NÃO À EXTINÇÃO DO TRIBUNAL DE ANSIÃO (2)
Tomando parte na luta travada nos útlimos meses pela "Não à Extinção do Tribunal Judicial de Ansião!" (http://www.facebook.com/groups/323049031064042/ divulguei os dados de alguns juristas ansianenses que também publico agora aqui (Parte II):
ANTÓNIO FURTADO DOS SANTOS (1912-1987)
Nasceu em 1912, na vila de Alvaiázere onde frequentou o ensino primário. Mais tarde, frequentaria a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, ao lado do Dr. Vítor Faveiro, concluindo a sua licenciatura no ano de 1937, ingressando, no ano seguinte, no Ministério Público, exercendo as funções de Subdelegado do Procurador da República, interino e efectivo, no Julgado Municipal de Alvaiázere, e depois, na 1.ª Vara de Coimbra.Ligado a Alvaiázere pelo nascimento, ligar-se-ia a Chão de Couce pelo seu casamento, vindo passar nesta freguesia a maior parte das suas férias, na sua residência da Quinta de Baixo.No Magistério Público a sua ascensão foi contínua, de Subdelegado a Procurador da República. Foi Delegado do Procurador da República nas comarcas de Mértola, Porto de Mós, Torres Novas e 1.º Juízo Criminal de Lisboa, onde também exerceu as funções de Ajudante do Procurador-Geral. De 1959 a 1963 exerceu, interinamente, as funções de Procurador-Geral da República, chefiando a magistratura do Ministério Público, intervindo no Conselho de Estado e presidindo ao Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral e ao Conselho Superior. Foi também, nesse período, Director do Boletim do Ministério da Justiça, onde já colaborava desde o 1.º número.No exercício das suas funções de magistrado obteve as mais elevadas classificações de serviço, sendo distinguido com “Muito Bom” com mérito nas classificações extraordinárias. Em Dezembro de 1963 foi promovido a Juiz Desembargador.Colaborou em várias reformas legislativas, publicou vários trabalhos jurídicos e é co-autor de diversas edições anotadas e actualizadas dos Códigos Penal e de Processo Penal, tendo traduzido o 1.º para alemão.A partir de Dezembro de 1963, exerceu as funções de Juiz Conselheiro no Contencioso Administrativo do Supremo Tribunal Administrativo.Em termos políticos, foi Deputado da Assembleia Nacional e seu 2.º Vice-Presidente, tendo feito parte das Comissões de Finanças, de Defesa Nacional e da Comissão de Estudo do III Plano de Fomento. Fez algumas intervenções na Assembleia, pugnando por melhorias na nossa região que acabaram por não ser concretizadas. Em 1967, chefiou a Delegação Parlamentar portuguesa que visitou Moçambique.Em 1969, atingiria o topo da sua carreira de magistrado ao ser empossado como Procurador-Geral da República (nomeado por Decreto de 29 de Janeiro de 1969). Nesse mesmo ano, a geração académica dos anos 30, homenageou-o no Avelar com um jantar-convívio em que participaram, entre outros, os Drs. Vítor Faveiro, José Emídio Medeiros, Guilherme Brás de Medeiros e o Prof. Elísio Mendes de Oliveira. No dia 2 de Julho de 1972, seria a vez da sua terra natal (Alvaiázere, que graças a si viu restaurada a Comarca) o homenagear com um almoço em que participaram 200 pessoas, na altura em que o Presidente da República o havia agraciado com a comenda oficial da Ordem do Infante Dom Henrique.Faleceu em 1987.
