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Março 29 2009

O desastre das Ponte das Barcas
(Porto - 1809)
 
 
 
 

 

Completam-se precisamente hoje 200 anos sobre o Desastre da Ponte das Barcas.
Trata-se de uma Ponte sobre o Rio Douro, entre o Porto e Gaia, construída em 1806 e aberta ao trânsito no dia 15 de Agosto. Era constituída por vinte barcas ligadas entre si por cabos de aço. Sobre essas barcaças estava uma plataforma de pranchas de madeira que era o “pavimento” dessa ponte que vinha facilitar, e muito, a travessia de milhares de pessoas entre os dois lados do rio.  
No dia 29 de Março de 1809, durante a 2.ª Invasão Francesa a Portugal, chegava ao Porto o general Soult (precisamente no dia do seu aniversário), à frente de muitos milhares de soldados de Napoleão, depois de ter vencido diversos focos de resistência por todo o Minho e Douro Litoral. Os portuenses conheciam bem os modos bárbaros e sanguinários dos franceses desde o ano anterior, por isso, o pânico apoderou-se deles e instalou-se a palavra de ordem: “Salve-se quem puder!”.
Aliás, a vida na cidade do Porto, na semana que antecedeu o Desastre, já era terrível, perante a certeza da chegada dos invasores, como se pode ver pela transcrição que a seguir se faz dum artigo saído no “Jornal de Notícias” de 22 de Março de 2009:
 
«Os portuenses desorientam-se. Os socorros pedidos para a capital não chegam. O pânico é geral.
As ruas da cidade são percorridas por uma turba desvairada que exige vingança contra os "jacobinos" ou "afrancesados". A desorientação é total. As lojas e as oficinas encerram as portas. Nas torres das igrejas os sinos não param de tocar a rebate. Na antiga Praça do Olival, actual Campo dos Mártires da Pátria, o povo instala um tribunal revolucionário para julgar os colaboracionistas.
Instala-se na velha urbe uma verdadeira caça ao homem. Do diário de um observador directo dos acontecimentos consta que "a plebe armada passa em magotes pelas ruas vociferando e matando…"
Nas ruas, nas praças ouve-se a cada passo o grito de "jacobino, é jacobino" e a pessoa apontada a dedo era imediatamente linchada por uma multidão enfurecida e tresloucada.
Já ninguém anda seguro pelas ruas do Porto. Há quem não ouse sequer sair de casa. E mesmo aqui ninguém está livre de ser incomodado. Diz-se ainda no referido diário: "… batem à porta de um cidadão, acusam-no de traidor, arrastam-no para a rua" levam-no ao tal tribunal revolucionário onde o espera a condenação sem apelo nem agravo. Este era o ambiente de horror e de medo que se vivia no Porto há duzentos anos, precisamente no dia 22 de Março de 1809.
Foi exactamente nesse dia que, na rua de Cedofeita, uma turba enfurecida assaltou a casa do chanceler das Justiças, Manuel Francisco da Silva e Veiga Magro de Sousa. À altura destes acontecimentos estava velho e doente. Não houve, por isso, qualquer contemplação para com ele. Arrancaram-no ao leito e levaram-no em cadeira de rodas para a Praça do Olival onde seria julgado e, o mais certo, condenado à morte. Foi salvo por elementos da Leal Legião Lusitana que o arrancaram do meio da multidão e o conduziram ao bispo, D. António de S. José de Castro que desempenhava as funções de governador militar da cidade. Para proteger o chanceler, o prelado mandou-o encarcerar no aljube.
Ainda nesse dia, a plebe armada atacou a o edifício da Cadeia e arrancaram do seu interior o brigadeiro Luís de Oliveira da Costa e Almeida Osório. Ao fim de um tumultuoso julgamento sumário, onde houve de tudo menos de julgamento, este militar, depois de ouvir os maiores insultos e sofrer os mais vis vexames foi assassinado e o seu corpo levado de rastos até ai margem do douro a cujas águas foi lançado. Igual destino teve o cadáver de João da Cunha Araújo Portocarrero, comandante de uma das baterias de defesa da cidade e pertencente à ilustre família dos Portacarreros da Casa da Bandeirinha. Fora assassinado por uma multidão em fúria no antigo Largo do Padrão das Almas, actual Largo do Padrão. O cadáver seminu ficou abandonado sobre as pedras da calçada durante todo um dia.
Parece que o número de assassinatos na via pública terá ultrapassado a dúzia. Houve também quem tivesse sido vitima de saque. Muitas casas de funcionários foram assaltadas e os seus bens roubados.
Entretanto os franceses aproximavam-se do Porto».

