Portugal enveredou pela Ditadura Militar há 86 anos
CRONOLOGIA DO 28 DE MAIO DE 1926
28-5-1926 - Golpe de Estado militar dirigido pelo general Gomes da Costa e por Mendes Cabeçadas.
29-5-1926 - António Maria da Silva apresenta a demissão do seu governo.
- A guarnição de Lisboa adere ao golpe de Gomes da Costa.
30-5-1926 - Mendes Cabeçadas forma governo, por convite de Bernardino Machado.
31-5-1926 - O Congresso da República é encerrado por ordem do ministério da Guerra.
- Bernardino Machado apresenta a sua demissão da presidência da república.
3-6-1926 - Mendes Cabeçadas passa a governar em ditadura, pois forma governo sem nomeação pelo Presidente da República e sem o Parlamento estar reunido. A Ditadura prolongar-se-à até ao 25 de Abril de 1974.
Depois de 16 anos de um regime que prometera levar Portugal para os caminhos do desenvolvimento e progresso europeus, onde a política se orientava por princípios mais democráticos, a experiência da Primeira República, acabou por fracassar, conduzindo o país, na década de 1920, a um caos social que a instabilidade política só agravava.
Provavelmente, a participação na Primeira Guerra Mundial foi a início, para o Portugal republicano, do sucessivo agravamento dos seus problemas financeiros e económicos que, de resto, já vinham da Monarquia, mas que os primeiros governos republicanos haviam sanado. A Guerra representou um grande custo financeiro e ocupou parte significativa da mão de obra masculina jovem.
No domínio agrícola, durante a Primeira República, Portugal adiou a “reforma agrária” e continuou carente de trigo para fazer o pão, recorrendo a importações que ajudava a pagar para manter o preço do pão o mais baixo possível, evitando assim a fome das classes urbanas pobres. Portugal continuava a ser um país rural, cuja população vivia, sobretudo, da exploração de vinho, cortiça, frutas e da pastorícia.
Mas a instabilidade política da Primeira República (45 governos), que não ajudou nada à tomada de decisões estruturais capazes de fazer renascer a economia, em bases sólidas, foi talvez o maior obstáculo à manutenção do regime.
Contudo, há que reconhecê-lo, durante a 1.ª República, o nosso país conheceu algum progresso no que respeita à industrialização: as regiões de Lisboa (sobretudo a Sul do Tejo) e do Porto (com extensão ao Minho) mostravam algum dinamismo industrial. Os setores de conserva de peixe, cortiça, tabaco e indústria têxtil foram os que mais se desenvolveram (mas as indústrias de moagem, metalúrgica, vidreira, cimenteira e fosforeira, também conheceram algum destaque, parte delas controladas por capitais estrangeiros, designadamente as do tabaco e fósforos). A expansão industrial não foi maior porque se registavam algumas insuficiências, designadamente ao nível das infraestruturas dos transportes e comunicações (a rede ferroviária e viária quase estagnou após o “fontismo”. Os portos de Lisboa e Leixões não estavam devidamente apetrechados e a nossa marinha mercante também não se modernizou).
E os problemas financeiros do País agravaram-se, indubitavelmente, com a entrada de Portugal na 1ª Guerra Mundial, na África colonial portuguesa e na Frente Ocidental (França). O défice orçamental, a dívida pública e a desvalorização da moeda foram motivo de diversas crises governamentais e de instabilidade política. A depreciação do escudo provocou a fuga de capitais e o aumento dos preços. As reservas de ouro desceram e o país foi obrigado a uma política de austeridade orçamental. O país atravessou grandes dificuldades que estão na base da queda do regime republicano.
E isto, precisamente, quando a situação geral do país já apresentava alguns sinais de melhorias (de facto, a partir de 1923 notava-se alguma atenuação do défice, que permitia o controlo da dívida pública e a estabilização do escudo; notava-se, também, um maior êxito na luta contra o analfabetismo). Mas, as classes urbanas trabalhadoras estavam dececionadas com a política republicana e grande parte das classes médias temia o anarquismo e o bolchevismo. Por isso, apoiaram o novo regime: a Ditadura Militar, que resultou do golpe do 28 de maio de 1926.
A crise económica e a instabilidade política, que se viviam no país, bem como o contexto internacional de regimes autoritários, favoreceram o êxito do golpe militar do 28 de maio de 1926 que pôs fim à Primeira República e iniciou os governos ditatoriais portugueses: Ditadura Militar (1926-1933) e Estado Novo (1933-1974).
De um regime para outro, a personalidade que mais se destacou foi a de António de Oliveira Salazar que, com uma política fortemente repressiva e apoiado pelo partido único (União Nacional) e pela polícia política, se manteve no poder ao longo de 40 anos (1928-1968). As características deste regime eram semelhantes às do fascismo italiano: promoveu o culto do chefe (Salazar foi considerado o “Salvador da Pátria”), instituiu-se a censura na imprensa; organizaram-se grupos de enquadramento ideológico (Mocidade e Legião portuguesas), desenvolveram-se atividades recreativas através da FNAT; propagandeou-se o regime através do SPN (Secretariado de Propaganda Nacional) e da grande Exposição do Mundo Português (1940).
Se até ao final da 2.ª Guerra Mundial, a preponderância de Salazar no governo português beneficiou da complacência da generalidade dos portugueses e até em termos internacionais, após a derrota das ditaduras, personificadas em Hitler e Mussolini, Salazar passou a ser veementemente criticado fora e dentro de Portugal.
Figura em destaque
Marechal Gomes da Costa (14.1.1863 – 17.12.1929)
Militar colonial, que esteve ao serviço do império português até 1915 (na Índia, Moçambique, Angola e S. Tomé). Foi o Comandante do Corpo Expedicionário Português, na 1.ª Guerra Mundial. É ele que comanda a Marcha de Braga para Lisboa, com o objetivo de depôr o regime republicano. Chega à capital, a cavalo, à frente das suas forças triunfantes, a 6.6.1926. Pouco mais de um mês depois (11.7.1926), foi preso e deportado para os Açores