ÁLVARO CUNHAL FOI PRESO PELA ÚLTIMA VEZ
O carismático líder do Partido Comunista Português, Álvaro Cunhal, foi preso pela última vez, na madrugada do dia 25 de março de 1949, faz agora 71 anos, pela PIDE que, inesperadamente, entrou casa dentro e prendeu todos os que lá viviam.
O isolamento da casa no Luso e a aparência de que se tratava de alunos do ensino superior em descanso não impediu desconfianças que levaram à atuação da polícia política. Segundo José Pacheco Pereira escreve no seu livro “Álvaro Cunhal – uma biografia política”, os vários sinais denunciadores terão sido o facto de os seus inquilinos não saírem regularmente de casa; “a máquina de escrever estar constantemente a trabalhar e, por vezes, até altas horas da noite”, ouvindo-se da rua; entradas e saídas da casa a qualquer hora de diversas pessoas com pastas e embrulhos.
Não foi menos relevante o facto de viver perto desta casa no Casal de Santo António, José Feio (há dois anos Presidente da Câmara Municipal de Águeda) que terá sido alertado para a estranheza com que eram vistos os inquilinos daquela casa. Num ápice alertou a polícia política que preparou o assalto, chefiado pelo chefe de brigada da PIDE, Jaime Gomes da Silva, que havia de prender, também com a participação da GNR fortemente armada, os respetivos moradores: Álvaro Cunhal (“Duarte”), Militão Ribeiro (“António”) importantes dirigentes do PCP, e Sofia Ferreira também militante do partido.
Esta última, Sofia Ferreira, no dia 25 de março de 2007, data da colocação da lápide que desde então marca esta efeméride, conta o que verdadeiramente se passou no dia da prisão – 25 de março de 1949:
«Uma brigada de 6 agentes da PIDE tomou de assalto a casa pelas 05.00, entrando de rompante, acompanhada pela GNR com metralhadoras e não bateram sequer à porta.
Arrombaram-na e subiram logo ao primeiro andar onde estavam os quartos. Estávamos na cama e mal tivemos tempo de nos levantar. O Álvaro Cunhal e o Militão Ribeiro foram algemados logo em pijama e encostaram o Álvaro Cunhal à parede, com uma arma apontada à cabeça, tendo o Jaime Gomes Silva dado ordens para dispararem quando ele mandasse».
Como escreve José Pacheco Pereira no livro acima referido, com a prisão ocorrida no Casal de Santo António, no Luso, findava uma era da história da luta da oposição e do PCP, que era como sabemos a única organização política da oposição clandestina ao regime salazarista. O partido foi obrigado a remodelar a sua Direção, esclarece Pacheco Pereira: «Os membros sobrantes do Secretariado tomaram medidas quase imediatas para reorganizarem a Direcção, profundamente atingida pelas prisões, traições e mortes. Dos eleitos em 1946, apenas cinco membros efectivos, José Gregório, Joaquim Pires Jorge, Manuel Guedes, Júlio Fogaça e Sérgio Vilarigues, e dois suplentes, Octávio Pato e Soeiro Pereira Gomes, permaneciam activos em Abril de 1949».
Onze anos mais tarde, a 6 de janeiro de 1960, Álvaro Cunhal protagonizaria a famosa e bem preparada fuga da Fortaleza de Peniche. Juntamente com ele evadir-se-iam, naquele dia, com ajuda exterior, outros militantes do Partido Comunista: Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José Carlos, Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues.
Mas faltariam ainda longos 15 anos para que acontecesse o “25 de Abril” e os adversários do regime, os comunistas e todos os outros, pudessem ter liberdade e concorrer a eleições livres e democráticas.