VIAJANDO NO TEMPO...e no espaço!

Agosto 20 2018

Um dos seus ataques sobre um submarino alemão

 

“Augusto de Castilho” foi um barco que esteve ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa durante a Primeira Grande Guerra. Era um navio patrulha de alto mar, de 1909, com uma tripulação de 42 marinheiros e com 49 metros de comprimento.

Um dos ataques em que se envolveu naquela Guerra ocorreu no dia 21 de Agosto de 1918, há cem anos, ao largo de Cascais. A descrição desse ataque é feita pelo seu comandante, o primeiro-tenente Fernando de Oliveira Pinto, que havia assumido o comando há dez dias, por falecimento do anterior comandante, 1.º tenente Vasco Artur da Costa Cabral.

Em declarações a “O Século”, publicadas na edição de 23 de agosto de 1918, Oliveira Pinto descreve assim os factos:

«No dia 18 saiu o “Augusto de Castilho” do Funchal, comboiando o vapor “S. Miguel”. A viagem corria com muito bom tempo, sem que nada de anormal se passasse até ao dia 20 á tarde, em que avistámos muitos destroços de algum navio afundado, que eram arrastados pela corrente contraria ao nosso rumo.

Então, aproximava-se o barco da barra de Cascaes. Como não se avistassem os faroes, resolvi que o navio ficasse pairando á entrada do nosso porto, aguardando que a densa cerração [nevoeiro espesso] se levantasse, para demandarmos a bahia.

O São Miguel, ao ver aproximar-se a cerração, aumentou a velocidade, conseguindo fundear em Cascaes.

Ao romper de 21, começou o “Augusto de Castilho” a tentar aproximar-se da terra, embora persistisse a cerração. Por volta das 8 horas, indo o navio a meia força das maquinas, o vigia acusou ver qualquer coisa semelhante a uma pedra, que apontava pela amura de estibordo, para logo corrigir, dizendo ser um barco de vela.

Foi então que o imediato sr. Alberto Augusto Xavier, notificou que era simplesmente um submarino, o que se encontrava á vista. Saiamos da cerração. Só depois de ter a certeza que se tratava de um submarino inimigo, por ele não ter feito o sinal inter-aliado de reconhecimento, e mesmo porque, muito bem se notava na sua silhueta as linhas de tipo alemão, mandei romper fogo, estimando para a distancia de 1:000 metros, que foi decrescendo para 800 por aqueles tiros serem longos. O submarino era armado de uma peça bem mais poderosa que as nossas, colocada por ante avante da torre. Navegava em meia submersão com rumo crusado ao nosso.

O “Augusto de Castilho” passou imediatamente a navegar com toda a velocidade, não deixando sair da prôa o boche, que a principio, parece, não tinha avistado o nosso barco, porque não alterava o seu rumo.

Foi n’essa ocasião que nitidamente se viu um dos seus marinheiros correr de vante para ré. Então, o submarino, aumentando a sua velocidade, manobrou a virar a popa e fugir do nosso navio que continuava na sua perseguição. O nosso fogo era certeiro, porque as pontarias eram feitas cuidadosamente. Duas granadas foram vistas arrebentar junto á base da torre, guinando, outra vez, o submarino para estibordo de fórma a atravessar-se na prôa do “Augusto de Castilho”. Era a ocasião propicia para sofrermos o ataque do boche. Mandei logo intensificar o fogo e aumentar a velocidade, de fórma a tentarmos abalroal-o. Trez outras granadas estalaram no seu costado: uma acertando na torre, e duas no casco, acima da linha de flutuação. Foi n’esse momento que todos nós vimos bem claramente o boche adornar um pouco e mergulhar com presteza. Pudemos ver que ele era dos poderosos, d’esses ultimamente lançados, com mais de 1.500 toneladas.

Como o “Augusto de Castilho” tem pouca velocidade, seria imprudente continuar a perseguição, porque nos iriamos expôr, sem necessidade, a um torpedeamento. Tomámos rumo do porto, largando as caixas de fumo, que encobriram logo o navio (…)».

Augusto de Castilho IL.Prtg.28-10-1918.jpg

"Ilustração Portuguesa" de 28 de outubro de 1918, alusiva ao afundamento do "Augusto de Castilho"

 

Este navio patrulha teria o seu fim no dia 14 de outubro de 1918, afundado por um submarino alemão, quando escoltava o vapor S. Miguel, em viagem entre o Funchal e Ponta Delgada, com 206 passageiros a bordo. Tendo partido ao pôr do sol do dia 13 de outubro, na velocidade de cruzeiro de 9 nós, às 06h15 do dia seguinte ouviu-se o primeiro tiro contra o vapor S. Miguel, dado por um submarino alemão. Para proteger o navio português e esgotadas as caixas de fumo que lançara para despistar o inimigo, o Augusto de Castilho avançou diretamente sobre o submarino alemão, passando a receber o fogo inimigo e dando tempo ao vapor para se distanciar. Após duas horas de combate, com vítimas mortais, a artilharia danificada, as munições praticamente esgotadas, perdidas também as comunicações, o navio imóvel, rendeu-se. Um último tiro do submarino, entretanto, vitimou fatalmente o comandante heroico Carvalho Araújo.

 

publicado por viajandonotempo às 09:53

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