Ainda no contexto da celebração dos 35 anos sobre a Revolução de Abril, acho que vale a pena reflectir sobre a Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974) que está directamente ligada com a causalidade da Revolução Democrática Portuguesa.
Em 1961, um rol de acontecimentos marcou uma viragem no destino das colónias portuguesas.
OS PALCOS DA GUERRA
■ Angola (a 8.500 Km de Lisboa)
Foi a Guerra declarada contra o exército português, iniciada pelos militantes do MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) em Luanda, a 4 de Fevereiro e, a 15 de Março, a UPA (União das Populações de Angola), posteriormente denominada FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola). É o princípio de um conjunto de violentos ataques no Norte desta colónia. Anos mais tarde, já com a presença da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), começa uma luta de guerrilha.
No ano de 1961 Salazar irá proferir a máxima legitimadora da sua posição relativamente às rebeliões que se desencadeavam nas possessões portuguesas: "Para Angola, imediatamente e em força".
Milhares de soldados portugueses, como se vê no quadro que se segue, foram enviados para Angola.
E, como é óbvio, muitos milhares lá morreram:
■ Guiné (a 3.000 Km de Lisboa)
O conflito na Guiné-Bissau iniciar-se-á em 1963, com apenas uma organização política: o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde).
Também para esta província portuguesa o governo salazarista mobilizou milhares de jovens portugueses.
E também aqui se registaram muitos mortos:
■ Moçambique (a 13.000 Km de Lisboa)
Em 1964, é a vez da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) conduzir Moçambique também à guerra contra o domínio português.
Apesar de ficar a mais de 13 mil quilómetros de Portugal, também para lá seguiram milhares de combatentes portugueses.
E, também, mais uma vez grande número de soldados mortos em combate:
As três frentes de guerra provocaram fortes abalos nas finanças do Estado (houve anos em que mais de 40% do Orçamento de Estado eram despendidos com a Guerra), desgastando simultaneamente as Forças Armadas, ao mesmo tempo que colocava Portugal cada vez mais isolado no panorama político mundial. A nível humano, as consequências foram trágicas: um milhão e quatrocentos mil homens mobilizados, nove mil mortos e cerca de trinta mil feridos, além de cento e quarenta mil ex-combatentes sofrendo distúrbios pós-guerra.
Os efectivos em combate do lado português e do lado dos movimentos nacionalistas eram, segundo fontes militares, os seguintes:
A acrescentar a estes números há ainda que mencionar as não contabilizadas vítimas civis de ambas as partes.
Falta dizer que muitos dos soldados portugueses mobilizados para esta guerra profundamente injusta viram a sua vida académica, familiar e/ou profissional subitamente interrompida.
Talvez, assim, se fique a entender melhor a razão por que foram os "capitães" a fazer o "25 de Abril" de 1974.