UMA REVOLUÇÃO QUE NÃO VINGOU
Lenine foi o principal protagonista da Revolução Socialista Soviética (outubro de 1917)
No início deste mês, completaram-se 97 anos sobre o início da Revolução Socialista Soviética – 7 de novembro de 1917 (26 de outubro, de acordo com o calendário juliano). Os bolcheviques tomaram o poder derrubando o governo provisório de Kerensky, em funções desde maio de 1917, que houvera instituído pela primeira vez na Rússia, um regime republicano e democrático.
A Revolução Bolchevique inaugurou, de facto, a implantação de um regime de matriz marxista. Lenine assumiu, sem dúvida, um papel de grande protagonismo. Membro fundador, principal teórico e dirigente do Partido Bolchevique, dirigiu o Partido e os Sovietes até à tomada de poder. Fundou a Internacional Comunista e iniciou uma intensa propaganda contra o capitalismo internacional, identificado como principal inimigo do novo regime soviético.
Antes de se implantar o comunismo propriamente dito (entendido como o sistema económico-político e social que extingue a propriedade privada e elimina as classes sociais), Lenine defendia a existência de um período de transição, denominado a ditadura do proletariado (em que o partido revolucionário guiaria o proletariado rumo ao comunismo).
A primeira Revolução Russa (em março de 1917) ocorreu na sequência da desastrosa participação do país na 1.ª Guerra Mundial mas, por ter assumido uma feição burguesa, não resolveu os principais problemas do povo russo, designadamente, o tão desejado fim da Guerra. Tornou-se, pois, necessária uma nova Revolução, a Bolchevique (novembro de 1917) que acabou com a Guerra (paz de Brest-Litovsk), implementou a coletivização da propriedade e proclamou a igualdade dos povos de todas as nacionalidades.
Contudo, as medidas económicas adotadas pelo novo regime (coletivização da propriedade agrícola e industrial) não trouxeram os efeitos esperados. Por outro lado, em termos políticos, o Conselho dos Comissários do Povo, controlado por Lenine vai, pouco a pouco, retirando o poder ao Congresso dos Sovietes. Mas tudo se agrava com o início da Guerra Civil (entre o exército vermelho e o exército branco), a partir de abril de 1918. Neste contexto de grandes dificuldades, Lenine proclama a ditadura do proletariado e implanta o “Comunismo de Guerra” que consiste num conjunto de medidas que Lenine considera justificadas pelo clima de guerra civil, que se vive na Rússia entre 1918 e 1921, e que se caracteriza pelo controlo total da economia e pela imposição de uma política de terror contra todos os oposicionistas.
Terminada a Guerra Civil com a vitória do “exército vermelho” e estando o país a atravessar uma grave crise económica, bem evidente na diminuição da produção agrícola e industrial, Lenine decidiu adotar, a partir de 1921, uma Nova Política Económica que se caracterizou por um conjunto de medidas de liberalização económica controlada que, na prática, consistiram na liberalização do comércio interno, na privatização das pequenas empresas e na autorização a investimentos estrangeiros. Só os transportes, a banca, o comércio e a indústria pesada permaneceram sob controlo estatal. É claro que estas medidas representaram um “passo atrás” na construção de uma sociedade sem classes, ao fazerem surgir novos-ricos (os “Kulaks” pequenos proprietários de terras e os “Nepmen” homens de negócios ligados à pequena indústria e ao comércio interno).
Entretanto, em termos políticos, o Partido Comunista torna-se o único partido permitido na Rússia. É a ele que compete a condução da Revolução e a vigilância do funcionamento das estruturas do regime soviético. No ano da Revolução (1917) apregoou-se a democracia dos Sovietes (onde estavam representados os operários, camponeses e soldados), mas agora impõe-se o centralismo democrático de todas as instituições soviéticas (Estado e Partido Comunista). É uma estrutura piramidal, em que os membros de cada órgão são eleitos pela organização que o antecede na escala hierárquica. Mas são as instâncias superiores que tomam as principais decisões.
A III Internacional ou “Internacional Comunista” reuniu-se regularmente na Rússia, a partir de 1919, com o objetivo de incentivar, em termos internacionais, a luta contra o capitalismo, estimulando a formação de partidos comunistas revolucionários noutros países, prontos a seguir o exemplo russo.
A Revolução Bolchevique assustou, obviamente, as classes dirigentes dos países ocidentais que temiam a perda dos seus privilégios e dos seus bens. Efetivamente, a Revolução Russa impulsionou por toda a Europa um fervor revolucionário que afetou, sobretudo, os operários, soldados, camponeses e alguns intelectuais. A III Internacional, com a sua propaganda, muito contribuiu para o aparecimento de partidos comunistas e de movimentos de esquerda revolucionários. Mas o tempo ditaria o fim deste tipo de regimes na Europa a partir da Queda o Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989.