GUILHERME BRÁS DE MEDEIROS (1912-1994)
O Dr. Guilherme Brás Medeiros nasceu no Avelar, filho de Paulo Brás Medeiros e Bernardina Dias Brás Medeiros e casou com Josefa Henriques Costa de Medeiros, de quem teve um filho, José Paulo Costa de Medeiros.Estudou Direito na Universidade de Lisboa.Guilherme Brás Medeiros, ao longo da vida, mostrou-se, homem de acção, nomeadamente a favor do Avelar!E o Avelar foi capaz de o reconhecer e mostrar-se agradecido promovendo-lhe uma grande homenagem no dia 30 de Maio.O Dr. Guilherme Brás Medeiros foi Presidente da Direcção do Sporting Clube de Portugal ao longo de 11 anos (de 1959 a 1961 e de 1965 a 1973).No que respeita à longevidade no cargo foi o 3.º Presidente, com 11 anos de mandato (logo a seguir a Joaquim de Oliveira Duarte e João Rocha, que presidiram ao Clube de Alvalade, durante 13 anos).No tempo em que o Dr. Guilherme Brás Medeiros presidiu à Direcção do Sporting, este Clube foi Campeão Nacional nas seguintes épocas: 1960/61, 1961/62, 1965/66, 1969/70 e 1973/74; e ganhou duas vezes a Taça de Portugal: 1972/73 e 1973/74.Entre os Treinadores que, nesses anos, assumiram o comando técnico dos “leões” destacam-se Otto Glória, Fernando Vaz e Fernando Argila.Neste tempo existia no Avelar uma agremiação desportiva, o Atlético Clube Avelarense que precisamente na década de sessenta mudou de nome, passando a designar-se Sporting de Avelar, certamente por influência deste ilustre avelarense (mais tarde, já na década de setenta, o clube entrou em decadência, até que, em 1979, renasceu com o 1.º nome) que ainda hoje ostenta.Falemos agora da sua ligação ao jornal “Diário Popular”. Foi ideia dele a elaboração dos cadernos nos jornais diários, foi ele que, tentando conseguir uma informação cada vez mais completa, começou a mandar “enviados-especiais” a todos os acontecimentos, no país e no estrangeiro. Promoveu o acompanhamento dos clubes desportivos ao domingo, com a publicação dos respectivos relatos dos jogos na edição de segunda-feira. Dele, na altura da sua morte, escreveu o jornalista da “Bola”, Aurélio Márcio, que com o seu falecimento «perdeu-se um dos melhores administradores de jornais». Mais adiante afirma que o Dr. Guilherme Brás Medeiros foi «o grande responsável pelo êxito do “Diário Popular”, que colocou no “top” da imprensa portuguesa depois de ter revolucionado o jornalismo em Portugal».Uma outra faceta, como administrador do “Diário Popular”, era o respeito que aconselhava à redacção pelas instituições, mesmo por aquelas que não caíam na sua simpatia.O Dr. Brás Medeiros, apesar de ser uma figura claramente simpatizante com o regime, mesmo profundamente ligado às ideias do “Estado Novo”, mostrou-se sempre crítico rigoroso dos actos da Administração Pública, o que é amplamente comprovado nas páginas do Diário Popular e nos boletins que ele criou e redigiu.Brás Medeiros, não esqueceu a sua origem, nem os problemas sociais, bem pelo contrário, sempre se mostrou bastante sensível para eles.O Dr. Brás Medeiros nunca enjeitou o seu lugar de nascimento e revelou mesmo, por ele, uma grande paixão. Não admira pois que, dentro das suas possibilidades, tudo fizesse a favor do seu progresso. A sua obra abarca, sobretudo, três sectores particularmente importantes: a saúde, o trabalho e o ensino.O Dr. Guilherme Brás Medeiros faleceu no dia 30 de Agosto de 1994, na sua residência em Lisboa, contava 82 anos de idade, e o seu funeral realizou-se no dia 31 de Agosto, para o Cemitério do Alto de S. João. No cortejo fúnebre, para além de algumas pessoas da sua terra, familiares e amigos, integraram-se também o então Presidente do Sporting, Sousa Cintra, vários membros da Direcção do Sporting, o Ministro Faria de Oliveira, Romeu Branco, Jaime Duarte, Dr. Abrantes Mendes e outros sportinguistas.
