ALEXANDRE HERCULANO MORREU HÁ 140 ANOS
Alexandre Herculano é um dos maiores historiadores portugueses, havendo mesmo quem o considere o fundador da historiografia portuguesa. Mas foi também um consagrado escritor, cujos poemas e romances o tornaram uma destacada personalidade do romantismo português. Escreveu em diversas revistas e periódicos portugueses, de carácter cultural ou informativo, alguns dos quais foram mesmo fundados por si.
Nasceu em Lisboa a 28 de março de 1810 e morreu no dia 13 de setembro de 1877, na Quinta de Vale de Lobos, Azoia de Baixo, Santarém.
Herculano nasce no ano da 3.ª invasão francesa e, durante o seu crescimento, vive numa atmosfera de grande intensidade política de algum ódio para com os franceses, primeiro, e, depois, contra os ingleses. Tem 10 anos quando se dá a Revolução Liberal Portuguesa, 12 quando o Brasil se torna independente e é aprovada a Constituição Portuguesa, mas já é adulto quando ocorre a Guerra Civil (1832-1834), na qual participa, como um dos “Bravos do Mindelo” ao lado de D. Pedro e, entre muitos outros, de Almeida Garrett.
Em termos políticos, Alexandre Herculano sempre se revelou um liberal convicto. Ter-se-á iniciado na maçonaria, muito provavelmente quando esteve exilado em Inglaterra, no período das perseguições miguelistas, mas acabaria por abandoná-la, pouco depois.
D. Pedro, no período do Cerco do Porto, nomeou-o seu Bibliotecário na cidade e nesse período terá iniciado a direção e colaboração regular na revista de Lisboa, “O Panorama”.
Como historiador, uma das obras mais notáveis, foi a “História de Portugal”, cujo primeiro volume saiu em 1846. Este seu trabalho terá sido o primeiro passo de uma verdadeira história, alicerçada numa metodologia científica, que se baseia em documentos fidedignos. Mesmo assim levantou alguma polémica, pela originalidade da sua produção e sobretudo por algumas afirmações feitas com coragem e com a determinação que a base documental permitia. Os maiores críticos surgiram no meio eclesiástico, sobretudo porque Alexandre Herculano pôs em causa o célebre “Milagre de Ourique”, segundo o qual Cristo teria aparecido a D. Afonso Henriques anunciando previamente a sua vitória. Sabemos hoje que até a data e o local são postos em causa, quanto mais a intermediação divina. Em resultado do prestígio científico granjeado por Herculano com a sua História de Portugal, a Academia das Ciências de Lisboa nomeou-o seu sócio efetivo e a entregou-lhe o enorme e muito importante projeto que foi o “Portugaliae Monumenta Historica”, que consistiu na recolha de documentos valiosíssimos que se encontravam nos arquivos de conventos e mosteiros de todo o país, e que constituiu um projeto monumental que levou a cabo nos anos 1853 e 1854, iniciando a sua publicação em 1856. Como os mosteiros e conventos foram extintos e os seus bens leiloados em hasta pública, este trabalho de Herculano ainda ganha maior importância e pertinência, pois sem ele, milhares de documentos que são hoje fonte historiográfica importante, ter-se-iam perdido para sempre.
Em termos políticos, Herculano foi sempre adepto da Carta Constitucional, e por isso, em 1836, recusou a sua adesão ao Setembrismo. Foi deputado às Cortes, mas recusou fazer parte do primeiro Governo da Regeneração, em meados do século (1851). Em termos autárquicos, como hoje diríamos, foi Presidente da Câmara de Belém (nos subúrbios de Lisboa, anos de 1854 e 1855), cargo que abandona rapidamente. Morreu aos 67 anos, de pneumonia e está sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.