VIAJANDO NO TEMPO...e no espaço!

Agosto 21 2015

O INÍCIO DA EXPANSÃO PORTUGUESA

Faz hoje 600 anos que os portugueses conquistaram a cidade de Ceuta: 21 de agosto de 1415. O que muitos portugueses não sabem é que houve contributo de todo o país para este empreendimento que marca o início da globalização e da diáspora portuguesa. Naquele tempo, Portugal contaria um décimo da população que tem hoje e dominou “meio mundo”. Foi graças à determinação, fé, coragem, ciência e ousadia destes homens que ainda hoje a língua portuguesa é a mais falada no hemisfério sul e a 4.ª mais falada no planeta.

A marca de Portugal está ainda hoje bem viva na América Latina, África atlântica e África Índica, na Ásia do Sul (junto ao Índico e Pacífico) e na Oceania.

Ainda hoje a bandeira de Ceuta conserva o escudo português (veja, na imagem que se segue, a semelhança dos escudos, na Crónica da Tomada de Ceuta, do séc. XV, de Gomes Eanes de Zurara e no estandarte atual daquela cidade, hoje espanhola).

Bandeira de Ceuta.png

O texto que se segue foi publicado no n.º 7 da Revista de História da Escola Secundária de Rio Tinto, de junho de 2015, e evidencia o contributo da região do Grande Porto para a famosa conquista da importante cidade muçulmana do estreito de Gibraltar – CEUTA! 

História dos rendimentos aduaneiros

(No século XIII e XV - Conquista de Ceuta)

Em Valbom existiu, desde remotos tempos, uma importante colónia piscatória, que assente na sua encosta da Ribeira do Abade, onde hoje (primeiras décadas do século XX) moram os actuais pescadores, se confundia na labuta do rio com os outros barqueiros do Pôrto e ribeirinhos suburbanos. Esta freguesia de Valbom contou a princípio com a vida económica que lhe dispensava o rio, para expansão da sua actividade e, nas relações de vizinha comunicação com o velho burgo do bispo do Pôrto. Desde a fundação da monarquia, a barra do Pôrto adquirira um notável movimento comercial, que envolvia os pescadores da nossa terra. No tempo de D. Sancho II, já o rei colhia avultados lucros, na escritura de 1238, em que se observou que o bispo e a igreja portucalense recebiam parte dos impostos sôbre as mercadorias importadas.

Isto revela a extensão e grandeza do comércio marítimo e fluvial, que dava para rei e bispo. (…)

E esta colónia de pescadores de Vabom deveria ser nesse tempo (século XIV), incomparàvelmente maior do que a actual, tanto mais que eram poucas as indústrias do País e a labutação da barra do Pôrto chegou a obter tamanho desenvolvimento, que Fernão Lopes menciona entre as grandes rendas de D. Fernando (1367-83), os rendimentos aduaneiros dela (…).

Trabalhou-se então dia e noute, a expensas dos burgueses, preparando-se mais quatro galés e armaram-se dez náus, formando-se destarte uma esquadrilha de dezassete galés e dezassete náus que partiu para Lisboa, onde exerceu grande influência no êxito da campanha. E o mesmo se deu para a expedição a Ceuta, em 1415. Só do Pôrto sairam setenta velas, em que entraram dezassete galés (…)».

Estaleiro do Porto_Idade média.png

Como surgiu a alcunha de «tripeiros» vulgarmente atribuída aos portuenses? Para responder à questão é necessário recuar no tempo, até inícios do século XV. Algumas das embarcações que constituíam a armada que partiu à conquista de Ceuta foram construídas no Porto, nos estaleiros do Ouro. Levaram no porão a carne cedida pelas gentes da cidade, que ficou com as tripas para o seu sustento. Mas há quem afirme que o acto não foi pioneiro uma vez que já o tinham feito aquando das guerras com Castela (1383-1385).                   In Camilo de Oliveira, O Concelho de Gondomar, vol. I, p. 325 e ss.

A colaboração dos “tripeiros” e os estaleiros do Douro

Conta a lenda que os portuenses, conhecidos no resto do país por “tripeiros”, foram assim apelidados pelo sacrifício para darem o seu contributo à expedição que rumou à conquista de Ceuta, em 1415. Diz-se que ofereceram à armada toda a carne disponível, ficando apenas com as tripas, sendo essa a razão pela qual o prato tradicional da cidade é as “tripas à moda do Porto”.