JOSÉ EMÍDIO FIGUEIREDO MEDEIROS (1917-1985)
Advogado com pergaminhos, foi um dos fundadores do atual Partido Socialista Português e seu dirigente carismático na região, membro do Conselho Superior da Ordem dos Advogados e primeiro Presidente da Câmara Municipal de Ansião, no pós-25 de Abril. Também foi, desde muito novo, colaborador de jornais.O Dr. José Emídio Figueiredo Medeiros nasceu em 1917, filho do insigne republicano José Adelino de Figueiredo Medeiros e de Clotilde de Figueiredo Medeiros.Concluído o ensino primário, frequentou o ensino secundário no Liceu Regional Alfredo Manso, na Rascoia, dirigido pelo Dr. Humberto Paiva (no ano letivo de 1931/1932 concluiria o 5.º ano dos Liceus, depois de ter ido a exame a Coimbra, e obtido um excelente resultado.Frequentou, a seguir, o Liceu José Falcão, em Coimbra, tendo como colega o poeta ansianense Políbio Gomes dos Santos.As suas ideias republicanas e democráticas estão bem patentes, desde muito novo, nos seus artigos. Entrou na faculdade no ano letivo 1936/1937 e, como aluno aplicado que era, concluiu o Curso de Direito no final do ano letivo 1941/1942.Como advogado, o Dr. José Emídio Figueiredo Medeiros teve escritório nas vilas de Ansião e de Avelar, durante muitos anos.Em 1953 o Dr. José Emídio casou com a Dr.ª Maria Alice David Abreu Medeiros, formada em Farmácia, na Universidade de Coimbra.A propósito da amizade, recordamos aqui que o Dr. José Emídio era bastante amigo do Dr. Vítor Faveiro, apesar das ideologias políticas poderem não ser totalmente convergentes.Segundo conseguimos apurar, o Dr. José Emídio Figueiredo Medeiros foi, com outro grande socialista da região, também advogado, o Dr. António Arnaut, um dos fundadores do Partido Socialista. Dada a sua ligação histórica ao Partido Socialista não surpreende que após o triunfo da Revolução dos Cravos ele venha a presidir à Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Ansião.Efetivamente, a primeira Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Ansião, depois do 25 de Abril de 1974, só seria empossada no dia 18 de Novembro de 1974, quase sete meses depois da Revolução, no Governo Civil de Leiria, e tinha a seguinte composição: Dr. José Emídio Figueiredo Medeiros (Advogado e representante do Partido Socialista, Presidente), Manuel Terceiro Ferreira, José Guilherme Vaz Pinheiro, Diamantino Manuel Maria e João Monteiro (representantes das outras forças partidárias CDE e PPD - Vogais).O Dr. José Emídio Figueiredo Medeiros faleceu no dia 22 de Agosto de 1985, quando ainda muito se esperava dele.
ARMÉNIO CARDO (1921-2002)
O Dr. Arménio António Cardo nasceu em Chão de Couce, onde residiam seus pais, o Prof. Francisco António Cardo e a Sr.ª D. Laurinda Cardo, e evidenciou, desde muito novo, grandes qualidades de inteligência, carácter e trabalho.Durante a sua vida estudantil em Coimbra foi dirigente da Associação Académica de Coimbra (quando ela ainda integrava o grande clube primodivisionário que era a Académica), fundador da Associação de Cultura, Recreio e Beneficência de Chão de Couce e Director do órgão oficial da Associação Académica de Coimbra, a “Via Latina”, que tinha uma periodicidade quinzenal.Depois de concluído o Curso de Direito, em 1946, Chão de Couce, representado por muito povo e pelas suas figuras mais destacadas, homenageou-o no dia 18 de Agosto de 1946, fazendo-lhe entrega, por intermédio do Dr. Alberto Rego, de um artístico anel de ouro simbólico do Direito. Nesta homenagem, de que fez parte também um “copo de água” oferecido pelos pais do novo doutor, foram oradores os Drs. D. João Pais, Henrique Craveiro Feio, o Padre Manuel Gaspar Furtado e o Prof. Elísio Mendes de Oliveira.Concluído o Curso passou a exercer a advocacia em Coimbra, evidenciando elevada capacidade, e exercendo as funções de Subdelegado do Instituto Nacional do Trabalho. No ano de 1947, casou com a Sr.ª D.