25 DE ABRIL SEMPRE!
Há 41 anos a esta hora, a Revolução do 25 de Abril estava em curso. Os soldados do MFA que protagonizaram o movimento revolucionário estavam na rua há horas, por todo o país. Reproduzimos uma mensagem em código que poderia muito bem ter sido difundida, a esta mesma hora, pelo coordenador operacional, Otelo Saraiva de Carvalho (nome de código Tigre):
«Aqui, Oskar! As últimas informações mostram que está a correr tudo conforme planeado. Os nossos homens controlam o Mónaco, Xangai, México e Viena. Atenas está controlada e o Falcão está connosco. Em Granada, Barcelona e Vaticano também está tudo calmo. Há apenas alguma resistência em Moscovo».
E agora a “tradução”, com os códigos decifrados:
«Aqui, Posto de Comando do MFA! As últimas informações mostram que está a correr tudo conforme planeado. Os nossos homens controlam a Rádio Televisão Portuguesa, a Emissora Nacional, o Rádio Clube Português e a Rádio Marconi. A Ponte Salazar está controlada e o General Spínola está connosco. No Porto, Coimbra e Tomar também está tudo calmo. Há apenas alguma resistência no Quartel General da PIDE/DGS.»
Hoje, os portugueses voltam a sair à rua, apesar do tempo incerto que se faz sentir, em nome de mais um aniversário do 25 de Abril de 1974.
O triunfo do Movimento das Forças Armadas renovou a esperança de melhores dias para todos os portugueses. Assembleias de Freguesia, Assembleias Municipais, Assembleias Regionais e Assembleia da República vão ser pontos de convergência para os discursos políticos que este ano, com eleições agendadas, ganham maior protagonismo.
A história do Portugal mais contemporâneo só pode pintar com cores “primaveris” esta Revolução que, independentemente das convicções políticas de cada um de nós, representou, de facto, uma maior qualidade de vida para o povo português. Em termos morais, mentais e patrimoniais.
Depois de tantos anos de autoritarismo, depois de tantos milhares de mortos pela causa da liberdade, poucos eram os que criam que desta vez é que o regime Salazarista/Marcelista havia de cair definitivamente.
Mas foi mesmo assim, de forma quase incrível!
Os militares libertaram-se e libertaram-nos!
Libertaram-se da Guerra Colonial que os afetava diretamente há 13 anos e para a qual, apesar do envolvimento de meio milhão de jovens portugueses retirados ao país e às famílias, não havia qualquer esperança de solução militar.
Libertaram-nos, porque depondo o regime, devolveram aos portugueses as liberdades fundamentais e, com elas, os meios indispensáveis a uma maior qualidade de vida, que, pese embora a situação vivida nos últimos anos, é incomparavelmente melhor do que aquela que existia até àquela data.
Só quem não viveu naquele tempo é que não consegue sentir as grandes diferenças de um regime autoritário e cruel para uma política que respeita os direitos fundamentais dos cidadãos, que reconhece o direito de voto também às mulheres e a todos aqueles, que depois dos 18 anos querem influenciar a vida da sua terra e do seu país, comparecendo à mesa de voto quando é chamado a pronunciar-se.
Depois da agitação do período revolucionário que só terminou, verdadeiramente, no dia 25 de novembro de 1975, a democracia portuguesa ganhou raízes, acabando de vez com todos os organismos da ditadura.
A Constituição de 1976, ainda em vigor mas com grandes alterações, sobretudo no ano de 1982, foi a grande obra legislativa que marca o início de uma democracia consolidada, que alguns denominam de III República.
Acabou a Guerra, extinguiu-se a terrível PIDE, reconheceu-se o direito de opinião e de reunião, terminou a Legião e a Mocidade portuguesas, constituíram-se, livremente, partidos políticos e sindicatos, libertaram-se todos os presos políticos e prometeu-se tudo fazer para melhorar a vida do nosso povo.
Tudo mudou. Portugal descobriu novos rumos, deu as mãos a outros projetos e hoje, apesar de todas as dificuldades, acredita-se que o futuro é nosso.
Concretizaram-se conceitos que se tornaram palavras de ordem: DEMOCRATIZAÇÃO, DESCOLONIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO! PAZ, PÃO, HABITAÇÃO, SAÚDE, EDUCAÇÃO!
Esta revolução reivindicando liberdade também teve de a reconhecer aos povos que estavam sob nossa tutela: a Guiné-Bissau tornou-se independente a 10 de setembro de 1974; Moçambique a 25 de junho de 1975; Cabo Verde a 5 de julho de 1975; S. Tomé e Príncipe a 12 de julho de 1975; Angola a 11 de novembro de 1975; e Timor-Leste, 1.º, a 28 de novembro de 1975, e, após a “expulsão” do invasor indonésio, a 20 de maio de 2002.
Mais tarde, Macau, num contexto completamente diferente, foi integrado na República Popular da China, embora viva numa situação de regime especial até ao fim de 2049. Até os Arquipélagos da Madeira e dos Açores, mantidos por razões óbvias no território português (é preciso lembrar, que os portugueses encontraram as ilhas desabitadas e foram os nossos antepassados os seus principais colonizadores) ganharam uma autonomia regional, que no tempo do “Estado Novo” seria impensável. O Poder Local também ganhou maior democraticidade e disponibilidades financeiras!
Houve indiscutíveis ganhos na educação, na emancipação da mulher, na saúde, nas vias e meios de comunicação e na justiça. Virámo-nos definitivamente para a Europa (adesão à CEE, em 1986) e para o Mundo (acabou-se o isolamento internacional; Portugal chegou a presidir à Assembleia Geral das Nações Unidas e até ao seu poderosíssimo Conselho de Segurança) e criaram-se novas formas de solidariedade institucional com o mundo português, com a fundação dos PALOP e da CPLP.
Mas, o presente continua a ser de luta, pelo fim da austeridade, dos cortes em salários e pensões, pelo fim da corrupção da classe política (e não só), pela empregabilidade dos nossos jovens, para que não tenham de abandonar o seu país, pelo fim das dificuldades que trazem tanta pobreza a tantos lares.
Enquanto isso não acontecer, é obrigatório darmos as mãos e continuarmos a lutar, hoje e sempre, com a coragem dos revolucionários de há 41 anos.
VIVA O 25 DE ABRIL! VIVA ERMESINDE! VIVA PORTUGAL!
Manuel Augusto Dias, 25 de Abril de 2015