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Janeiro 30 2015

PADRES PRESOS EM MOÇAMBIQUE

 

 

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Foi no dia 14 de Janeiro de 1972 – fez este mês 43 anos – que a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) prendeu os dois padres católicos, Joaquim Teles Sampaio (na casa dos trinta anos) e Fernando Marques Mendes (com vinte e poucos anos), que divulgaram aquele episódio da Guerra Colonial, em território moçambicano que ficou conhecido como o Massacre de Mucumbura. Não foram testemunhas oculares, apenas transmitiram o que lhes tinha sido comunicado por missionários espanhóis, que terão dito que, em operações militares, em Outubro ou Novembro de 1971, «as tropas portuguesas incendiaram e metralharam as palhotas dos negros e mataram dezenas de crianças, mulheres e idosos» na localidade de Mucumbura, região de Tete, quase na fronteira com o Zimbabwe.

Na Igreja de Moçambique houve várias vozes da Igreja Católica que se insurgiram contra a Guerra, basta lembrar, desde logo, o primeiro bispo da Beira, D. Sebastião Soares de Resende (falecido em 1967) que foi o bispo português que mais intervenções fez durante o Concílio Vaticano II, não enjeitando a oportunidade para então denunciar a ditadura e o colonialismo. 

Os excessos da guerra não deixaram calada a consciência católica em Moçambique e, por isso, a Igreja Católica teve a iniciativa de denunciar alguns comportamentos condenáveis das tropas portuguesas. Por isso, também, os padres Joaquim e Fernando seriam, em Moçambique, os primeiros padres brancos a serem detidos na prisão da Beira, onde ficam um mês, conhecendo logo no primeiro dia, as péssimas condições de que é exemplo a deposição da comida no chão, sem lhes ser disponibilizado qualquer talher para levar a comida à boca. Dali seriam transferidos, depois, para uma prisão dos arredores de Lourenço Marques onde estavam cerca de dois mil presos políticos.

Quinze meses mais tarde os dois padres foram julgados no Tribunal Militar, durante três semanas: Joaquim Teles Sampaio foi condenado a dois anos de prisão, mas como já tinha cumprido mais de um ano ficou com pena suspensa, enquanto o Padre Fernando Marques Mendes apanhou sete meses de prisão, pena considerada cumprida. Regressariam a Portugal no ano anterior ao “25 de Abril”.

Já no final de 1972, na Capela do Rato, ocorre uma jornada de 48 horas de “greve de fome” e de reflexão acerca da guerra colonial, havendo apelo a outras pessoas para que se juntem a esta iniciativa.

Após a 2ª Guerra Mundial, a tendência dominante da política internacional foi a descolonização a que Portugal, com um regime ditatorial de carácter nacionalista, se mostrava alheio. Também a ONU reconhecia o direito à autodeterminação dos povos. Mas Portugal declarava que não tinha colónias, apenas “províncias ultramarinas”. O governo salazarista afirmava que o nosso país era um «Estado unitário, formado de províncias dispersas e constituídos de raças diferentes». No início da década de 1960, Portugal teve de enfrentar uma guerra contra os movimentos armados que se organizaram nas principais colónias portuguesas: Angola, Moçambique e Guiné.

As hostilidades em Angola começaram em Fevereiro de 1961, com o MPLA; mais tarde, dois novos movimentos surgiram: FNLA e UNITA; em 1963, iniciou-se a guerra na Guiné (contra os militares do PAIGC); e, em 1964, em Moçambique, contra a FRELIMO e, mais tarde, a RENAMO. E o colonialismo português era veemente criticado nas instâncias internacionais.

A guerra colonial portuguesa para além de dar uma imagem negativa de Portugal, significou um enorme esforço financeiro e humano. Cerca de 8 mil jovens morreram em combate e muitos mais ficaram feridos. Alguns membros da igreja católica, como acima se viu, manifestavam-se contra a continuação desta guerra, reconhecendo o direito à autodeterminação dos povos. Em Setembro de 1973, a Guiné proclamou a sua independência. O agravamento da situação militar, o livro de Spínola (“Portugal e o futuro”) e as vozes da oposição foram contribuindo para o aumento da contestação da sociedade civil e, sobretudo, entre os militares.

O 25 de Abril de 1974 instaurou o atual regime democrático. O “movimento dos capitães” coordenado por Otelo conseguiu depor a ditadura. O país passou a ser governado por uma Junta de Salvação Nacional que extinguiu o Estado Novo. Foram destituídos todos os órgãos de poder (Governo, Presidente da República, Assembleia Nacional e Conselho de Estado), destruídas as estruturas repressivas (PIDE/DGS); extinta a censura, a Legião e a Mocidade portuguesas, libertados os presos políticos e assumiu-se o compromisso de criar condições para realizar eleições livres e democráticas, no prazo de um ano. A guerra colonial chegava ao fim.

publicado por viajandonotempo às 22:01

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