A 1.ª GRANDE GUERRA TAMBÉM TEVE A INTERVENÇÃO PORTUGUESA
Este ano não podemos esquecer o centenário do primeiro Grande Conflito Mundial, em que Portugal esteve diretamente envolvido. Efetivamente, há cem anos, e depois do ataque perpetrado no dia 28 de junho de 1914, em Sarajevo, e de que resultou o assassínio do Arquiduque Francisco Fernando e de sua esposa, herdeiros do trono da Áustria-Hungria, adivinhava-se o início do conflito a qualquer momento, mal terminasse o prazo do Ultimato.
E, passado um mês certo, começava a 1.ª Guerra Mundial: de um lado, os países da Tríplice Aliança (Alemanha e Áustria-Hungria; a Itália, também membro desta aliança, não entraria na Guerra ao lado dos seus aliados) e do outro, os países subscritores da Tríplice Entente (França, Rússia e Grã-Bretanha).
Aquele assassinato foi, sem dúvida, a causa imediata para o início da Guerra que começou um mês depois (28 de julho de 1914), esgotado o Ultimato que a Áustria-Hungria fizera à Sérvia. Mas, desde há algum tempo, outros problemas atingiam profundamente as principais nações europeias no início do século XX.
O século XIX havia criado feridas difíceis de curar, com os seus interesses territoriais. Alguns países estavam extremamente descontentes com a divisão da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX, sobretudo na Conferência de Berlim (1884-1885), também de má memória para Portugal. A Alemanha e a Itália tinham ficado fora do processo neocolonial. Enquanto isso, a França e a Inglaterra viam reforçados os seus interesses coloniais, explorando territórios bastante ricos em matérias-primas.
A rivalidade entre a Alemanha e a França também estava exacerbada, pelo facto desta ter perdido, na sequência Guerra Franco-Prussiana, já na segunda metade do século XIX, as ricas províncias da Alsácia e da Lorena, que pretendia reaver o mais depressa possível.
Colidia o revanchismo francês com o pan-germanismo que pretendia unir todos os países de origem germânica numa só grande nação alemã, na sequência do que já fizera Bismark no século anterior. A guerra estava prestes a alastrar à Europa e ao Mundo.
No dia 29 de Julho de 2014, o diário republicano da noite, intitulado A Capital, logo na primeira página, dava conta das piores notícias que vinham da região balcânica, embora o título deixe perceber ainda alguma esperança de que o conflito não alastre ou se circunscreva à região. O título é o seguinte: “Evita-se a conflagração? / As chancellarias trabalham n’esse sentido, mas, ao mesmo tempo, apressam-se os preparativos bellicosos / A GUERRA AUSTRO-SERVIA”. E logo a abrir o artigo informam-se os leitores: «As noticias telegraphicas recebidas durante a noite traduzem a enorme anciedade produzida por esta interrogação que todos se formulam: - Localisar-se-há a guerra? A conflagração europeia será, finalmente, um facto?
Os esforços da chancellaria ingleza, a cujo lado se encontra abertamente a França, continuam a empregar-se no sentido de evitar que se desencadeie a tormenta, avassalando toda a Europa.
Os preparativos bellicos, no entretanto, prosseguem com siginifcativa actividade. A França envia para a fronteira os regimentos de artilharia e infantaria que andavam em manobras e chamará tropas de Marrocos, onde ficarão apenas as necessarias para a manutenção da ordem e segurança dos nacionais. A Allemanha chamou ás fileiras as reservas de dois annos. Os inglezes teem 29 couraçados concentrados em Portland e, segundo consta, vão tambem convocar os reservistas. Todas as licenças da marinhagem dos navios de guerra ancorados em Gibraltar foram suspensas.
Esperava-se que hoje atingissem o numero de 500:000 homens as tropas austro-hungaras concentradas nas fronteiras austro-servia e austro-montenegrina».
Entretanto, o mesmo periódico lisboeta informa que na Câmara de Deputados, «o sr. Pereira Bastos, depois de mostrar a necessidade de se cuidar a sério da defesa nacional, propõe que do saldo orçamental de 2:500 contos, destinado a essa defesa, se consagrem desde já mil contos á valorisação do material de guerra existente. Dada a actual situação da Europa, crê que a sua proposta é urgentissima, merecendo immediata sancção». As preocupações do deputado Pereira Bastos eram pertinentes e foram secundadas por outros deputados e membros do governo.
Iniciado o conflito, os países, numa questão de dias, foram-se envolvendo em mútuas declarações de guerra. Portugal, velho aliado da Inglaterra, esperançado na manutenção das colónias africanas, e desejando prestigiar o seu regime republicano, no cenário internacional, também participou nesta Guerra. Primeiro, em África, para defender Angola e Moçambique dos ataques alemães, mais tarde (a partir de 1917), na Frente Ocidental, em território francês.