O mundo tremeu com o lançamento da bomba atómica
No início de agosto de 1945, a 2.ª Guerra Mundial estrebuchava no Extremo Oriente. Na Europa já tinha terminado quase há 3 meses. O bombardeiro norte-americano Enola Gay entra na história por transportar e lançar a primeira bomba atómica.
Faz hoje 70 anos que se dava talvez o maior passo para o fim da 2.ª Guerra Mundial, com o lançamento da 1.ª bomba nuclear sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Foi no dia 6 de agosto de 1945, pouco depois das 8 horas da manhã.
No dia seguinte a notícia estava na 1.ª página dos jornais de todo o mundo.
O “Diário de Lisboa” sob o título “A bomba atómica vai revolucionar o mundo quando a sua espantosa fonte de força fôr posta ao serviço da indústria” afirma que: «O lançamento da bomba atómica em Hiroshima, base do exército nipónico, alterou o mundo». Desde logo se punha o acento tónico numa nova fonte de energia, a energia nuclear, que daria origem à denominada “3.ª revolução industrial”: «o projecto é animador, desde que a capacidade de destruição fôr posta pelos sábios ao serviço das possibilidades criadoras na industria, o que mudará completamente a vida de milhões de pessoas».
Logo após o lançamento da bomba atómica, os japoneses ainda não tinham a real noção dos poderes destrutivos da bomba, aliás, ninguém tinha. Terão pensado até que tal destruição teria sido provocada por várias bombas, conforme se pode concluir de uma nota que lançaram à imprensa, onde afirmavam: «ontem [dia 6 de agosto, 2.ª feira], cêrca das 8 e 20, uma pequena força de Super-Fortalezas Voadoras atacou Hiroshima, na ilha metropolitana japonesa de Honshu, com um tipo de bombas formidavelmente destruidoras.» Informava ainda esta nota que o número de mortos e feridos era elevado; sem dúvida que era, acredita-se que terão morrido mais de 150 mil pessoas.
Nem os americanos tinham bem a noção da força destrutiva, imediata e a prazo, desta nova arma que ainda hoje obriga milhares de pessoas a assistência hospitalar. Nem tão-pouco os cientistas, que se negaram a acreditar que o sismógrafo de Washington tivesse registado o pequeno abalo da Terra no preciso momento do lançamento da bomba atómica:
«O sismógrafo da Universidade de Georgetown registou um ligeiro tremor de terra, aproximadamente ao mesmo tempo que foi lançada a bomba atómica sôbre a cidade japonesa de Hiroshima. Os cientistas, porém, pensam que é improvável que o efeito de qualquer bomba pudesse ser registada a uma distancia tão grande como esta e atribuem o registo no sismógrafo a qualquer abalo sísmico mais próximo».
A verdade é que o novo engenho explosivo tinha um poder de destruição 2 mil vezes maior do que o da maior bomba que até então se tinha lançado na guerra.
Para isso, os americanos gastaram em experiências e com trabalhadores mais de 500 milhões de libras. O processo de investigação científica com a física nuclear remonta pelo menos à década anterior (1930) e nela colaboraram também 2 cientistas portugueses que trabalharam em laboratórios estrangeiros, designadamente no Laboratório Curie (França), sob a supervisão de Marie Curie. Foram eles Manuel José Nogueira Valadares e Aurélio Marques da Silva, que regressados a Portugal fundaram a Portugaliae Physica, em 1943 e foram professores universitários, tendo ambos, à semelhança de muitos outros, sido afastados por Salazar por mostrarem tendências políticas adversas às do Estado Novo.
Três dias depois (9 de agosto de 1945) seria lançada a segunda bomba atómica, esta sobre a cidade de Nagasaki, que os portugueses haviam fundado 375 anos antes (1570). Morreram mais quase 80 mil pessoas.