E o seu afastamento do poder
Foi supostamente no dia 3 de agosto de 1968, há 49 anos, que Salazar, chefe do Governo Português desde 1932, e no governo (como ministro das Finanças) desde 1928 (ainda no tempo da Ditadura Militar), deu, a agora célebre queda da cadeira, no Forte de Santo António do Estoril, onde normalmente passava as suas férias, com a sua governanta, D.ª Maria de Jesus Caetano Freire.
Digo “a agora célebre”, porque na altura nem sequer foi conhecida essa ocorrência, quanto mais “célebre”. Uma ditadura é assim. A “verdade” é ocultada até que as autoridades a achem oportuna, se alguma vez for mesmo para divulgar. A segurança do Estado serve normalmente de argumento justificativo para esta forma de proceder.
Só um mês e três dias mais tarde, a 6 de setembro de 1968, é que Salazar diria ao seu médico o que aconteceu e, nesse mesmo dia, seria internado no quarto “68” do sexto piso do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, para ser operado de urgência a um hematoma.
No dia seguinte, os principais jornais portugueses (Diário de Notícias, O Século, Diário de Lisboa e Diário Popular) informavam a Nação do inesperado: Salazar, com 79 anos, estava hospitalizado.
Mas o 1.º órgão de comunicação social a dar a notícia foi a “Emissora Nacional” na manhã do dia 7 de setembro. A intervenção cirúrgica foi da responsabilidade dos neurocirurgiões Almeida Lima, Vasconcelos Marques e Eduardo Coelho e pode dizer-se que foi um êxito.
O “Diário de Lisboa”, do dia 7 de setembro de 1968 (Sábado), abria a edição com o seguinte título: “O Presidente do Conselho (operado esta noite a um hematoma) está internado no Hospital da C. V. P.”.
As duas primeiras páginas das edições do “Diário de Lisboa” noticiando a morte de Salazar (o 1.º fictício, de outubro de 1968, quando se previa a qualquer momento a sua morte; o 2.º, real, de 28 de julho de 1970)
O mesmo periódico, no dia seguinte (domingo), preenche todo o cimo da 1.ª página com o título “Está a evoluir normalmente o estado de saúde do chefe de governo”. E, mais abaixo, sob o título “os dois primeiros dias” escreve: «O País inteiro segue de muito perto a evolução do estado de saúde do Presidente do Conselho, ontem operado no Hospital da C. V. P., pelo dr. António Vasconcelos Marques, a um hematoma intracraniano subdural, proveniente, segundo declarações oficiais, de uma queda na sua residência de S. João do Estoril. Com as reservas impostas pela profissão, os médicos responsáveis admitem uma evolução satisfatória (…)».
O “Diário de Notícias”, do mesmo dia, tem como manchete, “Uma Notícia Que Emocionou O País” e o título “Salazar Operado De Urgência” que preenche o topo da primeira página. Três fotografias ilustram o infausto acontecimento.
As várias fontes consultadas referem, realmente, que houve significativas melhorias nos dias seguintes; contudo, a 16 de setembro, Oliveira Salazar sofre um profundo acidente vascular do lado direito do crânio e entra em coma profundo, esperando-se, desde então, o desfecho final. É convocado o Conselho de Estado, e o Presidente da República dá posse a Marcelo Caetano, no dia 27 de setembro de 1968.
Alguns jornais começam a preparar as edições especiais da morte de Salazar depois de 40 anos de poder. Mas, quis o “destino” que a morte do ditador português apenas ocorresse no dia 27 de julho de 1970, aos 81 anos.
O seu regime, no entanto, sobreviver-lhe-ia mais 4 anos (até ao dia 25 de Abril de 1974).
Ainda sobre Salazar partilho duas histórias que recebi hoje, via email:
PERESTRELLO, SALAZAR E O PADRE
Nos tempos idos do fascismo, o pai de António Oliveira Salazar era feitor numa grande propriedade do velhote Perestrello, situada lá para os lados de Santa Comba Dão. Perestrello teve dois filhos, um rapaz e uma rapariga. A menina ainda foi namorada de Salazar e o rapaz, mais conhecido pelo Perestrello Vasconcellos, que cursou engenharia, quando Salazar chegou ao poder colocou-o como administrador da Casa da Moeda e posteriormente, em 1939, assumiu a gestão do Arsenal do Alfeite.
Perestrello Vasconcellos morreu em 1962 e deixou seis ou sete filhos, dos quais um deles foi engenheiro naval, na Lisnave, e outro, sentiu vocação para sacerdote e veio a ser capelão da Marinha. Em 1959, o capelão Perestrello Vasconcellos fez parte da célebre conspiração "Caso da Sé", na qual participaram vários opositores ao regime, como Manuel Serra. Na eminência do capelão também ser preso, o presidente do governo, Oliveira Salazar, chamou a S. Bento o pai do capelão Perestrello Vasconcellos e aconselhou-o a mandar o filho para o Brasil, para que não tivesse o desgosto de ver um filho na prisão. Tudo em consideração ao velhote Perestrello de quem o pai de Salazar tinha sido feitor.
E foi assim que o padre Perestrello Vasconcellos debandou para o Brasil. Nos anos 70, com a primavera marcelista do primeiro-ministro Marcelo Caetano, o padre Perestrello Vasconcellos regressou a Portugal e foi exercer o sacerdócio na paróquia de Loures.
Num belo dia, o admirado e venerado padre Perestrello Vasconcellos, em plena missa dominical, deixou os paroquianos atónitos e lavados em lágrimas. Anunciou que iria deixar o sacerdócio porque se apaixonara por uma senhora da família Lorena. O padre passou à sua condição de cidadão com matrimónio e dessa união nasceu Marcos Perestrello Vasconcellos, o ex-vereador socialista da Câmara de Oeiras e actual secretário de Estado da Defesa do governo do Partido Socialista.
(mais uma história da família Perestrello e do Dr. Salazar (retirada da biografia escrita pelo Dr Franco Nogueira...)
Realmente (e tal como se refere no texto acima) o jovem Salazar (que pelos vistos era um mulherengo e não um misógino) gostava da jovem Perestrello e ela retribuía esse amor com paixão.
Até que a mãe se apercebeu e terminou com o namoro, não sem antes dizer de viva voz ao jovem prof. Universitário (imaginem, de Finanças Pùblicas!!!!) que tinha muita consideração pela inteligência dele, mas, sinceramente, namorar com a filha dela, uma Perestrello, era demais. Ele não se podia esquecer, que era e seria sempre o filho do caseiro.
Terminou assim o namoro.
Anos passados, já ele era 1º ministro e a senhora Perestrello telefonou-lhe para lhe pedir um favor. O telefonista passou a chamada e ela anunciou-se: "Daqui fala Perestrello" e Salazar respondeu "Daqui fala o filho da caseiro".
Isto só prova que a vingança não se serve fria, como muita gente pensa, mas gelada.