VIAJANDO NO TEMPO...e no espaço!

Outubro 05 2011

 República vs Dia Mundial do Professor

 

 

 

 

Hoje o feriado nacional serve para comemorar o 101.º aniversário da implantação da República em Portugal. É também o dia mundial do professor!

A República e o ensino estão indelevelmente ligados.

 

 

Em Portugal, foi o primeiro ensaio republicano que mais fez, de forma sistemática e organizada, pela alfabetização de todos: homens e mulheres! Primeiro, das crianças de ambos os sexos, em segunda prioridade, todas as outras pessoas, de todas as idades.

O caso de Ansião e da sua Associação de Propaganda e Defesa Republicana, com o respetivo jornal doutirnário, é sintomático.

Tratando-se de uma Associação de propaganda e defesa do novo regime, implantado no País a 5 de outubro de 1910, e de um jornal que visava concretizar a republicanização popular, é óbvio que a principal preocupação se tornasse: «a alma do povo das nossas aldeias. Ella, como o humus primitivo, jaz inerte na sua prisão tenebrosa, feita de ignorância e preconceitos, á espera sempre de que alguém venha soltal-a da cadeia (...). É preciso ir cavar essa terra virgem e então ver-se-ha como ella é boa e apta para receber a semente mais delicada e como é capaz de a fazer fructificar n'uma abundancia que surprehenderá o proprio cultivador» (O Cavador, n.º 1, de 20.8.1911, página 1)

A educação do povo foi, pois, uma das prioridades da Associação, para quem o povo, uma vez esclarecido, seria capaz de compreender que o remédio de todos os males, de que o País padecia, estava na República. Para os dirigentes da Associação, a República «é a nossa ultima e derradeira esperança e, ou nos conduzirá, triunfantemente, á realização do novo destino, ou será a mortalha com que para sempre desceremos ao aniquilamento eterno da Historia».

Acusando a monarquia de não ter instruído nem educado o povo, por ter considerado essas tarefas como questões secundárias, «o que queria era, de quando em vez, os seus votos e estes com tanta mais facilidade eram obtidos quanto mais imperfeita era a comprehensão que o eleitor tinha dos seus direitos», a Associação assume determinadamente esse papel, desde o início: «O que nós pretendemos é educar o Povo (...). Ora nós queremos em primeiro lugar, que o Povo aprenda a amar e comprehender a Republica e se convença de que lhe convem e interessa vigiar pela sua conservação, não só porque n'ella poderá encontrar a satisfação das suas justas e legitimas aspirações, mas também e principalmente, porque a dentro d'esse regimen politico, quando bem comprehendido e executado, não será possível medrar essa dissolvente instituição, carcacteristicamente nacional, que na monarchia se appellidou - caciquismo - e que na Republica se procurará manter, porque não faltará, infelizmente, quem sacrifique os principios, de que, aliás, procurará parecer uma victima, aos seus interesses, quantas vezes inconfessáveis e porventura tambem, por vezes, as suas preocupações de doentio exhibicionismo, ou de ultra-tôla vaidade (...)».

Tornava-se, pois, necessário e urgente educar o povo para que ele deixasse de ser indiferente, ainda que «(...) seja effectivamente difficil, e não impossivel, despertar nas

populações ruraes analphabetas e ignorantes, o interesse pelos negocios publicos (...)».

Difícil, mas não impossível. Aliás, o Dr. Falcão Ribeiro, que escrevia de Coimbra, a 7.8.1911, Palavras de Sympathia, depois transcritas na primeira edição do jornal, deixava transparecer, para o caso de Ansião, muita esperança: «Cada uma das poucas terras do Paiz em que cooperam espiritos d'elite, devotados á causa republicana, como Rosa Falcão, José Barata, Augusto Medeiros e Alberto Rego é um farol que se accende, um guia seguro, uma esperança certa, de que a nau prosseguirá avante (...) tendes a gloria da iniciativa, do exemplo primeiro; que ele seja proficuo, que bem preciso se torna dominar de vez este mar tenebroso (...)».

 

 

 Mas educar como? Falcão Ribeiro responde: «(...) é preciso multiplicar os meios d'acção, crear nucleos, pontos luminosos que, alastrando pela imitação e pelo contagio, façam do velho Portugal um oceano de luz e das instituições republicanas a nau singrante em que os novos lusos vão entre os povos modernos à reconquista de uma hegemonia tão ingloriamente perdida».

E um desses núcleos foi, sem dúvida, a Associação, e o seu ponto luminoso o jornal que, através de quase todos os seus artigos, procurou educar e esclarecer o povo. Artigos como: Palavras Claras, Lições para o Povo, de Rosa Falcão; Utopias e Realidades, Patria e Republica e Coisas Nossas, de Alberto Rego; A Confissão, Palavras para o Povo (sob a forma de diálogos), Um Pouco de Historia, Numeros Claros, e Instrução do Povo, de Pereira Barata; Lições de Coisas, de Carlos M. Pereira, são exemplo evidente dessa vontade explícita de desbaratar a ignorância do povo. Outro tanto se pretendeu com a relevância que se dava às comemorações de datas históricas importantes, entre as quais foram especialmente destacadas a Revolta do Porto de 31 de Janeiro, a Restauração da Independência no 1.º de Dezembro24 e a implantação da República em 5 de outubro.Também algumas figuras de eminentes republicanos como Manuel de Arriaga, Eduardo de Abreu e José Falcão, ou de personalidades ligadas à região que se destacaram como o Prof. Dr. Costa Simões, são enaltecidas nas páginas de O Cavador.

Todo este tipo de iniciativas redactoriais, bem como o relato das jornadas de luta desenvolvidas contra os monárquicos, assim como a organização de conferências, de festas populares e comícios, tiveram em vista essa transformação que não se pode fazer com decretos e leis. Essa transformação, para ser eficiente e útil, deve começar de baixo para cima. Por melhores que sejam as intenções dos governantes, todo o seu trabalho será em vão, se não for secundado, na província, com capacidade e boa vontade. «O povo das aldeias vive numa ignorancia que os senhores da cidade, que fabricam e exigem leis mirabolantes, deviam vir a observar e estudar. Quer isto dizer que esse povo seja estupido e incapaz de saber? Nada disso. Eu creio mesmo que a gente portuguesa é naturalmente mais intelligente do que a de muitas outras nações da Europa e é perfeitamente apta para ser educada desde que lhe saibam ministrar convenientemente essa educação».

É preciso levar esta gente por bons modos e, sobretudo, pelos bons exemplos. Naturalmente desconfiado, porque tem sido secularmente enganado, captar-lhe a confiança é tarefa bastante difícil e exige uma grande paciência e tenacidade - adverte Alberto Rego.

«Interessar o povo na eleição das suas juntas de parochia e das Camaras municipais, fazer-lhe ver a importância capital desse papelinho que elle vai lançar na urna, explicar-lhe claramente qual a soma de lutas e sacrificios que custou aos nossos antepassados a conquista dessa divida para o povo, tal me parece ser o unico caminho practico para desse povo se fazer uma entidade consciente e capaz de se saber impôr todas as vezes que alguém queira expolial-a dos seus direitos».

Como se acaba de ver República e combate à ignorância andam intimamente aliados. Viva a República! Respeitem-se os professores e o seu incontornável papel social!

 

 

 

 

 

publicado por viajandonotempo às 10:53

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