As primeiras eleições após a queda de Salazar
“Diário de Lisboa” de 26 de outubro de 1969. Neste e nos dias seguintes fizeram-se várias edições diárias e foi-se acompanhando de perto os resultados do ato eleitoral, concelho a concelho
Foi no dia 26 de outubro de 1969, há 47 anos, que se realizaram as primeiras eleições após a substituição de Salazar por Marcelo Caetano, no cargo de Presidente do Conselho de Ministros. Embora não tivesse sido eleito qualquer deputado da oposição, surgiu, entre os deputados da “União Nacional”, a famosa “Ala Liberal” da Assembleia Nacional, constituída pelos deputados Pinto Leite, Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Magalhães Mota e Miller Guerra. Destes cinco deputados eleitos em 1969, dois viriam a ser Primeiros-ministros, no pós “25 de Abril”, Sá Carneiro e Pinto Balsemão.
O período do Governo liderado por Marcelo Caetano ficou conhecido por “Primavera Marcelista”, prometendo o novo chefe do governo fazer uma “renovação na continuidade”. Permitiu o regresso de algumas figuras da oposição, como Mário Soares e D. António Ferreira Gomes (Bispo do Porto); viabilizou a realização do Congresso da Oposição (em Aveiro); e implementou algumas medidas liberais. Entre elas, refira-se a reforma da educação (com Veiga Simão, que aumentou o n.º de escolas), a integração dos trabalhadores rurais na Caixa de Previdência, e a possibilidade da Oposição Democrática poder participar nas eleições de 1969. Outras alterações não passaram de cosmética, como a PIDE passar a designar-se DGS, a “União Nacional” passar a ANP (Ação Nacional Popular) e a “censura” denominar-se “exame prévio”.
A “Primavera Marcelista” rapidamente esmoreceu e acabou rejeitada. Formaram-se partidos de esquerda; jornalistas progressistas fundaram o “Expresso” (que denunciava as arbitrariedades da ditadura); os estudantes universitários protestaram; a guerra colonial era cada vez mais contestada, até pela Igreja; e as dificuldades económicas, agravadas pelo aumento do preço do petróleo, deixavam antever um futuro revolucionário.
Mas voltemos ao ato eleitoral de 1969, cujos resultados oficiais foram contestados em bloco por toda a oposição. Essas eleições apesar de oficialmente não permitirem a eleição de qualquer deputado da oposição, marcaram uma viragem histórica no Estado Novo, quer porque outras formações políticas foram a votos, quer porque as gerações que nelas participaram criaram um movimento de dinamização política, de resistência e de crítica que haveria de conduzir, 5 anos depois, ao derrube da Ditadura.
Um ano e um mês depois da substituição de Salazar por Marcelo Caetano, decidida no dia 26 de Setembro de 1968 pelo então Presidente da República, Américo Tomás, ocorreriam as eleições (dia 26 de outubro de 1969). As principais formações concorrentes a esse ato eleitoral para a Assembleia Nacional foram a União Nacional (UN), a Comissão Democrática Eleitoral (CDE), próxima dos comunistas, e a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), de inspiração socialista.
Tendo em consideração que o sufrágio era bastante restritivo, votaram, a nível nacional, 1 124 195, distribuindo-se os votos da seguinte forma: União Nacional 981 263 (88%); Comissão Democrática Eleitoral, 114 745 (10,3%); Comissão Eleitoral de Unidade Democrática 16 863 (1,5%) e Comissão Eleitoral Monárquica, com 1 324 votos (0,1%).