Coube a José Nunes da Ponte esse ato único a nível nacional
José Nunes da Ponte e o antigo edifício dos Paços do Concelho no Porto
No dia 6 de outubro de 1910, fez há pouco 111 anos, o regime republicano foi proclamado pela 2.ª vez, na Câmara do Porto.
A 1.ª vez tinha sido no mesmo edifício da Câmara, aquando da tentativa revolucionária republicana, de 31 de Janeiro de 1891 (há 130 anos). A Revolta Republicana ocorreu na madrugada desse dia, quando o Batalhão de Caçadores 9, constituído sobretudo por sargentos (entre o punhado de oficiais que participaram, destacaram-se o capitão Leitão e o alferes Malheiros), se dirigiu aos antigos Paços do Concelho do Porto (hoje esse edifício não existe, foi demolido no século XX para construir a Avenida dos Aliados e ao cimo dela seria edificado o novo edifício dos Paços do Concelho), aclamando e vitoriando a República.
Para além do Dr. Alves da Veiga, líder civil do movimento, tiveram um envolvimento empenhado nesta tentativa revolucionária, João Chagas, Basílio e Bruno Teles. Nos primeiros instantes, a vitória parecia estar do lado dos revoltosos, mas, entretanto, houve uma surpreendente reviravolta, quando as tropas revolucionárias, constituídas por militares e civis, subiam a Rua de Santo António (actual Rua 31 de Janeiro), para tentarem uma aliança com a guarda municipal, esta disparou sobre os revoltosos. Estes tiveram de recuar e refugiaram-se no edifício da Câmara, mas não conseguiram evitar a derrota.
Quase vinte anos mais tarde, coube a honra de proclamar a República, na segunda cidade do país, cerca das 15 horas e 45 minutos, do dia 6 de outubro de 1910, a José Nunes da Ponte, que, poucos dias depois, seria nomeado Presidente da Câmara do Porto e, mais tarde, Governador Civil do Porto.
Na mesma varanda do mesmo edifício onde no dia 31 de Janeiro de 1891 havia sido anunciada pela 1.ª vez a República em Portugal foi o novo regime aclamado pela 2.ª vez, e tal só aconteceu na cidade do Porto.
Aí fica a transcrição das palavras de José Nunes da Ponte, com base em O Comércio do Porto, n.º 237, de 7 de outubro de 1910 (cit. por Fernando Sousa, Os Presidentes da Câmara Municipal do Porto (1822-2009), Porto, 2009.):
«Cidadãos!
Desde ontem que a gloriosa bandeira republicana flutua triunfante no Tejo, nas nossas naus de guerra e na capital da Nação, em todas as fortalezas e praças, delirantemente aclamada, como um símbolo de redenção e de esperança, pelo heróico povo de Lisboa. O povo do Porto, que há mais de duas dezenas de anos derramou o seu sangue generoso pela conquista dessa aspiração grandiosa, não pode deixar de felicitar-se e rejubilar com o conhecimento desse facto notável que vem marcar na história luminosa do nosso País uma época de regeneração e de prosperidade que de há muito constituía a mais nobre ambição de todos os verdadeiros portugueses. É, pois, cidadãos, com o coração a transbordar de alegria que eu tenho neste momento a insigne honra de, na qualidade de vereador mais velho da Câmara Municipal do Porto, proclamar dos Paços do Concelho a República Portuguesa e proclamar completamente abolida a dinastia de Bragança. É, pois, cidadãos, que neste momento o estrangeiro admira certamente a coragem, valentia e heroicidade com que os nossos correligionários de Lisboa souberam implantar a nova forma de Governo do País; eu estou certo, e comigo todos os meus colegas da Câmara, que o mesmo estrangeiro admirará o nosso legendário civismo, na perseverança com que haveis de manter a ordem pública e na linha de generosidade que adoptareis nos vossos actos e no nosso procedimento.»