O único refúgio parecia estar no atravessamento do rio Douro em direcção a Gaia. Tanta gente, ao mesmo tempo sobre a ponte, fez com que acontecesse o Desastre. Hoje, correm duas versões, sobre a explicação da Tragédia: uns dizem que, perante tamanho peso, as barcas começaram a afundar-se, as pranchas a despregarem-se e as pessoas começaram a cair ao rio, aos milhares; outros dizem que os de Gaia, tacticamente para se protegerem da travessia dos soldados franceses, abriram o alçapão da ponte, onde a multidão em fuga, começou a cair à água, os da frente ainda procuraram deter-se, perante o perigo, intentando um movimento de recuo, mas era impossível suster tanta gente impelida pelo medo, que se empurra com desesperada ânsia de se pôr a salvo.
Aqueles que caíam à água e que procuravam salvar-se, nadando, não o conseguiam porque havia quem no desespero se lhe agarrasse e lá iam todos para o fundo.
Mais de 4000 portuenses morreram nessa horrível tragédia. Se tivessem enfrentado os franceses, provavelmente o n.º de vítimas seria menor. Mas ninguém podia adivinhar a ocorrência de tal desastre.
No local existe um pequeno monumento evocativo dessa tragédia, da autoria do Mestre Teixeira Lopes, a que o povo da Ribeira faz culto, colocando flores e acendendo velas às “Alminhas da Ponte”.
Mais tarde, no mesmo local, construiu-se outra ponte, mais robusta, sobre 33 barcas, onde assentava um estrado de madeira com grades laterais. Nos períodos sujeitos às cheias do rio Douro, a ponte era desarmada, evitando-se assim que a corrente das águas a destruísse.
Finalmente, no dia 17 de Janeiro de 1843 é inaugurada a ponte Pênsil, com um comprimento de 170,14 metros. Foi a primeira ponte de tabuleiro elevado, a cerca de 10 metros acima do nível das águas.
publicado por viajandonotempo às 10:40

Março 27 2009

 

Mendes Cabeçadas (31-5-1926 a 17-6-1926)

