O Padre Américo é considerado, ainda hoje, um modelo como “educador social” dono de uma grande capacidade intuitiva, que desenvolveu uma filosofia de acção muito própria, repleta de princípios, valores religiosos e morais, que depois foi canalizando para a prática quotidiana.
O Padre Américo (o seu nome completo é Américo Monteiro de Aguiar) nasceu no dia 23 de Outubro de 1887, em Galegos (concelho de Penafiel). Foi o oitavo filho duma família cristã. Depois de ter frequentado o ensino primário, começou por trabalhar na actividade comercial no Porto e, em 1906, foi para Moçambique, regressando a Portugal em 1923, com 36 anos de idade, altura em decide tornar-se religioso, como franciscano, ingressado no Convento Franciscano de Vilariño de Ramallosa, Espanha, onde tomou o hábito no dia 14 de Agosto de 1924. Contudo, após dois anos de vida conventual, abandona a opção do franciscanismo, mas não a de sacerdote. Com o objectivo de se ordenar, tentou entrar no Seminário do Porto, como a sua admissão foi recusada, entrou no Seminário de Coimbra em 1925, aos 38 anos.
No dia 29 de Julho de 1929 (comemora-se este ano o 80.º aniversário da sua ordenação), com 42 anos, seria ordenado padre, passando a dedicar-se, de forma mais intensa e determinada, a auxiliar os mais pobres da cidade do Mondego: pessoas sem abrigo, famílias sem rendimentos, doentes e presos.
No âmbito dessa acção ao serviço dos mais desfavorecidos, tomou conta da “Sopa dos Pobres” de Coimbra e promoveu “Colónias de Férias” para as crianças da rua. Terás sido no desenvolvimento dessa actividade que lhe surgiu a inspiração da criação da “Casa do Gaiato”.
A 1.ª seria criada em Miranda do Corvo (distrito e diocese de Coimbra), a 7 de Janeiro de 1940, com o objectivo de apoiar os rapazes abandonados, vítimas da miséria social então instalada no país, na difícil conjuntura da 2.ª Guerra Mundial. Três anos mais tarde (1943), o “Pai Américo” começou a construir a “Aldeia dos rapazes em Paço de Sousa (concelho de Penafiel). Em 1944, surgiria o primeiro número do jornalinho “O Gaiato” (um periódico escrito, feito e, em parte, distribuído pelos rapazes da obra).
Centenas de “gaiatos” errantes, transformaram-se em homens honestos, bons chefes de família, pais exemplares, cidadãos úteis à sociedade.
Em 1945, abriu um Lar para Estudantes no Porto; em 1951 fundou o Património dos Pobres, dedicado às famílias sem casa; em 1952 as “Conferências Vicentinas dos Gaiatos” tinham já construído 26 casas, “Património dos Pobres”, nos distritos de Lisboa, Coimbra Aveiro e Porto, alargando-se até aos Açores.
Em menos de vinte anos, o Padre Américo ergueu uma obra grandiosa à qual nenhum coração humano pôde ficar insensível.
Em 16 de Julho de 1956, a aventura de “Pai Américo” parou repentinamente num acidente de viação, em S. Martinho de Campo (concelho de Valongo), quando regressava de uma viagem ao Sul do País, contava então 68 anos de idade. Conduzido ainda ao Hospital Geral de Santo António, do Porto, acabaria por falecer.
Foi exumado a 15 de Julho de 1961, no cemitério paroquial de Paço de Sousa, e trasladado no dia 17de Julho de 1961 para a Capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, onde jaz em campa rasa, como fora seu desejo. Durante as cerimónias fúnebres, usou da palavra o deputado Dr. Urgel Horta, tendo afirmado, a certa altura, o seguinte: «(...) Saibamos nós compreender a grande lição da sua vida, tudo fazendo para que a sua obra de tanta magnitude e projecção e tanta grandeza se transforme em fundação, que a alargue e continue, e da mais fraterna solidariedade humana contida no Evangelho».
Por ocasião da comemoração do 50.º aniversário da sua morte, o Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) publicou uma Nota Pastoral em que defende o «modelo inédito de educação da juventude» do Padre Américo, fundador da “Obra da Rua” (Casas do Gaiato).