LAGARTEIRA
Brasão: escudo de púrpura, freixo de ouro, arrancado e folhado do mesmo, entre dois lagartos de prata, lampassados de ouro e animados de vermelho, postos em pala, tudo envolvido por rosário de prata, com cruz flordelizada de ouro e disposto em orla. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: «LAGARTEIRA - ANSIÃO».
Apontamento Histórico
A Paróquia da Lagarteira é uma das que, há mais tempo, integra o concelho de Ansião desde a sua fundação, ou melhor, desde a sua restauração em Junho de 1837 até aos nossos dias. É uma das mais pequenas em área e em população, com a curiosidade de ser a única no concelho, e a 17.ª no país em que o seu território não é contíguo, pois tem um enclave em parte da fronteira entre as freguesias da Torre, Chão de Couce e Ansião.
O primeiro documento escrito que conhecemos sobre a Freguesia da Lagarteira refere-se ao Vale do Pito. Este vale com o seu riacho e lagoa é já referido em 1137, no Foral de Penela, ao situar os limites deste conselho, do lado poente. Um outro documento de D. Afonso Henriques dá as águas correntes do Vale do Pito como limite nascente das Terras da LADEIA ou LADERA, que este rei doa ao Convento de Santa Cruz. Não há dúvida, portanto, que O território da freguesia da Lagarteira pertencia nestes tempos ao concelho de Penela.
Em 1236, Coelhosa e Curcial são referidos em outros documentos, assim como os Casais, que se pensa serem os de Lagarteira.
Os registos paroquiais mais antigos da Lagarteira são de 1599 (óbitos) e de 1612 (baptismos). Recordo que foi o Concílio de Trento que mandou que todas as paróquias conservassem registos de baptismos, casamentos e óbitos. E esse Concílio reuniu entre 1545 e 1563. O que significa a antiguidade desta paróquia, como centro religioso.
A actual igreja matriz tem como patrono S. Domingos e é dos princípios do século XVIII.
Nos princípios deste século XVIII, a freguesia tinha cerca de 190 fogos, sensivelmente o mesmo que tem actualmente, mas nessa altura com maior número de pessoas.
Em 1839, Lagarteira aparece na Comarca de Coimbra; em 1852 já se encontra na de Pombal, e começa a pertencer a Ansião, em 1878.
Na zona de Carrascos aparecem restos dum povoamento romano.
Nesta abordagem histórica sobre a Lagarteira, transcrevemos parte do que sobre ela escreveu Raúl de Carvalho, na sua publicação O Concelho de Ansião, em 1969, que faz um retrato dela, naquele tempo. Hoje, felizmente, os tempos são outros e a esta freguesia também já chegaram os efeitos do progresso.
«Quem percorrer a freguesia da Lagarteira, desde Maxial aos Casais da Póvoa, verificará que a sua extensão não é tão pequena como à primeira vista nos parece, mas o que ela é sem dúvida alguma, é uma das freguesias mais pobres do Concelho de Ansião.
A Lagarteira, confina ao Norte com a freguesia de Santa Eufémia, do vizinho concelho de Penela da Beira, ao sul com a vila de Ansião, a Nascente com a freguesia da Cumieira, do vizinho concelho de Penela e a Poente com a freguesia da Torre Vale Todos, do concelho de Ansião. Enquadrada entre a freguesia de Ansião, a Torre de Vale Todos e Chão de Couce, é limitada ao Norte e a Nascente por terras do vizinho concelho de Penela.
Deste lado pode ser vista uma grande planície, onde se cultiva cereais, legumes e alguma vinha. 0 solo é árido e pedregoso, mas apesar disso é bastante fértil, depois de ter sido trabalhado, o que exige grande esforço por parte do trabalhador rural. Pela planície, também se vêem a destacar orgulhosamente de tão inóspita paisagem, muitas oliveiras e carvalhos. No vale do Poente, na Fonte do Carvalho, a paisagem é bastante diferente, porque aqui brotam em catadupas, as águas da primeira nascente do rio Nabão.
