AS DIFICULDADES DO CEP, NO DIA 9 DE ABRIL DE 1918
Os portugueses não podem esquecer as horas e os dias dessa terrível batalha, iniciada na madrugada do dia 9 de abril de 1918, porque La Lys marcou tragicamente a participação portuguesa na “Frente Ocidental” da 1.ª Grande Guerra, tantos foram os mortos, os feridos e os desaparecidos em combate.
Nesse dia, a frente de combate estendeu-se por 55 quilómetros, estando o lado dos Aliados guarnecido pelo 11.° Corpo Britânico, do qual faziam parte 84000 homens, entre os quais cerca de 20000 portugueses que integravam a 2.ª divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP), superiormente comandado pelo general Gomes da Costa. Oito divisões do 6.º Exército Alemão pretendiam concretizar a ofensiva alemã, que visava ultrapassar o rio Lys e tomar as cidades de Calais e Boulogne-sur-Mer.
Os alemães, em superioridade numérica (reforçados com a transferência de milhões de homens da Frente Oriental, que acabou devido ao Tratado de Paz de Brest-Litovsk assinada no mês anterior), iniciaram um violento bombardeamento de artilharia cerca das 4 horas e 15 minutos da madrugada e apenas em 15 minutos destruíram todas as comunicações por fio entre a “frente” e o quartel-general português. O assalto às trincheiras portuguesas ocorreu por volta das 7 horas. Quatro divisões alemãs, isto é, cerca de cem mil homens, avançaram contra 20000 portugueses.
Apesar de vários exemplos de resistência verdadeiramente heroica, especialmente por parte da 4.ª brigada portuguesa, a verdade é que os soldados portugueses são submersos por esta ofensiva maciça. As tropas portuguesas, ao longo das intermináveis primeiras quatro horas das trinta que a batalha durou, perderam à volta de 7500 homens, contando mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros, entre os quais 327 oficiais e muitas centenas de sargentos.
Nas trincheiras, onde a sobrevivência era dura (frio, fome e humidade), estavam soldados portugueses misturados com os ingleses numa convivência difícil, dada a dificuldade de comunicarem por desconhecimento mútuo das línguas (é preciso lembrar que muitos soldados portugueses nem o ensino primário tinham e, por isso, o desconhecimento da língua inglesa era absoluto).
O exército português desmoralizado e inferior em número foi esmagado. Entre as várias razões que explicam essa estrondosa e dramática derrota são, normalmente, apontadas as seguintes: o facto das tropas inglesas terem recuado nas suas posições, deixando mais vulneráveis os flancos do CEP; o golpe militar sidonista de dezembro de 1917, que quase abandonou os combatentes portugueses à sua sorte, não fazendo a prevista substituição dos soldados portugueses na “frente”; Sidónio Pais chamou a Portugal muitos oficiais com experiência de guerra que não regressaram ao seu posto de comando e lá fizeram falta; o armamento alemão era muito melhor em qualidade e quantidade que o português e o inglês; e o ataque alemão foi desferido no dia em que as tropas portuguesas tinham recebido ordens para irem para posições à retaguarda.
A terminar, uma palavra para a situação de guerra que os portugueses viveram também nas colónias africanas de Angola e Moçambique, que foram atacadas por soldados alemães e, obrigaram, por isso, ao envio de cerca de 31000 expedicionários metropolitanos e cerca de 3000 africanos para as defender.
Finda a Guerra, Portugal teve lugar nas negociações para a paz, na condição de vencedor, mantendo as suas colónias durante mais cinco décadas e meia, mas perdeu a liberdade e a democracia durante quase meio século.