O NATAL E O CRISTIANISMO
A quadra natalícia que vivemos representa uma época festiva que se prolonga por duas semanas, normalmente entre o Natal e o Dia de Reis. Neste post destacamos, sobretudo o Natal e o Ano Novo, sem dúvida, os momentos mais altos desta quadra na tradição portuguesa!
Desde a primeira metade do século IV (336) que se celebra a Festa da Natividade de Jesus de Nazaré no dia 25 de dezembro. Com o decorrer do tempo, a Festa do Natal foi-se reforçando pelo significado de alegria na família, solidariedade, amizade e paz.
Mas, infelizmente, para muitas pessoas, este Natal significa tempo de amargura, de tristeza, de fome, de frio, de desentendimento, de revolta, de sentimento recalcado de injustiça a todos os níveis.
E, em boa verdade, por cada ser humano que sofre, todos nós, na linha daquilo que é o verdadeiro Cristianismo, ou apenas a garantia dos direitos fundamentais do ser humano, nos devíamos penitenciar também!
O Cristianismo foi uma religião revolucionária pregada por Jesus Cristo, na Judeia, ainda no tempo do Imperador Otávio César Augusto. Inicialmente, a nova religião era vista como uma seita ou uma heresia do Judaísmo, mas rapidamente, se impôs como religião, divulgando uma nova mensagem de fraternidade e solidariedade humanas, humildade e pacifismo, unicidade e salvação, prometendo aos crentes, muitos deles escravos ao serviço dos romanos, a imortalidade, após a morte física.
Rapidamente, a nova religião se espalhou entre os pobres de todo o Império Romano. Nos primeiros tempos, foi perseguida pelo poder político, em virtude do seu sentido revolucionário e universal, como doutrina; pelo seu carácter exclusivo e messiânico, pela sua tendência para o segregacionismo e secretismo das comunidades de fiéis e, sobretudo, pela sua recusa em prestar culto a outras divindades.
Contudo, a partir do imperador Constantino, terminaram as perseguições (o Édito de Milão, em 313, concede liberdade de culto a todos os habitantes do Império) e com o Imperador Teodósio torna-se a religião oficial do Império Romano.
O carácter revolucionário do Cristianismo, bem patente no conteúdo inovador da sua pregação, levou a ferozes perseguições que obrigaram os crentes desta nova fé a viverem em total clandestinidade.
As perseguições só terminaram, como se disse atrás, durante o governo do Imperador Constantino que se converteu ao Cristianismo por influência de sua mãe, Santa Helena de Constantinopla. Constantino, através do Édito de Milão, concedeu a liberdade de culto em todo o Império.
Mas o triunfo do Cristianismo como religião oficial do Império Romano, dá-se apenas com o Imperador Teodósio através do Édito de Tessalónica (em 380 d.C.).
Nascendo dentro da civilização romana, o Cristianismo, como religião, como mentalidade e como cultura, assume uma matriz clássica, isto é, assimilou muito da cultura greco-romana, que é bem manifesta na retórica dos bispos cristãos, no direito canónico, no cerimonial da liturgia, na estrutura dos templos e até nos seus elementos decorativos (estátuas e relevos).
No aspeto político, a Igreja Católica conservou toda a organização da administração romana que muito a beneficiou. Ainda hoje Roma é a capital do Catolicismo e a língua “oficial” da Cristandade, que todos os sacerdotes conhecem é o latim.
Com o objetivo de contribuírem para o fim da instabilidade e insegurança que se vivia na Europa Ocidental, após a queda do Império Romano do Ocidente, houve tentativas de restauração do Império do Ocidente.
Um dos melhores exemplos, é o famoso Império de Carlos Magno (curiosamente, Carlos Magno foi coroado Imperador no dia de Natal do ano 800, pelo Papa Leão III) durou pouco mais de 40 anos (de 800 a 843), que, em plena Idade Média, unificou os territórios que iam dos Pirenéus à Alemanha, e da Dinamarca à Itália central.
Já o chamado Sacro Império Romano-Germânico, começou com Otão I (desde 962) e terminou formalmente apenas com Francisco II (1806, aquando das campanhas napoleónicas). Juntou territórios da Europa Central (germânicos e italianos) e em termos políticos resultou de um entendimento, nem sempre pacífico, entre o Papa e o Imperador. Na prática, tratou-se de um conjunto de principados autónomos, que, entre si, escolhiam um Imperador, cargo meramente honroso e sem qualquer poder efetivo.
