Chamas, morte e dor na zona do Pinhal Interior
Este tema é incontornável e absorve as atenções de todos os portugueses, no país e no mundo, nos últimos 15 dias. Desde Sábado, 17 de Junho último, deflagrou mais um grande incêndio na região do Pinhal Interior, mais concretamente no município de Pedrógão Grande, que depressa alastrou aos concelhos vizinhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Alvaiázere, Ansião, Penela, Sertã e outros. O número de vítimas entre mortos e feridos ultrapassa as duas centenas.
Todos os meios de socorro foram mobilizados para a região. Bombeiros e militares ultrapassaram o número do milhar, as viaturas envolvidas foram várias centenas e houve recurso também aos meios aéreos. Houve corporações de bombeiros de quase todo o país e até bombeiros estrangeiros nos tiveram de vir ajudar. Mesmo assim, os meios de comunicação, quando ouviram os populares que perderam familiares e bens, transmitiram o seu desabafo “ao vivo” de que o socorro não chegou ou chegou demasiado tarde, como se ouviu com mais insistência de algumas pessoas residentes nos municípios de Pedrógão Grande e de Figueiró dos Vinhos, no norte deste distrito.
Inspetores da Polícia Judiciária provenientes de Leiria, Coimbra e Lisboa, segundo se noticiou, concluíram que este incêndio teve origem natural, num relâmpago, em tarde de trovoada seca, que terá atingido uma árvore, pegando de imediato o fogo à floresta. O calor que se fazia sentir terá sido responsável pela rápida propagação das chamas.
Fosse como fosse as pessoas que foram colhidas pelas chamas, algumas delas em tentativa de fuga desesperada, tiveram uma morte horrorosa que, nalguns casos, significou o fim de famílias inteiras, pais e filhos.
Esta tragédia sensibilizou toda a gente, desde o Presidente da República, que mais de uma vez esteve no local das operações para se inteirar do ponto da situação, até ao cidadão anónimo que não deixou de contribuir para que os “soldados da paz” e todos aqueles que com eles combatem as chamas pudessem ter que comer e beber. A onda de solidariedade não pára.
O governo decretou, e bem, três dias de luto nacional: 18, 19 e 20 de Junho de 2017.
A calamidade dos incêndios voltou a estar na ordem do dia. Pode ser, no entanto, que esta desgraça contribua para que as autoridades tomem medidas concretas de prevenção, no sentido de que situações destas se não repitam.
Para além da necessidade de dotar os bombeiros voluntários de maior número de homens e de mais viaturas, seria também importante apostar numa vigilância mais eficaz e sistemática, que poderia passar por um efetivo corpo de guarda florestal, obrigatório nos municípios com floresta. Os militares podiam ter também neste aspeto da vigilância uma missão importante e eficaz. Há 35 anos, quando fiz serviço militar no Regimento de Infantaria 13, de Vila Real, assim se fazia. Várias patrulhas saíam do quartel todos os dias de Verão, com rumos diferentes, com a missão de detetar focos de incêndio.
As câmaras das regiões mais florestadas podiam proceder como a de Ansião (e outras), que há alguns anos, mandou construir centenas de km de estradas florestais, para facilitar o acesso aos bombeiros em caso de incêndio e mais de uma dezena de pontos de água para rápido reabastecimento de viaturas utilizadas nos combates aos incêndios, o que parece ter sido uma medida bem acertada.
A complementá-la deve proceder-se a uma reordenação florestal e à reflorestação das áreas ardidas com espécies autóctones e não mais com eucaliptos.
Para além da proteção de vidas e de bens patrimoniais, há que pensar no Planeta e no Ambiente. A nossa vida e a dos seres vivos que connosco partilham a Terra têm de ser acauteladas por todos nós!