ª Maria Adelaide Soares Pinheiro da Costa Leite e Cardo, de quem teve três filhos: Maria Margarida, António José e Ana Maria.Em Janeiro de 1948 o Dr. Arménio António Cardo seria nomeado Presidente da Câmara de Ansião, em substituição do Dr. Alfredo Coelho e Silva que pedira a sua demissão. Tomou posse do seu novo cargo, no dia 14 de Fevereiro de 1948, em Ansião, no meio de uma festa impressionante onde compareceram todas as pessoas de maior categoria social do concelho, mas também muito povo e a Filarmónica de Ansião, inactiva há algum tempo. Governador Civil, Deputados, Comandante da PSP de Leiria, e muitos destacados amigos do empossado, vindos de Coimbra, Leiria, Pombal, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Penacova, Castanheira de Pera e ainda de outras localidades testemunharam o solene acto de posse do mais novo Presidente de Câmara do Distrito de Leiria e um dos mais novos de todo o país.Substituído, a seu pedido, pelo Vice-Presidente da Câmara, Prof. Elísio Mendes de Oliveira, a partir de 1952, o Dr. Arménio Cardo voltou a Coimbra, onde fundaria e dirigiria o semanário “Beira Litoral”. O 1.º número saiu a público no dia 25 de Abril de 1953 e o último, que encontrámos na Biblioteca Pública Municipal do Porto, tem a data de 26 de Maio de 1954. Foi, precisamente, durante os anos de 1954 e 1955, que presidiu à Direcção da Filarmónica.Neste último ano, o Dr. Arménio Cardo transferiu a sua residência de Coimbra para Lisboa, onde continuou a sua brilhante carreira de advogado, dirigente associativo e de empresário. Foi Presidente do Lions Clube de Lisboa Mater, da Assembleia Geral do Movimento dos Skal Clubes (Turismo), do Conselho de Administração da Arquitur (Hotéis), Administrador da Gestisol (SGPS), Presidente do Conselho Fiscal dos Lacticínios da Várzea de Sintra, Presidente das Assembleias Gerais de Lacticínios Vigor, Lacticínios do Vale Mondego, da Finançor (Açores) e da Matur.Apesar de viver relativamente longe do concelho natal não deixou nunca de desejar o progresso da freguesia de Chão de Couce e do concelho de Ansião. A título de exemplo recorde-se a influência junto do Comendador António Regojo aquando da sua oferta de uma ambulância aos Bombeiros Voluntários de Ansião e o entusiasmo que punha no apoio à realização dos anuais Encontros de Ansianenses na Grande Lisboa.O Dr. Arménio Cardo faleceu em Lisboa, no dia 17 de Maio de 2002, com 81 anos de idade, e o seu corpo foi sepultado no Cemitério de Chão de Couce.
DR. ROBERTO AUGUSTO FEIO DE CARVALHO
Grande proprietário e benemérito, era formado em Direito e foi um dos maiores influentes políticos no período da Monarquia. Deve ter sido um dos mais importantes ativistas partidários de Ansião do seu tempo. Na qualidade de político influente e, sobretudo, na de cidadão interveniente, envolveu-se empenhadamente em quase todas as iniciativas que tinham em vista melhoramentos importantes para a sede do seu concelho. Com a implantação da República, e na qualidade de Tesoureiro da Fazenda Pública de Ansião, remeteu-se a uma prática apartidária, se bem que mais para o fim da sua vida se encontrava muito mais próximo dos Democráticos de Afonso Costa, do que propriamente dos Conservadores.Em termos de atos de benemerência, refira-se, a título de exemplo, que quando se decidiu fundar o Hospital de N.ª Sr.ª do Pranto da Misericórdia de Ansião, em Maio de 1895, o Dr. Roberto Augusto Feio de Carvalho era um dos destacados membros da Comissão que se encarregou dessa importante iniciativa; e, na lista dos subscritores com mais de 4 bilhetes para a rifa - uma interessante forma de angariar meios para a criação do Hospital - publicada no jornal semanário O Concelho de Ansião, n.º 1, de 1 de Janeiro de 1896, numa lista de cerca de cem nomes o Dr. Roberto Augusto Feio de Carvalho é o maior subscritor com 250 bilhetes.Ainda em 1896, o Dr. Roberto Feio de Carvalho faz parte também da Comissão encarregada da construção do novo teatro de Ansião conforme se pode ler na página 3 de O Concelho de Ansião, n.