Por estes lados podem admirar-se muitas hortas verdejantes e grandes milheirais, que se estendem a perder de vista ao longo da sinuosa ribeira, que durante os meses de Inverno, transborda água nas suas margens, para mostrar o leito seco e cheio de pedra, durante todos os meses de estio. No cimo da suave colina, fica situada a sede de freguesia, que apesar de pequena, possui 300 fogos, distribuídos a uma população de 698 pessoas. A maior parte das terras desta freguesia, que se compõe de dezasseis lugares, pertencia a três casas senhoriais, que recebiam de foro, a maior parte das colheitas da região. E como o povo destas terras vive quase exclusivamente do seu amanho, tinha que trabalhar arduamente de sol a sol, para conseguir transformar uma terra dura e escabrosa, numa terra mais ou menos arável, capaz de dar pelo menos o suficiente para pagar o foro e que ao mesmo tempo bastasse ao sustento da família do foreiro.
Apesar de vivermos numa era em que o homem conseguiu pôr os pés na Lua, na Lagarteira ainda não chegou qualquer espécie de progresso digno de menção; no entanto podemos dizer que já possui electricidade nos lugares de Maxial, Barrosos, Fonte de Carvalho, Pião, Lagarteira, Moita, Carrascos, Portela e Vale Figueira. Existe um posto de telefone público no lugar da Moita. 0 correio é distribuído diariamente ao domicílio e em todas as povoações e casais da freguesia.
A Lagarteira possui dois cemitérios, um junto da igreja matriz e o outro no lugar da Lagoa do Pito. No cimo da Lagarteira vê-se uma antiga e vetusta igreja, que se abriga à sombra de um gigantesco freixo. É o orago da freguesia São Domingos e a sua festa religiosa anual efectua-se no Mês de Junho e é dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Um dos filhos da terra, que o povo mais se orgulha de aqui ter nascido, é o sr. Carlos Dias, que muito tem contribuído para que exista de facto algum progresso nesta terra, que por não ter recursos financeiros que bastem, não pode aspirar a sair de certa mediania, própria de quem não é rico e vive somente do labor do seu trabalho, bastante duro e pouco rendoso».
O secular freixo no largo da igreja
Apesar de sofrer os efeitos do envelhecimento da população, há algumas fundadas esperanças de que o grupo jovem vá crescendo e, sobretudo, que se criem oportunidades para que aqui se fixem.
Segundo os autarcas locais, a taxa de actividade ronda os 40%. A população dedica-se sobretudo à agricultura, obtendo produtos como a batata, o trigo, o azeite e o vinho, fundamentalmente destinados ao consumo próprio.
Igreja Matriz de S. Domingos
A actual Igreja matriz, que já aparece mencionada nas Memórias Paroquiais de 1758, foi construída, muito provavelmente, no século XVIII, com a particularidade da torre sineira se situar no centro da fachada principal do templo, a que dá acesso por três arcos de cantaria.
É constituída por nave única, com cobertura em madeira, em três planos, como o da capela-mor.
O Altar-mor tem um retábulo em talha dourada, com colunas salomónicas geminadas. O arco cruzeiro é decorado com um retábulo em madeira policromada, com representação da Sagrada Família. A balaustrada é de mármore róseo. A igreja é decorada com dois altares colaterais com arcos de cantaria. O altar esquerdo é de Nossa Senhora das Dores. Possui também dois quadros de madeira pintada. Ambos os altares têm colunas salomónicas decoradas com grinaldas, retábulo com Jesus flagelado, lado esquerdo; do lado direito, um retábulo de Jesus agonizante e um cálice. As paredes de fundo dos altares são revestidas a azulejos hispano-árabes. No tecto da capela-mor foi aplicada uma pintura de um livro, no qual se encontra escrito: “Jesus Cristo/ Luz do Mundo”.
No espaço envolvente, à direita da Igreja, foi construído um coreto, e encontra-se um freixo centenário.
Interior da Igreja Matriz da Lagarteira