ERMESINDE – evolução histórica
(continuação)
As Primeiras Posturas que vigoraram em Ermesinde, após a sua integração no Concelho de Valongo, foram aprovadas na reunião da vereação municipal do dia 13 de Novembro de 1839.
Depois de aprovadas, foi deliberado afixar Editais em todas as freguesias do Concelho, dando conhecimento aos munícipes das regras municipais que daí em diante haveriam de cumprir, sob pena de multas e outras condenações nelas previstas.
Não deixa de ser muito interessante a preocupação revelada, já nessa altura (há 170 anos), pela vereação municipal com questões ligadas à saúde pública, à segurança de toda a comunidade, à limpeza de linhas de água, das ruas e espaços públicos, ao urbanismo e aos costumes.
O abatimento de animais e o abastecimento de carne, o licenciamento de estabelecimentos comerciais, o cuidado a ter com os cereais que se vendiam, a preocupação com a regulamentação da feitura e comercialização do pão, a higiene e limpeza exigidas junto aos caminhos públicos e próximo de rios e ribeiros, o respeito pela propriedade privada quer no que reporta à pastagem de animais quer quanto à apropriação indevida de terrenos públicos, a exigência de licença prévia para poder construir muros ou edifícios, o cuidado a ter com a iluminação privada em certos locais para evitar incêndios, a proibição de se vender pólvora e o conselho dado quanto à forma como os chefes de família devem educar o comportamento em público dos seus filhos são apenas alguns exemplos dos aspectos que se encontram regulamentados neste primeiro Código de Posturas que vigorou em S Lourenço de Asmes.
O comboio esteve na base do grande dinamismo local
Foi no período do Fontismo que as comunicações e transportes conheceram em Portugal extraordinário fomento. S. Lourenço de Asmes foi uma das terras dos arredores do Porto que mais beneficiou com a nova estrada de ferro, que permitia o transporte mais rápido e em muito melhores condições a pessoas e mercadorias.
Esta terra, próxima do Porto, foi escolhida para a bifurcação das linhas do Minho e do Douro. A partir de então, vai conhecer um crescimento enorme e inusitado, já que por ali passaram a circular todas as mercadorias e pessoas que da Região Norte (Minho e Trás-os-Montes) se dirigem à capital do Norte e vice-versa.
A estação foi, desde logo, buscar o nome ao maior aglomerado populacional das proximidades – Ermesinde – embora o nome da freguesia, S. Lourenço de Asmes, se tivesse mantido por mais algumas décadas.
Ermesinde e a Revolta Republicana do 31 de Janeiro de 1891
A humilhação resultante do Ultimato Inglês a Portugal em Janeiro de 1890 provocou a Revolta Republicana ocorrida na guarnição militar do Porto, na madrugada do dia 31 de Janeiro de 1891. Foi a primeira revolta de cariz republicano a culminar a onda de descontentamento que alastrara a todo o país.
A cidade do Porto foi um dos centros de maior dinamismo conspirativo contra a Monarquia decadente que juntava, entre outros descontentes, estudantes, militares, jornalistas e juristas.
A Junta Paroquial de S. Lourenço de Asmes, ao tempo presidida por Manuel Moreira Lopes, reunida extraordinariamente no dia 13 de Fevereiro de 1891, mostrou-se claramente favorável à causa monárquica, apressando-se a enviar ao Rei D. Carlos um telegrama de apoio.
Contudo, não podemos pensar que a generalidade da população de Ermesinde era favorável à manutenção da Monarquia. Bem, pelo contrário, uma parte importante da elite local simpatizava com a República, como se verá pela pronta adesão ao novo regime. Mas, mesmo no contexto da revolta republicana, havia em Ermesinde personalidades republicanas de grande relevo. Era o caso, por exemplo, de Vicente Moutinho que recebeu em sua casa, bem no centro de Ermesinde, várias vezes a figura mais ilustre do Norte do País do Partido Republicano, o Prof. Dr. José Falcão, um dos revolucionários do 31 de Janeiro e prestigiado autor da Cartilha do Povo.
Ermesinde após a implantação da República
Aquando da implantação da República, a povoação de Ermesinde está muito maior e bastante mais conhecida. Cresceu intensamente o lugar que deu nome à Estação da freguesia de S. Lourenço de Asmes, mas prosperaram também os outros lugares da freguesia. A sua Estação era já uma das mais movimentadas do Norte.
