CENTENÁRIO DA ÚLTIMA APARIÇÃO EM FÁTIMA
No dia 13 de outubro de 2017, comemorou-se o centenário da última aparição mariana no ano de 1917, em Fátima. Há cem anos terão assistido ao fenómeno miraculoso do sol mais de 50 mil pessoas. Crentes, curiosos e jornalistas convergiram nesse dia para a Cova da Iria.
A multidão que assistiu ao Milagre do Sol, na Cova da Iria, no dia 13 de outubro de 1917 (in “Ilustração Portuguesa”, de 29-10-1917)
Lúcia, a vidente que sobreviveu mais tempo, escreveu o seguinte nas suas “Memórias” relativamente a esta Aparição: «Saímos de casa bastante cedo, contando com as demoras do caminho. O povo era em massa. A chuva, torrencial. Minha Mãe, temendo que fosse aquele o último dia da minha vida, com o coração retalhado pela incerteza do que iria acontecer, quis acompanhar-me. Pelo caminho, as cenas do mês passado, mais numerosas e comovedoras. Nem a lamaceira dos caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais humilde e suplicante. Chegados à Cova de Iria, junto da carrasqueira, levada por um movimento interior, pedi ao povo que fechasse os guarda-chuvas para rezarmos o terço. Pouco depois, vimos o reflexo da luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira».
Foi então que se deu o fenómeno, pré-anunciado pelos pastorinhos para que o povo acreditasse no que diziam, que ficou conhecido como o “Milagre do Sol”. Uma multidão estimada em pelo menos 50 mil pessoas testemunhou, em direto esta ocorrência. Entre os circunstantes encontrava-se o jornalista de “O Século”, Avelino de Almeida que era não crente. Apesar de ser um ex-seminarista, há muito que tinha abandonado a fé e, entretanto, tinha responsabilidades editoriais naquele prestigiado jornal republicano e anti-clerical.
Na edição de “O Século” de 15 de outubro de 1917, o referido jornalista escreve a este respeito o seguinte: «E assiste-se então a um espectáculo único e inacreditável para quem não foi testemunha d'ele. [...] vê-se toda a imensa multidão voltar-se para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zénite. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possível fitar-lhe o disco sem o mínimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-ia estar-se realizando um eclipse. [...] o sol tremeu, o sol teve nunca vistos movimentos bruscos fora de todas as leis cósmicas - o sol “bailou”, segundo a típica expressão dos camponeses.»
Quinze dias depois, na revista “Ilustração Portuguesa” de 29 de outubro de 1917, Avelino Almeida interroga e responde: «(...) que vi eu ainda de verdadeiramente estranho na charneca de Fátima? A chuva, à hora prenunciada, deixar de cair; a densa massa de nuvens romper-se e o astro-rei – disco de prata fosca – em pleno zénite aparecer e começar dançando n'um bailado violento e convulso, que grande número de pessoas imaginava ser uma dança serpentina, tão belas e rutilantes cores revestiu sucessivamente a superfície solar... Milagre, como gritava o povo; fenómeno natural, como dizem sábios? Não curo agora de sabê-lo, mas apenas de te afirmar o que vi... O resto é com a Ciência e com a Igreja...». Por causa destes artigos, Avelino Almeida acabou por ser despedido de “O Século”, onde era redator-chefe.
O “milagre do sol” foi visto naquele dia na Cova da Iria e Nossa Senhora fê-lo para que todos acreditassem nos “pastorinhos”. Mas também foi observado por algumas pessoas fora de Fátima como aconteceu, por exemplo, com o poeta leiriense, Afonso Lopes Vieira. Este encontrava-se na sua casa, em São Pedro de Moel, distante cerca de 40 quilómetros de Fátima e dá o seguinte testemunho: «Nesse dia 13 de Outubro de 1917, eu, que não me lembrei da predição dos pastorinhos, fiquei encantado com o espectáculo deslumbrante do céu, para mim inteiramente inédito, a que assisti desta varanda».
O Milagre do Sol de acordo com vários testemunhos durou cerca de dez minutos. Os 3 pastorinhos relataram terem observado Jesus, Nossa Senhora da Conceição e São José abençoando a multidão no firmamento.
Uma das descrições mais citadas do que ocorreu em Fátima resulta do trabalho do padre italiano João De Marchi, que esteve em Fátima entre 1943 e 1950, com o propósito de recolher todos os elementos possíveis sobre o fenómeno daquelas Aparições Marianas. O seu estudo “Coração Imaculado” saiu em 1952, e aí o autor relata vários testemunhos sobre pessoas, crentes e não crentes, que estiveram na Cova da Iria. Os testemunhos variam de pessoa para pessoa, mas ninguém negou o “prodígio do Sol”.
O Padre João De Marchi afirma, nesta publicação, que «os grandes acontecimentos que se deram na Cova da Iria nos meses de Maio-Outubro de 1917 despertaram, especialmente nestes últimos anos, não só na terra portuguesa mas em todo o mundo católico, um interesse extraordinário. Multiplicaram-se assim, duma forma que quase diremos prodigiosa, as publicações sobre as Aparições da Virgem Santíssima e sobre os vultos enternecedores dos pastorinhos de Fátima. Propondo-nos, também nós, por nossa vez, reconstruir também a história das Aparições de Fátima, determinamos fazê-lo na moldura daquele ambiente agreste que a Virgem se dignou escolher como cenário para a manifestação dos seus desígnios de misericórdia – para com Portugal e para com a Terra inteira. Residindo em Fátima, tivemos excelente oportunidade de conhecer o ambiente, os costumes e as características deste tão simpático povo, no meio do qual a Virgem colheu os instrumentos da sua Mensagem celeste. Para que esta reconstrução fosse o mais possível viva e real, procuramos reproduzir literalmente as palavras de cada uma das personagens».