Também no dia de Natal do ano 1066, Guilherme I, O Conquistador (igualmente conhecido como Guilherme II, da Normandia) foi coroado rei de Inglaterra, na Abadia de Westminster depois de ter invadido a Grã-Bretanha e ter derrotado e morto o rei Harold, na famosa batalha de Hastings.
Em conclusão, o Dia de Natal é o dia do nascimento da figura central da Igreja Cristã, ou seja, um dia muito importante para o poder espiritual, mas também se evocam outros domínios de poderes temporais que foram uma importante referência na Europa Medieval.
Ano Novo, Vida Nova
Nunca como neste preciso momento ganhou tanta razão de ser o velho ditado: “Ano Novo, Vida Nova”!
Efetivamente, este início de ano é o renovar de esperança em melhores dias, porque os vividos no ano de 2013 ficarão como de muito má memória.
Crise, austeridade, fome, revolta, conflitos de todo o género foram as palavras mais utilizadas pela comunicação social para caracterizar a situação vivida.
A crise, no que respeita à Europa afetou sobretudo os países que tiveram mais dificuldades em debelar uma dívida pública em crescente aumento que os obrigou a recorrerem à ajuda externa e ao pagamento de elevados juros. Estiveram neste caso, Portugal, a Grécia, a Irlanda, a Espanha e o Chipre.
A austeridade foi a resposta recorrente dos diversos governos europeus, incluindo o nosso, de permeio com uma política neoliberal que aumentou muito os índices de pobreza de um enorme número de pessoas.
Nunca houve tantos desempregados em Portugal, nem tanta gente a passar fome, desde o 25 de Abril de 1974.
Por isso, em 2013, aumentou muito a contestação popular. Houve manifestações de quase todos os sectores sócio-profissionais, mas sobretudo dos funcionários públicos, tratados por este governo, como portugueses de 2.ª classe, uma vez que todos os cortes nos salários incidem apenas sobre este grupo de trabalhadores, independentemente dos montantes que os trabalhadores do sector privado possam receber no final de cada mês.
Os incêndios de Verão foram outra nódoa negra do 2013 em Portugal. Quando é que o governo será capaz de mobilizar as forças militares para uma ajuda na vigilância à nossa floresta, ao menos no tempo dos incêndios?
Em termos internacionais continua a Guerra Civil da Síria, neste momento já terá causado, provavelmente, mais de 150 mil mortos. Iniciou-se em Março de 2011, e a ONU não tem sido capaz de pôr termo a este conflito interno que todos os dias mata inocentes. A luta tem como objetivo o afastamento do atual Presidente Bashar al-Assad acusado de autoritarismo e de não respeitar os direitos humanos.
Também a Turquia, candidata a integrar a União Europeia, se defrontou com Protestos no final da Primavera de 2013 que, de ambientalistas, se transformaram em políticos contra o governo turco e com repercussões fora da Turquia. A intervenção policial em força, em várias cidades turcas, acabaria por fazer regressar a estabilidade ao país.
Outro local do mundo, onde paira uma sombra negra é a Coreia do Norte, que em 2013 conheceu uma crise diplomática que se estendeu a toda a península coreana e se deveu, sobretudo, ao desencadear de mais um teste nuclear norte-coreano e ao reavivar da a rivalidade entre o Sul e o Norte da Coreia, fazendo recordar o ambiente que os europeus conheceram bem durante mais de quatro décadas que ficaram conhecidas pelo nome de Guerra-Fria.
Também a morte de Nelson Mandela, já no final de 2013, enlutou o mundo, pelo seu exemplo de lutador destemido, normalmente recorrendo apenas aos meios pacíficos, pelos valores dos direitos humanos e da democracia no seu país.
As poucas notícias positivas de 2013 foram a eleição do Papa Francisco, a inversão da situação económico-financeira em Portugal (esperemos que se venha a confirmar, de facto), com o aumento das exportações, do emprego e o regresso aos mercados financeiros para o financiamento da dívida pública; e o facto da Universidade de Coimbra e a dieta mediterrânica se terem tornado Património da Humanidade.
“Ano Novo, Vida Nova” faz-nos renovar a esperança – porque esta tem de ser a última a morrer – em melhores dias para o nosso país e para as nossas vidas.
Temos de acreditar que o ritmo de crescimento económico continuará a aumentar em 2014, e com ele crescerá também o trabalho e o poder de compra dos portugueses, reanimando-se assim a economia, para que baixem rapidamente os índices de pobreza na nossa sociedade e todas as pessoas passem a ter uma vida mais digna.
Esperança renovada tem de significar mais paz, mais emprego, mais solidariedade, mais justiça, mais estabilidade económico-financeira.
Que 2014 seja o princípio do definitivo fim da crise que tanto nos tem abalado!