José Mendes Cabeçadas Júnior nasceu em Loulé (Algarve), no dia 19 de Agosto de 1883 e faleceu em Lisboa, a 11 de Junho de 1965. Foi oficial da Armada Portuguesa, pertenceu à maçonaria e foi um político republicano convicto, que teve um papel decisivo na preparação dos movimentos revolucionários da implantação da República e também da extinção da Primeira República Portuguesa: a Revolução de 5 de Outubro de 1910 e o Golpe de 28 de Maio de 1926, respectivamente.
Mendes Cabeçadas foi um dos responsáveis pela revolta a bordo do Adamastor, durante a Revolução Republicana de 1910; no entanto, cedo se desiludiu com o regime que ajudara a criar, apesar de logo em 1926, ter exercido o cargo de Presidente da República Portuguesa (o 1.º da Ditadura Militar) e de Presidente do Conselho de Ministros no breve período, de 31 de Maio de 1926 e 16 de Junho do mesmo ano. Foi, igualmente, deputado de 1911 a 1915.
Afastado do poder pela orientação do regime à direita e pelo salazarismo, transformou-se num feroz opositor da autocracia de Óscar Carmona e de Oliveira Salazar, conspirando em duas tentativas insurreccionais (1946 e 1947). Como derradeiro gesto político, subscreveu o Programa para a Democratização da República (1961).
Mendes Cabeçadas, revolucionário de uma linha moderada, julgava ainda ser possível constituir um governo que não pusesse em causa o regime constitucional, mas apenas livre da nefasta influência do Partido Democrático. No entanto, os demais conspiradores (entre os quais Gomes da Costa e Óscar Carmona) julgaram-no como sendo incapaz e, no fundo, o último vestígio do regime constitucional da I República. Após uma reunião dos revoltosos no seu quartel-general em Sacavém, em 17 de Junho de 1926, Mendes Cabeçadas foi forçado a renunciar às funções de Presidente da República e de Primeiro-Ministro a favor de Gomes da Costa. Continuava a instabilidade política da I República.
Desde então, passou para as fileiras da oposição, tendo-se envolvido, por exemplo, nas conspirações militares de 1946 e 1947, e o seu último gesto político significativo foi ter sido um dos três primeiros subscritores do Programa para a Democratização da República (1961).
Gomes da Costa (17-6-1926 A 9-7-1926)
Manuel de Oliveira Gomes da Costa nasceu em Lisboa, no dia 14 de Janeiro de 1863 e faleceu na mesma cidade, a 17 de Dezembro de 1929. Militar e político português foi o décimo presidente da República Portuguesa e o segundo da Ditadura Nacional. Seu pai havia sido oficial subalterno de modesta origem camponesa.
Enquanto militar, destacou-se nas campanhas de pacificação das colónias, em África e na Índia, e ainda na I Grande Guerra como Comandante máximo do Corpo Expedicionário Português.
Até 1915, esteve quase ininterruptamente na Índia e em África (Moçambique, Angola e São Tomé). Aí conquistou o prestígio que a I República procurou utilizar, ao nomeá-lo comandante da l.ª divisão do CEP (Corpo Expedicionário Português). A campanha da Flandres reforçou o seu prestígio.
Enquanto político foi o líder da direita conservadora na Revolução do 28 de Maio de 1926, que teve início em Braga, com uma Marcha Militar com destino a Lisboa, como 4 anos antes fizera Benito Mussolini, com a Marcha sobre Roma (a morte do general Alves Roçadas, ditou o protagonismo de Gomes da Costa).
Não assumiu de início o poder, que, como se viu acima, foi confiado a Mendes Cabeçadas, o líder da revolução em Lisboa.
Persistindo uma certa desconfiança política mútua, Gomes da Costa viria, após sucessivas reuniões conspirativas, mantidas no quartel-general de Sacavém, a alcançar o poder, após um golpe ocorrido em 17 de Junho de 1926.
No entanto, o seu Governo não durou muito mais que o de Mendes Cabeçadas; em 9 de Julho do mesmo ano, uma nova contra-revolução, chefiada pelo general Óscar Carmona, derrubou Gomes da Costa. Foi então preso e deportado para os Açores (11.7.1926), para evitar maiores descontentamentos em torno de si. Mesmo assim, Carmona fê-lo marechal, em Setembro de 1927, quando a situação foi considerada suficientemente estabilizada. Segundo Salazar, manteve longas conversas com ele em 1928. Regressou ao Continente, tendo falecido em condições miseráveis, sozinho e com dificuldades financeiras.
Óscar Carmona 16-11-1926 a 18-4-1951)
António Óscar de Fragoso Carmona nasceu em Lisboa, no dia 24 de Novembro de 1869 e faleceu na mesma cidade, a 18 de Abril de 1951. Político e militar português, filho (o pai foi o general Inácio Maria Machado de Morais Carmona) e neto de militares, foi o décimo primeiro Presidente da República Portuguesa (último da Ditadura Militar e primeiro do Estado Novo). Morreu no exercício do cargo.
Óscar Carmona foi um dos conspiradores do 28 de Maio de 1926, tendo assumido o poder após o derrube do general Gomes da Costa, como Presidente do Conselho de Ministros (9 de Julho de 1926), sendo nomeado, posteriormente, Presidente da República (16 de Novembro de 1926).
Apesar de, na prática, se ter tornado Presidente logo após o derrube de Gomes da Costa (9 de Julho), só viria a assumir efectivamente a presidência a 16 de Novembro.
Foi eleito em 1928, ainda durante a Ditadura Militar, dando início ao período denominado Ditadura Nacional, e reeleito, já na vigência da Constituição de 1933, em 1935, 1942 e 1949, não concluindo o último mandato por ter falecido no decurso do mesmo.
Óscar Carmona foi nomeado marechal do exército em 1947.
Uma das obras publicadas foi “O novo regulamento para a Instrução Táctica de Cavalaria” in Revista Militar, n.º 11, Novembro 1913.
Na sua primeira passagem pelo poder, ainda durante a 1.ª República, como Ministro da Guerra, reprimiu a "intentona radical" (13.12.1923). Mas foi o seu papel como promotor militar no julgamento da "Sala do Risco" dos responsáveis pelo 18.4.1925, que lhe deu uma projecção nacional, já que pediu e obteve a absolvição dos implicados, com base no argumento de que a "pátria estava doente" e precisava portanto de cirurgiões de espada.
Foi fundamental o seu papel durante o conturbado processo político-militar que, muito por intervenção sua a favor de Salazar, levou à institucionalização do Estado Novo. Não mantinha com ele relações pessoais aquando da nomeação para ministro das Finanças (27.4.1928), mas desde muito cedo este ganha a sua confiança. Foi já graças a Carmona que conseguiu, sendo civil, ser nomeado presidente do Ministério (5.5.1932). E se depois da institucionalização do regime com a aprovação da nova Constituição (11.4.1933) a intervenção activa de Carmona nos assuntos correntes passou a ser escassa ou nula, o que alguns observadores estrangeiros, associam à doença que o teria afectado (1935), a verdade é que tal se ajustava ao seu perfil, e continuava a ser figura fundamental para a solidificação do regime a nível do seu pilar militar.
Carmona surgia como a solução ideal para três questões fundamentais para o regime:
