Dias de destruição, de morte, de violência e fome!
Na noite do passado dia 11 de Janeiro de 2010, o mundo foi abalado pela notícia do sismo no Haiti: logo nos primeiros momentos, o governo local anunciou os números dramáticos da tragédia, apontando para mais de cem mil mortos, meio milhão de feridos e cerca de 3 milhões de pessoas, aproximadamente um terço da população do país, afectadas pelo sismo. A sua capital, Port-au-Prince, ficou praticamente destruída.
O facto de as imagens terem passado, repetidamente, em todas as televisões do mundo (e este é um aspecto positivo da globalização) mobilizou boas vontades em todos os países, de forma a conseguir-se, em tempo útil, ajuda humanitária.
O auxílio português, felizmente, também se fez sentir quase de imediato através de diversas entidades, designadamente a Cáritas, Oikos, Cruz Vermelha e AMI.
As ONG (Organizações Não-Governamentais) portuguesas enviaram uma ajuda inicial de 77 mil euros, mas continuam mobilizados para a recolha de donativos. A mobilização surge em várias frentes e é bom que assim suceda. Todo o apoio que for conseguido nunca será de mais, dada a dimensão da catástrofe.
Em apenas dois dias, a PT angariou 36 mil euros através de uma linha especial, enquanto que o bispo do Porto, D. Manuel Clemente já enviou 25 mil euros e o Governo Regional dos Açores fez entrega de 100 mil euros à AMI, que tem várias pessoas a trabalhar no Haiti, apoiando da forma possível tanta gente que necessita urgentemente desse apoio para sobreviver. O apoio português há-de cifrar-se em milhões e, segundo os especialistas, a reconstrução do Haiti pode atingir a dezena de milhares de milhões de euros.
A questão do apoio às vítimas tem-se mostrado demasiado complexa desde o início. O país não estava preparado, de modo nenhum, para socorrer em tempo útil, as vítimas, mesmo que o seu número fosse substancialmente menor. Não há quem coordene o apoio e as acessibilidades estão inoperacionais.
Pior ainda é o caos em que se vive, não existindo quase possibilidade de protecção nem de bens nem de pessoas. Vigora a “lei do mais forte”. Há tiroteio nas ruas protagonizado por civis armados e gangues. Esta situação agravou-se pelo facto de três mil presos terem escapado à prisão, aproveitando o desmoronamento das paredes. São mais que os dois mil polícias em serviço na capital. Um país devidamente preparado envolveria de imediato o exército na eficaz segurança e protecção dos mais desfavorecidos.
Que esta ocorrência sirva de “lição” a todas as autoridades de todos os países do mundo. Gasta-se tanto em guerras, em armamento, em coisas perfeitamente secundárias, que se descura a prevenção, a protecção civil, a segurança e a qualidade de vida do dia a dia dos cidadãos que importa nunca perder de vista.
E nos países da América Latina, com uma história intimamente ligada à nossa, estes problemas, como se tem visto, ainda são mais graves. Veja-se o caso da primeira missão portuguesa, que teve de perder dias para chegar ao destino por não haver possibilidade de aterragem no país do avião C-130 da Força Área Portuguesa que a transportava.
Permita-me o leitor que aqui faça um breve apontamento historico-geografico-económico deste pequeno território das Caraíbas que, nos últimos anos, tem feito parte dos circuitos turísticos dos europeus.
Descoberta esta ilha por Cristóvão Colombo (ver caixa) na sua primeira viagem ao novo mundo (América), deu-lhe o nome de Hispaniola, mais tarde seria chamada de Santo Domingo. Hoje é partilhada pelo Haiti (parte Oeste) e pela República Dominicana. Fez parte do Império colonial francês, tendo sido o 1.º país da América Latina a conseguir a sua independência. Foi no dia 1 de Janeiro de 1804 (perfez no dia 1 deste mês 206 anos).
Com pouco mais de ¼ da área de Portugal tem quase a mesma população, embora a sua esperança de vida seja baixa (à volta dos 60 anos), tenha ainda uma elevadíssima taxa de mortalidade infantil (quase 50 por mil) e o analfabetismo ronde quase metade da sua população. Mais de 90% da população é de ascendência africana, tem o francês como língua oficial e aproximadamente dois terços ainda residem nos meios rurais.
O terreno haitiano é constituído por montanhas escarpadas que, na aproximação do mar, se transformam em pequenas planícies costeiras e vales fluviais. A zona central do Leste do país apresenta um grande planalto.
Em termo económicos, o Haiti, mesmo antes desta tragédia, já se encontrava numa situação desoladora, a que o turismo ainda ia emprestando alguma esperança. Como sabemos, o país é extremamente pobre, sendo mesmo o mais pobre da América, com uma renda per capita excessivamente baixa.
No período de colonização, no entanto, o Haiti chegou a ter uma economia próspera, embora assente no sector primário. Produzia açúcar de excelente qualidade, que, no século XVII, concorreu com o nosso açúcar brasileiro tendo provocado grandes dificuldades comerciais aos portugueses, no nosso difícil período das guerras da Restauração. O regime político, baseado na autoridade forte dos respectivos presidentes, também não tem contribuído para o desenvolvimento e prosperidade do Haiti.
