública tenha a certeza de que no sistema de ensino português algo de grave se passa!
Para os profissionais da educação, no entanto, as notícias vindas a lume ultimamente não têm o mesmo impacto. Quem trabalha nas escolas sabe que há, cada vez mais, casos de violência, de roubos, de insegurança, de indisciplina fora e dentro da sala de aula. E quanto maior for o estabelecimento de ensino mais numerosos e preocupantes são estes incidentes.
As vítimas deste estado de indisciplina e violência que grassa nas escolas são todos os intervenientes directos na acção educativa: alunos, funcionários e professores. Os pais e encarregados de educação, obviamente, também sofrem com este mal-estar, que não pode agradar a ninguém.
Os teóricos do comportamento humano vêm afirmando que os alunos são, por natureza, indisciplinados, fundamentando que se trata de uma tendência natural em todo o ser humano, obrigando as instituições socializantes, Família, Igreja, Escola e Estado a actuarem como permanente travão destes impulsos anti-normativos. Outros defendem que o ser humano é um receptáculo vazio, disposto a “encher-se” com tudo o que lhe “oferecem” do exterior, ou, por outras palavras, são “as circunstâncias determinam aquilo que cada homem é”.
Seja como for, do que não há dúvidas é que a indisciplina e violência nas escolas é um facto indesmentível, que se manifesta, frequentemente, em conflitualidade entre alunos (que se humilham uns aos outros, discriminam, roubam e se chegam a agredir) e no desrespeito pelos funcionários e professores (não obedecendo às ordens que lhes são dadas, provocando sistematicamente a autoridade destes agentes educativos, impedindo o bom funcionamento das aulas e agredindo, por vezes, quer os funcionários quer os professores).
a indisciplina e a violência só podem ser reacções expectáveis da parte de indivíduos que não têm valores
A escolaridade obrigatória (impõe a muitos alunos uma longa permanência num local que lhes é adverso), a família (onde aprendem modelos de violência que depois imitam), o grupo (há colegas que agradam, uns quantos são indiferentes e outros detestam-se), a escola (com todas as suas regras e normas, a imposição da avaliação e exames), as disciplinas e os programas (normalmente muitas disciplinas, com programas que na maior parte dos casos não vão ao encontro da vontade e desejo dos alunos), os professores (se os há com capacidade para lidar com as situações de conflito, também há aqueles que são muito competentes em termos pedagógicos e científicos mas não têm a mínima habilidade para suportar qualquer situação de indisciplina) – são tudo razões que podem contribuir para agravar as situações de indisciplina e violência nas escolas que, em casos de maior gravidade, podem degenerar em suicídio, como recentemente ocorreu no caso do professor de música daquela escola do concelho de Sintra, ou do jovem Leandro, da escola de Mirandela.
Em todos estes casos, contudo, a indisciplina e a violência só podem ser reacções expectáveis da parte de indivíduos que não têm valores. Porque quem de facto tem uma personalidade alicerçada em valores, pode não concordar com o que lhe é imposto, mas fá-lo-á pela via da palavra, do argumento e nunca da rebeldia e da violência. E no que respeita a esta escola de valores que tão necessária é todos nós somos responsáveis: família, igreja, escola, ministério da educação, sociedade.
É certo que se pode minorar esta tendência geral para a indisciplina recorrendo a um reforço da autoridade do professor, da escola e da família (mas é bom que a sociedade volte a prestigiar estas suas importantíssimas instituições sociais, para que o aluno lhes reconheça dignidade e, assim, aceite respeitá-las) através do compromisso destes com o aluno, que pode e deve envolver situações, de criatividade e negociação, facilitadoras do complexo processo de ensino-aprendizagem. Em casos mais graves, o castigo pode ser, efectivamente, o único meio recomendado de disciplina.
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