«as relações entre os militares; as relações entre os militares e os políticos; e as relações entre monárquicos e republicanos. Exercendo um poder simbólico, arbitral e criador de consensos. Parece fora de dúvida que Salazar não teria podido afastar Carmona da forma que fez com Craveiro Lopes. Mas também parece pouco provável que Carmona se empenhasse, em algum ponto - e mesmo, que nos anos 40 tivesse, num Exército cada vez mais dominado por Santos Costa, a força - para afastar Salazar, a não ser no curto período (1943-1944) em que contaria com o apoio aliado. Não conclui o seu quarto mandato, pois morreu no cargo, apenas dois anos após a sua eleição, tendo sido enterrado no Panteão Nacional em funeral oficial com toda a pompa. Tinha sido Presidente da República durante um quarto de século. É por isso o Presidente da República que mais tempo permaneceu em funções, e previsivelmente continuará a sê-lo, tendo em conta a actual legislação sobre o limite de mandatos sucessivos».
Craveiro Lopes (21-7-1951 a 9-8-1958)
Francisco Higino Craveiro Lopes nasceu em Lisboa, no dia 12 de Abril de 1894 e faleceu na mesma cidade, a 2 de Setembro de 1964. Político e militar português foi o décimo terceiro presidente da República Portuguesa (segundo do Estado Novo), entre 1951 e 1958. Craveiro Lopes era filho do general e governador-geral da Índia Portuguesa, João Carlos Craveiro Lopes.
Desde a morte de Óscar Carmona até à eleição de Craveiro Lopes, exerceu interinamente o cargo de Presidente da República, António de Oliveira Salazar, de 18 de Abril de 1951 a 21 de Julho de 1951
Frequentou e concluiu o Colégio Militar a 23 de Julho de 1911, após o que ingressou na Escola Politécnica de Lisboa. Ainda em 1911, alistou-se como voluntário no Regimento de Cavalaria 2.
Como primeiro sargento-cadete tira o curso de Cavalaria na antiga Escola do Exército, ingressando posteriormente na Aeronáutica Militar.
Em 1915 é mobilizado para a fronteira Norte de Moçambique, onde em Novembro de 1916, defronta as tropas alemãs durante a Primeira Guerra Mundial e se distingue com bravura na defesa do forte de Newala e combates de Kiwambo. Recebe por estas acções em 1917, aos 23 anos, a Cruz de Guerra e é feito Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada.
Em 1918 tirou o curso de piloto militar, na Escola de Aviação francesa, em Chatres, sendo na altura promovido a tenente, seguindo, ainda nesse ano, para Moçambique.
Em Março de 1922, exerce as funções de instrutor de pilotagem, como capitão piloto aviador.
Em 1926, colocado na Aeronáutica Militar, é nomeado director da Divisão de Instrução da Escola Militar, cargo que exerce até 1929, voltando a exercer a mesma função em 1932, e também em 1939, por curtos períodos.
Fez o levantamento aéreo de Goa, Damão e Diu (1929) e ainda o 1.º voo de Correio aéreo Goa-Bombaim-Goa num avião monomotor De Havilland DH-80A "Puss Moth" (em 1930).
Nesse mesmo ano, como major, exerce as funções de chefe da Repartição do Gabinete do governador-geral da Índia.
De 1933 a 1934 ocupa a chefia do Gabinete do governador-geral da Índia, cargo que volta a exercer alguns meses em finais de 1936. É, em 1934, governador interino do distrito de Damão, cargo mais tarde confirmado com as atribuições de intendente, sendo mesmo encarregado do Governo-Geral da Índia em 1936, a título interino, cargo que desempenha até 1938.
Comandante-geral da Aeronáutica em 1941 negoceia as condições de utilização da Base Aérea dos Açores pelos Estados Unidos, após o que é designado comandante da Base Aérea dos Açores.
Em 1943, tira o curso de Altos Comandos e é chamado para o Instituto de Altos Estudos Militares com funções docentes.
De 1944 a 1950, exerce as funções de comandante-geral da Legião Portuguesa.
Em 1951 é nomeado comandante da terceira Região Militar, cargo que acumula com as funções docentes no Instituto de Altos Estudos Militares.
Nesse mesmo ano, pouco após a morte de Carmona, é indigitado pela União Nacional como candidato às eleições presidenciais, sendo eleito a 21 de Julho de 1951.
Apesar de ter sido julgado um candidato capaz de suscitar consensos, cedo viria a revelar a sua frieza nas relações com o Presidente do Conselho e a demonstrar até uma certa simpatia pelos oposicionistas.
«Ao ser eleito nada fazia prever que esta Presidência acabasse por ser problemática, um verdadeiro estorvo, para o regime. Os problemas surgiram desde o início.
Entre Craveiro Lopes e o presidente do Conselho as relações foram sempre frias e formais. O feitio das duas personalidades nunca poderia produzir relações amistosas. Poderia, no entanto, ter havido alguma empatia o que nunca se verificou.
Craveiro Lopes com o decorrer dos anos vai-se sentindo cada vez mais humilhado e vexado. Os discursos eram modificados, os projectos recusados ou protelados, as convocações da Presidência ao Governo ignoradas».
Por isso mesmo, não foi proposto para um segundo mandato presidencial.
Depois de retirado da política activa, foi feito Marechal da Força Aérea; ao mesmo tempo, manteve sempre os contactos com os líderes da Oposição, e parece ter estado associado ao golpe de Botelho Moniz, em Abril de 1961.
Veio a falecer em Agosto de 1964, aos 70 anos, durante a noite, em situação pouco clara (supõe-se vítima de enfarte de miocárdio).
Américo Tomás (9-8-1958 a 25-4-1974)
Américo de Deus Rodrigues Tomás nasceu em Lisboa, no dia 19 de Novembro de 1894 e faleceu em Cascais, a 18 de Setembro de 1987. Político e militar português foi o décimo quarto Presidente da República Portuguesa (último do Estado Novo).
Foi chefe de gabinete do Ministro da Marinha em 1936, presidente da Junta Nacional da Marinha Mercante de 1940 a 1944 e Ministro da Marinha de 1944 a 1958, quando foi o candidato escolhido pela União Nacional para suceder a Craveiro Lopes. Teve como adversário o denominado general sem medo, Humberto Delgado, que perdeu as eleições em condições de assumida fraude eleitoral. A única dúvida que ainda subsiste é a diferença entre os votos dos dois candidatos, sendo certo que Humberto Delgado seria o vencedor do acto eleitoral e novo Presidente.
Na sequência da agitação social, da desordem e da intranquilidade pública gerada pelos resultados, que eram manifestamente contrários à vontade da maioria da população, as eleições presidenciais deixaram de ser directas, passando a ser da responsabilidade de um colégio eleitoral, constituído exclusivamente por membros da União Nacional. Desta forma, o regime punha de parte qualquer tipo de mudança democrática encetada pelo voto da população portuguesa.
Foi dessa forma reeleito em 1965 e 1972. «A escolha de Marcelo Caetano nunca foi muito de seu agrado. O novo Presidente do Conselho era demasiado reformista. A preocupação com o futuro do Ultramar e a sua manutenção era algo que reportava de fundamental e tinha a consciência que dessa manutenção dependeria a sobrevivência do regime. Por isso, obrigou Marcelo Caetano a estabelecer um compromisso: o de não colocar a política ultramarina em causa.»
A Revolução do 25 de Abril encontrou-o a meio do seu terceiro mandato (que se deveria prolongar até 1979). Foi então demitido do cargo e expulso compulsivamente da Marinha, tendo sido enviado para a Madeira, donde partiu para o exílio no Brasil.
Em 1978, o general Ramalho Eanes permitiu o seu regresso a Portugal.
A 18 de Setembro de 1987, Américo Tomás morreu numa clínica em Cascais, após uma cirurgia, com 92 anos.
Entre as obras que publicou, destaco as seguintes: Sem Espírito Marítimo Não É Possível o Progresso da Marinha Mercante, Lisboa, 1956; Renovação e Expansão da Frota Mercante Nacional, Lisboa, 1958; Citações, Lisboa, 1975; e Últimas Décadas de Portugal, l.º e 2.º vols., Lisboa, 1980 e 1981.
publicado por viajandonotempo às 12:09