Actualmente, o seu principal produto de exportação tem sido ainda o açúcar, a que se juntam outros produtos agrícolas como a banana, a manga, o milho, a batata-doce, vários legumes e tubérculos.
Recordando Cristóvão Colombo
É uma das figuras incontornáveis dos Descobrimentos. Não se sabe ao certo nem a data nem o local de nascimento (há teses para quase todas as hipóteses, sendo, no entanto, as mais consistentes aquelas que apontam para o facto de ser genovês e de ser português). Sabe-se que faleceu, em Valladolid, no dia 20 de Maio de 1506 e que foi o navegador que, ao serviço dos reis católicos de Espanha, alcançou a América no dia 12 de Outubro de 1492. Depois de ter oferecido os seus préstimos ao rei português (D. João II, que os rejeitou, por ser um dos mais esclarecidos monarcas do seu tempo e ter conhecimentos que Cristóvão Colombo não podia ter) o navegador ofereceu-se aos monarcas espanhóis, que, com alguma dificuldade, acabaram por aceitar, numa conjuntura de concorrência com Portugal. Fez a sua viagem navegando sempre para Oeste, no Oceano Atlântico acreditando na esfericidade da Terra, com o objectivo de atingir a Índia. Na realidade, chegou as ilhas das Caraíbas (Antilhas) e, mais tarde, à costa do Golfo do México na América Central, sempre pensando que eram terras da Ásia. Por isso, aos indígenas que encontrou pôs o nome de “Índios”.
No regresso a Sevilha (local de partida para as expedições atlânticas) passou por Lisboa, onde se terá encontrado com D. João II, dando-lhe conhecimento das suas demandas. Aí seria informado que as terras onde diz ter chegado pertenciam a Portugal, no cumprimento do Tratado de Alcáçovas. Levantou-se enorme polémica que obrigou a novo tratado internacional sob os auspícios do Papa (foi o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494), onde, mais uma vez, D. João II se revelou um rei muito bem informado e que sabia bem o que queria.
O nome da América acabou por ser uma homenagem ao mercador e navegador italiano Américo Vespúcio, que ao serviço de Portugal foi, efectivamente, primeiro a constatar que as recém-descobertas terras do Novo Mundo constituíam um continente e não parte da Ásia.
Cristóvão Colombo casou, em 1479, com Filipa Moniz, filha de Bartolomeu Perestrelo, capitão donatário da ilha de Porto Santo (no Arquipélago da Madeira) onde, segundo a tradição terá vivido algum tempo (ainda hoje há uma casa em Porto Santo que é atractivo turístico por se pensar que aí viveu o famoso navegador). Deste casamento nasceu um filho, Diogo Colombo, que seria nomeado pela coroa Espanhola como 2.º Almirante e Vice-rei das Índias.
A partir de 1485, Cristóvão Colombo passa a residir em Castela. Em Córdova, onde terá vivido algum tempo, próximo da corte espanhola com quem viajou, teve um caso amoroso, no Inverno de 1487-1488 com Beatriz Enríquez de que nasceu, a 15 de agosto de 1488, Fernando Colombo.
Depois do extraordinário prestígio que foi encontrar terra habitada e rica (com a comprovada existência de metais precisos) Cristóvão Colombo viveria os seus últimos dias no reino vizinho, onde era conhecido por o “el português!”.
Os seus restos mortais, andaram em “peregrinação” entre a Península Ibérica e o novo mundo, até que finalmente foram divididos, ficando uma parte na catedral de Sevilha (cidade donde partiu para a descoberta da América), num majestoso monumento funerário, que todos os turistas procuram observar e a outra parte no “Farol a Colombo” na República Dominicana.
Em 1509 (3 anos após a morte), o seu corpo foi trasladado para a Capela da ilha Cartuxa, em Sevilha. Porém, por desejo do seu filho, Diogo Colombo, as ossadas seriam levadas para a Catedral de São Domingos, em 1542.
Em 1795, quando a ilha Hispaniola foi conquistada pela França, os seus restos mortais terão sido levados para Havana, capital de Cuba. Já em 1877, seria descoberta em São Domingos uma caixa de chumbo com a inscrição "Varón ilustre y distinguido Cristóbal Colón", onde se encontravam alguns do seus ossos. Estes restos permaneceram na Catedral de São Domingos até 1992, ano em que foram trasladados para o Farol a Colombo, um grande monumento construído pelo governo da república Dominicana, para conservar os restos do grande Almirante. Em 1898, durante a Guerra Hispano-Americana, outra parte dos seus restos regressou a Sevilha. Em 2004, após enormes polémicas, foi aberto o túmulo de Sevilha onde foram encontrados duzentos gramas de ossos (cerca de 15% do total), que após as análises feitas por arqueólogos e cientistas do DNA mitocondrial se confirmou que os restos mortais pertencem mesmo ao ilustre Cristóvão Colombo.