HÁ 90 ANOS ACABOU A REPÚBLICA E COMEÇOU O GOVERNO DA DITADURA
Foi no dia 31 de maio de 1926, há 90 anos, que o presidente da República Portuguesa, Bernardino Machado, depois de 72 horas de resistência ao Golpe de Estado de Gomes da Costa, iniciado em Braga, 3 dias antes, renuncia aos seus poderes de Chefe de Estado, transferindo-os ao Almirante Mendes Cabeçadas.
Chegava, assim, ao fim a primeira experiência democrática em Portugal, que ficou conhecida como Primeira República.
Com a participação na 1.ª Grande Guerra, Portugal viu agravarem-se os seus problemas económicos que, por tradição vinham dos séculos anteriores. A Guerra representou um grande custo financeiro e ocupou parte significativa da mão-de-obra masculina jovem. Por isso, as dificuldades foram maiores.
No domínio agrícola, Portugal adiou a “reforma agrária” e continuou carente de trigo para fazer o pão, recorrendo a importações que ajudava a pagar para manter o preço do pão o mais baixo possível, evitando assim a fome das classes urbanas pobres.
Portugal continuava a ser um país rural, cuja população vivia, sobretudo, da exploração de vinho, cortiça, frutas e da pastorícia. A instabilidade política da 1ª República (45 governos) também não ajudou à tomada de decisões estruturais capazes de fazer renascer a economia, em bases sólidas.
Apesar dos números continuarem a mostrar Portugal como um país afastado do desenvolvimento industrial, a verdade é que, durante a Primeira República o nosso país conheceu algum progresso no que respeita à industrialização. As regiões de Lisboa (sobretudo a sul do Tejo) e do Porto (com extensão ao Minho) mostravam algum dinamismo industrial. A expansão industrial não foi maior porque se registaram algumas insuficiências, designadamente ao nível das infraestruturas dos transportes e comunicações (a rede ferroviária e viária quase estagnou após “fontismo”). Os portos de Lisboa e Leixões não estavam devidamente apetrechados e a nossa marinha mercante também não se modernizou.
De facto, os problemas financeiros do País agravaram-se com a participação de Portugal na Guerra. O défice orçamental, a dívida pública e a desvalorização da moeda foram motivo de diversas crises governamentais e de instabilidade política. A depreciação do escudo provocou a fuga de capitais e o aumento dos preços. As reservas de ouro desceram e o país foi obrigado a uma política de austeridade orçamental. O país atravessou grandes dificuldades que estão na base da queda do regime republicano.
Bernardino Machado, nascido no Brasil (Rio de Janeiro), no dia 28 de março de 1851 e falecido em Vila Nova de Famalicão, no dia 28 de abril de 1944, foi o terceiro e o oitavo presidente eleito da República Portuguesa, respetivamente, de 6-8-1915 a 5-12-1917 e de 11-12-1925 a 31-5-1926.
Veio para Portugal, com a família, com a idade de 9 anos. Depois dos estudos iniciais frequentou a Universidade de Coimbra onde também foi professor. Quando se tornou adulto, optou pela nacionalidade portuguesa. Foi maçon e, em 1903, aderiu ao Partido Republicano, tendo exercido vários cargos políticos, após a implantação da República, designadamente os de Ministro dos Negócios Estrangeiros, Embaixador de Portugal no Brasil (o primeiro depois da implantação da República) e Presidente da República Portuguesa.
Há 90 anos, foi obrigado pelas circunstâncias a transferir os poderes para o oficial da Armada Portuguesa, Mendes Cabeçadas, um revolucionário de 1910, que, 16 anos mais tarde, em virtude da sua oposição ao Partido Democrático, aderia ao movimento que poria fim à Primeira República, tornando-se, por 15 dias, o 1.º Presidente no período da Ditadura Militar.