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Agosto 27 2009

CHÃO DE COUCE

 

 

Brasão: escudo de ouro, castanheiro arrancado de verde e frutado de prata, entre uma paleta de pintor de vermelho, com pincel de sua cor, em chefe e um monte de três cômoros de verde, em campanha. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco, com a legenda a negro: “CHÃO de COUCE”.
 
Bandeira - esquartelada de amarelo e verde. Cordões e borlas de prata e verde. Lança dourada.
 
 
 
Apontamento Histórico
 
Chão de Couce é uma das paróquias do concelho de Ansião que apresenta grande riqueza histórica (leia-se, a propósito, a minha publicação de 2001, Chão de Couce – estudo monográfico).
Foi vila e sede de concelho entre 1514 e 1855. O antigo município era constituído inicialmente apenas pela freguesia da vila. Tinha, em 1801, 1 279 habitantes.
Em 1836 foram-lhe anexadas as freguesias de Avelar e Pousaflores, com a extinção dos respectivos concelhos. Tinha, em 1849, 3 568 habitantes. Aquando da extinção, foi integrado no concelho de Figueiró dos Vinhos, passando, em 1895, para o actual município de Ansião.
Chão de Couce, como espaço de ocupação humana, remonta ao princípio dos tempos, havendo vestígios arqueológicos da Pré-História e da ocupação romana, designadamente vestígios da via romana de Conímbriga a Sellium (Tomar).
A primeira referência escrita a Chão de Couce, respeita à Quinta de Cima, onde actualmente permanece um palacete, que atesta, ainda, a sua nobreza e uma capela particular de invocação de Nossa Senhora do Rosário. Esta propriedade pertenceu aos reis de Portugal (I Dinastia) havendo registo da doação feita por D. Afonso III, a D. Constança Gil, dama da rainha D. Beatriz, como dote de casamento, em 5 de Fevereiro de 1258. Mais tarde, a Quinta foi do Conde de Barcelos, do Mosteiro de Santo Tirso, de D. Dinis, novamente Mosteiro de Santo Tirso e João Afonso, genro de D. Dinis. Consta-se que, aquando do casamento de D. Fernando com D. Leonor de Teles, criticado violentamente pelo povo de Lisboa, o casal real se terá refugiado aqui.
Em 4 de Junho de 1451, Afonso V, fez a doação da Quinta, ao Conde de Vila Real, D. Pedro de Meneses. A Quinta de Cima voltou à Coroa em 1641 (com a execução do seu proprietário, um dos conjurados contra D. João IV) e, pouco depois, foi integrada na Casa do Infantado até 1834, vindo, posteriormente, a ser propriedade de António Lopes do Rego, Sargento-Mor e Cavaleiro da Ordem de Cristo, antepassado dos actuais proprietários.
A Quinta de Cima é, ainda hoje, uma verdadeira preciosidade, em termos artísticos e históricos. No princípio do século XX, embora a arquitectura do belo edifício habitacional nada tivesse de medieval, continuava a ser um espaço idílico (e hoje ainda mantém, praticamente, o mesmo as­pecto), habitado, então, pelo Dr. Alberto Rego que ali recebeu destacadas figuras do País, no domínio da música, das artes, da ciência, da medicina e da literatura.

 

Centro Pastoral da Região Sul da Diocese de Coimbra (Chão de Couce)
 
A Igreja e os seus sacerdotes são também uma marca insofismável da História de Chão de Couce. Em meios rurais, o sacerdote foi sempre uma figura de grande prestígio, mas aqueles que governaram a Paróquia de Chão de Couce, pelo menos no século XX, excederam esse prestígio social, porque lhe associaram, nalguns casos, o exercício do poder político, e, noutros, uma extraordinária capacidade de diálogo social e de iniciativa, que tornaram Chão de Couce, em meados do século XX, a capital do Arciprestado das Cinco Vilas, e já no último quartel do mesmo século, a capital de toda a Região Pastoral do Sul da Diocese de Coimbra.
Perante poderes tão eminentes, apagou-se bastante o poder local que, só depois da Revolução do 25 de Abril, começou a emergir de uma forma mais sistemática, começando actualmente a ser notada a sua obra, em prol de uma população que precisa de ser estimulada a fixar-se, para não debandar totalmente, matando a vida humana numa região tão bonita como é Chão de Couce.
 
Pelourinho de Chão de Couce
 

De construção recente (século XX), o Pelourinho de Chão de Couce, junto à antiga Casa da Saúde, assenta em três degraus quadrados em esquadria de pouca altura. A coluna parte de uma base quadrada com três discos octogonais: dois lisos e o do meio boleado. O fuste monolítico octogonal possui uma altura de 2,50 m. Na sua parte superior sobressai o brasão invertido com as armas de Portugal. O capitel possui, tal como a base da coluna, três discos octogonais, mas em posição invertida, sendo que no disco inferior há um pequeno fecho com duas pegas. É rematado em forma de esfera armilar, assentando-lhe uma Cruz de Cristo.