“No ano de 1415, construíam-se nas margens do Douro as naus e os barcos que haveriam de levar os portugueses, nesse ano, à conquista de Ceuta e, mais tarde, à epopeia dos Descobrimentos. A razão deste empreendimento era secreta e nos estaleiros os boatos eram muitos e variados: uns diziam que as embarcações eram destinadas a transportar a Infanta D. Helena a Inglaterra, onde se casaria; outros diziam que era para levar El-Rei D. João I a Jerusalém para visitar o Santo Sepulcro. Mas havia ainda quem afirmasse a pés juntos que a armada se destinava a conduzir os Infantes D. Pedro e D. Henrique a Nápoles para que ali se casassem. Foi então que o Infante apareceu inesperadamente no Porto para ver o andamento dos trabalhos e, embora satisfeito com o esforço despendido, achou que se poderia fazer ainda mais, e confidenciou a mestre Vaz, o fiel encarregado da construção, as verdadeiras e secretas razões que estavam na sua origem - a conquista de Ceuta. Pediu ao mestre e aos seus homens mais empenho e sacrifícios, ao que mestre Vaz lhe assegurou que fariam para o Infante o mesmo que tinham feito cerca de trinta anos atrás aquando da guerra com Castela - dariam toda a carne da cidade e comeriam apenas as tripas. Este sacrifício tinha-lhes valido mesmo a alcunha de “tripeiros”. Comovido, o Infante disse-lhes então que esse nome de “tripeiros” era uma verdadeira honra para o povo do Porto. A História de Portugal registou mais este sacrifício invulgar dos heróicos “tripeiros” que contribuiu para que a grande frota do Infante D. Henrique, com sete galés e vinte naus, partisse a caminho da conquista de Ceuta”. As tropas portuguesas conquistaram Ceuta em 21 de Agosto de 1415, comandadas pelo rei D. João I.

 O início da Expansão Portuguesa

A conquista de Ceuta em 1415 marca o início da expansão portuguesa em África e tem fortes motivações económicas e de estratégia local. A importância da cidade é confirmada por Al-Hassan Al-Wazzan Al-Fasi, conhecido como Leão “o Africano”, que afirma na sua obra “Descrição de Africa” que Ceuta tinha 1.000 mesquitas, 360 casas de viajantes, 22 casas de banhos públicos e 103 moinhos.

Ceuta era nos inícios do século XV a grande ameaça aos navios portugueses e à costa do Algarve. Ponto estratégico para o domínio da navegação no estreito de Gibraltar, com uma situação geográfica que a tornava facilmente defensável, base da guerra de rapina de corsários e de apoio ao Reino de Granada, Ceuta era principalmente um importante entreposto comercial, que escoava para a Europa as mercadorias que chegavam do Oriente através das caravanas e “o porto da navegação que se fazia entre os dois mares”.

Para a sua conquista, D. João I utiliza uma armada de 270 navios e cerca de 30.000 homens. O ataque é cuidadosamente planeado e mantido no máximo secretismo, sendo precedido do envio de espiões que estudam meticulosamente as suas defesas e determinam os seus pontos fracos. “No dizer do seu cronista, Azurara, seis anos antes já D. João I se ocupava dela; mas seguramente se sabe que se trabalhava para ela desde 1412”.

Mas após a conquista a população abandona a cidade, o bloqueio imposto pelo sultão de Fez inviabiliza o cultivo dos terrenos circundantes e o desvio das rotas comerciais para outros portos provoca o seu declínio.

“Ceuta tornou-se pouco mais do que uma grande e vazia cidade-fortaleza varrida pelo vento, com uma dispendiosa guarnição portuguesa que tinha que ser abastecida continuamente através do mar”.

“A primeira conquista no além-mar obrigou à preparação de uma frota capaz de transportar numeroso exército equipado com armas e abastecimentos. Foi necessário mandar construir, comprar e alugar muitos navios. As notícias da época registam galés, galeões, naus, barcas, fustas, cocas, e barinéis, entre outros…” Segundo Pisano, a armada era composta por “sessenta e três naus de carga, vinte e sete trirremes, trinta e duas birremes, e cento e vinte navios de outras espécies…”

A preparação da armada obrigou a um grande incremento a construção naval em Portugal. Só a cidade do Porto, com os estaleiros de Massarelos e Miragaia, “concorreu com setenta naus e barcas «afora outra muita fustalha», ou sejam embarcações de remo, como consta da carta passada por El-Rei D. Duarte àquela cidade”.

