PIDE fez dezenas de prisões entre estudantes universitários
É convicção de muitos que durante o Estado Novo, as Universidades portuguesas, ao contrário dos liceus, beneficiavam de alguma liberdade de atuação, em nome da autonomia universitária, que pressupunha uma maior liberdade dos atos de ensinar e aprender e que não podia coartar a necessária produção investigativa dos respetivos docentes. Mas sendo os estudantes universitários, na sua maioria, provenientes da elite social da época (estava ainda longe a democratização do acesso aos estudos superiores), e destinados a preencher os quadros superiores do Estado e das Empresas, é de admitir que a polícia política portuguesa exercesse uma vigilância apertada sobre estes jovens adultos, que tinham tudo (informação, cultura e idade) para tomar iniciativas capazes de trazer grandes incómodos ao regime político português.
Claro que havia diversos limites a esta pseudo-liberdade das Universidades, já que toda a informação estava sujeita à censura, havia um crivo político no acesso à docência universitária e os titulares dos cargos diretivos das academias eram nomeados pelo governo.
Várias vezes se registaram prisões entre os alunos universitários, em Lisboa, Porto e Coimbra, normalmente acusados de ligações ao partido Comunista e de atividades subversivas contra a segurança da Nação. Mas na Academia de Lisboa, a manhã do dia 21 de janeiro de 1965, após uma noite de vigília que pretendeu comemorar a luta estudantil de 1956, ficou marcada por uma vaga de prisões feitas pela PIDE, que se terá cifrado em cerca de 5 dezenas de estudantes presos, quase todos ligados à gestão de movimentos associativos universitários, detidos na cadeia do Aljube. Para aí convergiram, no dia 26 de janeiro de 1965, várias centenas de estudantes e familiares dos alunos presos, reivindicando a sua libertação.
Os Pais e Familiares dos Estudantes Presos, no dia 29 de janeiro de 1965, redigiram uma representação que enviaram ao Ministro do Interior, com 7 páginas (sendo as últimas com as assinaturas e identificação dos subscritores) onde clamando inocência dos seus familiares pediam que fossem tratados dentro da legalidade e com humanidade. Desse documento transcrevemos apenas o ponto 1: «(…) 1) – Os signatarios repudiam categóricamente as acusações contra os seus filhos e, em dois casos, contra seus maridos.
Não obstante à afirmação inicial atribuida à P.I.D.E. de estarem os estudantes presos “inteiramente identificados” como militantes e membros da referida organização subversiva e mais adiante, contraditòriamente, se dizer que “as declarações de alguns estudantes detidos permitiram o conhecimento..” etc. os signatarios consideram indispensável que se proceda a interrogatórios em termos da mais estrita legalidade para o apuramento da verdade.
São infelizmente do conhecimento geral tantos casos em que se tem verificado acusações identicas sobre pessoas das mais diversas condições, acusações que posteriormente se verificam terem sido perfeitamente infundadas, embora não seja possível já reparar os graves danos de toda a espécie e sobretudo morais que desse facto emergem».