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Junho 30 2013

Recordando o tempo da Guerra da Restauração

No dia 26 de junho de 1662, há 351 anos, ocorreu um golpe palaciano em Lisboa, que pôs fim à regência de D. Luísa de Gusmão e fez com que o debilitado D. Afonso VI assumisse a titularidade do seu reino e a fação do 3.º Conde de Castelo Melhor, chegasse ao poder, que manteve praticamente até ao fim das guerras da Restauração.

Há três séculos e meio atrás, Portugal lutava arduamente pela manutenção da independência face à dinastia filipina que nos governava desde 1580, por resignada conveniência económico-política das elites ibéricas. Contudo, decorridas seis décadas, na conjuntura de 1640, de clara tentativa unificadora de toda a Península Ibérica sob o poderoso Conde Duque de Olivares, a nobreza portuguesa abandonava definitivamente a ideia de “parceria” com o vizinho reino, pretendendo agora a completa independência da coroa portuguesa. Mas Espanha, já uma poderosa potência do ocidente europeu, não pretendia prescindir assim tão facilmente, deste “cantinho” nem do império português.

A Guerra da Restauração, como ficou conhecida, duraria mais que muitas vidas – quase 28 anos, tantos são os que vão desde que se iniciou, em 1 de dezembro de 1640, com o golpe desferido por parte da nobreza portuguesa contra a administração filipina no nosso país, protagonizada pela Duquesa de Mântua, neta materna de Filipe II (I de Portugal) até à assinatura do Tratado de Lisboa, que significou a paz com Espanha, em 13 de fevereiro de 1668.

Estas três décadas de guerra representaram anos muito difíceis para Portugal e para os portugueses. Foram duros de viver, sobretudo para aqueles que mais diretamente testemunharam os horrores da guerra e para os que sofreram os seus efeitos diretos.

Curioso é o facto de ter sido a Duquesa de Bragança, D. Luísa de Gusmão, espanhola de nascimento, quem mais pressionou o marido, D. João, Duque de Bragança, a aceitar a coroa de Portugal, sendo-lhe atribuída, nessa altura, a frase bem esclarecedora: “mais vale ser rainha por uma hora, do que duquesa toda a vida!”. A política de casamentos proposta pelo Conde Duque de Olivares, entre figuras da nobreza espanhola e da nobreza portuguesa, afinal não surtiu o efeito desejado, pelo menos neste caso.

Quando D. João IV faleceu, em 1656, foi precisamente D. Luísa de Gusmão, a primeira rainha portuguesa da IV Dinastia, que assumiu a regência do reino na menoridade de seu filho D. Afonso, herdeiro do trono português. Dados os problemas de saúde do filho, a regência da mãe prolongou-se até 1662, tendo nesse período decorrido a grande batalha da Linha de Elvas, que resultaria numa importante vitória para as forças portuguesas.

Mas as intrigas políticas internas, a sede de poder, faria com que no dia 26 de junho de 1662, faz agora 351 anos, ocorresse um golpe palaciano em Lisboa, que poria fim à regência de D. Luísa de Gusmão, fazendo com que o debilitado D. Afonso VI assumisse a titularidade do seu reino e a fação do 3.º Conde de Castelo Melhor, D. Luís de Vasconcelos e Sousa, chegasse ao poder, chefiando o governo português até praticamente ao fim da Guerra da Restauração.

Vencidos foram os “inimigos” do Conde de Castelo Melhor, que eram os mais importantes conselheiros da Regente, nomeadamente D. António Luís de Meneses (Marquês de Marialva), que foi um dos heróis das campanhas do Alentejo, durante as guerras da Restauração, tendo sido o capitão das Linhas de Elvas, e o governante, Pedro Vieira da Silva (Secretário de Estado).

Uma vez dono e senhor do poder controlou a questão política como melhor lhe conveio, fazendo rodear o irmão do rei (e seu sucessor, D. Pedro) com pessoas da sua inteira confiança. Teve alguma felicidade durante o seu mandato, ao fazer evoluir a Guerra no sentido que mais interessava a Portugal. Efetivamente, no período da Guerra da Restauração em que o Conde de Castelo Melhor superintendia na governação do país, deram-se as batalhas vitoriosas do Ameixial (1663, em que se destacaram D. Sancho Manuel e o Conde da Ericeira) e de Montes Claros (1665, em que se destacou o Marquês de Marialva).

Com o afastamento de D. Afonso VI do poder, o Conde de Castelo Melhor abandona o país, vivendo algum tempo em Paris e em Londres (recorde-se que a rainha inglesa era D. Catarina de Bragança irmão de D. Afonso VI e de D. Pedro II). Mais tarde, regressaria a Portugal tornando-se Alcaide-Mor em Pombal.

Mas o fim da sua vida foi na Ilha de Santa Maria, no Arquipélago dos Açores, de que foi Capitão Donatário, até 1720, data em que faleceu, com 84 anos.

Dos 28 anos que durou a Guerra da Restauração, há de ficar a memória da valentia dos portugueses de seiscentos, que foram capazes de fazer das “tripas coração” para manter vivo o orgulho da portugalidade espalhada pelo mundo.

publicado por viajandonotempo às 06:16

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