Março 24 2009

 

PRESIDENTES DA 1ª REPÚBLICA
(1910 a 1926)
 
 
 
Manuel de Arriaga (20-8-1911 a 26-5-1915)
 
Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue nasceu na Horta (Açores), no dia 8 de Julho de 1840 e faleceu em Lisboa, a 5 de Março de 1917. Foi o primeiro presidente da República Portuguesa. Foi também escritor, poeta e um grande orador.
Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra de 1860 a 1865. Membro do Partido Republicano foi eleito quatro vezes, como deputado, pelo círculo da Madeira (de 1882 a 1892), de cujo Directório fez parte, juntamente com Jacinto Nunes, Azevedo e Silva, Bernardino Pinheiro, Teófilo Braga e Francisco Homem Cristo. Foi considerado um notável orador, tendo muitos dos seus discursos dado um impulso importante à causa republicana. Não partilhava, porém, do anti-clericalismo próprio dos primeiros republicanos portugueses.
No dia 17 de Outubro de 1905, foi nomeado reitor da Universidade de Coimbra. Em 1910 mantém o mesmo cargo conjuntamente com o vice-reitor, Sidónio Pais.
Foi deputado da 1.ª assembleia constituinte em 1911 e eleito Presidente da República - o primeiro chefe do Estado do novo regime. Diz-se que o “cidadão” presidente, quando ia, diariamente, exercer o seu cargo, apanhava o eléctrico, como outro qualquer cidadão (que diferença, para os tempos de hoje!?).
Tentou reunificar, em vão, o Partido que, entretanto, se desmembrou em várias facções. O seu mandato foi atribulado devido a incursões monárquicas movidas por Paiva Couceiro no Norte do País.
Após o "golpe das espadas", em 1915, Arriaga convidou o general Pimenta de Castro a formar governo, uma decisão que deu origem ao descontentamento e a uma revolta com centenas de mortos que consegue derrubar o general formando uma junta militar que repõe a ordem.
Arriaga pede a demissão e é então substituído pelo professor Teófilo Braga, personalidade que havia assumido o poder político após a Revolução Republicana, como Presidente do Governo Provisório.
Manuel de Arriaga morria em Lisboa, dois anos depois.
Foi sepultado em jazigo de família no cemitério dos Prazeres e transladado para o Panteão Nacional de Santa Engrácia, cumprindo a decisão votada por unanimidade pela Assembleia da República, em 16 de Setembro de 2004. 

 

 

 
Teófilo Braga (29-5-1915 a 5-8-1915)
 
Joaquim Teófilo Fernandes Braga nasceu também nos Açores (Ponta Delgada), no dia 24 de Fevereiro de 1843 e faleceu em Lisboa, a 28 de Janeiro de 1924. Foi político, escritor e ensaísta português. Estreou-se na literatura, em 1859, com Folhas Verdes. Igualmente licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, fixou residência em Lisboa em 1872, onde leccionou Literatura no Curso Superior de Letras (actual Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa).
Da sua carreira literária há a registar obras de história literária, etnografia (sendo de destacar as suas recolhas de contos e canções tradicionais), poesia, ficção e filosofia.
Foi activo na política portuguesa desde 1878, ano em que concorreu a deputado pelos republicanos federalistas. Exerceu vários cargos de destaque nas estruturas do Partido Republicano Português. Em 1 de Janeiro de 1910, tornou-se membro efectivo do Directório deste Partido, conjuntamente com Basílio Teles, Eusébio Leão, José Cupertino Ribeiro e José Relvas.
No dia 28 de Agosto de 1910 foi eleito deputado por Lisboa, e em Outubro do mesmo ano tornou-se presidente do Governo Provisório, na sequência do “5 de Outubro de 1910”.
Teófilo Braga foi eleito pelo Congresso, a 29 de Maio de 1915, com 98 votos a favor, contra um voto de Duarte Leite Pereira da Silva e três votos em branco. Presidente da República de transição, face à demissão de Manuel de Arriaga, cumpriria o mandato até ao dia 5 de Outubro do mesmo ano, sendo substituído por Bernardino Machado.
 
 
 
Bernardino Machado (6-8-1915 a 5-12- 1917 e
11-12-1925 a 31-5-1926)
 
