ANTÓNIO GONÇALVES CURADO 1.º SOLDADO A MORRER EM FRANÇA
A segunda leva de combatentes lusos do Corpo Expedicionário Português ainda nem há mês e meio havia chegado à Flandres e já havia uma primeira morte a lamentar. A do soldado António Gonçalves Curado, natural da Barquinha. Foi há 99 anos.
Na sua ficha do CEP, em “observações” está escrito o seguinte: “Faleceu na primeira linha em 4 de Abril de 1917, por virtude de ferimentos recebidos em combate, ficando sepultado no cemitério inglês de Laventie”.
Sobre a sua morte, o general Tamagnini de Abreu um dos responsáveis pela preparação do CEP em Tancos e também comandante do CEP em França, escreveu o seguinte no seu diário, em 8 de Abril de 1917, dia que, nesse ano, coincidiu com Domingo de Páscoa: «Chegou a comunicação oficial dos ingleses da morte do soldado e dos ferimentos dos outros. Afinal, não foram estilhaços da granada que o mataram. Caiu sobre o abrigo em que os homens estavam uma granada que fez abater o tecto e o soldado ficou com a cabeça esmigalhada e os outros, feridos. (…) Aquele pobre soldado que estava abrigado à retaguarda morre esmagado por um desabamento! C’est la guerre!».
António Gonçalves Curado nasceu em Vila Nova da Barquinha, distrito de Santarém, em 29 de Setembro de 1894, filho de José Gomes Curado e de Maria Clara. À data dos acontecimentos, o parente vivo mais próximo era a sua mãe que residia em Carvalhais de Lavos, Figueira da Foz.
Seria, também, na Figueira da Foz que faria a sua recruta, como soldado de Infantaria, integrando o Batalhão de Infantaria n.º 28 desse Regimento, cabendo a António Curado o n.º 234 como soldado da 4.ª Companhia.
Depois da sua morte e quando se tratou da trasladação dos restos mortais houve grande polémica entre a Figueira da Foz, terra onde se fez soldado e vivia a sua mãe, e Vila Nova da Barquinha, terra da sua naturalidade. Os seus restos mortais seriam trasladados do cemitério português de Richebourg, depois de ter sido sepultado, primeiramente, no cemitério inglês de Laventie, para a sua terra natal por intermédio da extinta comissão dos Padrões da Grande Guerra, no dia 18 de Agosto de 1929.
Aquela controvérsia teve repercussões no fim da década de 1920, na imprensa regional (A Voz dos Combatentes e Gazeta de Coimbra) e até nacional (Diário de Notícias). Entre os argumentos enunciados a favor da Figueira da Foz, lêem-se no “DN” os seguintes: «A mãe e os irmãos do soldado Antonio Gonçalves Curado, são de aqui naturais e residentes; e é para a Figueira da Foz que reclamam os restos mortais de seu filho e irmão; o pai do primeiro soldado português morto em França, era natural e foi residente em Carvalhais de Lavos, do concelho da Figueira da Foz onde morreu; (…) É na Figueira da Foz que está o regimento a que pertencia e pertence inquestionavelmente, o primeiro soldado português morto na Grande Guerra; e portanto é nesta cidade que há direitos adquiridos sôbre a posse dos restos mortais de António Gonçalves Curado».
O resultado acabaria por ser a edificação de dois monumentos em sua memória nas duas localidades: na Figueira da Foz, a colónia francesa em Portugal já tinha tomado a iniciativa de o homenagear, por isso foi à sua custa que se erigiu um pequeno monumento em sua memória, que foi inaugurado no dia 3 de Abril de 1932, na praça Luís de Camões, próximo do monumento aos Combatentes Mortos na I Grande Guerra; em Vila Nova da Barquinha, o Monumento aos Mortos da Grande Guerra, seria inaugurado no dia 11 de Abril de 1937, prestando esse concelho homenagem aos seus mortos na Guerra de 1914-1918, colocando na base do referido monumento os restos mortais de António Gonçalves Curado, 1.º soldado do C. E. P. falecido em combate e natural daquela freguesia.