 

Palácio da Quinta de Cima

 

 

A Quinta de Cima foi propriedade dos soberanos portugueses. Prova disto é o documento que refere a doação da Quinta, por parte de D. Afonso III a Constança Gil, em 1258.
Quando D. Fernando se casou, contra vontade do povo, com D.ª Leonor de Teles refugiou-se neste palácio real, bem longe dos “olhares” de Lisboa.
 A Quinta terá permanecido na posse da família real até 1451, data em que passa para a importante Casa de Vila Real, por doação do Rei D. Afonso V. Contudo, acaba por passar novamente para a Coroa e Casa do Infantado. Só em 1834, com a extinção desta Casa passa para a Família Rego, detentora da Quinta de Cima até há muito pouco tempo.
 Já no século XX, foi “refúgio” temporário de figuras da elite portuguesa. Pintores, músicos, escritores, médicos, políticos e cientistas foram algumas das personalidades que conheceram bem de perto aquela idílica propriedade. Egas Moniz, Nobel da Medicina, Raul Proença, Hernâni Monteiro e José Malhoa, pintor, são apenas alguns exemplos dos ilustres portugueses que foram convidados do Dr. Alberto e D.ª Elvira Rego.
Actualmente, é constituída por uma casa e capela particular (mas, em tempos teve também um couteiro) e está enquadrada numa bonita paisagem com uma mancha de castanheiros. 
 
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Consolação
  A actual Igreja de Chão de Couce foi construída no local do primitivo templo católico (que tinha a tradicional direcção Este-Oeste, ao passo que a nova tem uma orientação quase Norte-Sul), considerado, nas primeiras décadas do século XX, demasiado pequeno para conseguir receber, em condições aceitáveis, todos os paroquianos. A iniciativa da sua construção partiu do respectivo Pároco, Padre Manuel Mendes Gaspar, que conseguiu agregar a esse projecto toda a comunidade paroquial, tendo sido o novo templo inaugurado, segundo a imprensa da época, no dia 23 de Novembro de 1930.
A nova Igreja ficou, durante cerca de duas décadas, com a antiga Torre, exactamente do lado contrário àquele em que hoje se encontra. Essa Torre havia sido projectada e dirigida a sua construção pelo Dr. Augusto da Costa Rego, quando ainda era aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
A actual Torre foi construída na década de 1950. Trata-se de um projecto do Eng.º Augusto Santa Rita que, para o efeito, esteve em Chão de Couce no dia 8 de Janeiro de 1949. A sua construção, já na década de 1950, só foi possível graças à generosa contribuição monetária do Comendador Alberto Mendes Rosa.
De interesse nesta Igreja, e para além das muitas imagens que se podem ver nos seus altares (algumas delas muito antigas, designadamente as esculturas em pedra da padroeira e de Santo André – que se supõe serem quinhentistas), são também os azulejos da nave, capela-mor e fachada principal, da autoria de Mário Reis – ceramista, discí­pulo de Columbano, trabalhou para as Exposições do Mundo Por­tuguês de 1940 e Hispano-Ibérica, Ministério da Educação e Casa Oficial do Presidente do Conselho de Ministros, sendo “medalha de ouro” pelos trabalhos de pintura de azulejos.
 Tem quatro altares laterais, com imagens contemporâneas, e dois colaterais, sendo de maior importância o que tem a imagem de Santo Antão (patrono da vida monástica com um livro e caveira), do século XVI. 
  Ao longo dos setenta e oito anos que leva de existência, muitas vezes foi necessário fazer obras de conservação e melhoramento. Há cerca de quinze anos (entre 1993 e 1995) foi construído um salão para reuniões e arranjada a Sacristia, no lado Poente, e, no lado oposto, foram criadas 3 salas de catequese e adaptado um espaço para Capela Funerária, bem como a substituição de todos os telhados, pintura do exterior e novo relógio. Obras que ultrapassaram os 8 mil contos.
 No ano 2000, para celebrar com mais dignidade o Jubileu, foi a vez de se fazerem grandes obras de restauro no interior do templo: as paredes foram rebocadas de novo e pintadas, os tectos e o soalho substituídos por madeira exótica, os bancos restaurados, feita nova instalação sonora e eléctrica e restaurados todos os altares, tendo sido melhorada a sua talha com pinturas e douramentos de que se encarregou uma prestigiada casa de arte religiosa da cidade de Braga. As obras importaram em mais de 20 mil contos, tendo uma parte (30%) sido suportada por um subsídio estatal. As obras de restauro foram inauguradas no dia 22 de Junho de 2000, pelo então Bispo-Coadjutor de Coimbra, D. Albino Cleto.
 
Mas a jóia mais importante, em termos artísticos, é, sem dúvida, o Retábulo de Nossa Senhora da Consolação, oferecido à Igreja de Chão de Couce pelo seu autor, Mestre José Malhoa.
Quase três anos depois da inauguração da Igreja, foi a vez de se inaugurar o Retábulo da Padroeira - N.ª Sr.ª da Consolação (última obra de Malhoa), contava o pintor 78 anos de idade. Aquele dia 10 de Setembro de 1933 foi uma Festa com uma imponência e participação popular absolutamente únicas. Malhoa ficou, para sempre, no coração do povo de Chão de Couce! Foi a última grande Obra de Mestre Malhoa, que, em 2003, perfez 70 anos de existência, efeméride que a Paróquia fez questão de lembrar de forma pública e festiva.

 

 
publicado por viajandonotempo às 08:00

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