Assim, a Comissão Administrativa da Freguesia solicitou ao novo Governo Republicano a substituição do nome da Freguesia para o nome do maior lugar e mais central - ermesinde.
Três meses mais tarde (dia 6 de Fevereiro de 1911), o Ministro do Interior do primeiro Governo Republicano, António José de Almeida, deferia o pedido da Comissão Administrativa, e, no dia seguinte, o Diário do Governo publicava a referida resolução.
À semelhança do que aconteceu um pouco por todo o País, também muitos jovens de Ermesinde foram mobilizados para o 1.º conflito mundial que grassou na Europa (e noutras partes do Mundo) entre 1914 e 1918.
No Mosteiro da Batalha, existe uma placa comemorativa do 3.º aniversário da Batalha de La Lys, dedicada aos valorosos soldados portugueses da Grande Guerra, que se bateram naquela trágica batalha de 9 de Abril de 1918, e que foi mandada gravar pela Junta da Freguesia de Ermesinde.
Homenagem da freguesia de ermesinde – distrito do porto em 9 de Abril de 1921 Aos soldados de portugal simbolizados nos dois Heróis desconhecidos que bem souberam morrer pela honra e para glória da pátria. viva a república |
Elevação de Ermesinde a vila
Ermesinde foi elevada a vila por Decreto publicado no Diário do Governo, de 12 de Julho de 1938, mas há muito que reivindicava esse título e até já o usava mesmo antes de ter direito a fazê-lo.
A primeira vez que a Junta da Freguesia local deliberou solicitar ao Governo a elevação de Ermesinde a Vila, foi na sessão de 11 de Novembro de 1928, quando presidia àquele Corpo Administrativo, Vicente Moutinho de Ascensão. Seria preciso esperar dez anos para que o Governo diferisse o justo pedido. No entanto, a referência a Ermesinde como vila começou a ser corrente desde esse ano, tanto na população, como na imprensa regional e nacional.
O Governo tardou a fazer justiça a Ermesinde, mas acabou por a elevar a Vila, através do Decreto-lei n.º 28.836, reconhecendo que Ermesinde era, então, a única freguesia do concelho de Valongo de 1.ª ordem, contava com uma população de aproximadamente 6 mil habitantes e a sua sede constituía um centro urbano de importância apreciável e de ininterrupto desenvolvimento, onde a indústria e o comércio estavam muito desenvolvidos.
Efectivamente, Ermesinde ainda era, naquele tempo, uma terra equilibrada no seu crescimento, que “casava” bem com a beleza natural propiciada pelo idílico rio Leça.
Humberto Beça ao descrever Ermesinde da década de 1920, fala das suas indústrias, das pessoas e dos seus costumes, dos edifícios e palacetes, do movimento e principais destinos do comboio, das boas estradas que então tinha, do eléctrico que vinha do Porto, e do rio. Acerca do Leça escreveu:
«De margens deliciosas, pela arborização, variedade de paisagens, irregularidade do percurso constantemente cortado de açudes mais ou menos importantes, o Leça é conhecido já como um dos mais pitorescos rios de Portugal, de margens mais formosas, de campos mais belos, de pontos de vista mais atraentes». Efectivamente, Ermesinde era um lugar de belezas naturais, que aliciava a uma passeata nas tardes de domingo aos portuenses, que aqui vinham desfrutar dos bons ares e das belas paisagens.
Houve alguns que aqui construíram magníficos palacetes, como o do Mesquita que se vê na imagem a seguir.
A partir de 1961, data em que começou a deflagrar a Guerra em várias colónias portuguesas que aspiravam à independência (Angola, Moçambique e Guiné), Ermesinde contribuiu, também, com alguns dos seus homens mais jovens para esse combate apregoado como patriótico. Vários soldados pereceram ao serviço da Nação. São várias as referências nas actas da Junta a alguns desses mortos.
A revolução do 25 de Abril de 1974 poria ponto final à Guerra colonial. Sobre o 25 de Abril, a Junta da Freguesia de Ermesinde da presidência de Joaquim Alves de Oliveira (há 7 anos no desempenho do cargo), tomou uma posição de incondicional apoio e admiração.
