Recordando o Grande Homem das Letras Portuguesas
Fez no passado dia 19 de dezembro 119 anos que nasceu o grande poeta açoriano, que o continente também conheceu muito bem, que dava pelo nome de Vitorino Nemésio. Além de poeta foi escritor, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e apresentador do programa, da RTP, “Se bem me lembro”, no “ar” entre 1969 e 1975.
Nasceu na Praia da Vitória (Ilha Terceira, nos Açores), no dia 19 de Dezembro de 1901, vindo a falecer em Lisboa, com 76 anos, no dia 20 de Fevereiro de 1978.
Foi, sem dúvida, uma das figuras de maior relevo da Cultura Portuguesa, do século XX. Foi, igualmente, um grande comunicador da língua portuguesa, quer com recurso à palavra escrita, quer recorrendo à palavra falada!
Como Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ensinou Literaturas Portuguesa e Brasileira e História da Cultura Portuguesa.
Naturalmente, os seus estudos começaram na Ilha onde nasceu, fazendo na Praia da Vitória (na ilha Terceira) a instrução primária e o curso liceal em Angra do Heroísmo e na Horta, onde esteve pelo menos um ano, dizem até que foi enquanto aluno na capital do Faial, que Vitorino Nemésio se inspirou nas paisagens daquela ilha, para cenário do seu romance “Mau Tempo no Canal” (1944). Concluído o Liceu, para poder progredir os estudos, teve de vir para o continente, estudando nas Universidades de Coimbra (Direito) e na de Lisboa.
Na capital portuguesa também se dedicou ao jornalismo. Foi ainda um excelente professor, tendo exercido a docência algum tempo no estrangeiro, em Bruxelas, Montpellier e Baía.
Como homem sensível que era, os grandes acontecimentos que ocorreram no seu tempo acabaram por espelhar-se na sua obra. Incontornáveis foram as duas guerras mundiais, que testemunhou à distância e a sua ilha de nascimento, acabou por ser afetada durante a 2.ª Guerra Mundial, com a cedência da Base das Lajes aos americanos. A sua obra “Corsário das Ilhas” demonstra algum revivalismo destes sentimentos que ficaram em Vitorino Nemésio.
Os primeiros anos da sua vida foram vividos na pacatez de uma linda vila piscatória, marcados pela vida na natureza, onde não faltavam as belas paisagens rurais, salpicadas de vacas, que interrompem com manchas brancas de malhas negras o contínuo verde da paisagem terceirense.
A ida para a capital da ilha onde nasceu, em plena Primeira República, deu-lhe mais liberdade e abriu-lhe outros horizontes, em termos ideológicos e não só, que transparecem no seu romance “Varanda de Pilatos”.
Aos 15 anos (1916) publica o seu 1.º livro de poemas “Canto Matinal”, é o início de uma vida dedicada às letras, que começa como poeta. Em 1922, para honrar a corajosa travessia atlântica de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, publica na cidade do Mondego, “Nave Etérea”. E, dois anos depois, surge o primeiro livro com referências explícitas às ilhas açorianas e às gentes das ilhas – “Paço do Milhafre”.
E ainda em poesia, mas utilizando a língua francesa, que dominava muito bem, escreveu, em 1935, “La Voyelle Promise”. Muito importante, em termos literários e ideológicos, foi também o seu envolvimento no Movimento da “Presença”, que surge a partir de 1927 e tem grande impacto junto da intelectualidade portuguesa.
Da sua vastíssima obra literária há ainda que destacar: em 1937, a fundação da “Revista de Portugal” (1937) e as novelas “A Casa Fechada”; em 1938, “O Bicho Harmonioso”; 1940, “Eu, comovido a Oeste”; em 1950, “Festa Redonda, Décimas e Cantigas de Terreiro oferecidas ao Povo da Ilha Terceira” (esta é a sua obra que melhor lembra, em poesia, a linguagem, cultos, usos e tradições do povo da Terceira). Ele mesmo confessa ser «o [seu] livro mais fundamente autobiográfico. Lá met[eu] infância e adolescência e é para [ele] como ouvir o mar num búzio»; em 1953, “Nem Toda a Noite a Vida”; em 1959, “O Verbo e a Morte”; em 1972, “Limite de Idade”; em 1976, “Era do Átomo. Crise do Homem”; em 2003, já muito depois de ter falecido, surge “Caderno de Caligraphia e outros poemas a Marga”, um estudo de Luís Fagundes Duarte, publicado pela Imprensa Nacional/Casa da Moeda.
O impacto da sua obra literária e da sua personalidade multifacetada evidencia Vitorino Nemésio como um dos mais insignes escritores da língua portuguesa do século XX, por isso muito estudado por académicos, quer em Portugal quer no estrangeiro.