Luís Villalobos, no seu texto “A Conquista de Ceuta”, esclarece as características e funções dos vários tipos de embarcações utilizadas. “Em primeiro lugar, será necessário referir que as galés, movidas essencialmente a remos, podendo recorrer a velas, eram as embarcações militares por excelência, enquanto os navios de vela eram essencialmente de mercadorias. Os de vela eram lentos, difíceis de manobrar e muito dependentes de ventos favoráveis (…) apesar disso eram considerados auxiliares preciosos para uma armada, em especial os de maior tonelagem, de alto bordo, capazes de transportar muitos homens de armas. Daí que a maioria dos navios fossem naus, uma vez que não se previa um ataque naval, mas antes o transporte de tropas até Ceuta e seu desembarque para posteriores confrontos em terra.”

O exército era maioritariamente composto por veteranos da guerra contra Castela e muitos mercenários, alemães, ingleses, polacos e franceses. “Uma carta do alferes-mor do rei (João Gomes da Silva) ao arcebispo de Santiago indicava que, a bordo das 270 velas da armada portuguesa, deveriam seguir 7.000 a 7.500 «homens de armas», 5.000 besteiros e 20 ou 21.000 homens de pé (quer dizer, um total de 32 a 33.500 combatentes).”

Ceuta 22 de agosto 1415.png

 

A armada era liderada por D. João I, acompanhado pelo príncipe herdeiro D. Duarte e pelos infantes D. Pedro e D. Henrique, e por um seu irmão bastardo, o conde de Barcelos. Os principais responsáveis militares do reino estavam presentes, como o Condestável, D. Nuno Alvares Pereira, o Mestre da Ordem de Cristo, D. Lopo Dias de Souza, o almirante Carlos Pessanha, o almirante Micer (Meu Senhor) Lancerote, o capitão-mor Afonso Furtado, D. Pedro de Menezes, futuro governador de Ceuta, e muitos outros nobres, alguns dos quais iriam protagonizar os acontecimentos que marcaram a presença de Portugal em Marrocos, como Diogo Lopes de Souza, Vasco Coutinho ou Álvaro de Ataíde.

A expedição tem início no dia 25 de Julho de 1415 com a saída da armada da barra do Tejo. No dia 27, em Lagos, é finalmente anunciado o seu destino. A viagem entre Lagos e Ceuta é atribulada, já que uma forte tempestade obriga a armada a permanecer vários dias no mar alto. Ao dirigirem-se a Ceuta, os navios de carga são arrastados pelos ventos e correntes na direção de Málaga, ficando os restantes à sua espera diante da cidade.

Os mouros, apanhados de surpresa, tratam de reforçar as suas defesas com a colocação de engenhos no tramo Norte das muralhas, frente à praia, onde aguardam um desembarque dos portugueses. Das aldeias vizinhas afluem cerca de 10.000 voluntários. Durante os dois dias em que se aguarda a chegada dos navios de carga dão-se escaramuças na praia, provocadas pelos guerreiros mais aguerridos de um e outro lado - mouros que saltam para bateis e arremessam pedras e flechas aos navios atacantes, portugueses que respondem desembarcando na praia para os combater. Após a chegada dos navios de carga voltam a soprar ventos ainda mais fortes que arrastam toda a armada para o largo. Os mouros convencem-se que os portugueses desistiram do ataque e Salah ben Salah, governador da cidade, dispensa os reforços que haviam chegado. D. João I chega a pôr em causa a campanha, mas no final permanece a decisão de atacar Ceuta. Quando a armada regressa, Salah ben Salah já não pode contar com os reforços e simula a sua presença através da iluminação de todas as casas confinantes com a muralha.

publicado por viajandonotempo às 11:28

Agosto 19 2015

Norton de Matos.jpg

 No período que separa a I República (1926) do "25 de Abril" (1974) a oposição ao Estado Novo esteve sempre ativa, pese embora a eficiência das formas de repressão, praticadas pela polícia política portuguesa (PVDE, PIDE e DGS). Mas, até finais da década de 1950, os movimentos de maior atividade e visibilidade eram, sem dúvida, as conjunturas eleitorais para a Presidência da República, com destaque para as candidaturas de Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958).

