A PORTUGUESA TORNOU-SE HINO NACIONAL
No passado dia 17 de novembro fez 110 anos que o Governo Provisório da República, passados apenas um mês e 7 dias sobre o “5 de Outubro” determinou que “A Portuguesa”, composta há alguns anos por Alfredo Keil, passasse a ser o Hino Nacional.
Alfredo Keil (1850-1907) foi um artista multifacetado que se dedicou à arte pictórica, ao desenho e à literatura mas também foi compositor e, nessa qualidade, compôs a música do atual Hino Nacional português. Já a sua letra é da autoria do dramaturgo e oficial da armada, Henrique Lopes de Mendonça (1856-1931).
É preciso não esquecer que “A Portuguesa” foi escrita e composta num momento particularmente conturbado da História de Portugal, quando a nossa velha aliada Inglaterra nos fez um Ultimato, por causa dos seus interesses em África colidirem com os nossos no mesmo continente.
A “Questão do Ultimato Inglês” resulta diretamente do “Mapa Cor-de-Rosa” português, proposto pela Sociedade de Geografia de Lisboa (1881) que pressupunha a ocupação dos territórios entre Angola e Moçambique. A Inglaterra, interessada também naquela área, dirigiu o tal Ultimato a Portugal advertindo que, no caso do não cumprimento das exigências inglesas, ela as imporia pelo uso da força. O governo português, como é evidente, não tinha outra alternativa que não fosse ceder, o que contribuiu, de facto, para uma quebra no orgulho nacional e os republicanos aproveitaram esse desaire monárquico para propagandear na opinião pública portuguesa a ideia de que a Monarquia não conseguia defender os interesses nacionais, reivindicando, por isso, a urgência da mudança de regime.
Nesse tempo, Portugal vivia momentos particularmente difíceis. Uma grave crise financeira assolava o país desde 1880, a que se juntava uma crise económica aguda por causa da dependência portuguesa no que respeita a matérias-primas, a capitais privados estrangeiros e evidenciava-se um completo descontrolo da dívida externa que quase provocou a bancarrota.
Neste mundo de dificuldades por que passava o Portugal Monárquico, intensificava-se a difusão da ideologia republicana, que prometia ter solução para todos os males de que Portugal padecia, e isso levou à adesão das classes médias.
O dia 10 de Junho, por exemplo, com a comemoração da morte de Camões passou a ser aproveitado pelos Republicanos para manifestarem a sua desconfiança face à possível desagregação da Nação e da Independência. E para mostrar o descontentamento face ao regime decrépito da Monarquia, dá-se, no Porto, a 1.ª tentativa revolucionária republicana no 31 de Janeiro de 1891, tornando-se “A Portuguesa” a marcha dos revoltosos desse dia, que acabaria por ser proibida pelo regime monárquico.
Já no século XX, a Ditadura de João Franco (1907), e o Regicídio (1-2-1908) contribuíram bastante para o desgaste monárquico.
Só com a implantação da República em Lisboa, na sequência da Revolução de 5 de Outubro de 1910, “A Portuguesa” voltou a ser cantada e escutada. No dia 17 de novembro de 1910, o Ministério da Guerra decidiu torná-la no Hino Nacional, e determinou que sempre que fosse executada, todos os militares presentes, quando fardados, deviam fazer continência e, se estivessem vestidos à civil, deveriam tirar o chapéu ou boné, e nos dois casos conservar-se de pé até ao fim da sua execução. A aprovação da versão oficial só se viria a dar, no entanto, em 1957, através da resolução do Conselho de Ministros publicada no Diário do Governo, 1.ª série, n.º 199, de 4 de setembro de 1957.