º 15, de 15 de Abril de 1896.Já no decorrer do século XX, e na sua qualidade de grande proprietário o Dr. Roberto Augusto Feio de Carvalho foi um dos fundadores do Sindicato Agrícola de Ansião, em 10 de Junho de 1905. Este foi um dos primeiros da região e do país a constituir-se com o fim de «estudar, defender e promover tudo quanto importe aos interesses agricolas dos associados» designadamente promover a instrução agrícola, através do estabelecimento de bibliotecas, realização de conferências, concursos e exposições; facilitar a aquisição de adubos, sementes e plantas em condições vantajosas de preço e qualidade; promover mercados para os produtos agrícolas dos sócios, dentro e fora do reino, celebrar com empresas de transportes por preços reduzidos de géneros agrícolas, adubos animais, máquinas e alfaias agrícolas pertencentes ao sindicato ou aos associados (cf. art.º 3.º). Sobre o Sindicato Agrícola de Ansião, o Leiria Ilustrada, n.º 236, e 237 de 5.8.1909 e 12.8.1909, respetivamente, diz que ao princípio «afirmou a sua existência por alguns actos de interesse collectivo dignos de menção, como por exemplo o tratamento do mal rubro dos suínos com a vacina Pasteur, para o qual contribuiu eficazmente, tem ultimamente lutado com dificuldades por falta de espírito associativo da região».Em 1915, altura em que se reorganizavam as forças políticas mais conservadoras a nível nacional, o Dr. Roberto Feio de Carvalho foi acusado, no jornal conservador O Radical (de Leiria), n.º 214, de 6 de Maio desse ano, de apoiar Afonso Costa: «Dizem-nos que tem andado a politicar, pelo norte do districto, a favor dos democraticos, o ex-conselheiro Simões Bayão. E accrescentam que no concelho de Ansião, onde se formou agora um Centro Monárquico, já conseguiu dois influentes antigos, filiados nesse centro, o sr. Visconde de S. Thiago e dr. Roberto Feio, dêem a sua influencia ao afonsismo, nas próximas eleições. Não acreditâmos».Em 1916, ao lado de outros proprietários republicanos de Ansião, o Dr. Roberto Feio de Carvalho participou na Exposição Agrícola e Industrial de Leiria, de 1916, tendo obtido diversos prémios e menções honrosas: no grupo das frutas; cereais e legumes; produtos hortícolas, hortaliças e legumes; e sementes teve uma menção honrosa; no grupo dos vinhos e derivados, teve também uma menção honrosa.Apesar de ser natural da Lagarteira o Dr. Roberto Feio de Carvalho tinha também casa em Ansião, conforme se pode verificar pela ata da sessão da Câmara de 29.5.1919, onde se refere que «foi presente o doutor Roberto Feio a pedir alinhamento para reconstruir a sua casa nesta vila» que foi deferido, sendo encarregado o vogal João Gaspar de informar.No dia 24 de Janeiro de 1920, a poucos dias da sua morte, quando em Ansião é ruidosamente festejada a tomada de Monsanto aos monárquicos, com um banquete de 40 talheres, no Hotel Valente, foi bem notada a ausência do Dr. Roberto Feio, que foi justificada por Adolfo de Figueiredo, tendo aproveitado aquela oportunidade para saudar aquele republicano que só não estava presente porque não lhe era possível.A sua morte foi muito sentida e mereceu a seguinte notícia em O mensageiro, n.º 265, 6.2.1920, «Dr. Roberto Augusto Feio de Carvalho - faleceu em Ancião este nosso prezado amigo, digno tesoureiro de finanças daquele concelho. Foi o antigo e prestigioso chefe do partido regenerador do concelho de Ancião, tendo abandonado a política com a victória da republica.Paz á sua alma. A seu irmão, Diocleciano Feio de Carvalho, os nossos sentimentos».
ANTÓNIO SOARES BARBOSA (1734-1801)
Precursor do ideário iluminista em Portugal, as suas ideias foram um forte contributo para a motivação ideológica da Revolução Liberal de 1820. Foi um dos fundadores da Academia das Ciências de Lisboa. Professor Universitário e dono de uma obra literária e filosófica particularmente relevante contribuiu de forma significativa para a mudança de mentalidades que se operou em Portugal, na viragem do Antigo Regime para a Idade Contemporânea.
