O alferes de cavalaria Bernardino Machado integrou o CEP
O alferes Bernardino Machado em França, em1917
A 1.ª Guerra Mundial tocou a todos. Até o filho mais velho do então Presidente da República, Bernardino Machado, nela participou. Na frente de batalha, vendo-se impedido de atuar enquanto militar de cavalaria, ofereceu-se para exercer a função de oficial sinaleiro, com responsabilidades na montagem e segurança das linhas de comunicação, uma atividade também de alto risco. Durante a Batalha de La Lys, no dia 9 de Abril de 1918, sofreu com gravidade os efeitos dos gases, tendo sido evacuado para cuidados hospitalares.
É sobre a sua participação na Guerra que trata um artigo publicado no jornal “República” de há cem anos (28 de fevereiro de 1918), que, de seguida, em parte se transcreve, quando seu pai estava exilado em França, por imposição da autoridade sidonista, que então governava o país.
«Visto que tanto se malsinou a boateou malévolamente quanto á situação do filho mais velho do snr. Dr. Bernardino Machado, ao tempo em que êste estava em pleno e constitucional exercício das suas funções de presidente da República, e que fazia parte do corpo do exército português em França, justo é que se fique sabendo quais são e teem sido as funções que êle tem exercido. Foi êle proprio, o snr. Alferes de cavalaria Bernardino Machado que o disse ao Jornalista que o entrevistou em França e cuja entrevista foi inserta na Capital de 25 do corrente e á qual não tiveramos ainda ensejo de fazer referencia, devido á estreiteza de espaço de que dispomos e aos complexos assuntos que dia a dia vão chamando a nossa atenção.
Assim, vêmos pelas declarações do snr. Alferes Machado, que êle partiu para França em 2 de julho do ano passado, indo para o grupo de esquadrões (…)
Pertencia êle ao regimento de cavalaria 4, e o grupo para que foi era o 2, constituído por uns 800 homens. Depois foi para sinaleiro da artilharia nas seguintes circunstancias: - como o grupo de esquadrões não tinha nada a fazer, dadas as condições em que se está fazendo a guerra de frentes, foi dissolvido por uma ordem do quartel general do C.E.P., sendo, com as praças que o constituíam, formadas depois as companhias de ciclistas. A seguir, saiu depois uma circular aos subalternos de cavalaria convidando, os que quizessem servir como sinaleiros de artilharia e fazerem a respectiva declaração. O snr. Alferes Machado foi um dos que se ofereceram, indo então fazer a escola de sinaleiro, durante 18 dias, apenas, na pequena povoação de Roquetoir, proximo de de Aix-sur-la-Lys. Foi durante o tempo em que a cavalaria esteve inactiva que o snr. alferes Machado fez serviço no quartel general na censura de correspondência, onde o foi encontrar o tal convite que ele se apressou a aceitar. Estava êle no front havia três meses; hoje está lá há oito, como oficial sinaleiro de artilharia, cujas funções consistem em manter as comunicações, velar pela segurança das linhas, percorrê-las incessantemente, cuidar da disciplina das praças sob o seu comando, e ver o que elas fazem.
“Este serviço – exclareceu modestamente o snr. alferes Bernardino Machado – não é comparavel em perigo ao da infantaria nas trincheiras, mas o risco ainda assim não é pequeno, vendo-se os sinaleiros ás vezes em palpos de aranha, pois que estão na zona perigosa, tendo de a percorrer a toda a hora, muitas vezes debaixo de fogo das metralhadoras inimigas”
Tal é a situação na frente de batalha do filho do snr. dr. Bernardino Machado, a quem a calunia e o ódio apontavam como um… emboscado.»