Hoje destacamos a de Norton de Matos por ter ocorrido em primeiro lugar e porque hoje se completam 67 anos sobre uma reunião que ocorreu em sua casa, tendo a polícia cercado a sua residência e prendido alguns dos elementos que reuniam com Humberto Delgado.

Norton de Matos reuniu à sua volta toda a oposição, prometendo a devolução da liberdade ao povo português, o reconhecimento dos direitos de todos os cidadãos, caso fosse eleito. Não o foi, porque desistiu do ato eleitoral ao ter a convicção de que o resultado oficial seria fraudulento.

Norton de Matos nasceu em 1867 e, após a implantação da República, aderiu ao Partido Democrático de Afonso Costa, ocupando altos cargos políticos na vigência da Primeira República, nomeadamente, os seguintes: de 1912 a 1915 foi Governador-Geral de Angola; em 1915 foi nomeado Ministro das Colónias e, mais tarde, Ministro da Guerra (nessa qualidade foi o responsável máximo pela organização do CEP (Corpo Expedicionário Português), que combateu em África e em França, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), embora Portugal só tivesse entrado no conflito, na Europa, em 1916; após a assinatura do Armistício desempenhou vários cargos diplomáticos: primeiro, como delegado à Conferência da Paz (1919), e depois como embaixador de Portugal em Londres; de 1920 a 1924 voltou a Angola como Alto Comissário; regressa a Londres como embaixador, onde tem notícia do Golpe de Estado Militar de 28 de Maio de 1926, que acaba com a Primeira República.

Destituído, naturalmente, de todos os cargos políticos, é preso e deportado para os Açores, onde vive até 1929. De 1929 a 1935 desempenhou o cargo de Grão-Mestre da Maçonaria Portuguesa, foi presidente da Aliança Republicano-Socialista, mantendo sempre uma clara marca de antifascista.

A sua candidatura à Presidência da República, nas “eleições” de 1949, foi o culminar deste percurso. No manifesto que então dirigiu ao povo português, na qualidade de candidato de toda a Oposição Democrática, afirmava: «Cansado de divergências internas, o povo português deseja que todos os habitantes de Portugal sejam acima de tudo portugueses; que a tolerância e o respeito pela pessoa humana os liguem a todos e permitam a cada um viver a sua vida sem o terror desmoralizante da incerteza.»

Os comícios que então se realizaram um pouco por todo o país mobilizaram centenas de milhares de portugueses. O “slogan” da sua campanha eleitoral era: «sem eleições livres, não votes!». O General Norton de Matos tinha assumido, desde início, o compromisso de não se prestar a participar numa farsa eleitoral, que era o que pretendia o regime, para se mascarar perante o estrangeiro, como um país onde se realizavam eleições livres e abertas à participação da oposição.

No dia 12 de fevereiro de 1949, saiu a público a renúncia do general Norton de Matos à eleição presidencial, justificando essa decisão com as medidas antidemocráticas impostas pela ditadura fascista.

O Diário de Lisboa, claramente afeto à situação, nessa mesma data publica o despacho do presidente do Supremo Tribunal, José Joaquim Coimbra, que é do seguinte teor: «O presente requerimento, em que se comunica a desistência da candidatura à Presidência da República do sr. general José Mendes Ribeiro Norton de Matos, candidatura que foi julgada em termos legais pelo Acordão de 17 de Dezembro de 1948, não tem que ser apreciado por este Supremo Tribunal, cuja competência se limita ao reconhecimento da elegibilidade que não é renunciável, e ao apuramento final de votos a favor dos candidatos reconhecidos elegíveis, o qual terá de ser feito segundo os preceitos legais pela Assembleia Geral de apuramento, prevista no artigo 32.º da lei n.º 2.015 de 28 de Maio de 1946. Arquive. Lisboa, 12 de Fevereiro de 1949.»

E na edição do dia seguinte, Domingo, dia de realização do próprio ato eleitoral, o Diário da Manhã, tendo como fonte o Ministério do Interior, já apresenta alguns resultados finais desta eleição presidencial, curiosamente dois deles respeitam a terras do distrito de Leiria: «Castelo de Vide, 927 inscritos e 746 votantes. / Santa Marta de Penaguião, 1.967 e 1.446. / Castanheira de Pera, 1.704 e 1.336. / Arruda dos Vinhos, 1.597 e 1.218. / Espozende, 3.135 e 2.533. / Fronteira, 1.005 e 773. / Lisboa (Santa Catarina) 2.593 e 1.621. / Benfica, 2.310 e 1.621. / Melgaço, 2.816 e 2.243. / Nazaré, 1.853 e 1.249. / Moita, 429 e 316. / Torres Vedras, 6.624 e 4.699.

