António de Oliveira Salazar
Manuel Augusto Dias
Na História de Portugal, foi o estadista que mais tempo chefiou um governo, desde 1932 até 1968. Considerado por muitos como o “Salvador da Pátria”, após os tempos conturbados da Primeira República, acabou por se eternizar no poder, graças ao um regime totalitário a que ele chamou “Estado Novo”. Nascido em 1889, em Santa Comba Dão, acabaria por falecer no dia 27 de julho de 1970, completam-se agora 43 anos.
António de Oliveira Salazar, de seu nome completo, nasceu em 1889 em Santa Comba Dão, distrito de Viseu. Oriundo de uma família de pequenos proprietários agrícolas, à semelhança do que aconteceu como muitos outros jovens da sua idade e condição social, fez a sua formação académica em ambiente fortemente marcado pelo catolicismo, tendo frequentado o Seminário de Coimbra durante vários anos.
A influência religiosa assim adquirida durante os estudos nunca mais o abandonaria. Estudante e depois Professor na Universidade de Coimbra teve como colega e grande amigo um sacerdote que viria a ser, mais tarde, o Cardeal Patriarca de Lisboa, Manuel Gonçalves Cerejeira, ele próprio também docente universitário.
O seu ingresso na política fez-se através do Centro Académico da Democracia Cristã (CADC) de Coimbra, que constituiu um dos veículos de oposição católica à Primeira República. O primeiro passo significativo da carreira política de Salazar - que viria a revelar-se demasiado longa - é justamente a sua eleição como deputado católico para o Parlamento republicano, em 1921. Compareceu apenas a uma sessão da Câmara dos Deputados, sem fazer qualquer intervenção, e afastou-se em definitivo da cena parlamentar.
Implantada a Ditadura Militar, na sequência do Movimento Militar de 28 de Maio de 1926, comandado pelo General Gomes da Costa, Salazar exerceria por poucos dias o cargo de Ministro das Finanças, que prontamente abandona por divergências de fundo com os militares, que eram quem controlava todo o poder político.
Regressará ao Poder em 1928, para as mesmas funções, mas impondo as suas próprias condições que o transformariam num superministro, com poderes para desenvolver uma política rigorosa de controlo da máquina do Estado, condição indispensável para o combate à crónica crise financeira nacional. O seu êxito neste campo solidifica a sua posição, de tal modo que ascende em 1932 à chefia do Governo (Presidente do Conselho de Ministros), onde se manterá até 1968.
Em 1933, após a aprovação da nova Constituição, inicia a estruturação de um Estado autoritário (que designa por Estado Novo), com semelhanças nalguns aspetos com a Itália de Mussolini. Oliveira Salazar será durante quase quatro décadas o máximo responsável do governo português, reservando para si a chefia do Executivo e, em momentos de crise, assegurando a pasta da Guerra, do Interior ou dos Negócios Estrangeiros.
Com uma imagem paternal de dirigente dedicado exclusivamente à governação (a sua vida privada quase deixa de ter significado), acompanha todos os aspetos da vida nacional, dirige ou condiciona fortemente todas as áreas do Governo, julga conflitos entre os seus próprios apoiantes ou colaboradores mais diretos e acaba por deter um poder político efetivo muito mais vasto e indiscutível que os presidentes da República que permite que sejam eleitos.
Manterá até ao fim da sua vida política a hostilidade ao parlamentarismo, a confiança nas elites iluminadas, nunca alterando um discurso sempre fortemente marcado pelo Catolicismo e pelo Anticomunismo. Permanece ligado a conceitos imperiais na defesa de um Portugal desde o Minho a Timor, mesmo quando o quadro político internacional sofre transformações radicais e o País se encontra envolvido numa guerra colonial em três frentes: Guiné, Angola e Moçambique. A sua figura simbolizará o regime por ele idealizado, criado e gerido durante décadas - será mesmo a sua figura protetora, obsessivamente presente, um dos maiores obstáculos à consolidação do seu sucessor, Marcelo Caetano.
O Estado Novo criado por Salazar iria sobreviver, com numerosos sobressaltos, à sua morte política (ocorrida num vulgar acidente doméstico que teve como consequência a sua incapacidade para continuar no exercício de funções e a perda da noção das realidades) e à sua morte física (que teve lugar em 1970), vindo a cair unicamente com a revolução do 25 de Abril de 1974.