Há cem anos o país estava praticamente em guerra civil
Na praça de touros do Campo Pequeno. - Cidadãos já inscritos alinhados por pelotões, recebendo as primeiras instruções militares. (inIlustração Portuguesa, 676, 3 de fevereiro de 1919)
Após a restauração da Monarquia por Paiva Couceiro na cidade do Porto, no dia 19 de janeiro de 1919, com repercussões em Monsanto (Lisboa) quatro dias depois, o país ficou praticamente no estado de guerra civil, com os monárquicos na capital do norte a tentarem resistir à pressão das forças republicanas. Aguentaram 25 dias, até 13 de fevereiro de 1919.
Os monárquicos em Monsanto seriam vencidos muito mais cedo. No dia 23 de janeiro, Aires de Ornelas comanda tropas fiéis à Monarquia, que tomam posições na Serra de Monsanto, por influência do movimento do Porto. O governo republicano nomeia Vieira da Rocha para organizar o ataque aos monárquicos que se encontram em Monsanto. Muita população civil acompanha os militares republicanos e, segundo a imprensa do tempo, esta participação popular terá contribuído significativamente para o triunfo das forças governativas, no final da tarde de dia 24 de janeiro.
Ainda no dia 23 de janeiro, enquanto se combatia em Monsanto, tropas republicanas ocupavam vários quartéis em Bragança. Também na cidade de Viseu, nesse mesmo dia, os monárquicos eram derrotados.
No dia 24 de janeiro de 1919, em sentido contrário, registaram-se várias adesões à causa monárquica, com a proclamação do velho regime em Vila Real e em Estarreja.
No dia 26 de janeiro de 1919, um Domingo, o governo republicano nomeia o general Alberto da Costa Ilharco comandante das tropas republicanas, numa conjuntura de praticamente guerra civil entre forças republicanas e as hostes monárquicas a Norte.
Nos últimos dias de Janeiro em várias terras do Norte do país houve confrontos militares entre republicanos e monárquicos. O que é isto senão uma guerra civil? Apesar do esforço de politização dos republicanos, no sentido de “converter” o povo às causas da República, havia ainda muitas pessoas que preferiam a monarquia. É preciso também contar com o peso da religião católica (a maioria do povo português manteve a sua fé arreigada e o fenómeno de Fátima consolidou-a) e com os dissabores que a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial trouxe ao país real.
Nos finais de Janeiro (dia 28), sai de Lisboa uma divisão naval com a missão de operar contra a “Monarquia do Norte”. Nos dias seguintes, prosseguem os combates entre as forças republicanas e monárquicas, dando-se, no dia 29 de janeiro, o recontro de Angeja (uma das freguesias do concelho de Albergaria-a-Velha), e no dia 30 de janeiro, os monárquicos tentam mas não conseguem ocupar Aveiro, que se torna assim uma das fronteiras de um Portugal dividido entre a Monarquia, mais a Norte, e a República, mais ao Centro e a Sul.
No último dia de janeiro de 1919, há cem anos, as forças republicanas avançam no terreno e ultrapassam Angeja e Albergaria-a-Velha. Já no mês seguinte, a 1 de fevereiro de 1919, prosseguem os combates entre republicanos e monárquicos. Bem a Norte, a cidade de Chaves mostrava ser um bastião republicano, tendo resistido aos monárquicos com a determinação do Tenente-coronel Ribeiro de Carvalho. Daqui sairiam forças militares, que haveriam de deter o avanço da ofensiva monárquica.