O Partido Republicano Português surgiu há 139 anos
Fez no passado dia 25 de março 139 anos (1876) que foi fundado o Partido Republicano Português que a 5 de Outubro de 1910 terminava com o regime monárquico e iniciava uma República.
O seu triunfo aproveitou-se de uma conjuntura desfavorável à Monarquia Portuguesa. Esta, apesar de ser constitucional, estava profundamente desacreditada. Longe do povo, incapaz de resolver os principais problemas do País e do Império, as esperanças voltavam-se todas para a instauração da República.
Os republicanos prometiam um “mundo novo”, queriam instruir o povo e trazê-lo à participação política, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e fazer um Portugal mais próspero.
O 5 de Outubro de 1910 foi um dia de renovada esperança para Portugal. O povo aplaudiu o sucesso da carbonária republicana. O novo regime ia sendo proclamado por todo o País. As elites urbanas e rurais aderiram efusivamente à República e quiseram republicanizar o povo. Numas localidades foi mais fácil, noutras a resistência monárquica manteve-se ativa.
Regra geral, o povo aceitou o regime republicano como sinal de mudança e de muita esperança. As contas públicas equilibraram-se, surgiu nova bandeira, novo hino, nova moeda. Apostou-se muito na instrução de rapazes e raparigas. Por todo o lado apareceram jornais de fervor republicano. O clero sofreu algumas humilhações, perdeu património e importância social. O País viu mexidas as suas estruturas mais profundas.
Contudo, nem tudo foram “rosas”! Manteve-se sempre uma persistente oposição monárquica, houve divisão entre os republicanos e, pior que isso, surgiu a 1.ª Guerra Mundial em que Portugal participou, em África (para defender as suas colónias) e na Europa (Frente Ocidental, ao lado da nossa velha aliada, Inglaterra).
Esta participação foi verdadeiramente dramática para Portugal pelas suas consequências. Desequilíbrio financeiro, inflação galopante, desvalorização do escudo, caos social e uma insustentável instabilidade política decretariam o fim mais que certo da Primeira República, com a implantação da Ditadura Militar (1926) que, pouco depois, evoluiria para o longo “Estado Novo” (1933-1974).
Permita-me o leitor que recorde alguns nomes de heróis republicanos que não chegaram a festejar a implantação do regime por que lutaram.
Elias Garcia (1830 - 1891)
Elias Garcia (Almada, 1830 – Lisboa, 1891). Militar (Coronel de Engenharia) foi Maçon (tendo sido Grão-Mestre em 1888 e considerado um dos responsáveis pela grande expansão maçónica entre nós), Professor da Escola do Exército (onde lecionou a disciplina de Mecânica Aplicada), Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fundador do Partido Republicano (tendo presidido ao seu Diretório, entre 1883 e 1891) e seu Deputado, repetidamente eleito por Lisboa (1881, 1884, 1887 e 1890).
Rodrigues de Freitas (1840 - 1896)
Rodrigues de Freitas (Porto, 24-1-1840 – Porto, 28-7-1896). Professor catedrático (de Engenharia) seria o primeiro deputado republicano eleito nessa condição para o Parlamento Português, mostrando-se muito preocupado «com a transparência da Administração, a descentralização, a lisura dos procedimentos eleitorais e políticos, as grandes questões nacionais (como a educação, liberdades de culto, opinião, de associação e de imprensa, as colónias e o deficit orçamental». Aquando da Revolta Republicana do Porto (31 de Janeiro de 1891) ele foi o 1.º nome anunciado para fazer parte do Governo Provisório Republicano. Quando faleceu, várias famílias pobres do Porto ficaram sem a pensão de 5$000 réis mensais (uma quantia apreciável para aquele tempo) que ele regularmente lhes pagava do seu bolso, bem como muitos mendigos nunca mais receberam as suas generosas esmolas.
Miguel Bombarda (1851 - 1910)
Miguel Bombarda (Rio de Janeiro, 1851 – Lisboa, 3 de outubro de 1910), médico psiquiatra e político republicano. Foi considerado o chefe civil do movimento revolucionário do 5 de Outubro, mas não chegou a testemunhar a vitória dos republicanos porque foi assassinado por um doente mental do Hospital onde trabalhava, poucas horas antes de ter começado a revolução.
Cândido dos Reis (1852 - 1910)
Cândido dos Reis (Lisboa, 1852 – Lisboa, 4 de outubro de 1910). Militar (Almirante), foi eleito deputado nas listas republicanas de 1910, como destacado membro da carbonária, assumindo a organização militar da revolução do 5 de Outubro. Tendo sabido que o governo monárquico já tinha conhecimento da Revolução, não quis adiá-la, mas, ao ver esmorecer o movimento, despediu-se dos oficiais da Marinha mais próximos e horas depois era encontrado morto. Suicidara-se por não querer conhecer mais um revés e também em resultado do seu temperamento hipocondríaco.