VIAJANDO NO TEMPO...e no espaço!

Dezembro 30 2014

SERPA PINTO MORREU HÁ 114 ANOS

serpa pinto-explorador de Africa.png

 

O explorador Serpa Pinto com alguns homens da sua confiança que o acompanharam do princípio ao fim 

No último domingo deste ano, 28 de dezembro, completaram-se 114 anos sobre o falecimento de Serpa Pinto, importante explorador português do continente africano, na segunda metade do século XIX. Um português de coragem, militar distinto, deputado liberal, um cientista que soube registar com critério científico o que encontrou, fosse gente, animais, plantas, rios, casas, armas...

Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto, de seu nome completo, considerado um herói português, sobretudo pelas adversidades que experimentou na exploração do interior africano ao serviço de Portugal, foi um militar e político monárquico, explorador  do continente africano  subsaariano entre Angola e a Costa Leste de África e, em termos políticos foi deputado pelo Partido Regenerador, Cônsul e Governador Geral de Cabo Verde.

 

Serpa Pinto nasceu na Quinta das Poldras, freguesia de Tendais, concelho de Cinfães, no Alto Douro, a 20 de Abril de 1846. Era filho do médico miguelista José da Rocha Miranda de Figueiredo e de D. Carlota Cacilda de Serpa Pinto. Com apenas 9 anos vai para o Porto, onde frequenta o Colégio da Lapa. Dois anos depois, entra no Colégio Militar e aos dezassete já é Comandante do Batalhão do Aluno.

Mas a sua fama provém, sobretudo, das viagens de exploração do continente africano. Ele tentou fazer em terras de África (expedições de 1869 e 1877) o que os portugueses de quatrocentos e de quinhentos fizeram no Atlântico central e sul, e, mais tarde, no Índico. A sua intenção era a mesma: ajudar à grandeza de Portugal, descobrindo novas terras, novos povos, novos caminhos para o comércio e domínio português. Foi seriamente assolado por febres tropicais tendo ainda assim chegado ao que se havia proposto. As vicissitudes por que passou, enfrentando muitas vezes a morte, estão na origem de um recente romance de Pedro Pinto, Serpa Pinto / o mistério do Sexto Império (2014) que vale a pena ler.

Dança no cmpo de Serpa Pinto.png

 Desenho de Serpa Pinto (que aparece sentado a assistir ao espetáculo, à frente dos seus homens, vendo-se as suas tendas e no mastro a bandeira portuguesa) publicado no livro “Como eu atravessei Africa do Atlantico ao mar Indico, viagem de Benguella á contra-costa: determinações geographicas e estudos ethnographicos”, com a seguinte legenda: “O Sova Mavanda vem dançar mascarado ao meu campo”.

 

Durante as várias expedições em território africano, Serpa Pinto evidenciou sempre um grande sentido de  responsabilidade, persistência e firmeza na consecução dos seus objetivos, mesmo nos momentos mais críticos (foi assolado com alguma frequência, por febres tropicais, vivenciou situações de fome e de sede, sofreu ataques por parte de algumas tribos, mas conseguiu resistir heroicamente a todas as provações), estabelecendo contacto com os povos locais a quem falou do povo português e do seu rei; alguns dos povos com quem privou nunca tinham visto um branco. As suas expedições tiveram também, e sobretudo, uma preocupação científica: registar o espaço geográfico, com destaque para os rios, designadamente o Zambeze, que liga Angola a Moçambique; fazer diversas recolhas dos vários povos que conheceu, da flora e fauna que encontrava, fazendo apontamentos e registos detalhados, com desenhos, sobre tudo o que ia observando.

Como militar, logo que regressou a Portugal após a primeira expedição, em 1871, prosseguiu a sua carreira, prestando serviço em vários quartéis do reino, nomeadamente em Lamego, Angra do Heroísmo (Ilha Terceira, dos Açores), Funchal (Madeira) e Leiria.

Foram os sacrifícios sofridos e as adversidades vencidas por Serpa Pinto que permitiram a Portugal, na Conferência de Berlim, quando as superpotências europeias, por interesses particularmente económicos, decidiram dividir entre si a África, fazer a reivindicação de lhe ser reconhecida a posse do território entre a costa de Angola e a costa de Moçambique, cujo conhecimento Portugal tinha em exclusivo. Mas a Inglaterra não aceitou a reivindicação portuguesa.

O regime liberal português que assentava na “Rotatividade Partidária” que caracterizou a segunda metade do século XIX entre os partidos Progressista e Regenerador, encontra-se esgotado, face à falta de resposta para a os principais problemas do país. Nos finais do século XIX, a incapacidade do rei pôr cobro às constantes disputas políticas constituiu um dos principais fatores para a descredibilização da Monarquia junto dos cidadãos.

A “Questão do Ultimato Inglês” resulta diretamente do “Mapa Cor-de-Rosa” português, proposto pela Sociedade de Geografia de Lisboa (1881) que pressupunha a ocupação efetiva dos territórios entre Angola e Moçambique. A Inglaterra, interessada também naqueles territórios, dirigiu um Ultimato a Portugal advertindo, no caso do não cumprimento, o uso da força. Aliás, Serpa Pinto, nas suas expedições, já tinha notado no terreno evidentes manifestações do interesse britânico por aquele território. O governo português acabou por ceder (era impossível outra atitude!), contribuindo para uma quebra no orgulho nacional que levou a que se propagandeasse na opinião pública a ideia de que a Monarquia não conseguia defender os interesses nacionais, tornando inevitável uma reviravolta republicana. E assim foi em 5 de Outubro de 1910.

Os republicanos esqueceram, no entanto, a gesta de Serpa Pinto, tido por monárquico, e só no período do Estado Novo o seu carácter heroico foi revalidado. Há inúmeras ruas com o seu nome em todo o país, escolas (como é o caso das escolas do Agrupamento General Serpa Pinto, em Cinfães) e até um dos barcos ao serviço de Portugal teve o seu nome. O “Serpa Pinto” é contemporâneo das duas guerras mundiais (chegou mesmo a servir como barco de guerra na I Guerra ao serviço da Coroa Britânica e durante a II Guerra serviu de transporte a muitos dos que fugiam do terror nazi), transportou mercadorias e pessoas, entre continentes e levou soldados portugueses até à Índia, numa das suas últimas viagens, na década de 1950.

publicado por viajandonotempo às 14:05

Dezembro 2014
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
16
17
18
19
20

21
22
23
24
25
26
27

28
29
31


ÍNDICE DESTE BLOG:
arquivos

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Novembro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Tags

todas as tags

pesquisar
 
mais sobre mim
contador
subscrever feeds
blogs SAPO