1734 Nasce em Ansião, no dia 5 de Maio1767 É um dos primeiros Professores Régios de Filosofia na Universidade de Coimbra1772 O Marquês de Pombal confere-lhe o grau de Doutor por Portaria de 3 de Outubro1779 É um dos fundadores da Academia Real das Ciências de Lisboa1791 É nomeado Diretor da Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra1799 É Deputado da Junta da Diretoria Geral dos Estudos e Escolas do Reino1801 Morre em Coimbra, com 66 anos de idade, no dia 3 de Abril1941 É fundado em Ansião o Externato António Soares Barbosa
Com apenas 17 anos de idade, António Soares Barbosa matriculou-se na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra que frequentou até ao dia 12 de Março de 1761, data em que foi aprovado nas “Conclusões de Cânones” sendo-lhe então conferido o grau de Bacharel. No dia 16 de Junho de mesmo ano conseguiu a Formatura, e em 1767 era nomeado Professor de Lógica no Colégio das Artes.Foi professor de Filosofia na Universidade de CoimbraFoi dos primeiros Professores Régios a ensinar Filosofia na Universidade de Coimbra, ainda no decurso do ano 1767, passando, desde então, tal como era costume entre os professores universitários desse tempo, a desfrutar do grau de nobreza.Mas quando o Bispo-Conde de Coimbra caiu no desagrado do Marquês de Pombal, António Soares Barbosa «foi parar à prisão em fins de 1768, como seu conivente. Dois anos depois, foi posto em liberdade e em 1772 reintegrado na Universidade de Coimbra» (Nova Enciclopédia Larousse, editada pelo Círculo de Leitores, 1997, vol. 3, p. 889).Cinco anos mais tarde (1772), aquando da reforma pombalina da Universidade de Coimbra, foi criado o Curso de Filosofia Racional e Moral, e o Marquês de Pombal nomeou, desde logo, o nosso conterrâneo como Professor proprietário do 1.º ano, conferindo-lhe o grau de Doutor por Portaria de 3 de Outubro de 1772. Em 1790 seria jubilado, e, no dia 29 de Março de 1791, nomeado Diretor da Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra. Foi, ainda, sócio-fundador da Academia Real das Ciências de Lisboa, no dia 29 de Dezembro de 1779. Em 1799 foi Deputado da Junta da Diretoria Geral dos Estudos e Escolas do Reino. Faleceu na cidade de Coimbra, em 1801, no dia 3 de Abril, segundo a notícia biográfica de Rodrigues de Gusmão (publicada na Revista Universal Lisbonense, n.º 37), mas de acordo com os Apontamentos Necrológicos de A. J. Moreira, o seu passamento ter-se-á dado no dia 1 de Março de 1801.As suas ideias iluministas no Tratado Elementar da FilosofiaNesta obra, António Soares Barbosa mostra-se claramente afeto aos ideais iluministas. E, apesar de não ter sido nenhum “estrangeirado” (que nos conste não viveu nenhum tempo no estrangeiro, onde, a exemplo do que sucedeu com Luís António Verney, Ribeiro Sanches ou o próprio Sebastião José de Carvalho e Melo, pudesse contactar de perto com os principais centros culturais da Europa), conheceu as novas ideias, em voga nos meios intelectuais mais relevantes da Europa, muito provavelmente através da leitura de obras que conseguiram escapar à apertada vigilância da censura inquisitorial. E se algumas dessas ideias são por si contestadas desde início, como o “contrato social” de Jean-Jacques Rousseau, outras encontram em si perfeita sintonia e um desenvolvimento muito próprio.Por exemplo, sobre o valor formativo da educação, António Soares Barbosa escreveu, a certa altura (Tratado Elementar de Filosofia Moral, capítulo II, parágrafo 11), o seguinte: «Assim como, pois, a faculdade racional se manifesta, desenvolve e aperfeiçoa pelo uso e exercício, do mesmo modo a faculdade moral de que tratamos se exercita e desenvolve pelas impressões das acções virtuosas ou viciosas que se observam nos outros. A educação as adianta e dirige, ou as retarda e deprava. O progresso da faculdade moral depende