Recordando “o Bravo” D. Afonso IV
Faz hoje 722 anos que nasceu em Coimbra o único filho varão e legítimo de D. Dinis e da Rainha Santa, D. Isabel – D. Afonso IV. Morreria em Lisboa, aos 66 anos de idade (28 de maio de 1357), sendo sepultado na respetiva Sé Patriarcal.
A História ter-lhe-á dado o cognome de "o Bravo", por ter revelado grande valentia militar na batalha que os exércitos de diversos reis cristãos (nomeadamente o seu e o de seu genro D. Afonso XI, de Castela) travaram contra as tropas muçulmanas que ocupavam ainda o Sul de Espanha, nas margens do rio Salado, nome por que ficaria conhecida essa importantíssima vitória contra vários chefes sarracenos (Emir de Granada, e Rei de Fez e de Marrocos).
No princípio do reinado teve uma luta bastante dura contra seu irmão bastardo que pretendia ocupar o trono de Portugal - D. Afonso Sanches que dizem ter sido o filho preferido de D. Dinis (foi senhor de Albuquerque, na Estremadura espanhola, senhor do castelo onde, mais tarde, D. Inês de Castro viveria vários anos, ela que seria mandada assassinar por seu irmão e rei D. Afonso IV). Para evitar uma generalizada guerra civil, valeu a intermediação da Rainha Santa.
Em 1309, D. Afonso, ainda na qualidade de Príncipe Herdeiro, casou com a princesa Beatriz, filha do rei Sancho IV de Castela. O primeiro rebento deste casamento foi a formosa princesa D. Maria de Portugal, que casaria com seu primo, o rei de Castela D. Afonso XI. Mas este casamento revelar-se-ia bastante infeliz, já que, segundo consta, o Rei de Castela não tratava nada bem a sua esposa e prima (a mãe de D. Afonso XI de Castela, era D. Constança, irmã de D. Afonso IV de Portugal, ambos filhos da nossa Rainha Santa). Por isso, D. Afonso IV em retaliação, atacou algumas terras do reino fronteiriço. A paz sobreveio quatro anos depois, com a intervenção direta da própria filha, D. Maria de Portugal, a «Fermosíssima Maria» conforme a trata Luís de Camões em “Os Lusíadas”. Assinado o Tratado de Paz, em Sevilha, em 1339, entre os Reis de Portugal e Castela (tio/sogro e sobrinho/genro), bater-se-iam lado a lado, no ano seguinte, na acima referida batalha do Salado.
A década seguinte, de 1340, não foi boa nem para Portugal nem para o seu rei. Em 1343, houve uma enorme carestia de cereais, sobretudo do trigo, no Reino que trouxe a fome a muitas casas; em 1347 ocorreu um sismo que abalou a cidade de Coimbra, ao tempo uma das mais importantes do país, tendo causado enormes prejuízos materiais, e, no ano seguinte, foi a terrível ruína humana provocada pela famosa Peste Negra, chegada da Europa no outono de 1348, que em Portugal terá matado entre um terço e metade da população que cá vivia. D. Afonso IV tentando repor a ordem no seu Reino promulgou diversa legislação para debelar a ociosidade e a mendicidade que se notavam como nunca.
Foi ainda no seu reinado, mas antes da Peste Negra, que se iniciaram as viagens da expansão marítima portuguesa. No verão de 1336 realizou-se a primeira expedição portuguesa às ilhas Canárias (também denominadas, ao tempo, ilhas Afortunadas); houve mais duas expedições em 1340 e 1341 (neste último ano as expedições terão sido comandadas pelo florentino Angiolino Corbizzi e pelo genovês Niccoloso de Reccho, entre julho e novembro, às ordens de D. Afonso IV. Por isso, quando o Papa as atribuiu ao Reino Castelhano, D. Afonso IV enviou uma carta com um protesto diplomático, a 12 de fevereiro de 1345, donde se transcreve o seguinte: «Ao Santíssimo Padre (…) diremos reverentemente, por sua ordem, que os nossos naturais foram os primeiros que acharam as mencionadas Ilhas [Afortunadas]. / E nós, atendendo a que as referidas ilhas estavam mais perto de nós do que qualquer outro Príncipe e a que por nós podiam mais comodamente subjugar-se, dirigimos para ali os olhos do nosso entendimento, e desejando pôr em execução o nosso intento mandámos lá as nossas gentes e algumas naus para explorar a qualidade daquela terra. / Abordando às ditas Ilhas se apoderaram, por força, de homens, animais e outras coisas e as trouxeram com muito prazer aos nossos reinos. / Porém, quando cuidávamos em mandar uma armada para conquistar as referidas Ilhas, com grande número de cavaleiros e peões, impediu o nosso propósito a guerra que se ateou primeiro entre nós e El-rei de Castela e depois entre nós e os reis Sarracenos. (…)».
O facto mais mediático do seu reinado foi o da condenação à morte de D. Inês de Castro, não sendo propriamente atitude ou iniciativa judicial, foi mais uma medida de natureza política que procurava impedir o acréscimo de poder castelhano dentro do Reino e na própria Corte, diríamos que a sua morte foi determinada pelas superiores razões de Estado do momento.
O seu reinado é ainda conhecido pela promoção do progresso de Portugal, sobretudo no aspeto comercial, melhorando a frota marítima e fazendo tratados de comércio com países estrangeiros, designadamente com a Grã-Bretanha.