Bernardino Luís Machado Guimarães, de seu nome completo, nasceu no Brasil (Rio de Janeiro), no dia 28 de Março de 1851 e viria a falecer em Vila Nova de Famalicão, no dia 28 de Abril de 1944, Famalicão. Foi o terceiro e o oitavo presidente eleito da República Portuguesa.
Estudou Filosofia e Matemática na Universidade de Coimbra. Foi um importante maçon tendo sido dirigente da Loja "Perseverança" do Grande Oriente Lusitano.
Bernardino Machado era filho de António Luís Machado Guimarães, primeiro barão de Joane, e de sua segunda mulher, Praxedes de Sousa Guimarães.
Recebeu no baptismo o nome próprio do avô materno, Bernardino de Sousa Guimarães, capitalista estabelecido em terras do Brasil.
Passou a infância no Brasil até aos nove anos, quando a família fixou residência em Joane, concelho de Famalicão. Em 1866, inscreveu-se na Universidade de Coimbra, em Matemática, tendo optado depois por Filosofia. Foi um brilhante aluno, tendo-se doutorado em na Academia Coimbrã, onde foi professor.
Em 1872, ao atingir a maioridade e optou pela nacionalidade portuguesa.
Casou no Porto em 1882, com Elisa Dantas Gonçalves Pereira, também nascida no Brasil, filha do conselheiro Miguel Dantas Gonçalves Pereira, de quem teve 18 filhos.
Durante a Monarquia, Bernardino Machado foi deputado pelo Partido Regenerador (1882), Par do Reino (1890), e Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria (1893).
Aderiu ao Partido Republicano em 1903.
Com o advento da República foi ministro dos Negócios Estrangeiros e o primeiro Embaixador de Portugal no Brasil (1913).
Foi Presidente da República Portuguesa por duas vezes. Primeiro, de 6 de Agosto de 1915 até 5 de Dezembro de 1917, quando Sidónio Pais, à frente de uma junta militar, dissolve o Congresso e o destitui, obrigando-o a abandonar o país.
Mais tarde, em 1925, volta à presidência da República para, um ano depois, voltar a ser destituído pela revolução militar de 28 de Maio de 1926, que instituirá a Ditadura Militar e abrirá caminho à implantação do Estado Novo.

 

 
 
Sidónio Pais (28-4-1918 a 14 -12-1918)
 
Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais nasceu em Caminha, no dia 1 de Maio de 1872. Concluiu o liceu em Viana do Castelo e seguiu para Coimbra, onde tirou os cursos de Matemática e Filosofia.
Em 1888 entra para a Escola do Exército, para a arma de Artilharia. Inicia então a sua carreira militar, sendo promovido a alferes em 1892 e chegando ao posto de major, em 1916.
Licenciou-se em Matemática, na Universidade de Coimbra, doutorando-se no ano de 1898. Nesta universidade onde se formou, acabou por dar aulas como professor catedrático e, a 23 de Outubro de 1910, foi nomeado seu Vice-reitor, sendo Reitor Manuel de Arriaga.
Foi professor da Escola Industrial Brotero e, mais tarde, Director da mesma instituição.
Depois da implantação da República, e durante um breve período de tempo, ocupou o cargo de membro dos Corpos Gerentes da Companhia de Caminhos de Ferro.
Pertenceu à Maçonaria, na Loja "Estrela de Alva" de Coimbra, com o nome de "irmão Carlyle".
Sobraçou a pasta do Fomento, no governo de João Chagas, de 4 de Setembro a 3 de Novembro de 1911. Dez dias depois, transitou para a pasta das Finanças no Executivo chamado "de concentração" de Augusto de Vasconcelos, cargo que exerceu até 16 de Junho de 1912. A 17 de Agosto de 1912 foi nomeado Ministro Plenipotenciário de Portugal em Berlim, cargo que desempenhou até 9 de Março de 1916, altura em que Portugal entrou na Primeira Guerra Mundial.
Regressou nesse ano a Portugal e, de 5 a 8 de Dezembro de 1917, liderou a revolta protagonizada pela Junta Militar revolucionária, da qual era seu Presidente. "Sidónio Pais contou com o apoio de vários grupos de trabalhadores (que negociaram a libertação de camaradas encarcerados por questões sociais) e ainda com a "expectativa benévola" da União Operária Nacional. O papel dos grupos civis foi determinante para a vitória dos revoltosos. Na madrugada de 8, acaba por exonerar o governo mas não iniciaria a habitual consulta para formação de governo, porque os revoltosos assumem o poder, destituindo o Presidente da República."
A 11 de Dezembro de 1917 tomou posse como Presidente do Ministério, acumulando as pastas da Guerra e dos Negócios Estrangeiros. Assume a Presidência da República em 27 de Dezembro (de acordo com o decreto n.º 3701) até haver nova eleição. A acumulação de poderes, valeu-lhe o epíteto de “Presidente-Rei”.
É eleito, por sufrágio directo, em 28 de Abril de 1918, sendo proclamado Presidente da República em 9 de Maio do mesmo ano. Durante o ano em que permaneceu no poder Sidónio Pais altera a Lei de Separação entre as Igrejas e o Estado, numa tentativa de apaziguamento das relações com a Igreja (23 de Fevereiro de 1918), estabelece o sufrágio universal (11 de Março de 1918) e consegue reatamento das relações com a Santa Sé, através do envio do Monsenhor Aloísio Mazella que assume as funções de Encarregado de Negócios da Santa Sé em Lisboa (25 de Julho de 1918).
Os decretos de Março de 1918, denominados de "Constituição de 1918" conferem ao regime uma feição presidencialista.
A 14 de Dezembro de 1918 é morto a tiro, por José Júlio da Costa, na estação do Rossio em Lisboa. O seu corpo está Panteão Nacional de Santa Engrácia (Lisboa).
 