do progresso da faculdade intelectiva, as alterações desta influem nas alterações daquela». As suas reflexões levam-no a afirmar também que o fim geral do homem é a felicidade: «Porém como o fim geral do homem conhecido pela observação da sensibilidade física é o da sua felicidade, ou de trabalhar em diminuir a soma dos males, para aumentar a soma dos prazeres, é sem dúvida que este fim também se há-de encerrar na "lei da ordem"» (idem, ibidem, cap. VIII, parágrafo 125).Acerca da liberdade, um direito natural do homem posto em evidência pelo movimento iluminista, escreve o Dr. José de Arriaga (no estudo atrás referenciado, a p. 109 e seguintes), referindo-se a António Soares Barbosa, o seguinte:«Diz o autor que a liberdade é como a propriedade distintiva do homem moral, e faz dez observações para demonstrar a sua existência, na primeira das quais diz que cada um sente em si uma actividade, ou princípio activo; e na segunda que este emana da alma, essa substância essencialmente activa e livre. O homem, segundo ele, tem em si uma liberdade ilimitada e absoluta, a qual exalta e engrandece».Também o Dr. Júlio de Lemos Macedo, nosso ilustre conterrâneo, aludiu ao biografado de hoje, no seu livro Através do Paiz, pp. 171 a 173. Daquilo que escreveu, transcrevemos o seguinte excerto:Ao lado dos “estrangeirados” foi precursor das ideias liberais em Portugal«Foi elle um dos que, com Verney, mais concorreram para derribar a philosophia escholastica, mantida em Portugal com o ensino jezuitico. Á moral casuistica, auctoritaria e accommodada a seus intentos dos jezuitas, substituiu a moral como sciencia e corpo de doutrina, regida por principios universaes immanentes á consciencia de cada um.Na primeira d'aquellas suas obras preconiza a influencia da instrucção e educação das massas, affirmando que um dos primeiros deveres do homem consiste em aperfeiçoar-se, desenvolvendo a sua intelligencia para bem obrar.Afirma tambem que o primeiro dever do homem para com o seu similhante é o da beneficencia e mutuo soccorro.Defende a egualdade natural, derivando-a da comunidade d'origem, da egualdade da materia, nascimento, crescimento e acabamento, da egualdade das faculdades animicas e da communidade de fim; e d'esta deriva, como consectario, a egualdade de direitos, isto é, egualdade civil ou legal dos homens como membros da sociedade civil e politica.Foi, pois, entre nós um dos precursores das ideias de 1820, embora se diga que no ultimo periodo da sua vida, esqueceu e combateu mesmo muitas das suas doutrinas, que, introduzidas na corrente da opinião, já não podiam ser abafadas na consciencia publica».Ficou para sempre ligado à sua e nossa terra quando aqui se fundou um Colégio com o seu nome.
JOÃO LOPES da COSTA REGO (1835-1910)
Advogado e grande proprietário, foi o dono da formosa Quinta de Cima, nas últimas décadas do século passado e na primeira do século atual. Era o filho mais velho e herdeiro do Capitão Francisco Lopes do Rego, anterior detentor da propriedade da Quinta de Cima. O Dr. João Lopes da Costa Rego nasceu em 1835 e foi Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo estagiado em Leiria com o notável advogado, Dr. Lopes Vieira. Acabaria por exercer poucos anos a advocacia, pela necessidade de se entregar à administração da importante casa agrícola que era a Quinta de Cima. Mesmo assim prestou importantes serviços jurídicos aos seus conterrâneos, que lhe granjearam imenso prestígio.Militou no Partido Regenerador, e chegou a exercer, por mais de uma vez o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Ansião. Foi ele o Presidente da Câmara no período em que o concelho de Ansião teve a sua maior dimensão de sempre, com 13 freguesias. No século XX, foi também ele o 1.