VIAJANDO NO TEMPO...e no espaço!

Setembro 28 2013

O massacre dos Távoras


 


Há 255 anos, a importante família dos Távora atravessava o período mais negro da sua existência, podemos dizer mesmo, um momento verdadeiramente dramático, que levaria à execução de várias sentenças de morte, talvez as mais polémicas que Portugal alguma vez conheceu, quiçá injustas e vingativas, sobre vários membros da família dos Távora, decidida durante o "império pombalino".

 

Todos os acusados negaram as acusações que lhes eram feitas, mas, mesmo assim, foram condenados à morte, os seus bens patrimoniais foram confiscados a favor da coroa, o seu nome considerado indigno da nobreza e os brasões familiares foram picados.

 

A justificação foi o envolvimento desta importante família nobre no atentado a D. José, ocorrido a 3 de setembro de 1758. Processo judicial posterior veio confirmar que, afinal, esta família não se tinha envolvido em tal atentado, e que o seu extermínio não passou de uma estratégia do "cabeleira branca" para se sobrepor à tradicional nobreza, que se mostrava renitente em abdicar dos seus privilégios. Os marqueses de Távora eram, cumulativamente, condes de São João da Pesqueira (município altoduriense).     

 

O processo que incrimina os Távora é dramaticamente célebre, e hoje poucos são aqueles que duvidam de que se tratou, efetivamente, de um ajuste de contas político de Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) contra a fação palaciana sua adversária. Há mesmo dúvidas acerca da veracidade do atentado contra a vida de D. José, de que se falou oficialmente, apenas três meses depois de ter ocorrido. Do que não existem dúvidas, é que no dia 13 de Janeiro, a sentença condenatória, conhecida apenas na véspera, era executada no patíbulo de Belém.

 

«A marquesa D. Leonor, condenada sem ser ouvida, foi degolada. O filho José Maria, o jovem marquês de Távora e o conde de Atouguia foram condenados a serem supliciados. O duque de Aveiro - este sim, de facto envolvido -, condenado também ao suplício, foi desnaturalizado, exautorado das honras e privilégios de português (...). O marquês de Távora foi igualmente exautorado de todas as dignidades e o apelido Távora proibido de ser usado. Os bens da marquesa de Távora foram confiscados, compreendendo-se nesta confiscação os de vínculos que foram constituídos de bens da coroa». Da execução da sentença decorreu, serem picados os respetivos brasões onde quer que estivessem.

 

Mais tarde, quando reinava a primeira rainha titular portuguesa, D. Maria I, foi constituído um Tribunal, formado por 18 membros, para reapreciar todo o processo que ditou a condenação dos Távora, o qual, uma vez concluído, acabou por negar a sentença condenatória, na parte que dizia respeito, precisamente, aos marqueses de Távora, por não se provar que fossem cúmplices no atentado, sendo, por isso, declarados «sem nota de infâmia alguma». O mesmo coletivo decidia que fossem restituídas as famílias às suas honras, reconhecendo-lhes o direito ao uso dos seus títulos. Mas os que já tinham sido humilhados e assassinados, não podiam ser recompensados! - Ora aí está, um forte argumento, qual lição do passado, em desaprovação da pena de morte. Uma vez executada, ainda que sobre inocentes, como no presente caso parece ter acontecido, nada há a fazer em desagravamento da injustiça cometida.

 

O primeiro marquês de Távora foi D. Luís Álvares de Távora, por decreto de 6 de Agosto de 1669, dado por D. Pedro II, que assim o recompensava pela sua extraordinária prestação militar nas guerras da Restauração. Era, simultaneamente, o 3.º conde de S. João da Pesqueira e 17.º senhor de Távora, em Mogadouro. Até ao extermínio, em meados do século XVIII, houve 4 marqueses de Távora, todos eles figuras de grande destaque, quer em Portugal quer na administração do Império Português, sobretudo na Índia.

 

Apesar da determinação do marquês de Pombal de que deveriam ser apagados (picados) todas as armas dos Távoras, onde quer que se encontrassem, a verdade é que pelo menos um destes brasões escapou. Quem o redescobriu foi o jornalista Germano Silva, que na edição do Jornal de Notícias, do dia 12 de janeiro de 1997, a ele se referiu publicando a sua foto.

 

De acordo com aquele jornalista, o 1.º conde de S. João da Pesqueira - ainda não havia sido criado o título de marquês de Távora - tem o seu brasão na Igreja dos Grilos, na cidade do Porto, porque, em 1614, ofereceu do seu bolso 30 000 cruzados para a edificação daquele templo, com a condição de nele ser sepultado, na capela-mor.

 

«Esse facto deu-lhe o direito ao título de fundador e a que na parte central da frontaria da igreja figurasse o seu brasão, esquartelado de Sousas do Prado, Távoras, Mouras e Coutinhos». O esquecimento dos funcionários do Marquês de Pombal, ou, talvez mais exatamente, o facto de a sentença não incluir os ascendentes dos Távoras, antes da concessão do título de marquês, explicam a "sobrevivência" deste brasão, à sombra da Sé do Porto.


 

 


publicado por viajandonotempo às 11:12

Setembro 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9
10
11
12
13
14

15
16
17
18
19
20
21

22
23
24
25
26
27

29
30


ÍNDICE DESTE BLOG:
arquivos

Junho 2023

Maio 2023

Abril 2023

Novembro 2022

Setembro 2022

Julho 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Tags

todas as tags

pesquisar
 
mais sobre mim
contador
subscrever feeds
blogs SAPO