 
 
Canto e Castro (16-12-1918 a 5-10-1919)
 
João do Canto e Castro Silva Antunes Júnior nasceu em Lisboa no dia 19 de Maio de 1862 e faleceu na mesma cidade a 14 de Março de 1934. Filho do general José Ricardo da Costa Silva Antunes e de D. Maria da Conceição do Canto e Castro Mascarenhas Valdez. Foi oficial da Marinha e quinto presidente da República Portuguesa de 16 de Dezembro de 1918 a 5 de Outubro de 1919.
Frequentou o Colégio Luso-Britânico e a Real Escola Naval. Foi oficial da Armada, percorrendo todo o império português e atingindo o posto de almirante.
Guarda-marinha, em 11 de Outubro de 1883, foi promovido quatro anos depois a segundo-tenente. Neste posto embarcou nas corvetas Bartolomeu Dias e Estefânia, na fragata D. Fernando, no transporte África e nas canhoneiras Tâmega, Liberal e Zaire. Nesta última, navegou até Macau, Timor e Moçambique, vindo a ser nomeado seu comandante interino em 1 de Abril de 1889.
Em Março de 1890, desempenha as funções de auxiliar técnico da Comissão de Limites no Congo, sendo agraciado com as condecorações da Ordem da Estrela Africana e com a medalha de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
É promovido a primeiro-tenente em Janeiro de 1891, passando a prestar serviço na Escola de Alunos Marinheiros, em Lisboa.
Casou em 1892 com Mariana de Santo António Moreira Freire Correia Manoel Torres de Aboim, também de Lisboa, de quem teve três filhos, deixando geração até hoje.
Em 1892 foi nomeado governador de Moçambique. Em 1908 foi deputado.
Em 16 de Junho de 1910, é promovido a capitão-de-fragata, passando a desempenhar o cargo de vogal da Comissão Técnica da Direcção-Geral de Marinha, funções que ainda desempenha quando é implantada a República.
No início da República dirigiu a Escola de Alunos Marinheiros, em Leixões, e chefiou o Departamento Marítimo do Norte. Em 1915 dirigiu a Escola Prática de Artilharia Naval. No Governo de Sidónio Pais foi nomeado Director dos Serviços do Estado-Maior Naval e Secretário de Estado da Marinha.
Tomou posse como Ministro da Marinha, a pedido de Sidónio Pais, a 9 de Setembro de 1918, tendo-lhe sucedido depois do atentado que vitimou o ditador.
Durante o seu mandato sucederam-se duas tentativas de revolução. A primeira, em Santarém, em Dezembro de 1918, foi liderada pelos republicanos Cunha Leal e Álvaro de Castro. A segunda, em Janeiro de 1919, de cariz monárquico, liderada por Paiva Couceiro, que, por algum tempo manteve a "Monarquia do Norte"; fez ressaltar a sua posição sui generis: sendo monárquico, como presidente da República, reprimiu violentamente um movimento daqueles com quem partilhava convicções.

 

 

 

 

António José de Almeida (5-10-1919 a 5-10-1923)
 
António José de Almeida foi um dos mais insignes republicanos, ligado a quase todos os movimentos que tentaram implantar a República em Portugal, até que triunfou em 5 de Outubro de 1910.

Nasceu no Vale da Vinha (Penacova), em 27 de Julho de 1866 e faleceu em Lisboa, no dia 31 de Outubro de 1929. Depois dessa data, esteve na origem do desmembramento do Partido Republicano Português, fundando um novo partido (o Partido Evolucionista), mas, mesmo assim, manteve o antigo prestígio, chegando a ser Chefe de Governo e Presidente da República. Aliás foi o único que, na Primeira República, conseguiu cumprir o mandato até ao fim. Republicano histórico, António José de Almeida mostrou-se sempre um esclarecido activista do movimento republicano. Era ainda aluno da Faculdade de Medicina, em Coimbra, quando se iniciou na escrita, publicando no jornal académico “Ultimatum”, um artigo que se tornaria famoso, com o título: «Bragança, o último»! Foi considerado insultuoso para o rei D. Carlos, que o processou. Defendido pelo Dr. Manuel de Arriaga, apanharia três meses de prisão.Terminado o seu curso em 1895, seguiu para Angola e, depois, para S. Tomé e Príncipe, onde exerceu a sua profissão de médico, até 1903. Nesta data regressou a Lisboa, tendo, pouco depois, partido para França para estagiar em várias clínicas, donde regressou no ano seguinte. Em Lisboa de novo, teve consultório, primeiro na Rua do Ouro, depois no Largo de Camões, entrando, ao mesmo tempo, na vida política activa. Nesta condição, foi candidato pelo Partido Republicano, em 1905 e 1906, tendo sido eleito deputado nas segundas eleições, em Agosto de 1905. No ano seguinte, em plena Câmara dos Deputados, sobe para cima da carteira, e apela aos soldados, que haviam sido chamados para expulsar os deputados republicanos do Parlamento, para que proclamem de imediato a República. Em 1907 adere à Maçonaria, como aconteceu com uma boa parte dos entusiastas republicanos de então, participando na preparação secreta das fracassadas revoltas republicanas de 1908 (Regicídio. Já antes havia participado na Revolta Republicana do 31 de Janeiro de 1891) e da revolução triunfante de 1910, que, finalmente, implantaria a República. Nesse mesmo ano de 1910, casou com Maria Joana Queiroga, nascida por volta de 1885, de quem teve uma filha. Muito conhecido pelos seus dotes de eloquência, desenvolveu uma intensa luta contra a Monarquia tanto no Parlamento (foi eleito deputado, nas duas últimas legislaturas do regime monárquico), como na comunicação social (tendo dirigido e fundado vários periódicos e subscrito artigos incisivos, contra o Monarca e o seu Regime). Logo após o triunfo da Revolução Republicana, António José de Almeida assumiu o cargo de Ministro do Interior no Governo Provisório. A partir de então começaram a ser notadas algumas divergências políticas com Afonso Costa o que esteve na base de uma profunda divisão do Partido Republicano Português, formando o seu próprio partido – o Partido Republicano Evolucionista. Mais conhecido por Partido Evolucionista, António José de Almeida fundou-o em 1912, tornando-se naturalmente o seu líder. Com excepção do período da União Sagrada, em que os evolucionistas integraram o Governo, o Partido Evolucionista foi sempre o que mais se opôs à supremacia do Partido Democrático. António José de Almeida, quase sempre defendeu a amnistia para os monárquicos, talvez com o objectivo de conquistar mais eleitores, entre o eleitorado mais conservador. Os evolucionistas, normalmente, mostraram-se defensores da concórdia nacional. O Partido Evolucionista terminou com a eleição de António José de Almeida para Presidente da República, em 1919. Antes da Presidência da República, tornou-se chefe do Governo da União Sagrada (1916-1917), assumindo também a pasta ministerial das Colónias. O Governo da União Sagrada foi promovido, em 1916, pelo então Presidente da República Bernardino Machado, que, assim, pretendia arranjar uma garantia de unidade nacional no apoio político à participação portuguesa na primeira Grande Guerra. O Governo da União Sagrada caiu com o golpe de Sidónio Pais, contrário à participação de Portugal na Guerra. Depois do interregno sidonista, em que António José de Almeida é perseguido, vem a ser eleito Presidente da República em 1919. Como Presidente da República visitou o Brasil, numa altura em que ali ocorriam alguns actos xenófobos contra os portugueses. Valeram os seus dotes oratórios para atenuar aquele movimento. António José de Almeida faleceu em 1929. Os seus amigos mandaram fazer-lhe uma estátua em Lisboa, sendo seus autores, o escultor Leopoldo de Almeida e o arquitecto Pardal Monteiro. Os seus principais artigos e discursos estão publicados, desde 1934, em três volumes, com o título “Quarenta anos de vida literária e política”.