º Presidente de Câmara. No desempenho de cargos públicos, e mesmo fora deles, sempre pugnou pelos melhoramentos da sua terra, devendo-se a ele, entre outros, o terreno das duas antigas escolas de Chão de Couce e grande parte do Adro a que, de resto, foi dado o seu nome. Não teve filhos, e durante toda a sua vida mostrou ser bastante generoso para com os pobres. O jornal O Figueiroense, do dia 8 de Janeiro de 1910, na página um, noticia assim o seu funeral: «Sepultou-se hontem no cemiterio publico de Chão de Couce o nosso amigo Sr. Dr. João Lopes da Costa Rego, da Quinta de Cima. / Desde 1868 que tivemos relações com o illustre extincto, reconhecendo sempre n'elle qualidades que o tornaram digno da nossa admiração.As Cinco Villas, que tinham pelo fallecido a maior veneração, pranteiam a perda de tão valioso cidadão reconhecendo que tarde voltará alli quem o substitua. Os seus selleiros e armazens estavam sempre abertos para os pobres e o seu conselho era procurado sempre pelos afflitos, a quem elle prodigalisava recursos intellectuaes e pecuniarios! / E assim vão desapparecendo os homens que eram o thezouro dos pobres!».Efectivamente as suas qualidades humanas eram tão grandes, que em 1935, 25 anos após o seu falecimento, quando se celebrou o 1.º centenário do seu nascimento, uma enorme multidão participou na Missa em sufrágio da sua alma.Por proposta de António Fernandes de Sousa Ribeiro, na sessão da Comissão Administrativa da Câmara de Ansião de 16 de Dezembro de 1926, foi deliberado dar o nome de Dr. João Lopes da Costa Rego ao Adro da Igreja de Chão de Couce, em memória dos muitos melhoramentos que a generosidade do homenageado tornou possíveis em Chão de Couce.
MÁRIO LEITE RIBEIRO (1884-1971)
O Dr. Mário Leite Ribeiro nasceu em Coimbra, no ano de 1884. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, exerceria, durante muitos anos, o cargo de Conservador do Registo Predial em Ansião. Já próximo do fim da carreira pediu transferência para o concelho de Vila da Feira, por onde se aposentou. Mas nunca mais esqueceria o concelho de Ansião de onde era natural sua mãe, e onde vinha passar com frequência as suas férias, na Quintas das Lagoas.Foi precisamente neste concelho, mais concretamente em Chão de Couce, que o Dr. Mário Leite Ribeiro, se casou, no dia 10 de Outubro de 1920, com a Sr.ª D.ª Maria Cândida da Costa Simões Cânova, filha do Dr. António Augusto da Costa Simões Cânova, médico aposentado das Cinco Vilas e grande proprietário. Após o Registo Civil, seguiu-se o ato religioso. Apadrinharam o casamento, pelo lado da noiva, seu pai e sua tia, Sr.ª D.ª Maximina da Costa Simões (viúva do médico Dr. Luís Augusto de Sá e residente em Almofala), e, pela parte do noivo, sua tia paterna, Sr.ª D.ª Clara Ermelinda Silva Oliveira (residente na cidade de Coimbra) e seu primo, o ilustre Juiz de Direito Dr. Francisco Ferraz Tavares Pontes que, não podendo assistir pessoalmente por motivo de doença, se fez representar pelo Conselheiro Baião. Depois do almoço que foi oferecido pelos pais da noiva, na sua residência de Chão de Couce, os noivos seguiram para a Figueira da Foz, onde passaram a lua de mel.Depois de 51 anos de casado, acabaria por falecer, já com a bonita idade de 87 anos, na sua residência da Mealhada, no dia 4 de Junho de 1971, deixando viúva a Sr.ª D.ª Maria Cândida da Costa Simões Cânova Ribeiro. Ao seu funeral, para jazigo de família no Cemitério da Mealhada, deslocaram-se algumas pessoas de Ansião, em representação dos Bombeiros Voluntários, Filarmónica e Santa Casa da Misericórdia.É que, por sua morte, o Dr. Mário Leite Ribeiro doou alguns dos seus bens exatamente à Filarmónica, aos Bombeiros e à Santa Casa da Misericórdia. Bens esses que foram vendidos por muitas dezenas de contos. Na altura, numa das Assembleias Gerais da Filarmónica de Santa Cecília, foi aprovado um voto de louvor pelo seu magnânimo gesto.