A era do crescimento descontrolado
A partir de meados do século XX, Ermesinde mudou muito – foi o crescimento “louco”, em avalancha, desorganizado e incontrolável das últimas décadas, que fez engrandecer a Gandra, a Travagem, a Bela, a Palmilheira, a Formiga e quase todos os lugares que se juntaram numa amálgama de casas e ruas, que já não permite saber onde começa e acaba cada um dos antigos lugares que integravam a remota freguesia de S. Lourenço de Asmes.
Nada escapou a este crescimento desmesurado, até a antiga Igreja Matriz, por pobre e pequena, foi demolida para no mesmo local se erguer o actual templo.
Nas últimas décadas a população de Ermesinde mais que duplicou. Para tal facto contribuíram, por certo, as ocorrências políticas, como o 25 de Abril e a descolonização portuguesa, que obrigaram a retornar à Pátria muitos portugueses, mas também as melhores vias de comunicação ferro e rodoviária com o Porto e com todo o Norte de País que fizeram de Ermesinde uma zona especialmente atractiva. Por isso, a construção civil tornou-se uma actividade tão necessária como lucrativa, que transformou Ermesinde, em poucos anos, numa autêntica cidade-dormitório.
As preocupações urbanísticas com Ermesinde, sobretudo no que diz respeito a uma maior ordenação das ruas, com a atribuição de nomes, vêm do período da Primeira República.
Mas este tipo de preocupações não se fica pela atribuição de nomes às ruas de Ermesinde, tem que ver também com alguns melhoramentos particularmente relevantes, como foram a electrificação e o abastecimento de água.
Sendo Ermesinde uma terra já de certa dimensão, no início da década de 1920, e tendo diversas indústrias instaladas, várias vezes se insurgiram os seus moradores mais destacados pelo facto de não terem energia eléctrica, para utilização na indústria, na iluminação doméstica e, sobretudo, na iluminação das ruas. Tanto mais que esta última se tentou, nos primeiros anos da República, a acetileno, mas o resultado foi medíocre e, por isso, pouco tempo depois, foi totalmente posta de parte.
As actas da Junta de Freguesia estão carregadas de referências à preocupação com a vinda da energia eléctrica para Ermesinde.
A boa nova chegou ainda no período da Primeira República. Na sessão da Junta de Freguesia de 8 de Março de 1925, o Presidente deu conhecimento de ter recebido da Câmara Municipal de Valongo, um ofício a participar que, dentro de breves dias, iria abrir concurso para o fornecimento de energia eléctrica à vila de Valongo e a Ermesinde.
Entretanto, dá-se a “Revolução” do 28 de Maio de 1926, os cofres do Estado cortam substancialmente com as despesas públicas, e o problema da electrificação fica adiado, mas os ermesindenses não o deixam cair no esquecimento.
Finalmente, no dia 29 de Setembro de 1929, a um Domingo, a iluminação eléctrica era, festivamente, inaugurada nas principais ruas de Ermesinde.
Abastecimento de água
Apesar de Ermesinde se situar numa região com muita água, justificava-se o abastecimento domiciliário dada a densidade urbana da povoação. Assim, em Setembro de 1973, era inaugurado festivamente o abastecimento público de água a Ermesinde, contava, a então vila, cerca de 25 mil habitantes.
Elevação de Ermesinde a cidade Nas décadas de 1970 e 1980, Ermesinde merecia já, quer pelo número de habitantes, quer pelas características da povoação o título de cidade.
Uma vez solicitado esse título pelas entidades competentes, a Assembleia da República deferiu-o como era de justiça, no dia 13 de Julho de 1990.
Um aspecto da cobertura da sua moderna estação ferroviária
Inauguração do Parque Urbano de Ermesinde
Há muitos anos que a população ermesindense se lamentava, e com razão, de não ter espaços verdes e de lazer. Para colmatar essa importante lacuna, foi inaugurado com pompa e circunstância, no dia 11 de Julho de 1998, bem no centro da cidade, o Parque Urbano de Ermesinde.
O Parque Urbano de Ermesinde veio alterar por completo a fisionomia do Centro desta urbe, dotando-a de condições de que não dispunha, tornando-a muito mais atractiva.