 

publicado por viajandonotempo às 10:58

Agosto 06 2015

O mundo tremeu com o lançamento da bomba atómica

0014_-hiroshima_nagasaki_05.jpg

No início de agosto de 1945, a 2.ª Guerra Mundial estrebuchava no Extremo Oriente. Na Europa já tinha terminado quase há 3 meses. O bombardeiro norte-americano Enola Gay entra na história por transportar e lançar a primeira bomba atómica.

Faz hoje 70 anos que se dava talvez o maior passo para o fim da 2.ª Guerra Mundial, com o lançamento da 1.ª bomba nuclear sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Foi no dia 6 de agosto de 1945, pouco depois das 8 horas da manhã.

No dia seguinte a notícia estava na 1.ª página dos jornais de todo o mundo.

O “Diário de Lisboa” sob o título “A bomba atómica vai revolucionar o mundo quando a sua espantosa fonte de força fôr posta ao serviço da indústria” afirma que: «O lançamento da bomba atómica em Hiroshima, base do exército nipónico, alterou o mundo». Desde logo se punha o acento tónico numa nova fonte de energia, a energia nuclear, que daria origem à denominada “3.ª revolução industrial”: «o projecto é animador, desde que a capacidade de destruição fôr posta pelos sábios ao serviço das possibilidades criadoras na industria, o que mudará completamente a vida de milhões de pessoas».

Logo após o lançamento da bomba atómica, os japoneses ainda não tinham a real noção dos poderes destrutivos da bomba, aliás, ninguém tinha. Terão pensado até que tal destruição teria sido provocada por várias bombas, conforme se pode concluir de uma nota que lançaram à imprensa, onde afirmavam: «ontem [dia 6 de agosto, 2.ª feira], cêrca das 8 e 20, uma pequena força de Super-Fortalezas Voadoras atacou Hiroshima, na ilha metropolitana japonesa de Honshu, com um tipo de bombas formidavelmente destruidoras.» Informava ainda esta nota que o número de mortos e feridos era elevado; sem dúvida que era, acredita-se que terão morrido mais de 150 mil pessoas.

Nem os americanos tinham bem a noção da força destrutiva, imediata e a prazo, desta nova arma que ainda hoje obriga milhares de pessoas a assistência hospitalar. Nem tão-pouco os cientistas, que se negaram a acreditar que o sismógrafo de Washington tivesse registado o pequeno abalo da Terra no preciso momento do lançamento da bomba atómica:

«O sismógrafo da Universidade de Georgetown registou um ligeiro tremor de terra, aproximadamente ao mesmo tempo que foi lançada a bomba atómica sôbre a cidade japonesa de Hiroshima. Os cientistas, porém, pensam que é improvável que o efeito de qualquer bomba pudesse ser registada a uma distancia tão grande como esta e atribuem o registo no sismógrafo a qualquer abalo sísmico mais próximo».

A verdade é que o novo engenho explosivo tinha um poder de destruição 2 mil vezes maior do que o da maior bomba que até então se tinha lançado na guerra.

Para isso, os americanos gastaram em experiências e com trabalhadores mais de 500 milhões de libras. O processo de investigação científica com a física nuclear remonta pelo menos à década anterior (1930) e nela colaboraram também 2 cientistas portugueses que trabalharam em laboratórios estrangeiros, designadamente no Laboratório Curie (França), sob a supervisão de Marie Curie. Foram eles Manuel José Nogueira Valadares e Aurélio Marques da Silva, que regressados a Portugal fundaram a Portugaliae Physica, em 1943 e foram professores universitários, tendo ambos, à semelhança de muitos outros, sido afastados por Salazar por mostrarem tendências políticas adversas às do Estado Novo.

Três dias depois (9 de agosto de 1945) seria lançada a segunda bomba atómica, esta sobre a cidade de Nagasaki, que os portugueses haviam fundado 375 anos antes (1570). Morreram mais quase 80 mil pessoas.

publicado por viajandonotempo às 09:42
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