 
 
 
Manuel Teixeira Gomes (6-10-1923 a 11-12-1925)
 
Manuel Teixeira Gomes nasceu em Portimão, no dia 27 de Maio de 1860 e faleceu em Bougie (Argélia), a 18 de Outubro de 1941. Foi o sétimo presidente da Primeira República Portuguesa. Foi também escritor.
Filho de José Libânio Gomes e Maria da Glória Teixeira Gomes, foi educado pelos pais até entrar no Colégio de São Luís Gonzaga, em Portimão. Aos 10 anos é enviado para o Seminário de Coimbra, frequentando mais tarde, na mesma cidade, a Faculdade de Medicina. Cedo desiste do curso e, contrariando a vontade do pai, muda-se para Lisboa, onde pertencerá ao círculo de Fialho de Almeida e João de Deus.
Mais tarde, conhecerá outros vultos importantes da cultura literária da época, como Marcelino Mesquita, Gomes Leal e António Nobre.
O pai, com alguma visão de futuro, decide continuar a apoiar financeiramente a nova vida de cariz boémia permitindo assim que Manuel Teixeira Gomes consiga desenvolver uma forte tendência para as artes, nomeadamente na literatura, pintura e escultura, tendo-se decidido pela literatura, não deixando no entanto de admirar as outras artes. É então que se torna amigo de grandes mestres, como Columbano Bordalo Pinheiro ou Marques de Oliveira.
Vive depois no Porto, onde conheceu Sampaio Bruno, tendo sido neste período que começa a colaborar em revistas e jornais, entre eles "O Primeiro de Janeiro" e "Folha Nova".
Aos 39 anos, Manuel Teixeira Gomes apaixona-se por Belmira das Neves, nascida numa família de pescadores, o que, dado os Teixeira Gomes serem uma família importante de Portimão, terá impedido o casamento.
Depois de se reconciliar novamente com a família, viaja pela Europa, Norte de África e Próximo Oriente, em representação comercial para negociar os produtos agrícolas produzidos pelas propriedades do pai (frutos secos, nomeadamente amêndoa e figo) o que alarga consideravelmente os seus horizontes culturais.
Após a implantação da República, exerce o cargo de ministro plenipotenciário de Portugal em Inglaterra. Em 11 de Outubro de 1911 apresenta as suas credenciais ao rei Jorge V do Reino Unido, em Londres, cidade onde então se encontrava a família real portuguesa no exílio.
Eleito Presidente da República a 6 de Outubro de 1923, viria a demitir-se das suas funções a 11 de Dezembro de 1925, num contexto de grande perturbação política e social. A sua vontade em dedicar-se exclusivamente à obra literária, foi a sua justificação oficial para a renúncia.
A 17 de Dezembro, embarca no paquete holandês "Zeus" rumo a Oran (Argélia) num auto-exílio voluntário, sempre em oposição ao regime de Salazar, nunca regressando em vida a Portugal.
Morre em 1941 e só em Outubro de 1950 os seus restos mortais voltaram a Portugal, numa cerimónia que veio a tornar-se provavelmente na mais controversa manifestação popular ocorrida na já então cidade de Portimão nos tempos da ditadura de Salazar, onde estiveram presentes as suas duas filhas, Ana Rosa Teixeira Gomes Calapez e Maria Manuela Teixeira Gomes Pearce de Azevedo.
Deixou uma importante obra literária, integrada na corrente nefelibata e uranista. As suas obras completas estão disponíveis ao grande público através de edição recente.
 

 

publicado por viajandonotempo às 14:10

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