A guerra diplomática a favor da independência portuguesa
A restauração da independência de Portugal face a Espanha ocorreu na sequência de um golpe perpetrado a 1 de Dezembro de 1640 (faz amanhã 381 anos), por parte da nobreza portuguesa, rival da monarquia em Madrid.
Na sequência desse movimento restauracionista surgiu uma longa guerra com Espanha, e uma outra guerra diplomática, com as cortes europeias, onde era necessário fazer reconhecer a justeza da separação e a legitimidade do ato e do novo monarca.
Mas os fundamentos justificativos da Restauração não se mostraram fáceis. Exemplo disso foi o que aconteceu com o diplomata português enviado à Suécia. O enviado a Estocolmo, Francisco de Sousa Coutinho, teve grandes dificuldades para, em termos diplomáticos, conseguir convencer o chefe de Governo da Suécia de que o domínio dos
Habsburgos, concretizado através da dinastia filipina em Portugal, e concretamente o reinado de Filipe III (IV de Espanha) era de tirania para com a nobreza portuguesa e concretamente para o duque de Bragança.
De facto, o 1.º de Dezembro de 1640, na capital portuguesa, havia sido provocado por um conjunto de tensões que se intensificou com a chegada ao poder do “homem forte” de Filipe IV, o Conde-Duque de Olivares. Na verdade, este governante pretendeu unificar toda a Península Ibérica sob a autoridade de Filipe IV, negando, portanto, o grau de autonomia que tinham algumas “nações” ibéricas, como era o caso de Portugal. Olivares, logo em 1624, insistia junto de Filipe IV, para que se tornasse efetivamente rei de Espanha, terminando com a autonomia de Portugal, de Aragão, de Valença e de Barcelona, sujeitando-os às leis de Castela.
Certamente a conjuntura de guerra em várias frentes, em que estava envolvido o exército espanhol, não era alheia a esta vontade unificadora de Olivares que precisava de homens para a guerra e de dinheiro para a financiar. Entendem-se assim as revoltas que surgiram na década de 1630 contra o agravamento fiscal que os portugueses sentiram e contestaram. Outros aspetos que desagradaram a Portugal, foi a chamada a Madrid, por parte do poder central, de muitos fidalgos portugueses, a extinção, em 1639, do Conselho de Portugal, e a pressão exercida sobra a nobreza portuguesa e sobre o próprio Duque de Bragança, para que participassem na guerra da Catalunha, que entretanto (meados de 1640) tinha começado.
Para a nobreza que se opunha ao domínio espanhol, o duque de Bragança, D. João, afigurava-se como o candidato natural à coroa portuguesa independente pelas suas ligações de sangue à família que reinou em Portugal, até 1580 (D. João era neto de D. Catarina de Bragança que, por sua vez, era neta de D. Manuel I).
Nesse tempo, havia vários nobres portugueses que se casavam com figuras da nobreza castelhana, prática habitual desde finais do século XV, aliás o próprio D. João, Duque de Bragança havia desposado, em 1633, D. Luísa de Gusmão, da casa espanhola de Medina Sidónia. A nobreza portuguesa, sobretudo a mais afeta aos Habsburgos, foi beneficiada ao longo do domínio filipino com várias mercês. Nas vésperas da revolução restauracionista, a nobreza portuguesa revoltou-se, muito por causa da diminuição de privilégios devido à política fiscal seguida por Filipe IV, desde Madrid, que tinha, como já se disse, de arranjar dinheiro para financiar as várias frentes de guerra, em que se encontrava envolvido.
Apesar da grande dificuldade inicial que era a inexistência de um exército português devidamente estruturado e guarnecido, os restauradores tiveram a seu favor a conjuntura internacional e o querer dos seus líderes, pelo que o resultado seria uma sofrida vitória.